Mal aproveitado pela maioria dos clubes em que passou no Brasil, com exceção do Juventude, Doni saiu do futebol brasileiro em baixa, para assinar com a Roma, em 2005. A transferência mudou a carreira do goleiro, mas há quem diga que tudo pode ser explicado pela forcinha de seu empresário Ovidio Colucci.
Quando saiu do Botafogo de Ribeirão Preto, aos 21 anos, Doni não inspirava a confiança de outros grandes goleiros brasileiros, mas tinha consigo o crédito de revelação do Campeonato Paulista, graças ao vice do Bota. Por sua vez, a torcida do Corinthians não guarda grandes lembranças do arqueiro, que ficou pouco mais de dois anos no Parque São Jorge.
Cedido ao Cruzeiro e posteriormente ao Santos, foi no futebol gaúcho que o ribeirão-pretense finalmente mostrou grande serviço e regularidade. Menos de um ano foi suficiente para que Doni fizesse as malas rumo à Europa: o goleiro tirou dinheiro do próprio bolso e pagou sua multa rescisória junto ao Juventude. A Roma, graças ao intermédio do zagueiro Antônio Carlos Zago, o esperava do outro lado do oceano.
Digamos que os goleiros romanistas não ocupavam a função mais exaltada do time que cresceu no fim dos anos 1990 para se tornar potência nos anos 2000, passando por um scudetto e duas conquistas da Coppa Italia. Doni chegou sem alarde, para ser a terceira opção, e tomou conta da posição, muito porque seus rivais não eram tão estimados pela diretoria. Durante toda a sua fase na capital italiana, o brasileiro não foi ameaçado por Carlo Zotti, Gianluca Curci ou Dimitrios Eleftheropoulos.
Doni, no alto de sua experiência, foi o melhor que a Roma conseguiu arrumar em uma fase de transição. O ex-goleiro do Juventude deu sorte de chegar ao elenco em um período menos desastroso do que a temporada anterior, 2004-05, que teve constante troca de técnicos e campanha vexatória. O brasileiro chegou para sentar no banco de reservas e ser utilizado em partidas da Copa Uefa, mas as más atuações de Curci lhe abriram espaço. A estreia de Doni na Serie A aconteceu justo num dérbi contra a Lazio, na oitava rodada – partida encerrada em 1 a 1.
Sob o comando de Luciano Spalletti, o camisa 32 se tornou o segundo goleiro estrangeiro da história da Roma – o primeiro foi o austríaco Michael Konsel, que defendeu o clube entre 1997 e 1999. Doni encontrou em Trigoria a sua melhor fase, ganhando convocações e sendo o titular da seleção brasileira que venceu a Copa América de 2007. Também com Dunga, Doni foi para a Copa do Mundo de 2010, mas não esteve nem perto de entrar em campo e viu do banco de reservas a eliminação diante da Holanda, nas quartas de final.
Na Roma, Doni oscilou entre atuações fantásticas e gols sofridos de maneira inexplicável. Ao mesmo tempo que podia ganhar jogos em virtude da solidez defensiva (a parceria com os zagueiros Philippe Mexès e Cristian Chivu funcionava), deixava a desejar em momentos decisivos.
Um grande exemplo destes apagões foi a goleada sofrida contra o Manchester United, na Liga dos Campeões, em 2007. Em Old Trafford, os giallorossi foram aniquilados pelos Red Devils. Apenas no primeiro tempo, foram quatro gols sofridos por Doni, que se não teve culpa, também não esteve tão inspirado para impedir nenhum dos chutes. Exceto, claro, nos foguetes de Michael Carrick, indefensáveis.
Foram seis temporadas em Trigoria, o que serviu para alçar Doni ao posto de um dos atletas mais respeitados da década. Sua situação segura na titularidade só foi alterada por causa de uma lesão crônica no joelho e pelas repetidas falhas entre 2010 e 2011, quando o compatriota Júlio Sérgio, também revelado pelo Botafogo-SP, ocupou o posto. O “melhor terceiro goleiro do mundo”, segundo definição de Luciano Spalletti, teve desempenho similar, se não pior. Doni voltou a ocupar a titularidade durante a passagem interina de Vincenzo Montella, mas rescindiu seu contrato com o clube em julho de 2011, ao fim da temporada.
