Desde a temporada 2015-16 no futebol italiano, quando foi contratado pela Udinese e passou a primeira temporada emprestado ao Verona, o zagueiro Samir, de 26 anos, vem firmando seu nome no país pelas seguidas boas atuações. O brasileiro, revelado nas categorias de base do Flamengo, é titular absoluto no sistema defensivo do time de Údine desde 2016 e já soma mais de 130 partidas pelo clube, com seis gols anotados.
Em entrevista exclusiva à Calciopédia, o jogador, que entra em seu sexto ano atuando em solo italiano, celebra a grande fase da carreira. “Esse era o lugar de que eu precisava na Europa para mim. Um lugar em que pudesse crescer profissionalmente e construir minha família”, diz.
Assim que começou a atuar oficialmente com a camisa da Udinese, Samir se deparou com um elenco repleto de brasileiros, incluindo dois já experientes defensores: Felipe e Danilo. Para a então jovem promessa, os dois foram de fundamental importância para sua adaptação. “Para mim tê-los no meu início foi muito importante na adaptação e no vestiário. Quando cheguei aqui, o clube tinha diversos brasileiros, então a gente praticamente só falava português, e dentro de campo foi melhor ainda, já que eles também eram zagueiros”, afirma.
Convocado uma vez pela seleção brasileira, já com o técnico Tite, em setembro de 2019, o zagueiro ainda nutre o sonho de defender o Brasil em mais oportunidades, mas não descarta representar a equipe nacional italiana. “Daqui a quatro anos poderei me naturalizar italiano. Se até lá eu não tiver oportunidade na seleção brasileira novamente, estiver jogando em alto nível e a seleção italiana me convidar, posso avaliar a situação. Mas meu primeiro objetivo é sempre a seleção brasileira”, ressalta o jogador.
Na Udinese, Samir iniciou sua trajetória jogando como lateral-esquerdo, entrou como zagueiro em um linha de quatro e, nos dias de hoje, sob o comando de Luca Gotti, compõe um tridente de retaguarda. Para ele, essa versatilidade é um grande trunfo. “Na parte defensiva eu jogo em todas as posições”, diz. “O treinador consegue fazer mudanças durante o jogo sem ter que me tirar”, enfatiza.
Entre outros pontos da conversa, o defensor destacou a vivência com Luca Toni no Verona, a idolatria de brasileiros em Údine, a sondagem que recebeu da Inter e os planos para o futuro. Confira, abaixo, a entrevista completa de Samir à Calciopédia.
Você está na sua sexta temporada vestindo a camisa da Udinese. O que mais destaca desse período em que está no clube?
Estou há seis anos na Udinese e tem sido um período maravilhoso. Tive algumas fases difíceis, mas tirando isso, estão sendo momentos maravilhosos para mim. Estou muito feliz aqui, o clube é muito bem estruturado, te dá todo o suporte, seja familiar ou profissional, e esse era o lugar de que eu precisava na Europa para mim. Um lugar em que pudesse crescer profissionalmente e construir minha família.
Sua primeira experiência na Itália foi no Verona, com apenas 21 anos, emprestado por seis meses junto à Udinese. Apesar de ter feito apenas três jogos e o time ter sido rebaixado, o que destaca desse empréstimo? Como era sua relação com Luca Toni, que fazia sua temporada de aposentadoria dos campos?
Foi um período muito importante quando fui emprestado para o Verona. Foi uma fase de aprendizado, mesmo não jogando muito. Os treinamentos foram importantes, assim como conviver com grandes jogadores, como Toni e Pazzini. Eles foram grandes jogadores na Itália e na seleção italiana, e para mim foi muito importante. Eu cresci bastante. Quando cheguei na Udinese pela primeira vez, estava totalmente cru. Só posso agradecer ao Verona pela porta que me abriu e esses dois jogadores mais experientes.
Desde que retornou do empréstimo do Verona, você virou figura frequente na equipe titular da Udinese e hoje é praticamente incontestável na escalação principal. Como foi esse processo?
