Jogos históricos

Em 1996, a Juventus não teve dificuldades de bater o Nantes para alcançar a final europeia

Longe de ser um time tradicionalíssimo a nível continental, o Nantes disputou poucas vezes competições internacionais. Na Europa League, teve como melhor campanha uma disputa de quartas de final, na qual foi eliminada por um clube italiano, a Inter. Em 2023, encontra pelo caminho mais um rival da Velha Bota: a Juventus, e não pela primeira vez.

O clube francês esbarrou na Velha Senhora em 1996, logo em uma semifinal de Champions League. Enquanto debutavam na competição com um novo formato, os canários, que haviam conquistado o seu sétimo título nacional em 1995, teriam pelo caminho uma Juve recheada de craques – e que havia vencido a Serie A e a Coppa Italia no ano anterior. Depois de passar de um grupo que contava com Porto, Aalborg e Panathinaikos, o Nantes do histórico técnico Jean-Claude Suaudeau derrotou o Spartak Moscou nas quartas e já realizava a melhor campanha de sua história no torneio.

Vale mencionar que a Champions League, nessa época, foi feita em um formato diferente do atual. Com menos participantes (16), foram montados apenas quatro grupos, com dois classificados em cada e passagem diretamente para as quartas de final. Do lado dos bianconeri, o caminho foi bem mais azedo: Borussia Dortmund, Steaua Bucareste e Rangers formavam a chave, mas ninguém conseguiu ficar acima dos italianos de Turim. A Juventus ficou em primeiro lugar com quatro vitórias, um empate e apenas uma derrota – para o Dortmund.

O eterno Vialli marcou na ida e na volta, sendo o grande nome da passagem da Juve à decisão (Bongarts/Getty)

Nas quartas de final, os comandados de Marcello Lippi tiveram o Real Madrid como um enorme teste. Os espanhóis contavam com Michael Laudrup vestindo a camisa 10 e, na frente, com um jovem Raúl – que fez o gol na vitória por 1 a 0 no Santiago Bernabéu. Na volta, foi a vez do também prodígio Alessandro Del Piero e do bom Michele Padovano anotarem os tentos que garantiram a classificação da Juventus para a fase seguinte.

Apesar de titular nesse confronto, Padovano costumava ser reserva desta equipe da Juventus. Afinal, ao lado de Del Piero, Fabrizio Ravanelli e Gianluca Vialli formaram um dos maiores trios de ataques da história bianconera. No meio-campo, Paulo Sousa, Antonio Conte e Didier Deschamps davam a sustentação necessária, às vezes revezando com Angelo Di Livio e Vladimir Jugovic. Na defesa, Angelo Peruzzi fechava a meta e contava com Moreno Torricelli, Ciro Ferrara, Pietro Vierchowod e Gianluca Pessotto na linha de zaga.

Na semifinal contra o Nantes, Sergio Porrini começou como titular na lateral direita, devido ao cartão vermelho recebido por Torricelli no confronto de volta contra os merengues. Jugovic e Di Livio foram titulares, assim como Padovano, e fizeram sua parte.

Jogador de grande estrela, Jugovic ajudou a Juventus a bater o Nantes, em Turim (EMPICS/Getty)

O domínio dos mandantes italianos na primeira mão foi claro, mesmo com poucas chances perigosas. Recorrendo mais aos chutes de fora da área e cruzamentos, a melhor oportunidade de tirar o zero do placar veio com Vialli. Em uma bola que pipocou na área, Gianluca emendou uma bela bicicleta, defendida pelo arqueiro Dominique Casagrande.

Pouquíssimo tempo antes do intervalo, Bruno Carotti vacilou e acabou expulso pelo segundo cartão amarelo. O jogo era bem duro, principalmente na questão das faltas, e o lado francês não perdia a viagem: terminou o confronto com sete cartões no total. O vermelho, aliás, fez total diferença no andamento do duelo.

Com apenas quatro minutos de pelota rolando na segunda etapa, Vialli já fez valer a vantagem numérica na bola parada. Vierchowod cabeceou em direção ao gol e o atacante desviou, matando qualquer chance de defesa. O cenário perfeito para a equipe de Lippi continuar dominante.

