A Atalanta bem que tentou. Desde que a campeã da edição 2023-24 da Liga Europa ficou sabendo que enfrentaria o Real Madrid na Supercopa Uefa de 2024, a expectativa era de um duelo muito duro, no qual entraria com a nítida condição de azarão. Os nerazzurri até proporcionaram dificuldades para os merengues e conseguiram produzir um bom futebol por cerca de uma hora, mas não foram páreo para o time de Carlo Ancelotti: com o brilho de Jude Bellingham, Vinicius Junior e do estreante Kylian Mbappé, os espanhóis venceram por 2 a 0. O que não tira o mérito dos bergamascos. Afinal, quem imaginaria, uma década atrás, que eles teriam a chance de competir nesse nível?
A equipe italiana chegou ao estádio Nacional Kazimierz Górski, em Varsóvia, capital da Polônia, para disputar apenas a sua segunda decisão continental – como jamais havia jogado finais antes de ganhar o título da última Liga Europa, evidentemente estreava na Supercopa Uefa. O Real Madrid, por outro lado, já é bem calejado: entrou em campo pela nona vez no torneio e, neste 18 de agosto de 2024, faturou seu sexto troféu.
Gian Piero Gasperini, técnico da Atalanta, optou pelo seu convencional 3-4-1-2, mas teve alguns desfalques importantes. Primeiramente, os lesionados Zaniolo, Scalvini e Scamacca – os dois últimos, vale destacar, só voltarão à ativa em alguns meses. Além deles, Touré e Koopmeiners, que não foram convocados porque podem deixar a equipe de Bérgamo até o fim da janela de transferências.
Considerando o que tinha em mãos, o treinador italiano deu espaço a Musso, goleiro das copas, deixando o titular Carnesecchi no banco, e apostou num ataque mais móvel e entrosado, formado por Lookman e De Ketelaere – reforço do atual mercado de transferências, Retegui começou no banco. O resto do time de Gasperini não teve inovações: Djimsiti, Hien e Kolasinac na defesa; Zappacosta e Ruggeri nas alas; De Roon e Éderson na linha de meio-campo e Pasalic atuando mais avançado, fazendo a ligação com o ataque.
Ancelotti não precisou fazer grandes esforços mentais para escalar o seu Real Madrid. Perdeu Camavinga, lesionado, mas teve em Tchouaméni o seu substituto natural. No 4-3-3 habitual dos merengues, Courtois foi o camisa 1; Carvajal, Éder Militão, Rüdiger e Mendy formaram a linha defensiva; Valverde e Bellingham completaram o meio-campo. O ataque, de impor respeito, teve Rodrygo, Vinicius Junior e o estreante Mbappé. O veterano Modric e os prodígios Endrick e Güler ficaram no banco.
Como era de se esperar, o Real Madrid começou dominando a posse de bola. A Atalanta, por sua vez, buscava fechar bem os espaços, pressionar alto e estudar os movimentos iniciais de um time estelar num jogo oficial. Entender o que lhe aguardava seria a chave para poder adaptar a sua estratégia. E funcionou, porque os merengues só ameaçariam – e nem tanto – aos 14 minutos. Àquela altura, Mbappé recebeu de Valverde, mas teve chute bloqueado por Hien. Em seguida, Carvajal cruzou rasteiro e Vinicius Junior, de carrinho, passou no vazio. Já a primeira chance do time de Gasperini aconteceu aos 24 – e sem querer. De Roon avançou pela direita, efetuou cruzamento e a pelota desviada em Éder Militão acertou o travessão.
Apostando na marcação individual e na pressão durante a fase de construção rival, a Atalanta tentava frear o setor ofensivo do Real Madrid. Ao time de Ancelotti, restava buscar rápidas movimentações com seu poderoso ataque para infiltrar na defesa nerazzurra. Mas, de fato, somente nos acréscimos, levou perigo: Vinicius Junior deu um belo passe de trivela para Rodrygo, que recebeu na área, no limite da linha de impedimento, e acertou o travessão do argentino Musso.
Na segunda etapa, a Atalanta quase abriu o marcador com apenas um minuto de bola rolando – na melhor oportunidade que teve em todo o jogo. Pasalic recebeu cruzamento de De Roon e testou forte, mas Courtois saltou de forma plástica e, com a pontinha dos dedos, desviou a pelota para escanteio. Na sequência, Ruggeri pegou a sobra do corner e arriscou de fora da área, sem obter sucesso na tentativa.
Quando a Atalanta já havia mostrado que tinha entendido o jogo e que poderia complicar o Real Madrid, o talento individual dos merengues fez a diferença. Vinicius Junior, Bellingham, Mbappé e Rodrygo já vinham tentando se movimentar de forma a confundir a defesa nerazzurra, mas não tinham êxito – Hien, por exemplo, marcava bem o francês. Aos 59 minutos, então, Vini recebeu pelo lado esquerdo, cortou Djimsiti sem cerimônias e ajeitou para o meio da pequena área, onde Valverde se antecipou a Ruggeri e só escorou a bola, inaugurando o placar.
O primeiro gol do Real Madrid foi a senha para a virada de chave na partida. Dali em diante, os blancos dominaram o jogo e testaram Musso mais intensamente. Logo depois de abrir o placar, o time espanhol teve nova chance: Bellingham achou Vinicius Junior em profundidade, deixando o brasileiro cara a cara com Musso. O argentino saiu bem do gol e fez uma ótima defesa, desviando a finalização do camisa 7 para escanteio. Após a cobrança, um arremate desviado do inglês ia morrendo nas redes, mas o arqueiro voou para espalmar e efetuar mais uma intervenção providencial.
Sem apresentar reação satisfatória, a Atalanta deixou de ver a cor da bola e pagou o preço por isso. Aos 68 minutos, a equipe de Gasperini cedeu novamente à pressão do Real Madrid, num lance que passou pelos pés de suas quatro grandes estrelas ofensivas.
Rodrygo roubou a pelota de Hien em campo ofensivo e tocou para Vinicius Junior, que tentou achar Bellingham. O passe foi longo, mas o inglês deu um novo norte à jogada e contou a movimentação de Mbappé para tomar a decisão correta. Meio sumido até então, o francês se desvencilhou da marcação e achou um espaço livre no centro da área, indicando que era dali que poderia finalizar. Pois bem: recebeu a assistência e mandou para a rede.
O gol de Mbappé sacramentou a vitória do Real Madrid, mesmo que ainda restassem mais de 20 minutos para serem jogados. Com a vantagem de dois tentos a seu favor, o time de Ancelotti passou a cozinhar o jogo, contando com a entrada de Modric no lugar de Rodrygo. Do outro lado, as substituições feitas por Gasperini não surtiram qualquer efeito positivo na Atalanta – que ainda viu os espanhóis incomodarem mais algumas vezes.
Ao contrário do que vimos nos Jogos Olímpicos, com acréscimos generosos, a Supercopa Uefa teve somente dois minutinhos de tempo extra – justos, aliás. No fim das contas, o Real Madrid impôs sua superioridade e se tornou o maior vencedor da competição, com seis títulos, ultrapassando o rival Barcelona e o italiano Milan. A Atalanta, por sua vez, direcionará suas energias para a estreia da Serie A, que ocorre na segunda, 19, contra o Lecce.