Quando voltei do Verona, voltei como titular e sigo assim até hoje. Eu só fiquei alguns momentos no banco quando estava voltando de lesão ou tinha algum problema muscular. Tirando isso, por parte técnica ou tática, nunca fiquei no banco. Graças a um trabalho diário duro que tento manter durante os treinamentos, e colho os frutos disso. Manter o meu nível me ajuda a seguir na equipe titular.
Na sua temporada de estreia pela Udinese, o clube contava com muitos brasileiros no elenco, inclusive com a zaga formada por Felipe e Danilo, que já eram veteranos e com muita bagagem. Como acredita que isso te ajudou? Como era a relação com os zagueiros brasileiros?
Para mim tê-los no meu início foi muito importante, na adaptação e no vestiário. Quando cheguei aqui, o clube tinha diversos brasileiros, então a gente praticamente só falava português, e dentro de campo foi melhor ainda, já que eles também eram zagueiros. Na linha defensiva, jogávamos juntos. No começo, jogava de lateral-esquerdo, com o Felipe e o Danilo na zaga. Facilitou muito minha adaptação aqui e só posso agradecer a eles por terem me ajudado durante esse período.
Historicamente, Údine é um lar para brasileiros. Zico é idolatrado até hoje, zagueiros como Edinho e Danilo tiveram boas passagens. Esse legado de brasileiros serve de motivação para você?
É sempre importante manter esse legado brasileiro aqui. Quando cheguei, o time tinha sete ou oito brasileiros. Hoje são três, mas é sempre importante manter. A Udinese sempre foi um clube que abraçou muitos estrangeiros, inclusive brasileiros. Ter esse sangue brasileiro é sempre importante. Espero que não só eu, mas outros brasileiros também possam fazer história aqui no clube.
O futebol italiano é conhecido por dar muita ênfase à parte tática. Você acredita que isso ajudou o seu estilo de jogo?
O futebol italiano é uma escola para zagueiros e para o meu crescimento foi muito importante. Aqui, sou outro jogador. Já mudei bastante daquele Samir que as pessoas conheceram no Brasil. Depois de cinco anos eu amadureci e aprendi muitas coisas, que me ajudaram a evoluir. Sou muito grato ao futebol italiano por ter aberto as portas para mim. Estou muito feliz aqui na Udinese, espero continuar por anos, fazer cada vez mais a minha história no clube. Eu sempre jogo aqui. Pela parte tática eu consigo jogar tanto como lateral, ala, e zagueiro na linha de três ou de quatro. O treinador consegue fazer mudanças durante o jogo sem ter que me tirar. Comigo no campo fica um pouco mais versátil essa situação para o treinador. Espero continuar assim para que eu possa alcançar meus objetivos.
Você atua praticamente desde o início em uma linha de três na zaga da Udinese, sendo que já atuou como lateral-esquerdo. Como vê essa função especificamente nessa formação? Acredita que desempenha seu melhor futebol como zagueiro?
Eu creio que preciso ser um jogador versátil, independentemente da posição. Eu consigo jogar de lateral, ala, terceiro zagueiro, de quarto zagueiro. Ali na parte defensiva jogo em todas as posições.
Nas suas quatro primeiras temporadas pela Udinese você teve seis treinadores diferentes – Giuseppe Iachini, Luigi Delneri, Massimo Oddo, Igor Tudor, Julio Velázquez e Davide Nicola. Como acompanhou essas trocas? Acredita que isso foi um problema para você e para o clube? Como avalia a atual estabilidade de Luca Gotti?
Eu acho que trocar é ruim, de modo geral. Quando você muda muito de treinador você não consegue ter uma base, porque cada treinador vem com uma filosofia e ideia de jogo. No meu primeiro ano, joguei na linha de quatro. Depois mudou de treinador e jogava na linha de três, onde estou até agora. Então depende muito do técnico. Aprendi um pouco com cada um deles, então sou muito grato a todos. Com o Gotti já estamos trabalhando há dois anos e as coisas ficam mais fáceis quando você consegue trabalhar com um treinador que está há mais tempo no clube. Ele já sabe da rotina daqui. Quando chega um jogador novo a gente só direciona, porque daí fica mais fácil quando se tem uma base. É importante para o crescimento pessoal e do clube.
