Depois de pouco mais de 10 anos, a Inter voltou a entrar em campo para uma partida semifinal de competição europeia. O dia era histórico para os nerazzurri e começou com clima ameno, depois que o diretor Giuseppe Marotta elogiou o trabalho de Antonio Conte e, pela primeira vez, afirmou publicamente que a bronca que o técnico tinha dado nos cartolas, em entrevista concedida após a última rodada da Serie A, era coisa do passado. A declaração parece ter tirado um peso das costas do elenco: concentrados e com fome de bola, os jogadores construíram um confortável 5 a 0 contra o Shakhtar Donetsk e devolveram a Beneamata a uma decisão continental após uma década.
Para o duelo com os ucranianos, Conte optou por repetir o mesmo onze inicial que foi a campo nas partidas contra Getafe e Bayer Leverkusen. Desde o pré-jogo, o duelo parecia muito interessante por conta das estratégias das duas equipes. Apesar de gostar de construir muitas jogadas de maneira posicional no 3-5-2 montado pelo treinador apuliano, a Inter mostra o seu melhor nas transições. Já o Shakhtar de Luís Castro atua no 4-2-3-1 e quase sempre controla a posse de bola em seus compromissos. Esse cenário se confirmou desde os primeiros minutos
Na Merkur Spiel-Arena, em Düsseldorf, a Inter entregou o controle da bola aos rivais e tentava encaixar sua pressão alta. O Shakhtar, por sua vez, surpreendeu ao assumir uma postura mais conservadora quanto à altura dos seus atacantes no momento que a Inter saía pro jogo: ao invés da tradicional pressão que as equipes exercem sobre Handanovic e o trio de zaga nerazzurro, os comandados de Castro se posicionavam em seu próprio campo, oferecendo muito espaço para Bastoni e Godín jogarem. Na sequência, ocupavam um espaço de 40 metros do campo com nove ou dez jogadores.
Por causa da presença de Gagliardini – que é bastante limitado com a bola nos pés – o time ucraniano se sentiu bastante confortável para direcionar o jogo da Inter para o lado direito, obrigando Brozovic a ativar D’Ambrosio, com pouco espaço para progredir, ao mesmo tempo em que limitava o trabalho do Barella. Com isso, a Beneamata investiu muito na ligação direta com Lukaku e Lautaro, mas não conseguia levar muito perigo à meta defendida pelo veterano Pyatov.
Se o Shakhtar realizava um excelente trabalho defensivo, na hora de atacar não repetia o desempenho. Diante de uma equipe muito forte fisicamente e muito bem encaixada dentro de campo, Marcos Antônio não conseguia fazer a bola circular pelo centro, enquanto Taison e Marlos acabavam presos entre os volantes e os zagueiros da Inter e Júnior Moraes pouco tocava na bola. Com essas bases estabelecidas, tivemos 20 minutos iniciais de um jogo bastante amarrado e de pouca emoção.
Isso mudou quando o Shakhtar tentou sair jogando bem ao seu estilo, mas o goleiro Pyatov errou passe e a Inter conseguiu o espaço que tanto queria para transitar em velocidade. Barella recuperou a bola, acelerou pelo lado direito e cruzou com perfeição para Lautaro, que se antecipou à zaga e testou para o fundo da rede. Depois do gol nerazzurro, o jogo voltou ao mesmo padrão inicial, no qual a Beneamata encontrava dificuldade para organizar o seu ataque e optava por esperar que Lukaku e Lautaro criassem por conta própria. Do seu lado, o Shakhtar Donetsk estava completamente dominado pelo sistema defensivo italiano.
Conte optou por não realizar mudanças no intervalo, mesmo que Gagliardini fizesse uma partida ruim e Eriksen estivesse no banco – o dinamarquês poderia adicionar capacidade de organização à equipe. Com isso, os primeiros 15 minutos do segundo tempo tiveram a mesma configuração do primeiro, com exceção de uma tentativa de chapéu de Martínez, bem defendida por Pyatov. O próprio Lautaro mudou o jogo pouco depois, ao achar um bom passe para D’Ambrosio pelo lado direito e fazer com que ele arrumasse um escanteio. Brozovic cobrou com maestria e o próprio ala cabeceou para aumentar a vantagem.
No momento do 2 a 0, ainda restavam 26 minutos por jogar, mas podemos dizer que foi ali que a partida acabou. O Shakhtar ainda resistiu por mais algum tempo, só que já havia jogado a toalha. O time laranja ficou claramente abalado depois de criar uma finalização de perigo – cabeçada de Júnior Moraes que originou uma linda defesa de Handanovic – e, logo na sequência, sofrer o gol de D’Ambrosio, autor de diversos tentos importantes pelos nerazzurri. Ali, a Inter assumiu de vez o controle da partida e não soltou mais.
Com cada vez mais espaço para contra-atacar, Inter começou a acumular chances de gol, aumentou a pressão para forçar os ucranianos ao erro e acabou punindo os mineiros com uma goleada maior do que o jogo de fato representou. Aos 74, o time nerazzurro trocou passes pela zona central e Lukaku conseguiu rolar a bola para Lautaro, que bateu com categoria no canto inferior direito e ampliou a vantagem. Apenas quatro minutos depois, foi a vez do argentino devolver o presente em grande estilo: observou o posicionamento de Lukaku e achou um lindo passe para o belga finalizar e deixar sua marca na 10ª aparição consecutiva na Europa League, estendendo seu recorde.
Depois do quarto tento, Conte começou a rodar o elenco, trocando D’Ambrosio e Lautaro por Moses e Eriksen. As alterações, contudo, não tiraram o ímpeto da Inter e, principalmente, de Lukaku. Aos 83, o atacante recebeu passe de De Vrij na altura central do campo e arrancou com uma potência impressionante, até bater Pyatov e marcar seu 33° gol na temporada. Romelu precisa de apenas mais um para igualar a temporada de estreia de Ronaldo pelo clube de Milão.
Com o sonoro 5 a 0, a Inter se classificou para sua primeira final europeia em 10 anos. A anterior foi triste – derrota para o Atlético de Madrid, na Supercopa Uefa –, mas só aconteceu porque o time conquistou o título da Champions League sobre o Bayern de Munique, meses antes. Mesmo que existam contestações sobre as escolhas de Conte e algumas rusgas com a diretoria tenham acontecido, é preciso reconhecer que o técnico entregou um trabalho sólido em sua temporada de estreia e foi capaz de recolocar a equipe em condições de brigar por títulos.
A Inter foi semifinalista da Coppa Italia, contestou para valer a Juventus pelo scudetto e, após o vice-campeonato italiano, pode coroar 2019-20 com uma taça europeia. Falta uma partida: falta o Sevilla, maior campeão da Europa League, com cinco títulos em cinco participações em finais. A Beneamata vem logo atrás, com três canecos em quatro decisões. No dia 23, saberemos o desfecho desse duelo de gigantes da competição.