Ironicamente, depois dele, o clube sofreu para encontrar um camisa 1 competente e inquestionável. As trocas de posição entre 2011 e 2014 só cessaram com a chegada de Morgan De Sanctis. Antes do italiano, vários goleiros menos prestigiados passaram pelo gol romanista, com destaque (negativo) para o uruguaio Mauro Goicoechea.
O status cult que Doni ganhou por parte da torcida giallorossa não pode ser menosprezado. Embora ele não seja exatamente o jogador mais brilhante a suceder ídolos como Guido Masetti e Franco Tancredi, o histórico e os dois títulos na Coppa Italia lhe favorecem na hora de fazer um retrato de sua passagem. Afinal, o brasileiro acabou sendo um dos símbolos da geração que chegou tão perto do quarto scudetto.
Depois de deixar a Roma, Doni acertou gratuitamente com o Liverpool e se tornou o reserva de Pepe Reina. O brasileiro ficou pouco tempo em Merseyside e, embora tenha vencido uma Copa da Liga Inglesa, a passagem pela Grã-Bretanha foi repleta de tristezas: afinal, ele chegou a ter uma parada cardiorrespiratória durante um exame médico e, além de ter ficado meses parado, foi aconselhado a deixar o futebol.
Doni rescindiu o contrato com os Reds em janeiro de 2013 e tentou voltar a jogar pelo Botafogo-SP, mas depois de meses sem avançar no tratamento da arritmia, decidiu se aposentar, em agosto. Desde então, o ex-goleiro atua como empresário no ramo do entretenimento infanto-juvenil.
Doniéber Alexander Marangon, o Doni
Nascimento: 22 de outubro de 1979, em Jundiaí (SP)
Posição: goleiro
Clubes: Botafogo-SP (1999-2001, 2013), Corinthians (2001-03), Cruzeiro (2004), Santos (2004), Juventude (2005), Roma (2005-11), Liverpool (2011-12)
Títulos: Torneio Rio-São Paulo (2002), Copa do Brasil (2002), Campeonato Paulista (2003), Coppa Italia (2007 e 2008), Copa América (2007), Supercopa Italiana (2007) e Copa da Liga Inglesa (2012)
Seleção brasileira: 10 jogos
Pois é e mesmo assim foi super criticado . Ficou um bom tempo na Roma como titular , sendo que no período que ele ficou , foi a melhor Roma dos últimos 17 anos . Ganhou de times como Real , Manchester United , Chelsea , Milan Inter e Juventus . Só virou reserva em 2009/2010 porque peitou o Ranieri e ele não contou . Colocaram o Lobont para pegar e não gostaram. Olharam pro Julio Sérgio que em 3 anos não tinha sido aproveitado e deu certo , porém como o europeu era impaciente, em 1 ano os dois iriam embora. O mais engraçado é que o Lobont que era o terceiro goleiro continua na Roma até hoje , por 9 anos como terceiro goleiro . Se tivessem um pouquinho mais de paciÊncia , o próprio Doni e o Julio Sérgio poderiam ter ficado só que o ego falou mais e pegaram o Stekelemburg que não ficou nem 1 temporada direito . Depois sofreram para achar um goleiro decente . Pelo incrível que pareça , os dois brasileiros foram os últimos goleiros que honraram a Roma . Os que viriam depois , ( Stekelemburg, De Sanctis , Szcesney e Alisson ) só usaram o time para se elevarem , e não pra defenderem a camisa Romana
Doni era o tipo de goleiro que você torcia pra não falhar e torcia pra fazer um milagre, coisa que você vê constantemente nos goleiros de seleção hoje, me impressionou muito ele ser convocado, mesmo que na época ele estava bem, mesmo assim, fez sua história e temos que dar crédito ao empresário, de qualquer forma.
Jogou muito bem na Roma, honrou a camisa e conseguiu superar suas limitações com muita força de vontade! Realmente, foi o melhor goleiro da era pós-scudetto (grande Roma que bateu na trave algumas vezes pelo tetra e que fez jogos memoráveis na UCL).
No Brasil, ganhou um status “cult negativo”, pois sempre eram vistas apenas as suas falhas. Na época da finada rede social Orkut, existiam comunidades bastante ofensivas a ele. Uma delas não vou citar e a outra era algo como “Doni tem o melhor empresário do mundo”. A goleada pro Man Utd contribuiu bastante com essa repercussão negativa, apesar de toda a equipe ter culpa nesse episódio.