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O turco Can Bartu foi ídolo em dois esportes e desfilou nos campos italianos

Assim como o eterno Michael Jordan, Can Bartu conseguiu um feito raríssimo: se profissionalizou em dois esportes. Se, por um lado, o ídolo do Chicago Bulls migrou do basquete para o beisebol, o lendário turco também iniciou nas quadras, mas escolheu o futebol como segundo esporte. E foi nele que teve uma carreira mais longeva, com direito a idolatria no Fenerbahçe e passagem por três clubes da Itália.

O turco já dava seus primeiros passos quando Jordan nem pensava em existir. Nascido em 1936, Bartu se juntou ao time de base de basquete do Fenerbahçe, onde jogou dos 13 aos 19 anos de idade, atuando como ala. Sua transição para os campos aconteceu quando o treinador Fikret Arican o convidou para integrar a equipe de futebol, em um confronto contra o Edirnespor. Bartu se saiu bem na partida e, dali em diante, passou a dividir as atenções entre os dois esportes.

Entre 1955 e 1957, Bartu passou dois anos da carreira atuando nas duas modalidades, como ala nas quadras e meia nos gramados – funções que têm em comum a versatilidade e a dedicação tanto no ataque como na defesa. Em 25 de janeiro de 1957, virou manchete nos jornais turcos depois de um dia frenético, digno de filme. Na parte da tarde, entrou em campo contra o Beyogluspor e, além de dar duas assistências, marcou os outros gols na vitória por 4 a 0 dos canários. À noite foi para as quadras, onde anotou dez pontos, também defendendo as cores do Fenerbahçe. Can também defendia as seleções em ambas as modalidades.

No fim da década de 1950, Bartu decidiu abandonar o basquete para se dedicar somente ao futebol e se tornou um dos principais jogadores do Fener. Tanto é que o meia – que atuava por qualquer uma das pontas ou centralizado, chegando ao ataque – chamou a atenção de times de outros países, fato raro na época. Dessa maneira, sua jornada no futebol italiano teve início em 1961, quando foi contratado pela Fiorentina.

Bartu teve alguns bons momentos na Fiorentina, mas se deu melhor com a camisa do Venezia (FourFourTwo)

Na Itália, recebeu os apelidos de “Signor” e “Barone”, por conta da classe que demonstrava dentro e fora de campo – pelo futebol e pelo jeito de se portar e se vestir. Bartu chegava com dois títulos do Campeonato Turco na bagagem e integrava um elenco competitivo da Viola, recém-campeã da Coppa Italia e da Recopa Uefa. O time ainda contava com alguns pilares daquela conquista, como Kurt Hamrin, Rino Marchesi e Giuliano Sarti.

Em sua temporada de estreia na Bota, pode atuar em 22 partidas e desempenhar um papel importante para a equipe, embora não fosse titular absoluto do meio-campo da Viola e substituições não fossem permitidas na época. Ainda que não fosse o principal goleador da equipe, o ex-atleta de basquete anotou alguns tentos importantes, como os gols da vitória sobre Bologna e Inter, que aproximaram os gigliati da corrida pelo scudetto – a Fiorentina foi terceira colocada. Bartu também marcou contra o Újpesti Dózsa, nas semifinais da Recopa. Os italianos porém, acabaram perdendo a decisão para o Atlético de Madrid e encerraram a temporada sem grandes conquistas.

No verão de 1962, Bartu negociou o seu empréstimo para o Venezia. O time do Vêneto sofreu uma queda precoce na Coppa Italia e foi um saco de pancadas na Serie A, terminando a campanha na penúltima posição e com o rebaixamento decretado para a segunda divisão. O turco, porém, teve mais tempo de jogo e um excelente desempenho individual: fez 35 jogos e 11 gols no total, sendo 29 e oito na elite. Destaque dos leoni alati, Can evitou a Serie B ao retornar à Fiorentina.

O Signor de Istambul foi aproveitado novamente em Florença, mas teve um ano mais apagado do que o primeiro: após 11 jogos e nenhum gol, Bartu se transferiu para a Lazio, onde permaneceu de 1964 a 1967. Pelo time da capital, o meio-campista fez parte de um período de vacas magras do clube e alternou entre atuações boas e partidas para se esquecer.

Bartu passou três anos na capital italiana e, depois de rebaixamento da Lazio, retornou a seu país (Arquivo/Lazio)

Assim como na Fiorentina, não chegou a ser um titular absoluto na capital, embora fosse um jogador bastante utilizado quando os principais jogadores do time precisavam descansar – portanto, era importante para a equipe treinada por Umberto Mannocci. Durante a sua passagem, acumulou 50 partidas com a camisa celeste, somando Serie A e Coppa Italia. Não chegou a disputar competições europeias nas três temporadas em que esteve em Roma, já que naquele tempo, a Lazio brigava na parte inferior da tabela.

Em 1967, depois do rebaixamento dos capitolinos, Bartu voltou à Turquia para vestir novamente a camisa do Fenerbahçe. Aos 31 anos, retornava à equipe com a qual tinha criado um laço maior, onde fora revelado tanto no basquete como no futebol. E, logo de cara, conquistou a primeira dobradinha com os canários, quando participou da conquista inédita da recém-instituída Copa da Turquia. O Fener também faturou o campeonato nacional pela quinta vez, superando o Besiktas por sete pontos.

No futebol de seleções, Can Bartu também teve uma carreira satisfatória, o que ajudou a torná-lo ainda mais querido na Turquia. Diga-se de passagem, ele foi o único atleta turco a ser convocado pelas seleções de basquete e futebol, porém não chegou a disputar nenhuma Copa do Mundo com seu país. Seu momento de maior destaque aconteceu em 1969, na disputa da Copa RCD, da qual Bartu se sagrou campeão e artilheiro. O torneio, extraoficial, era organizado pela Organização de Cooperação Econômica da Eurásia e englobava seleções de países pertencentes ao bloco.

O Senhor de Istambul pendurou as chuteiras aos 34 anos. Em 1970, deu início à carreira como jornalista esportivo em vários meios de comunicação de seu país e, inclusive, chegou a trabalhar no canal de TV oficial do Fenerbahçe. Ele também trabalhou como embaixador da Copa Uefa de 2009, cuja final foi sediada em Istambul. Bartu veio a falecer em 2019 e foi homenageado pela fanática comunidade do futebol turco e alguns estrangeiros que a fomentaram – como o brasileiro Alex, que tem história com a camisa azul e amarela do Fener.

Can Bartu
Nascimento: 31 de janeiro de 1936, em Istambul, Turquia
Morte: 11 de abril de 2019, em Istambul, Turquia
Posição: meio-campista
Clubes: Fenerbahçe (1955-61 e 1967-70), Fiorentina (1961-62 e 1963-64), Venezia (1962-63) e Lazio (1964-67)
Títulos: Campeonato Turco (1959, 1961, 1968 e 1970) e Copa da Turquia (1968)
Seleção turca: 26 jogos e 6 gols

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