Liga Europa

Oscilante, o Milan teve trabalho, mas bateu o Slavia Praga na ida das oitavas da Europa League

Se fôssemos atribuir um substantivo como alcunha da versão 2023-24 do Milan de Stefano Pioli, poucos encaixariam tão bem quanto “montanha-russa”. O time rossonero tem oscilado muito ao longo da temporada, inclusive dentro de uma mesma partida, e mostrou isso na ida das oitavas de final da Liga Europa, contra o Slavia Praga. Mesmo com um jogador a mais durante a maior parte do jogo, o Diavolo sofreu bastante e precisou da mágica de Rafael Leão para vencer os checos por 4 a 2.

Se formos rigorosos e considerarmos a diferença de qualidade entre os elencos de Milan e Slavia Praga, não seria absurdo afirmar que o tradicional time da capital da Chéquia foi melhor em campo. E, aliás, mostrou isso desde os minutos iniciais: o time do técnico Jindrich Trpisovsky explorou imprecisões dos comandados de Pioli e foi agressivo, a partir de boas atuações do volante Dorley e dos meias Masopust e Doudera. O último dos citados, aliás, teve a primeira boa chance do jogo aos 15 minutos, quando ficou frente a frente com Maignan, mas finalizou torto e desperdiçou a boa troca de passes dos colegas.

Já na casa dos 26 minutos, um lance permitiu ao Milan mudar a história do jogo. Na intermediária, o lateral-esquerdo Diouf entrou forte no tornozelo de Pulisic e levou cartão vermelho direto, deixando o Slavia Praga com um a menos. Só que, ao contrário do que ocorreu na partida de ida contra o embalado Rennes, em San Siro, o Diavolo seguiu em dificuldades. Ante um adversário fechado após a expulsão, coube a Rafael Leão ser inventivo: aos 34, o português recebeu com um pouco de liberdade e cruzou nas costas da zaga dos estrelados, onde Giroud estava para completar, de cabeça, abrindo o placar.

O Slavia, entretanto, não se abalou e chegou ao empate quase de imediato, na casa dos 36 minutos. Após Reijnders afastar cobrança de escanteio, Doudera se redimiu da chance clara que desperdiçara anteriormente: da entrada da área, pegou na veia, sem deixar a bola cair, e superou os esforços de Maignan. Apesar dos méritos do checo, o tento evidenciava, novamente, os altos e baixos dos rossoneri.

Vivendo temporada prolífica, Loftus-Cheek foi um dos destaques de um Milan inconstante (Getty)

Após o vale, a montanha-russa milanista atingiria o pico rapidamente. Em um momento de pressão, a partir dos 40 minutos, o time da casa chegou a dar a impressão de que poderia liquidar a fatura – o que não ocorreu apesar dos dois gols marcados antes do intervalo.

Tudo começou justamente aos 40, quando Rafael Leão cabeceou e Stanek mandou para escanteio. Na sequência, Loftus-Cheek finalizou e a bola saiu desviada novamente em corner. No terceiro dos quatro tiros de canto consecutivos que obteve, o Diavolo viu o arqueiro do Slavia fazer um milagre: saltou no cantinho e, em cima da linha, evitou que a violenta testada de Gabbia estufasse a rede.

A pressão do Milan deu resultado aos 44. Florenzi cobrou (mais um) escanteio, dessa vez curtinho, e Reijnders, livre na entrada da área, acertou um belo chute no canto de Stanek, fazendo 2 a 1. Antes mesmo do intervalo, os rossoneri ampliaram. Depois de uma grande jogada de Rafael Leão, Zima, ex-Torino, tirou o doce da boca de Giroud na pequena área e cedeu (outro!) corner. Versátil na função de batedor, Florenzi decidiu mandar a bola no pagode e Loftus-Cheek, na pequena área, cabeceou para o barbante.

Com uma vantagem de dois gols, o Milan tinha conseguido impor sua força sobre o Slavia Praga e, com um jogador a mais, parecia mais tranquilo. Ao menos essa impressão foi a impressão deixada pelo vigoroso início de segunda etapa do rossoneri. Aos 49 minutos, Rafael Leão recebeu perto da pequena área e levou perigo com um disparo cruzado. Esse afã, contudo, não durou muito tempo – o que forneceu mais um retrato das oscilações do time de Pioli ao longo de 2023-24.

Rafael Leão encontrou duas grandes assistências e foi o nome da sofrida vitória do Milan sobre o Slavia (AFP/Getty)

Depois que o jogo entrou num ritmo mais baixo, o Slavia achou o seu segundo gol aos 65 minutos. Após cobrança de falta levantada na área, Zima raspou de cabeça e a bola chegou até Schranz, recém-entrado na partida e mal marcado por Hernandez – Théo centralizou demais e deixou o adversário livre. O atacante eslovaco dominou e encheu o pé, acertando na bochecha da rede uma pancada indefensável para Maignan. O valente time checo, que já alcançara um expressivo empate contra a Inter, em visita a San Siro na Champions League de 2019-20, tentaria uma nova façanha.

Logo depois do gol, Pioli decidiu sacar Loftus-Cheek, um dos melhores em campo, e colocar Jovic ao lado de Giroud. Com dois centroavantes, o Milan caiu de produção, já que o porte físico do inglês estava desconcertando a defesa adversária e, sem ele, Adli e Reijnders tiveram mais dificuldades de propor o jogo. Na frente, o atacante só apareceu aos 84 minutos, quando recebeu de Rafael Leão e bateu para fora.

O português, então, decidiu resolver. Na casa dos 85 minutos, Rafa recebeu de Reijnders, arrancou com a bola no pé, entortou o esforçado Chytil e deu uma cavadinha nojenta para superar Stanek. Seria um golaço do camisa 10, mas virou assistência: com o biquinho da chuteira, Pulisic encostou na pelota quase em cima da linha e “roubou” o tento que decidiu a peleja. Dali em diante, finalmente o Milan soube ditar o ritmo do jogo e não correu riscos.

Sem dúvidas, a vantagem de dois gols é razoável. Defendê-la, contudo, não parece a tarefa mais simples do mundo para este Milan inconstante – vide os sustos contra o Rennes na partida de volta da fase de 16-avos de final. O Diavolo certamente tem muitos jogadores que têm se mostrado capazes de balançar as redes e aliviar as pressões em momentos decisivos dos jogos, como Rafael Leão, Pulisic, Giroud e até mesmo Okafor e Jovic, que têm contribuído quando saem do banco de reservas. Os erros defensivos, entretanto, têm colocado o time em situações inoportunas com uma frequência demasiada e o Slavia de Trpisovsky já mostrou que pode causar problemas aos comandados de Pioli. O treinador terá aprendido a lição na peleja dessa quinta?

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