Liga dos Campeões

A Inter deixou o Manchester City desconfortável, mas os ingleses ficaram com o título europeu

Pouca gente esperava que a Inter avançasse à fase de mata-mata da Champions League, em 2022-23. Ninguém acreditava que a Beneamata chegaria a Istambul. Ninguém confiava que a equipe italiana fosse dar trabalho ao Manchester City de Pep Guardiola, praticante do mulher futebol da temporada europeia. Ninguém imaginava que, inclusive, teria superioridade na execução do seu plano de jogo em relação aos Sky Blues em parte considerável da decisão e, além disso, mais chances claras de balançar as redes. Tudo isso aconteceu na maior cidade da Turquia. Mesmo assim, os nerazzurri acabaram sendo derrotados pelos ingleses: 1 a 0, com gol de Rodri. No fim das contas, ganhou o time que tinha obsessão pelo troféu do torneio, e não aquele que surpreendeu na campanha e não tinha, sobre os ombros, o peso da obrigação.

A equipe de Simone Inzaghi mostrou, ao longo de 2022-23, ter cacife para lidar com o improvável – para o bem e para o mal. Na Serie A, mesmo com um dos melhores elencos da Itália, não soube administrar as nuances de uma competição em pontos corridos e passou longe de competir pelo scudetto. O treinador, contudo, é especialista em preparar partidas de mata-mata e provou isso mais uma vez: título incontestável na Supercopa Italiana, autoridade na Coppa Italia e um caminho exitoso na Champions League. No torneio continental, das oitavas de final em diante, a Inter ficou menos de 40 minutos em desvantagem. Todos eles no segundo tempo da decisão.

Em Istambul, o Manchester City foi a campo com uma surpresa: Aké no lugar de Walker, que tinha limitado Vinícius Júnior nas semifinais contra o Real Madrid. Desse modo, o holandês entrou no flanco esquerdo da defesa e Akanji foi movido para a lateral direita. Na Inter, Inzaghi optou por manter Brozovic no time titular, já que Mkhitaryan voltava de lesão. O técnico também preferiu seguir com Dzeko ao lado de Lautaro e guardar Lukaku para o segundo tempo.

Taticamente, a Inter apostou em encaixes individuais, que deixaram o Manchester City muito desconfortável, embora com a bola nos pés por quase toda a primeira etapa. Os italianos efetuavam pressão coordenada e brigavam muito pela ocupação de espaços, impedindo que os ingleses finalizassem. Onana praticamente não foi exigido na etapa inicial – na verdade, teve mais trabalho com os pés, dando a saída nas jogadas, do que com as mãos.

Autor de grande atuação, Acerbi praticamente impediu que Haaland tocasse na bola (AFP/Getty)

Em toda a etapa inicial, o Manchester City só ameaçou duas vezes. A primeira, logo aos 6 minutos, quando a Inter ainda não havia encaixado a melhor marcação: Dimarco foi dando espaço a Bernardo Silva e o português, ao procurar o ângulo oposto, finalizou com bastante perigo. Depois, aos 27, Haaland teve a sua única chance em todo o jogo. O norueguês recebeu em profundidade e chutou em cima de Onana, que esperou a batida e, muito bem posicionado, rebateu com o punho.

Aos 36 minutos, o time de Guardiola sofreu um grande baque. De Bruyne, que havia acusado problema físico na parte posterior da coxa um pouco antes, deixou o campo lesionado em mais uma final de Champions League – acontecera o mesmo em 2021, na derrota para o Chelsea. Foden entrou no seu lugar, mas só apareceria mesmo na segunda etapa.

Para a Inter, o jogo também começou a mudar por conta de uma lesão. Aos 57, Dzeko sentiu dores musculares e Lukaku entrou em seu lugar. Dois minutos depois, o belga poderia ter aberto o placar, porém Lautaro tomou a decisão errada num lance crítico. Akanji deu mole num recuo de bola e deixou o argentino em boa condição, só que sem ângulo. Martínez poderia ter rolado para o companheiro de ataque, mas preferiu finalizar e parou em Ederson. Desesperado, Guardiola até chegou a se atirar ao gramado por conta da falha do defensor. Só após o perigo ser afastado é que o catalão pode respirar aliviado.

Bem postada na defesa, a Inter dificultou a vida do Manchester City, que anotaria, com Rodri, numa rara chegada (AFP/Getty)

O castigo da Beneamata não demoraria a chegar. O lado esquerdo da Inter já estava apresentando vulnerabilidades, uma vez que Bernardo Silva estava sendo capaz de tirar Dimarco de posição e efetuar desmarques. Foi por ali que Akanji acionou o português com passe em profundidade, no contrapé do italiano, e clareou a jogada para o cruzamento do meia. A bola espirrou em Acerbi e Rodri aproveitou a sobra para, da entrada da área, colocar no cantinho e abrir o placar para o Manchester City.

O jogo, que já estava mais aberto no segundo tempo, ganhou em emoção. Aos 71 minutos, a Inter teve mais uma chance claríssima para marcar e não a aproveitou. Dumfries mandou a bola para a área, de cabeça, e Dimarco, sozinho, tentou encobrir Ederson com uma testada. A pelota tocou no travessão e, no rebote, o lateral também tentou mandá-la para as redes com a cuca. O problema é que a opção não era a mais precisa: tanto é que a conclusão acabou encontrando Lukaku no meio do caminho.

Com Haaland anulado por Acerbi, o Manchester City só teria mais uma oportunidade no jogo. Aos 77 minutos, Foden fintou Dimarco, acelerou e saiu cara a cara com Onana, que repetiu estratégia da primeira etapa: esperou a finalização e se utilizou da velocidade no tempo de reação para saltar e encaixar a bola.

A Inter deixou de aproveitar duas chances inacreditáveis e, por pouco, não teve melhor sorte na decisão (Getty)

O tempo foi passando, Inzaghi mexeu no seu time para manter a forma física em alta e, já no finalzinho, a Inter partiu para o abafa. Novamente, não aproveitou as suas chances – num misto de infelicidade nas conclusões, falta de sorte e competência de Ederson.

Aos 88 minutos, Brozovic lançou na área, Gosens ajeitou de cabeça e Lukaku testou para baixo, mas o arqueiro brasileiro rebateu no susto, de joelho. No rebote, Rúben Dias teve de se esforçar para não fazer contra e cedeu o escanteio. No último lance do jogo, o goleiro dos Citizens ainda espalmou uma casquinha do ala alemão e garantiu o triunfo do time inglês, que completou a tríplice coroa.

No fim das contas, a Inter saiu de campo decepcionada por ter ficado muito perto de surpreender mais uma vez. Aquela equipe, que não era cotada sequer para disputar as oitavas de final, ficou muito perto de derrotar um rival talhado para ganhar a Champions League – e que gastou bilhões de euros para que a obsessão fosse sanada e qualquer contestação fosse varrida para debaixo do tapete. O título não foi obtido, mas já se sabia que era mesmo difícil. O que permanece é o sentimento de orgulho.

A decisão de Istambul não deve ser tratada como ponto final para os nerazzurri, mas como uma etapa do percurso de retomada do protagonismo da equipe em nível continental. Pelas entrevistas concedidas pelos jogadores, pelo técnico Inzaghi e pelo presidente Steven Zhang, essa avaliação parece ser consensual nos bastidores da agremiação de Appiano Gentile.

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