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Dario Simic, mesmo à margem do elenco nos grandes de Milão, foi pilar da Croácia

A troca de um rival por outro, feita por um jogador ou um técnico, costuma gerar uma maré de fortes emoções. Com Dario Simic, isso passou longe de ocorrer: a sua saída da Inter para o Milan, no início da década de 2000, foi acompanhada com indiferença pelas torcidas dos dois clubes. Em parte, porque os gigantes da capital da Lombardia compartilharam muitos atletas ao longo do tempo; em parte porque o croata não enchia os olhos dos fanáticos pelos times naquele momento.

Nascido em Zagreb, na então Iugoslávia, em 1975, Dario é um descendente de Andrijica Simic, um haiduque herzegovino. Haiduques eram bandoleiros balcânicos que, por combaterem os turcos otomanos e roubarem dos ricos para darem aos pobres, se tornaram figuras do folclore local. Tal qual seu parente distante, o jogador se especializou em combater adversários e desarmá-los: era zagueiro.

Simic entrou nas categorias de base do Dinamo Zagreb no início da adolescência, quando o time ainda disputava o Campeonato Iugoslavo – o qual venceu nove vezes. Dario se destacou pela habilidade nas cabeçadas e nos desarmes, além de ser fisicamente forte. Assim, galgou os níveis nos juvenis até chegar na equipe principal e estrear em 1992, quando a Croácia já era independente. Até hoje, o defensor é o mais jovem a ter disputado uma partida da liga nacional, com 16 anos e 9 meses.

Depois de sete aparições naquela temporada e o troféu da competição, Simic ganhou mais espaço para mostrar o seu potencial no campeonato seguinte. Titular na defesa, alternando entre as funções de lateral-direito e zagueiro, Dario ajudou o time de Zagreb a conquistar cinco taças nacionais, quatro copas e uma Supercopa croatas. Nesse período, foi colega de elenco de jogadores como Drazen Ladic, Igor Cvitanovic, Mark Viduka e Robert Prosinecki.

Na Inter, os melhores momentos de Simic ocorreram sob a orientação de Lippi (Allsport)

Em 1996, o treinador responsável por sua estreia, Miroslav Blazevic, comandava a seleção principal da Croácia. Simic acabou sendo lançado a campo com a camisa xadrez em março num amistoso contra a Coreia do Sul, entrando no lugar de Igor Stimac. Meses depois, jogou a Eurocopa e, aos 20 anos, só foi escalado na derrota por 3 a 0 contra Portugal. As convocações se tornaram frequentes no ciclo para a Copa do Mundo de 1998 e Dario rumou à França como titular dos vatreni.

A Croácia avançou em segundo lugar no Grupo H, que também tinha Argentina, Jamaica e Japão, e eliminou Romênia e a tricampeã Alemanha – esta, por 3 a 0 – nas oitavas e nas quartas de final, respectivamente. Nas semifinais, os xadrezes fizeram um duelo duro com a dona da casa e acabaram perdendo por 2 a 1, graças a uma improvável doppietta de Lilian Thuram. Na disputa pelo terceiro lugar, os croatas superaram a Holanda. Simic foi titular em seis dos sete jogos e só ficou de fora contra a Oranje graças à suspensão automática por cartões amarelos.

A espetacular campanha da Croácia fez com que os grandes clubes ficassem de olho nos jogadores mais promissores daquele time. A Inter se mexeu e, em janeiro de 1999, ofereceu o equivalente a 11 milhões de euros por Simic: a venda do defensor seria a mais valiosa do Dinamo Zagreb até ser ultrapassada pelas de Vedran Corluka, Eduardo da Silva e Luka Modric, entre 2007 e 2008.

Simic estreou pela Inter em 10 de janeiro daquele ano, numa goleada por 6 a 2 sobre o Venezia, em San Siro. A temporada 1998-99 foi bastante atribulada em Milão, mas o croata foi titular sob as ordens de Mircea Lucescu, Luciano Castellini e Roy Hodgson, comandantes que a equipe teve na segunda parte da campanha. O novato marcou dois gols, sobre Cagliari e Bologna.

Com o passar do tempo, o croata viu minguar o seu tempo em campo pela Inter (imago)

Após o decepcionante oitavo lugar na Serie A, o presidente Massimo Moratti contratou Marcello Lippi para comandar a equipe em 1999-2000. Com o antigo treinador da Juventus, Simic viveu o seu melhor momento na Inter. Alternando entre a titularidade e o afastamento por problemas físicos, o croata fez 24 aparições na temporada e ajudou a Beneamata a ser vice-campeã da Coppa Italia e retornar à Champions League, graças ao quarto posto na Serie A.

O defensor manteve o seu espaço na campanha seguinte, já sob as ordens de Marco Tardelli, mas foi relegado definitivamente à reserva depois que Héctor Cúper assumiu o comando do time, em 2001. Ainda que tenha vivido altos e baixos pela Beneamata, representou a Croácia na Copa do Mundo de 2002.

De volta à Lombardia, Simic teve o fim da linha em nerazzurro: colocado na lista de transferências, foi envolvido em uma troca com o Milan pelo turco Ümit Davala. Um negócio bastante estranho, uma vez que o meia só fizera 13 partidas pelos rossoneri e, de imediato, acabou emprestado ao Galatasaray. Ümit nunca entraria em campo pela Inter.