Na França, a Juve ficou duas vezes à frente do placar e, apesar de ter perdido, se classificou facilmente (Getty)

Em mais um escanteio, Porrini desviou o cruzamento de Jugovic e carimbou a primeira trave. No rebote, Padovano isolou. Mais tarde, Del Piero quase marcou sem querer, ao levantar na área de esquerda. O goleiro se antecipou mal e a bola passou por trás dele, andando pela frente da linha do gol. A pelota finalmente entrou aos 65 minutos. Jugovic, mais uma vez, dominou na entrada da área e, confiante, emendou uma bomba no ângulo. Golaço e fatura liquidada em Turim.

Precisando escalar um Everest para conseguir a classificação na peleja de volta, o Nantes jogou mais aberto e partiu para cima, deixando as coisas mais agitadas na França. No lá e cá, a Juventus de novo saiu na frente com um lance de bola parada. Aos 17 minutos, Ferrara efetuou um voleio em um cruzamento na área e Vialli, antecipando toda defesa, dominou e tocou para o fundo das redes, fazendo o terceiro dos italianos no placar agregado.

Sem nada a perder, os donos da casa continuaram em busca do primeiro gol. Quase conseguiram um pênalti em lance polêmico, que acabou não sendo marcado pelo árbitro Sándor Puhl. Ainda antes do intervalo, o zagueiro Eddy Capron subiu mais do que todo mundo para cabecear uma bola vinda do escanteio. Pessotto chegou a afastar, porém, após ter ultrapassado a linha. Era o empate verde e amarelo.

Com artilharia pesada, a equipe de Turim superou o Nantes e se credenciou para bater o Ajax na final europeia (Arquivo/Juventus)

A Juventus retomou a dianteira no início da segunda etapa, aos 50 minutos. Vialli, depois de um domínio magistral, lançou Paulo Sousa, que se infiltrou no meio da zaga. O português não finalizou tão bem, mas fez o suficiente para que o goleiro não conseguisse desviar a trajetória da meta. Não durou muito.

Faltando pouco para o fim da partida, Benoît Cauet – que depois atuaria no futebol italiano, se destacando principalmente pela Inter – brilhou mesmo sem garantir a classificação de seu time, que pressionou muito na reta final. Primeiro, deixou Japhet N’Doram na cara de Peruzzi. O camisa 10 fuzilou e empatou o confronto. E, mais tarde, em mais um ótimo passe pela direita da defesa bianconera, o meia encontrou Franck Renou. O homem que veio do banco bateu cruzado e deu números definitivos àquele duelo de semifinais.

Fortíssima, essa equipe da Juventus viria a ser campeã da competição, vencendo o Ajax na finalíssima da Champions League, disputada em Roma. Naquela ocasião, inclusive, a Velha Senhora foi absolutamente dominante e não deu qualquer chance para o time de Louis van Gaal. O Nantes, por sua vez, foi apenas sétimo colocado no Campeonato Francês e jamais voltou a colher glórias em nível continental.

Juventus 2-0 Nantes (ida)

Juventus: Peruzzi; Porrini, Vierchowod (Marocchi), Ferrara, Pessotto; Di Livio (Lombardo), Paulo Sousa (Carrera), Jugovic; Padovano, Vialli, Del Piero. Técnico: Marcello Lippi.
Nantes: Casagrande; Le Dizet, Decroix, Capron, Pignol; Ferri, Cauet, Carotti, Gourvennec (Chanelet); Ouédec (Peyrelade), Kosecki (Guyot). Técnico: Jean-Claude Suaudeau.
Gols: Vialli (49’) e Jugovic (66’)
Cartão vermelho: Carotti
Árbitro: Dermot Gallagher (Inglaterra)
Local e data: estádio Delle Alpi, Turim (Itália), em 3 de abril de 1996

Nantes 3-2 Juventus (volta)

Nantes: Casagrande; Chanelet, Decroix, Capron, Pignol (Peyrelade); Makélélé, Ferri, Cauet; N’Doram; Ouédec (Gourvennec), Kosecki (Renou). Técnico: Jean-Claude Suaudeau.
Juventus: Peruzzi; Ferrara, Vierchowod, Carrera, Pessotto; Conte, Deschamps, Di Livio; Ravanelli (Padovano), Vialli (Jugovic), Del Piero (Paulo Sousa). Técnico: Marcello Lippi.
Gols: Capron (44’), N’Doram (69’) e Renou (82’); Vialli (17’) e Paulo Sousa (50’)
Árbitro: Sándor Puhl (Hungria)
Local e data: Stade de la Beaujoire, Nantes (França), em 17 de abril de 1996

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