Quando empatou com a Suécia no San Siro e ficou de fora da Copa do Mundo de 2018, realizada na Rússia, a Itália viveu um dos momentos mais tristes e complicados de sua história. Existiram erros em todo o processo de trabalho naquele ciclo, o que culminou com a equipe treinada por Gian Piero Ventura protagonizando aquele papelão. Depois do acontecido, a Federação Italiana de Futebol – FIGC tinha uma missão: recuperar a confiança de seus pilares, acelerar o processo de rejuvenescimento da equipe e ajustar a casa, para criar novamente uma cultura vencedora.
O escolhido para o serviço foi Roberto Mancini, treinador com amplo currículo na Série A – e também na Premier League –, mas que havia algum tempo não fazia um trabalho consensualmente positivo. O tempo, contudo, nos apresentou uma nova faceta de Mancio, que vem trabalhando com qualidade e propriedade alguns dos conceitos mais caros à elite do futebol mundial e dando chances a muitos jogadores em suas convocações: a cada 80 minutos, um atleta estreou pela seleção italiana. Com todos esses procedimentos, o técnico criou um sentimento de identidade entre o grupo e o torcedor.
Esse bom trabalho pode ser observado em números, já que Mancini tem 74% de aproveitamento no comando da Squadra Azzurra, que está classificada para a próxima Eurocopa. Entretanto, ainda falta o último degrau, a etapa de conclusão de toda essa evolução, que é conseguir a classificação para a Copa do Mundo de 2022, que será realizada no Qatar. Essa caminhada começou hoje, quando a Itália recebeu a Irlanda do Norte em Parma, no estádio Ennio Tardini, e venceu por 2 a 0. Com isso, iniciou com o pé direito no Grupo C das eliminatórias europeias e chegou a 23 partidas de invencibilidade.
Mancini escalou a sua Itália no 4-3-3 de sempre (quando a Nazionale está sem a posse de bola), orientando os jogadores a assumirem um 3-4-2-1 no momento de atacar. Contudo, os números são o que menos importam na hora de falar sobre a partida desta quinta, que contou com dois momentos muito diferentes, sempre condicionados pela postura da Irlanda do Norte.
O primeiro tempo começou com a Itália monopolizando a posse de bola, estabelecendo Bonucci como passador primário e somando Verratti pelo lado esquerdo do campo como o homem que direciona a equipe no gramado. Devido à abordagem extremamente defensiva dos visitantes, que optavam por manter todas as suas peças no campo de defesa, Mancini liberava Emerson para subir pela esquerda e – ao contrário do funcionamento habitual do seu time – não segurou o lateral-direito.
Assim, Florenzi também tinha bastante liberdade para apoiar o ataque, se juntando à dupla formada por Berardi e Pellegrini por aquele corredor. Insigne esperava para receber a bola na esquerda, quase sempre em condição de vantagem numérica, ao passo que Immobile era o comandante do ataque. O atacante da Lazio se movimentava bastante e se desmarcava o tempo todo, criando linhas de passe.
Com essas bases, a Itália controlou totalmente o primeiro tempo, se aproveitou da postura pouco agressiva da Irlanda do Norte e construiu o placar. No primeiro gol, Florenzi partiu pela direita e encontrou bom lançamento para Berardi, que conduziu a bola até estar em boas condições para finalizar e venceu o goleiro Peacock-Farrell – o atacante do Sassuolo marcou pela terceira partida seguida com a camisa da Nazionale. O segundo gol aconteceu já perto do intervalo, em um dos raros momentos em que os visitantes tentaram atacar com mais peças no campo ofensivo. Donnarumma foi inteligente para iniciar o contra-ataque, que terminou com Insigne deixando Immobile em boas condições para invadir a grande área e vencer o goleiro norte-irlandês, marcando o seu primeiro gol pela seleção desde 2019.
No segundo tempo, Ian Baraclough, treinador da equipe visitante, realizou ajustes na abordagem de jogo e trocou o funcionamento do seu meio-campo, colocando Saville na partida e deslocando Dallas para a lateral esquerda. Além disso, a postura da Irlanda do Norte foi bem diferente na etapa final. A marcação com maior agressividade e linhas altas impediu a Itália de ter muito tempo para trocar passes e organizar seu jogo, como antes do intervalo, e também ajustou o trabalho defensivo sobre Berardi.
Mesmo com a melhora dos visitantes, o jogo não ficou perigoso para a Itália em momento algum e a seleção mandante pode levar os 45 minutos finais em banho-maria. O primeiro passo até a Copa do Mundo foi conquistado, com uma prova de uma equipe muito sólida, que já não precisa de toda a sua força para vencer equipes bem fechadas. A Squadra Azzurra volta aos gramados no próximo domingo, quando encara a Bulgária como visitante, em partida válida pela segunda rodada do Grupo C das Eliminatórias da Uefa.