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O seguro Wojciech Szczesny subiu de patamar depois que chegou ao futebol italiano

De nome contestado na Inglaterra a ídolo na Itália. A trajetória do goleiro Wojciech Szczesny sofreu uma verdadeira reviravolta quando ele optou por deixar o Arsenal, clube em que concluiu sua formação futebolística, para atuar pela Roma. Na capital italiana, Tek, como ficou conhecido, deixou para trás as críticas que sofria em Londres, cresceu como atleta e pavimentou o seu caminho para o auge na Juventus. Pela Velha Senhora, o carismático arqueiro polonês ganhou o carinho da torcida e se tornou um dos pilares de uma equipe campeã.

Tek é um filho da arte. Seu pai, Maciej Szczesny, foi um goleiro de sucesso no futebol polonês, obtendo maior destaque pelo Legia Varsóvia e chegando até a seleção de seu país. Nascido em 1990, Wojciech daria seus primeiros passos justamente na capital polaca, inicialmente no Agrykola e, depois, no próprio Legia. Pouco antes de completar 16 anos, em janeiro de 2006, acabaria chamando a atenção do Arsenal e rumaria a Londres para concluir sua formação como atleta.

Na base dos Gunners, Szczesny chegou a quebrar os dois antebraços pouco antes de conseguir se profissionalizar. Superado o contratempo, o polaco estreou num jogo contra o West Bromwich, válido pela Copa da Liga Inglesa, em setembro de 2009. Em seguida, foi emprestado ao Brentford, que militava na terceira divisão, e ajudou os Bees a ficarem no meio da tabela. Devido ao bom desempenho, Arsène Wenger decidiu integrar o jovem Tek ao elenco do Arsenal para a temporada 2010-11, como opção ao espanhol Manuel Almunia e o também polonês Lukasz Fabianski.

Tek era considerado uma joia a ser lapidada e, naquele momento, já havia defendido a Polônia no Mundial Sub-20 e estreado pela seleção principal. Não foi tão surpreendente, portanto, quando ele aproveitou lesões de Almunia e Fabianski para assumir a titularidade do Arsenal em dezembro de 2010. Szczesny manteria esse posto por cerca de quatro anos, mas sujeito a chuvas e trovoadas.

Entre os momentos positivos de Szczesny, destacam-se a defesa de um pênalti cobrado por Antonio Di Natale, da Udinese, que valeu a classificação do Arsenal para a fase de grupos da Champions League, em 2011, além de cinco idas consecutivas à maior competição de clubes da Europa, através de lugares no G4 inglês. Nesse período, o Arsenal também ganhou dois títulos da Copa da Inglaterra (na primeira delas, só Fabianski jogou, entretanto) e um da Community Shield, sem falar num vice da Copa da Liga Inglesa. Tek ainda teve o maior número de clean sheets da Premier League 2013-14 – 16, ao lado de Petr Cech, do Chelsea.

Szczesny deixou o Arsenal contestado e reescreveu sua carreira a partir de passagem pela Roma (Getty)

O Luva de Ouro da Premier League, porém, também foi muito criticado neste período e foi considerado como um dos sintomas de um Arsenal que não conseguia mais brigar pelo troféu da competição – em oposição aos anos dourados da “era Wenger”. Tek estava em campo na vexatória derrota por 8 a 2 para o rival Manchester United (uma das piores da história dos Gunners e a mais pesada na fase moderna do Campeonato Inglês), além de ter somado erros importantes e cartões vermelhos no período. Para piorar, foi flagrado fumando e consumindo álcool após uma derrota por 2 a 0 para o Southampton, o que levou a diretoria londrina a multá-lo em 20 mil libras.

Na seleção polonesa, a trajetória de Szczesny naquele período também foi de altos e baixos. Tek não se firmou como titular da equipe alvirrubra e revezou com nomes como seu colega Fabianski, Artur Boruc e Przemyslaw Tyton. O goleirão atuou apenas numa partida da Euro 2012, já que cometeu pênalti contra a Grécia e foi expulso – Tyton, seu substituto, pegou a cobrança. Depois do papelão, que antecipou a queda dos polacos na fase de grupos do torneio disputado em casa, naufragou com as águias nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014.

