A noite europeia foi de sensações opostas para as duas equipes da Lombardia que vestem azul e preto e participam da Champions League. A Atalanta entrou primeiro em campo e, pela enésima vez, mostrou a força de seu projeto ao vencer o Ajax como visitante e avançar às oitavas de final da competição pela segunda vez em duas edições do torneio.
Já a Inter voltou a decepcionar a sua torcida. O time treinado por Antonio Conte não conseguiu marcar um gol sequer sobre o Shakhtar Donetsk e caiu na primeira fase pela terceira vez consecutiva. Confira, logo abaixo, o resumo das partidas.
Inter 0-0 Shakhtar Donetsk
O jogo começou com a Inter sabendo que precisava antes de tudo, vencer. Depois, precisaria torcer para Real Madrid e Borussia Mönchengladbach não empatarem na Espanha. O que não mudava na equação necessária para alcançar as oitavas era a necessidade de vitória, que não foi obtida pelos nerazzurri.
Conte escalou a equipe com o que tinha de melhor, já que só não podia contar com Vidal, que sentira um desconforto muscular. Barella, entretanto, não estava em condições físicas ideais – longe disso, na verdade. Logo de cara, o Shakhtar deixou bem claro qual seria sua postura, ao jogar com bloco baixo, marcar com cinco defensores e atribuir aos seus meias abertos um importante trabalho defensivo, que visava travar os alas de Conte e dificultar o trabalho de criação da Inter.
Com o controle absoluto da posse de bola, a equipe italiana buscava abrir Skriniar pela direita, Bastoni pela esquerda e contar com Brozovic para distribuir o primeiro passe. Dessa maneira, liberava Hakimi e Young para jogarem em campo ofensivo e mantinha Barella e Gagliardini como os homens responsáveis por jogar de área a área, ativando os setores e cuidando do trabalho de pressão após a perda da posse.
Apesar da dificuldade para circular a pelota e, num segundo momento, ativar os cruzamentos laterais com seus alas, através do trabalho em apoio de Lautaro e Lukaku, a Inter conseguia criar situações de finalizações – que, contudo, acabaram não tendo a qualidade desejada. Dessa maneira, embora tenha ficado com a bola em 57% do tempo durante a primeira etapa, criou apenas uma chance de real perigo, quando Barella se desgarrou pela direita e encontrou Lautaro no comando do ataque. O argentino finalizou no travessão.
Barella criou a melhor oportunidade do time no primeiro tempo, mas estava claramente sem condição de jogo. Ainda assim, Conte optou por não realizar mudanças e orientou o seu time a manter aquela toada. A essa altura, o Real Madrid já vencia por 2 a 0 na outra partida do grupo e de certa maneira, a Inter controlava o seu destino.
O Shakhtar Donetsk também estava bem vivo em busca da vaga, pois – assim como os nerazzurri – precisava de uma vitória para avançar na competição. Apesar disso, o time não mudou sua postura nos primeiros 20 minutos da segunda etapa e, nesse cenário de trava na execução do jogo e do nervosismo que se via em campo, tivemos erros de passes na zona central, falhas no encaixe de transições e um nível de atuação ruim. A Inter ameaçou apenas através da bola parada, com Lukaku desviando um cruzamento de Brozovic e obrigando Trubin a fazer uma bela defesa.
O tempo foi passando e, num primeiro momento, Conte lançou a campo Perisic e Sánchez. Pouco surtiu efeito. Luís Castro trocou o seu ataque, mandando a campo o jovem Solomon, e sua equipe ganhou um escape mais efetivo para o setor ofensivo, criando maior dificuldade para a defesa da Inter.
Já aos 40 minutos de jogo, a Inter teve suas últimas mudanças, com Eriksen, D’Ambrosio e Darmian indo a campo. O dinamarquês conseguiu oferecer criatividade à equipe e a alternativa do chute de média distância. Dessa maneira levou perigo ao gol defendido por Trubin em duas boas finalizações e cobrou escanteio com perfeição na cabeça de Sánchez, que testou em direção ao gol, mas viu a bola explodir em Lukaku. Sem balançar as redes, a Inter estava fora da competição, enquanto o Shakhtar Donetsk ficou com a vaga na Liga Europa. Real Madrid e o derrotado Mönchengladbach avançaram no Grupo B.
