Nesta quinta, 20 de abril, a Roma tinha uma dura missão para cumprir e não deu outra: os giallorossi ratificaram a força mental que o elenco desenvolveu desde a chegada do técnico José Mourinho e conseguiram reverter a situação adversa que o Feyenoord lhe infligira no jogo de ida das quartas de final da Liga Europa. Derrotada por 1 a 0 nos Países Baixos, a Loba precisava de pelo menos dois gols contra um adversário bastante qualificado e que lhe impôs muitas dificuldades no Olímpico. Mesmo assim, ainda conseguiu golear os alvirrubros por 4 a 1 e se classificar para as semifinais da competição.
Se contava com a presença dos ídolos Totti e De Rossi nas arquibancadas, a Roma não teve duas de suas estrelas desde o pontapé inicial – por questões físicas, Abraham e Dybala começaram no banco – e ainda perderam Wijnaldum, lesionado, logo aos 21 minutos. Os craques romanistas e toda a torcida giallorossa presente no Olímpico teriam uma decepção e o Feyenoord poderia consumar a revanche da decisão da Conference League do ano passado?
Por causa das questões citadas, o primeiro tempo foi de nervosismo por parte dos mandantes. Essa tensão aumentou pouco a pouco porque o Feyenoord começou melhor na peleja: aproveitando os espaços deixados pela Loba, o time de Arne Slot acelerou o jogo sempre que pode e chegou com perigo em algumas ocasiões. Inclusive, Rui Patrício fez uma grande defesa aos 13 minutos e evitou que uma finalização à queima-roupa de Szymanski estufasse as redes. A Roma, por sua vez, teve oportunidades interessantes com Cristante e Pellegrini.
O nervosismo do campo se refletia no banco de reservas e acabou resultando numa confusão por volta dos 33 minutos. Com o jogo parado, o mexicano Giménez corria perto da linha lateral e discutiu com Salvatore Foti, auxiliar de Mourinho, que lhe desferiu um soco. O assistente foi expulso e ainda sobraram cartões amarelos para Llorente, da Roma, e Wellenreuther, goleiro suplente do Feyenoord.
Curiosamente, o entrevero terminou por apaziguar os ânimos e, dali em diante, não só a Roma entrou nos eixos como a partida ganhou em emoções – a partir do segundo tempo, pelo menos. Depois da conversa nos vestiários, a equipe da casa voltou ao campo mais ligada e em uma rotação acima: com menos de 30 segundos de bola rolando, Pellegrini recebeu dentro da área e desviou o passe vindo da direita. A pelota ia passar entre a trave e o arqueiro Bijlow, mas o holandês fez grande defesa e ainda contou com a ajuda do poste.
A Roma passou a ter dificuldades com a marcação pressão do Feyenoord e passou a utilizar as bolas aéreas como estratégia mais frequente – até mesmo a partir de cobranças de lateral. E foi num arremesso à área que os italianos abriram o placar: a pelota ficou disputada e, sem um dono específico, sobrou para Spinazzola. O lateral chutou fraco e cruzado, antes de o bloqueio chegar, e acertou o cantinho esquerdo dos holandeses.
Depois do gol, a Roma continuou levando perigo através de jogadas aéreas. Após escanteio, Smalling escorou de cabeça e Mancini finalizou, mas a bola desviou em Belotti e foi para fora. Na sequência, aproveitando vacilo na saída do Feyenoord, a Loba avançou ao ataque e Abraham, que substituíra o ex-centroavante do Torino, ajeitou para Cristante balançar as redes. No entanto, o árbitro Anthony Taylor prontamente marcou falta do seu compatriota, que empurrara Trauner antes de dar o passe.
Àquela altura, Mourinho também já havia tirado Dybala do banco para tentar resolver a parada em tempo normal – bem antes, quando Wijnaldum se lesionara, El Shaarawy também entrara em campo. Os suplentes mudariam a história do confronto, mas, antes disso, o Feyenoord deu mais emoção à peleja. Aos 80 minutos, Szymanski recebeu do lado direito do ataque, brecou e bateu cruzado; na área, o brasileiro Igor Paixão entrou na trajetória da bola e a desviou com a cabeça, pegando Rui Patrício no contrapé.
Faltava pouco tempo para o fim do jogo e a Roma partiu para cima do líder da Eredivisie a qualquer custo, lançando mais bolas na área e contando com a classe de Dybala e Pellegrini para definir as jogadas na entrada da área rival. E foi pelo chão, exatamente com a dupla, que a Loba chegou ao segundo gol, aos 89 minutos: numa bonita articulação, o argentino tabelou com o italiano e dominou já girando sobre Trauner, antes de finalizar alto, no lado oposto do goleiro Bijlow.
A Roma não queria disputar a prorrogação e, após marcar o segundo, continuou explorando a pressão alta e as iniciativas pelo lado esquerdo, em busca do terceiro ainda nos acréscimos. Dybala quase marcou outra vez, numa jogada semelhante à do seu gol, mas Bijlow fez grande defesa e decretou que haveria mais 30 minutos de futebol no Olímpico.
Na prorrogação, quem teve a primeira grande chance foi o Feyenoord. Depois de boa jogada pelo lado esquerdo do ataque, Danilo chutou, a bola foi bloqueada e sobrou para Giménez, que, de frente para o gol, exagerou na força e mandou por cima. Apesar disso, o time holandês foi se desmilinguindo com o tempo e a Roma conseguiu aproveitar, com maestria, o desgaste adversário.
Fazendo a diferença no jogo, Dybala continuou a chamar a responsabilidade no tempo extra e obrigou Bijlow a trabalhar novamente quando arriscou finalização de fora da área. O argentino foi cobrar o escanteio cedido pelo arqueiro e colocou a bola na cabeça de Ibañez, que subiu mais do que todo mundo e cabeceou na trave. Mais uma vez, a jogada aérea era bem trabalhada pela Roma.
Ainda no primeiro tempo da prorrogação, a pressão da Roma deu resultado. Após boa troca de passes, Abraham recebeu de Pellegrini em profundidade, avançou e cruzou para pequena área. Lá estava El Shaarawy, que só teve o trabalho de empurrar para o gol e marcar o terceiro dos mandantes. Antes do intervalo, uma Loba muito mais inteira do que a rival e totalmente relaxada já não ampliou porque Bijlow fechou o ângulo na finalização de seu camisa 9.
Já na etapa complementar, Abraham voltou a perder outra grande chance – mas não fez falta. Aos 109 minutos, Dybala clareou um contra-ataque veloz com um passe açucarado para o inglês, que finalizou em cima de Bijlow. Pellegrini, no rebote, guardou o quarto dos romanos e sacramentou a classificação italiana. Já no apagar das luzes, Giménez ainda foi expulso por entrada dura em Mancini e permitiu que um relaxado Mourinho até decidisse reger a torcida giallorossa antes do apito final.
Num Olímpico lotado, a Roma não desistiu, os torcedores não desistiram e, após darem uma aula de recuperação, os comandados de Mourinho irão disputar uma semifinal europeia pelo terceiro ano seguido – feito inédito na história da agremiação. A Loba, aliás, ficou entre os quatro melhores do torneio da Uefa que disputou em quatro das seis últimas temporadas: em 2017-18, o fez na Champions League; em 2021-22, na Conference League; e, em 2020-21, também obtivera o feito na Liga Europa. Agora, o seu objetivo é ser finalista continental de forma consecutiva e, para isso, terá de superar o Bayer Leverkusen.