Você já foi convocado pela seleção brasileira principal pelo Tite, em 2019, mas depois não figurou mais nas listas dele. Ainda sonha com a volta para a Seleção? Mantém alguma forma de contato com o Tite?
Sou muito grato ao professor Tite por ter me dado a oportunidade de jogar na seleção brasileira por meio do meu trabalho na Udinese. Continuo trabalhando para que possa estar sempre no radar do professor quando ele precisar, mas acho que para estar na seleção nesse momento preciso fazer um salto. Ir para um clube que joga Champions, uma Europa League, acho que assim daria um pouco mais de visibilidade. Tem outros grandes jogadores que jogam na mesma posição que eu, mas estão jogando em competições mais importantes, como Champions e Europa League. Independentemente disso, sou muito grato ao Tite e a toda sua comissão. Espero um dia, através do meu trabalho na Udinese ou em qualquer outro lugar, voltar à seleção e mostrar meu trabalho. Mas hoje vejo assim: tem outros jogadores que estão disputando coisas mais importantes do que eu na minha frente.
Você acompanhou Rafael Toloi, Jorginho e Emerson, todos brasileiros naturalizados italianos, conquistarem a Eurocopa com a camisa da Itália. Já passou pela sua cabeça se naturalizar e defender as cores da seleção italiana? É uma possibilidade?
Eu estou aqui há seis anos e daqui a quatro poderei me naturalizar italiano. Se até lá eu não tiver oportunidade na seleção brasileira novamente, estiver jogando em alto nível e a seleção italiana me convidar, posso avaliar a situação. Mas meu primeiro objetivo é sempre a seleção brasileira.
Em toda janela de transferências, seu nome é especulado em alguma equipe brasileira, principalmente no Flamengo. Também já houve sondagem da Inter há alguns anos. Quais seus planos para o futuro? Pensa em buscar outros clubes europeus ou voltar para o Brasil?
Fico muito grato sempre que tem algo com o Flamengo. Fico muito feliz pelo meu nome estar sendo lembrado no meio da torcida e da imprensa, isso quer dizer que fiz um bom trabalho. As pessoas também acompanham meu trabalho, sabem que sou uma pessoa séria, um ótimo profissional. Fico muito feliz por isso. Realmente tive uma sondagem da Inter, em um período atrás, um diretor do clube até me ligou. Mas estou com a cabeça aqui, tenho contrato ainda. Se no futuro aparecer alguma coisa, temos que avaliar da melhor forma.
A Udinese é um dos mais antigos da Itália e tem uma torcida apaixonada, mas nunca conquistou um título de expressão. O que acha que falta para o clube subir de patamar e almejar coisas maiores?
Pelo período que estou aqui, a Udinese é um clube formador, que compra jogadores, forma alguns atletas e vende. A metodologia do clube, pelo que entendo desde que cheguei aqui, nunca foi obcecada por ganhar um título e sim por se manter na Serie A. O clube almeja sempre estar na primeira divisão, mas não ganhar um título. Sabe que o Campeonato Italiano é difícil e permanecer já é um grande objetivo. O título se vier, top, mas se não, o importante é estar na Serie A.
Como é morar em Údine? Gosta da cultura local? Acredita que isso te ajudou na adaptação?
Gosto muito de morar aqui em Údine. É uma cidade muito tranquila, pela qual você pode rodar a qualquer momento que não tem perigo. Tem infraestrutura. Meus filhos nasceram aqui. Somos bastantes felizes aqui em Údine. Com certeza isso me ajudou na adaptação, por ser uma cidade tranquila e pequena. Foi muito importante.