Pela terceira temporada consecutiva, a equipe nerazzurra falha em avançar ao mata-mata da Liga dos Campeões. Dessa vez, teve um grupo mais acessível do que nas edições anteriores e um elenco mais qualificado para cumprir o objetivo, mas novamente fracassou – de forma retumbante, inclusive, pois foi lanterna de um grupo do torneio pela primeira vez em sua história. Sobram desculpas e explicações dadas por Conte, mas faltam resultados. A conquista do scudetto ganha outro significado para a temporada da Beneamata: virou obrigação.
Ajax 0-1 Atalanta
Em Amsterdã, Ajax e Atalanta protagonizaram um jogo nervoso e que contou com um planejamento muito específico por parte de Gian Piero Gasperini. O treinador italiano optou por montar um bloco baixo de marcação, recuar suas linhas e defender sua área com o máximo de concentração possível, deixando o controle da posse de bola para a equipe holandesa.
Os donos da casa começaram bem o jogo, marcando alto e conseguindo tirar qualquer conforto que a Dea poderia ter para sair jogando e trabalhando. A execução dos Godenzonen era boa e impedia que Gómez direcionasse as transições de sua equipe. O zagueiro Martinez foi fundamental para esse trabalho. A Atalanta, por sua vez, apesar de encontrar dificuldades para sair jogando, tinha na ligação direta uma situação de desafogo e defendia muito bem a entrada de sua área, impedindo que os donos da casa chegassem com maior perigo ao gol defendido por Gollini.
Pouco a pouco, com o decorrer dos minutos, a Dea cresceu em campo – ainda que não encontrasse em Papu o ponto de apoio de sempre. Pessina realizava uma boa partida, trabalhando bem pelo lado esquerdo, tabelando com Zapata e deixando sempre uma pulga atrás da orelha do sistema defensivo do Ajax. Ainda assim, a primeira etapa terminou sem maiores chances de gol para ambos os lados.
Na volta do intervalo, o Ajax buscou ser ainda mais agressivo no trabalho ofensivo e a Atalanta não modificou suas bases de jogo. O time visitante continuava defendendo bem, com linhas próximas, muita atenção aos passes em profundidade e contando com uma grande partida do Romero – o argentino controlava Antony em cada avanço mais perigoso pelo lado direito.
A essa altura, o Ajax ficava muito com a bola, mas não levava perigo à meta rival. Isso mudou quando Tadic recebeu pela esquerda e encontrou Gravenberch na entrelinha. O jovem viu a ultrapassagem de Klaassen e realizou o passe com perfeição, mas o meia – frente a frente com Gollini – tentou deslocar o goleiro com um tapa no canto superior direito e parou numa bela defesa. O Ajax perdeu sua melhor oportunidade e foi castigado pouco depois.
Os minutos foram passando, o nervosismo foi tomando conta do Ajax e a coisa azedou de vez para os holandeses aos 79 minutos, quando Gravenberch deixou o braço no rosto de Gómez, recebeu o segundo amarelo e foi expulso. Gasperini trocou o exausto Zapata por Muriel e a alteração não demorou muito para surtir efeito: Freuler recuperou a bola em campo ofensivo e colocou o colombiano em ótima situação, apenas com o trabalho de driblar Onana e colocar a bola na rede. A Dea, que jogava pelo empate, tinha a vitória garantida.
Em sua segunda participação na Liga dos Campeões, a equipe de Bérgamo vai jogar o mata-mata novamente. Segunda colocada no Grupo D, com 11 pontos, a Atalanta tem um elenco seguro de suas possibilidades e segue fazendo história. Nas oitavas de final, contudo, terá pedreira pela frente: seu adversário será um entre Bayern de Munique, Real Madrid, Manchester City, Chelsea, Dortmund e Paris Saint-Germain.