Vivendo um período de clara contestação, Szczesny acabou perdendo a titularidade do Arsenal para o colombiano David Ospina em janeiro de 2015. Sua última aparição pelos Gunners, a propósito, seria no primeiro dia daquele ano. Sem espaço, sobretudo após a chegada de Cech ao Emirates Stadium, deixaria Londres em julho, após 181 partidas realizadas. Seu destino? A capital italiana.

Szczesny foi emprestado à Roma, que buscava um goleiro de bom nível para assumir a baliza – considerando que Morgan De Sanctis, então com 38 anos, já pensava em se aposentar. Na primeira parte da temporada, o polonês enfrentou algumas dificuldades, como a fratura de um dedo da mão num duelo com o Barcelona, que o tirou de ação por algumas semanas, e uma breve suspensão por indisciplina: após o duelo de volta com o Barça, perdido por um sonoro 6 a 1, foi pego fumando pela terceira vez no espaço de poucos meses e terminou sendo excluído de um jogo com a Atalanta, pela Serie A.

Com estilão carismático, Tek se deu bem na Itália (AFP/Getty)

Num contexto global, a Roma não vivia os seus melhores momentos. O trabalho de Rudi Garcia havia atingido seu limite e, após dois anos de briga com a Juventus pelo scudetto, a equipe se via distante da ponta da tabela. Em janeiro de 2016, Luciano Spalletti chegou para mudar o quadro e as atuações de Szczesny acabaram melhorando. Num time mais organizado, a sensação de insegurança e os errinhos bobos que o polonês vinham apresentando deram lugar a prestações mais sólidas, que ajudaram os giallorossi a terminarem a temporada com o terceiro lugar da Serie A.

A princípio, Szczesny voltou ao Arsenal e, na janela de transferências do verão europeu de 2016, a Roma foi buscar Alisson no Internacional. Porém, no início de agosto, os giallorossi acertaram com os Gunners a renovação do empréstimo do polonês. Era um negócio que fazia sentido para todos os envolvidos e no qual a Loba saía ganhando. A equipe capitolina teria dois goleiros de alto nível, sendo que o brasileiro poderia se adaptar ao futebol europeu sem tanta pressa, ganhando minutagem nas copas e sendo uma sombra de respeito ao polaco. Tek, por sua vez, não teria margem para bobear: tinha que treinar duro e se doar ao máximo em campo para manter a titularidade.

Szczesny começou a temporada mordido porque não conseguiu contribuir muito com a Polônia na Euro 2016 – se lesionou após a estreia, contra a Irlanda do Norte, e não voltou a atuar antes da queda das águias nas oitavas, para a Suíça. Porém, tecnicamente, vivia um bom momento e teve a confiança de que só podia crescer. E foi justamente o que ocorreu na Roma.

No ano de despedida de Francesco Totti, marcado por desavenças com Spalletti, Tek foi um dos destaques da equipe capitolina, que disputou o título da Serie A com a Juventus e ficou com o vice. O polaco atou integralmente nas 38 rodadas do campeonato e liderou a segunda melhor defesa do certame com muitas intervenções consideradas difíceis e o maior número de clean sheets (14).

Depois de se destacar no biênio em Roma, o polonês passou um ano como reserva de Buffon na Juventus e, em seguida, virou titular (AFP/Getty)

Aos 27 anos, Tek conseguia se estabelecer como um dos melhores goleiros da Europa, se destacando por características como personalidade, tempo de reação apurado, destreza nas saídas da baliza para fechar o ângulo dos adversários e razoável capacidade de pegar pênaltis – pela Loba, defendeu três, incluindo um de Neymar, na já citada derrota por 6 a 1 para o Barcelona; na carreira, foram 20. Além disso, era um líder em campo e uma figura muito simpática fora dele, chegando até a apresentar um programa para o canal da Roma: o Szczesny Show, com entrevistas feitas com colegas de elenco.