Simic nunca foi vitorioso pela Inter, apesar de ter feito parte de elencos estrelados – foi colega de Ronaldo, Roberto Baggio e Christian Vieri, por exemplo –, mas viu a escassez de taças desaparecer no Milan. Dario passou seis anos no clube rossonero e, durante várias dessas temporadas, muitos torcedores simplesmente esqueceram que ele ainda estava sob contrato: entrou pouquíssimo em campo. Contudo, nas duas campanhas em que mais foi utilizado (2003-03 e 2006-07), o Diavolo levantou a taça da Champions League.

No Milan, Simic recuperou espaço e levantou troféus (imago/Buzzi)

O croata estreou pelo clube rossonero na fase preliminar da Champions League, contra o Slovan Liberec, e já balançou as redes em sua segunda aparição pelo Milan: de cabeça, anotou no triunfo por 3 a 0 sobre o Modena, na Serie A. Escalado como lateral-direito por Carlo Ancelotti, Simic atuou em 45 partidas nesta temporada, mas ficou de fora das semifinais da Liga dos Campeões, contra a Inter e da decisão do torneio, contra a Juventus. O treinador optou pela experiência de Alessandro Costacurta e escalou Dario nas finais da Coppa Italia, competição em que o Diavolo levou a melhor sobre a Roma.

No verão de 2003, o Milan adquiriu o brasileiro Cafu e Simic viu o seu espaço no time praticamente desaparecer: na temporada 2004-05, por exemplo, ele só fez três partidas, sendo duas delas nas derradeiras rodadas da Serie A, quando os rossoneri já tinham o vice-campeonato assegurado. Na campanha seguinte, após voltar a receber mais oportunidades (atuou 21 vezes), Dario renovou o seu contrato até 2009.

Nesse período, o time conquistou Serie A, Supercopa Italiana e Supercopa Uefa, mas com uma contribuição praticamente irrisória do croata. Na temporada 2006-07, a situação mudou e, devido à idade avançada de Costacurta e a recorrentes problemas físicos de Alessandro Nesta e Massimo Oddo, Simic começou a ser reutilizado por Ancelotti – dessa vez, quase sempre como zagueiro.

Dario foi uma peça importante para que o Milan pudesse usar os seus titulares na Champions League – que disputou mesmo após a perda de pontos como punição pelo escândalo Calciopoli. Suas 22 partidas pela Serie A e suas quatro na Coppa Italia permitiram que Nesta e Paolo Maldini pudessem chegar descansados à fase mais crítica da temporada e ajudassem os rossoneri a vencerem o Liverpool na decisão da Champions League. Simic somou apenas seis aparições no torneio continental e não jogou mais depois das oitavas de final.

Apesar do bom início pelo Milan, Simic passou mais tempo sentado nas tribunas do que em campo (imago/Buzzi)

Aos 32 anos, Simic viu o seu 2007-08 ser marcado por lesões e apenas cinco partidas. Dessa forma, se despediria do Milan no verão de 2008, após somente 129 aparições ao longo de seis temporadas – para efeitos de comparação, entrara em campo 91 vezes em três épocas e meia na Inter. Enquanto rossonero, Dario também representou a Croácia em campanhas decepcionantes nas Euros 2004 e 2008, e na Copa do Mundo de 2006. O defensor se aposentou da seleção com 100 jogos em sua conta, quando era o atleta que mais havia vestido a camisa quadriculada – hoje, é o nono da lista.

Em agosto de 2008, o croata foi apresentado pelo Monaco. No principado, conservou a titularidade ao longo de toda a campanha do time, que terminou a Ligue 1 no meio da tabela. Em 2009-10, continuou no elenco alvirrubro, mas sequer frequentou o banco de reservas. Sem colecionar aparições, no final de abril de 2010, retornou ao Dinamo Zagreb, para curta passagem. Simic matou a vontade de vestir a camisa azul novamente e, apenas três jogos depois, decidiu que era hora de parar no início da temporada 2010-11, logo após vencer o arquirrival Hajduk Split na Supercopa da Croácia.

Na Itália, Dario conquistou muitos títulos, mas nem de longe adquiriu a importância que teve (e ainda tem) para o futebol de seu país. Além do icônico defensor, no fim da década de 1990 a família Simic cedeu o centroavante Josip, seu irmão mais novo, à seleção. E continua a dar frutos: filho do ex-zagueiro, Roko é atacante com passagens por clubes como Red Bull Salzburg e Cardiff City, além das equipes de base da Croácia.

Dario Simic
Nascimento: 12 de novembro de 1975, em Zagreb, Croácia
Posição: zagueiro e lateral-direito
Clubes: Dinamo Zagreb (1992-98 e 2010), Inter (1999-2002), Milan (2002-2008) e Monaco (2008-10)
Títulos: Campeonato Croata (1993, 1996, 1997, 1998 e 1999), Copa da Croácia (1994, 1996, 1997 e 1998), Champions League (2003 e 2007), Coppa Italia (2003), Supercopa Uefa (2003 e 2007), Serie A (2004), Supercopa Italiana (2004), Mundial de Clubes da Fifa (2007) e Supercopa da Croácia (2010)
Seleção croata: 100 jogos e 3 gols

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