Serie A

Pioli ajudou a aumentar o ‘gap’ da Inter para o Milan nos Dérbis de Milão e não sabe como reagir

Quando o Milan voltou ao topo da Itália com a conquista do scudetto 2021-22, o lema Succede solo a chi ci crede (“Só acontece com quem acredita”, em tradução livre) ficou gravado na mente dos torcedores. A frase virou até título de um livro que narra, com registros do fotógrafo Daniele Mascolo, a trajetória do time naquela Serie A. Stefano Pioli é a melhor representação do conceito “só acontece com quem acredita”, tendo em vista sua carreira como treinador antes de chegar ao clube. Porém, depois do humilhante 5 a 1 imposto pela Inter à sua equipe, o mote teve sentido esvaziado e deu lugar à descrença quando o assunto é Derby della Madonnina.

Não é de hoje que os nerazzurri se tornaram uma pedra no caminho do Milan. Desde o final dos anos 2000, os rossoneri encontram muita dificuldade para bater a Beneamata. As duas últimas vitórias por mais de um gol de diferença da equipe milanista sobre a agremiação interista datam de 2016 e 2011 — ambos por 3 a 0, pela Serie A. Em uma rivalidade tão rica como a dos primos de Milão, chega a ser assustadora a vantagem que a Inter criou nas últimas temporadas. E Pioli tem uma parcela de culpa, uma vez que não aprende com os erros dos dérbis passados.

Em entrevista coletiva antes do vexatório 5 a 1, o técnico se mostrou presunçoso ao comentar sobre a expectativa para o clássico. “Não me interessa o que fizemos nos últimos dérbis, mas sim o que faremos para vencer o de amanhã [sábado, 16 de setembro]”, disparou. “Porque, do contrário, também poderíamos falar sobre o scudetto que nós ganhamos e a Inter, não. Estamos preparados e não temos medo”, completou.

Em campo, o Milan manteve o que vinha dando certo nos últimos jogos: Davide Calabria deixava a lateral direita e se posicionava ao lado de Rade Krunic na “volância”, enquanto Theo Hernández se alinhava com Malick Thiaw e Simon Kjaer à frente de Mike Maignan. Assim, o time superou Bologna, Torino e Roma. A Inter, no entanto, não se incomodou com a nova estrutura de saída de bola do rival e, aproveitando boa jogada de Marcus Thuram sobre Thiaw, abriu o placar bem no início do confronto, com gol de Henrikh Mkhitaryan.

Aliás, impressiona como o time nerazzurro encontra rapidamente o caminho das redes nos dérbis contra os rossoneri. Desde que Simone Inzaghi chegou ao lado azul e preto de Milão, o Milan acabou vazado antes dos 10 minutos de partida em seis oportunidades. Isso quer dizer que o atual técnico interista é a criptonita de Pioli? Sim, mas o treinador rossonero também sofreu quando Antonio Conte comandava a Beneamata: foram três derrotas e apenas uma vitória para Stefano em duelos com o apuliano.

Após a goleada da Inter sobre o Milan, Pioli se tornou o primeiro técnico a perder cinco Dérbis de Milão seguidos (AFP/Getty)

De volta à partida do 5 a 1, o gol sofrido logo cedo obrigou o Milan a propor jogo contra uma equipe cuja defesa é muito sólida e cujo contra-ataque é mortal. Foi assim, inclusive, que saiu o segundo tento: Denzel Dumfries recebeu um lindo lançamento de Lautaro Martínez, aproveitou que a defesa do Milan estava bem adiantada e acionou Thuram, que gingou para cima de Thiaw e mandou um balaço no ângulo de Maignan.

No segundo tempo, o Milan fez 2 a 1 com Rafael Leão, aproveitando ótimo passe de Olivier Giroud. Foi o primeiro gol que Yann Sommer sofreu nesta Serie A. Mas Inzaghi agiu rápido, colocou Davide Frattesi, Carlos Augusto e Marko Arnautovic em campo e a Inter passou o carro sobre o rival. Mkhitaryan, o ex-milanista Hakan Çalhanoglu e Frattesi construíram a histórica goleada. A última vez que os nerazzurri haviam marcado cinco vezes em um Derby della Madonnina fora em 24 de março de 1974.

Em 2023, os primos de Milão se enfrentaram cinco vezes, com o Milan simplesmente perdendo todos os embates. O saldo dessas partidas são 12 tentos da Beneamata e apenas um — marcado por Rafael Leão — do Diavolo. Após a goleada, Pioli concedeu uma entrevista vergonhosa, na qual exaltou uma posse de bola estéril de seu time antes de a Inter abrir o placar e, pior ainda, não pediu desculpas pelo resultado. “Não estou de acordo em pedir desculpas aos torcedores. Acha que queríamos tomar cinco gols da Inter e perder o dérbi?”, questionou.

O 5 a 1 foi a maior humilhação do Milan num Derby della Madonnina em décadas e o técnico da equipe sequer pede desculpas pelo vexame. Isso depois de ser completamente dominado na Supercopa Italiana e nas semifinais da Champions League, e de ter sido o primeiro técnico a perder cinco clássicos de Milão seguidos em toda a história. Em suma, as partidas contra a Inter nos últimos anos três anos têm mostrado como Pioli é limitado taticamente e não consegue sair das armadilhas criadas por Inzaghi.

A paciência do torcedor milanista com Stefano está evaporando. A teimosia de utilizar jogadores de rendimento questionável, a resistência em dar chances a atletas jovens, as entrevistas em que demonstra estar fora da realidade, as derrotas diante dos nerazzurri… São vários indícios de que a relação entre técnico e torcida já está desgastada, embora o comandante desfrute de prestígio com os novos cartolas do clube. Depois do 5 a 1, os torcedores já podem até fazer uma nova versão da música Freed From Desire, da cantora Gala: se antes o “Pioli is on fire” era entoado a plenos pulmões nas arquibancadas de San Siro, agora talvez tenha chegado a hora do “Pioli is on five”.

Na próxima terça-feira, 19 de setembro, o Milan estreia na Liga dos Campeões contra o Newcastle do ex-rossonero Sandro Tonali, em San Siro. Um resultado negativo em noites europeias pode afetar ainda mais a ligação de Pioli com a torcida. Mas uma mudança de comando técnico não deve estar na pauta da cúpula milanista, salvo um verdadeiro desastre. A tendência, portanto, é que o treinador, que possui vínculo com o Diavolo até junho de 2025, termine a temporada em Milanello.

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