O carisma e a qualidade de Szczesny, entretanto, não foram suficientes para mantê-lo na Cidade Eterna. Como a Roma já havia investido em Alisson, não fazia sentido gastar mais alguns milhões de euros para contratá-lo em definitivo junto ao Arsenal. Assim, após 81 jogos com a camisa giallorossa, o polonês voltou aos Gunners… por pouco tempo. Em julho de 2017, a Juventus pagou 12 milhões de euros e contratou o arqueiro, já se antecipando ao processo de aposentadoria do lendário Gianluigi Buffon. Inicialmente, portanto, Tek chegou a Turim para ser reserva do capitão Gigi.

Àquela altura, a Juventus atravessava o período mais glorioso de sua história. No momento em que o polonês se agregou ao elenco bianconero, a equipe do Piemonte vinha de conquistas seguidas da Coppa Italia, dois vices recentes da Champions League e, principalmente, de seu sexto scudetto consecutivo – um recorde que seria aumentado nos anos seguintes. De cara, Szczesny contribuiu bastante, já que a alternância com Buffon se deu principalmente na Serie A. Tek jogou em 17 das 38 rodadas, não sofreu gols em 11 delas e ajudou a Velha Senhora a emplacar o heptacampeonato nacional em sequência. O camisa 23 atuou ainda em duas partidas na campanha vencedora na copa local.

Em 2018, depois de mais uma decepção com a Polônia – dessa vez na Copa do Mundo, disputada na Rússia –, Szczesny voltou a Turim para ser titular da Juventus, já que Buffon partiu para o Paris Saint-Germain. O polonês não se intimidou ao vestir a camisa 1, deixada pela lenda, e foi um dos maiores destaques de um outro ano positivo em solo italiano, mas atribulado em nível europeu. Em seu país, a Vecchia Signora faturou Supercopa e sobretudo a Serie A, tendo em Tek uma das lideranças da defesa menos vazada do certame. Só que, após a bombástica contratação de Cristiano Ronaldo, se esperava mais na Champions League. A eliminação para o Ajax, nas quartas de final, sinalizou o fim da linha para Massimiliano Allegri.

A segurança de Szczesny foi fundamental para os últimos anos do maior ciclo vitorioso da Juventus (Getty)

A intertemporada que se seguiu à saída de Allegri foi recheada de surpresas. Primeiro, a Juventus resolveu reinventar o seu futebol e foi em busca do ofensivo (e napolitano) Maurizio Sarri, que estava no Chelsea. Depois, causou espanto geral o retorno de Buffon a Turim, após somente um ano no PSG. Gigi, contudo, voltou de forma humilde: decidiu vestir a camisa 77, mantendo a 1 com Szczesny, e afirmando que ficaria na reserva do polonês sem forçar a barra.

De fato, até mesmo para um goleiro do tamanho de Buffon seria complicado tirar a titularidade de Tek, que vivia o seu auge e já tinha o carinho e o respeito da torcida bianconera. O polonês continuou sendo uma das certezas de uma Juventus novamente campeã italiana e (também novamente) abaixo da crítica na Champions League. Sarri falhou ao tentar desenvolver sua filosofia de jogo, produziu futebol nada empolgante, apesar dos 31 gols de Cristiano Ronaldo, e não prosseguiu em Turim. Praticamente alheio a isso, Szczesny colecionou grandes atuações, mesmo com estilo discreto, e foi eleito o melhor arqueiro da Serie A pela liga.

O ciclo histórico da Juventus se encerrou ali, no eneacampeonato seguido da Serie A e em plena pandemia de covid-19, mas o polonês continuou a faturar taças pela Velha Senhora. Em 2020-21, sob as ordens de Andrea Pirlo, Tek levantou uma Supercopa Italiana e, sem entrar em campo, uma Coppa Italia – mais tarde, em 2024, também ganharia o troféu do mata-mata nacional sem deixar o banco de reservas no torneio.

O período que compreende os anos de 2020 e 2024 pode ser resumido da seguinte forma: Szczesny continuou a ser uma das fortalezas de uma Juventus que se defendia muito bem, mas não empolgava e ganhava menos do que outrora – o que ocorreu com Pirlo e se repetiu na segunda passagem de Allegri pela agremiação. Pilar da equipe, o polaco contribuiu em campanhas razoáveis, foi semifinalista da Liga Europa e viu parte de seu trabalho ser apagado pela fraude fiscal cometida pelo presidente Andrea Agnelli e companhia limitada, o que levou a Velha Senhora a perder de 10 pontos na Serie A 2022-23 e ser punida com a exclusão das competições Uefa em 2023-24.

