Foi com emoção, com raça, mas deu: depois de décadas de uma longa espera, a Roma conquistou o seu primeiro título de um torneio organizado pela Uefa. Nesta quinta-feira, 25 de maio, a equipe italiana superou o Feyenoord, da Holanda, pelo placar mínimo, e levantou a taça da primeira Liga Conferência da história. O único gol que movimentou a noite na na Arena Kombëtare, em Tirana, capital da Albânia, foi da joia Zaniolo.
A conquista da Roma foi cercada por simbolismos e quebrou uma penca de tabus. Primeiramente, porque encerrou um jejum de 12 anos de clubes italianos sem títulos continentais – desde que a Inter venceu o Bayern de Munique, em 2010, uma equipe do país não comemorava na Europa.
O time giallorosso, por sua vez, não celebrava a conquista de uma taça desde 2008 e pode entrar no rol de equipes da Velha Bota que detêm um caneco da Uefa em sua sala de troféus. Com isso, a Roma também deixa de ser motivo de troça dos rivais, já que Milan, Juventus, Inter, Parma, Lazio, Fiorentina e Napoli (e até Sampdoria, Bologna, Perugia e Udinese) já haviam sentido o gostinho de serem campeões de algum torneio organizado pela máxima entidade do futebol europeu.
O grande artífice desta Roma vencedora, aliás, é o elo entre as duas últimas conquistas da Itália em solo continental: era José Mourinho, técnico giallorosso, que comandava aquela Inter. Considerado por muitos estudiosos do futebol como herdeiro da tradição de Helenio Herrera, o português se juntou ao franco-argentino como únicos profissionais capazes de fazerem tanto a Beneamata levantar a taça da Copa dos Campeões/Champions League quanto a Loba celebrar um título. Pelos capitolinos, o sul-americano ganhou a Coppa Italia e a Copa Anglo-Italiana.
Além de inserir seu nome no panteão de ídolos da Roma, o Special One ainda ratificou o seu tamanho na história da modalidade. Mourinho conseguiu sua quinta vitória em cinco finais continentais e se tornou o primeiro técnico campeão de Champions League/Copa dos Campeões, Liga Europa/Copa Uefa e Conference League. Os dois outros técnicos que conseguiram vencer três torneios organizados pela entidade que gerencia o futebol europeu foram o italiano Giovanni Trapattoni e o alemão Udo Lattek, que ganharam Copa dos Campeões, Copa Uefa e a extinta Recopa.
O jogo
Roma e Feyenoord puderam entrar no campo da Arena Kombëtare com o que tinham de melhor. Tanto Mourinho quanto Arne Slot iniciaram a partida com propostas similares: muita pegada, intensidade na marcação e poucos espaços para o adversário jogar. Dessa forma, os primeiros minutos foram de chances escassas para ambos os lados.
Aos 17, Mourinho viu uma de suas apostas fracassar: Mkhitaryan, que não atravessa o ápice da forma física por estar voltando de lesão, sentiu dores musculares e foi substituído pelo português Sérgio Oliveira. Foi um dos poucos riscos que o português correu e o único que perdeu. Enquanto isso, o Feyenoord tentava manter a posse de bola no campo de ataque, a Loba resistia e esperava a chance de um contragolpe em velocidade – ainda que Abraham, vice-artilheiro da competição, com nove gols, estivesse bem controlado pela defesa adversária.
Os holandeses impediam as subidas da equipe capitolina, principalmente com os alas Karsdorp e Zalewski, que costumam avançar bastante, seguindo as orientações de Mourinho. Porém, quando o Feyenoord estava bem postado em seu campo, uma bola longa quebrou a retaguarda alvirrubra: aos 32 minutos, Mancini lançou para a área, o zagueiro Trauner vacilou e Zaniolo aproveitou. O garoto matou no peito e deu um toque sutil por cima do goleiro Bijlow, abrindo o marcador. Um italiano não balançava as redes numa final de torneio de clubes europeu desde 2007, quando Pippo Inzaghi anotou dois tentos na vitória do Milan sobre o Liverpool.
O Feyenoord até que tentou chegar ao empate ainda na primeira etapa, mas só passou a ameaçar mesmo após o intervalo. Logo no início da segunda etapa, Mancini desviou contra o próprio patrimônio uma bola cruzada e viu ela carimbar a trave. No rebote, Til arriscou e Rui Patrício defendeu muito bem. Dois minutos depois, Malacia soltou um petardo da entrada da área e o português novamente apareceu com maestria. A intervenção, em espalmada, foi suficiente para direcionar a pelota para fora da baliza – acabaria explodindo no travessão.
Em busca da paridade, o Feyenoord tentou controlar o jogo, mas pouco conseguiu ameaçar dali em diante. A equipe holandesa tentava, mas quase sempre terminava bloqueada pela defesa da Roma, que contava com atuações sólidas de Mancini, Smalling e Ibañez. O trio, anteriormente muito contestado, foi potencializado por Mourinho – um especialista em “estacionar o ônibus” – e terminou a temporada em alta.
Em uma das suas poucas oportunidades na etapa final, o time do Special One acertou sua primeira finalização a gol aos 73 minutos: após sobra de escanteio, Veretout chutou forte, a bola desviou em Sinisterra e Bijlow fez uma grande defesa. Confiando no fim do jejum europeu, a torcida romanista passou a cantar ainda mais forte. Esse apoio ajudou os giallorossi a ficarem perto de ampliar o placar, aos 86, quando Pellegrini recebeu na área e parou em outra intervenção importante do goleiro adversário.
Mas nem precisou de outro gol. O placar de 1 a 0 era suficiente para fazer a Roma tornar a noite de Tirana inesquecível para os seus torcedores – e fazer o Olímpico, na Cidade Eterna, ser invadido por milhares de giallorossi. Quando a equipe italiana levou 6 a 1 do Bodo/Glimt, na Noruega, poucos imaginavam que um desfecho favorável, principalmente com a obtenção do título, seria possível para a Loba. Pois Mourinho, Zaniolo, Pellegrini, Abraham e sua trupe provaram o contrário. Foram, viram e conquistaram.
Roma 1-0 Feyenoord
Roma: Rui Patrício; Mancini, Smalling, Ibañez; Karsdorp (Viña), Mkhitaryan (Sérgio Oliveira), Cristante, Zalewski (Spinazzola); Zaniolo (Veretout), Pellegrini; Abraham (Shomurodov). Técnico: José Mourinho.
Feyenoord: Bijlow; Geertruida, Trauner (Pedersen), Senesi, Malacia (Jahanbakhsh); Til (Toornstra), Aursnes, Kökçü (Walemark); Nelson (Linssen), Dessers, Sinisterra. Técnico: Arne Slot.
Gol: Zaniolo (32′)
Árbitro: István Kovács (Romênia)
Local e data: Arena Kombëtare, Tirana (Albânia), em 25 de maio de 2022