No final de sua carreira, Tek foi uma das poucas peças brilhantes de uma Juventus opaca (Getty)

Nesse ínterim, Tek viu um roteiro parecido ser escrito na seleção polonesa, que não soube aproveitar uma boa geração e não obteve resultados muito expressivos durante o seu auge como atleta. Se antes não era unânime na equipe liderada pelo atacante Robert Lewandowski, Szczesny havia se tornado um dos pilares alvirrubros no ciclo posterior ao Mundial de 2018. Foi titularíssimo nas más campanhas nas Eurocopas de 2020 e 2024, e brilhou na honrosa trajetória na Copa de 2022. No Qatar, defendeu pênaltis contra Arábia Saudita e Argentina (este, cobrado por Lionel Messi), mas não evitou a queda da Polônia nas oitavas de final, por obra da França.

Ao longo de 2023-24, Szczesny teve mais um ano individualmente positivo e, após o terceiro lugar da Juventus na Serie A, chegou a ser escolhido pela liga como um dos três melhores goleiros da temporada. Porém, os ares de reformulação na Velha Senhora chegaram e, com eles, o técnico Thiago Motta e um novo arqueiro titular: Michele Di Gregorio. Tek chegou a ser sondado pelo Monza, antigo time de seu substituto, e também pelo Al-Nassr, clube de Cristiano Ronaldo e Marcelo Brozovic na Arábia Saudita. Optou, entretanto, por negociar uma rescisão contratual amigável com a diretoria bianconera, encerrando sua passagem pelo Piemonte com 252 aparições, 233 gols sofridos e status de ídolo. Algo notável, se considerarmos que o seu antecessor foi Buffon.

Com 34 anos recém-completados em abril de 2024 e vivendo ótimo momento, Szczesny ainda parecia ter muita lenha para queimar – afinal, goleiros muito mais velhos brilham no esporte. Só que, somente duas semanas depois de virar agente livre, Tek surpreendeu o mundo ao decidir anunciar sua aposentadoria dos gramados. Assim, seu último jogo como profissional foi na Euro, numa derrota por 3 a 1 para a Áustria. Pela Juve, o derradeiro foi um frenético 3 a 3 com o Bologna.

“Meu corpo está apto para novos desafios, mas não o meu coração”, declarou o goleiro. Em sua mensagem de despedida dos gramados, Szczesny também afirmou que iria passar a se dedicar mais à vida em família, com sua esposa – a cantora Marina Luczenko – e os filhos Liam e Noelia, esta nascida menos de dois meses antes de seu anúncio. Uma decisão, aliás, que ocorreu no mesmo dia em que a banda Oasis, liderada pelos irmãos Liam e Noel Gallagher, oficializou seu retorno aos palcos. Não é uma coincidência e isto, sem dúvidas, entrou para o rol de pegadinhas de Tek.

O destino, aliás, fez Szczesny pregar uma peça em todos e “imitar” a banda de Manchester. Em setembro, Marc-André Ter Stegen se lesionou gravemente e o Barcelona precisou de um novo goleiro. Tek foi o escolhido e, em 2 de outubro, despendurou as luvas para rumar à Catalunha, em sua turnê de reencontro e despedida.

Wojciech Tomasz Szczesny
Nascimento: 18 de abril de 1990, em Varsóvia, Polônia
Posição: goleiro
Clubes: Arsenal (2009 e 2010-15), Brentford (2009-10), Roma (2015-17), Juventus (2017-24) e Barcelona (2024-25)
Títulos: Copa da Inglaterra (2014 e 2015), Community Shield (2014), Serie A (2018, 2019 e 2020), Coppa Italia (2018, 2021 e 2024) e Supercopa Italiana (2018 e 2020)
Seleção polonesa: 84 jogos e 83 gols sofridos

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