Jogos históricos

Em 1997, a Juventus massacrou um PSG ‘brasileiro’ nos dois jogos da Supercopa Europeia

Juventus e Paris Saint-Germain não têm um extenso retrospecto de embates, mas, curiosamente, já se encontraram em quatro torneios europeus diferentes. Os times mediram forças pela primeira vez nas oitavas de final da Recopa, em 1983, com os italianos se classificando graças ao gol qualificado. Entre os duelos na Copa Uefa, antecessora da Europa League, os bianconeri levaram a melhor em todos, vencendo o último deles, em 1993, com show de Roberto Baggio. Na Liga dos Campeões, se confrontaram na temporada 2022-23: vitória dos parisienses por 2 a 1 na abertura da fase de grupos e a volta com a equipe de Massimiliano Allegri já eliminada do torneio. O mais nobre duelo entre Juve e PSG, contudo, valeu título.

A outra competição em que a Velha Senhora e o Paris se enfrentaram foi a Supercopa Europeia, em 1996-97. Nessa ocasião, os franceses não tiveram nenhuma chance e perderam por um placar agregado elástico. Implacável, a Juventus ratificou que continuava forte, após conquistar o título da Champions League sobre o Ajax, e faturou mais uma taça ao construir a maior vantagem já registrada numa final de torneios da Uefa: um incrível 9 a 2 sobre um PSG treinado pelo brasileiro Ricardo Gomes. O time vermelho e azul, vale destacar, ainda tinha Raí e Leonardo como grandes nomes.

No tradicional encontro entre os campeões das principais taças continentais, a Juventus chegou como favorita após conquistar a Champions League na temporada anterior. Com um time estrelado à disposição, Marcello Lippi bateu o Ajax na final daquela edição, comandando nomes como Alessandro Del Piero, Antonio Conte e Didier Deschamps. Na campanha seguinte, além de avançar até a decisão continental outra vez – e, nesta ocasião, ser derrotado pelo Borussia Dortmund – , o treinador contou “apenas” com o reforço de Zinédine Zidane. O suficiente para ganhar a Serie A, o Mundial Interclubes e a própria Supercopa Uefa.

A Juventus fez com que o PSG parecesse um time formado por crianças na disputa da Supercopa Uefa (Arquivo/Juventus)

Sem estrelas como Kylian Mbappé, Lionel Messi e Neymar, o PSG tinha os brasileiros Raí e Leonardo compondo um elenco mais modesto, no qual também se destacavam o goleiro Bernard Lama e os atacantes Patrice Loko e Julio César Dely Valdés. Era uma das suas ótimas gerações que antecederam o investimento pesado do grupo Qatar Sports Investments. Os parisienses haviam sido campeões da Copa Uefa em cima do Rapid Vienna. Na ocasião, deixaram pelo caminho o Parma de Fabio Cannavaro, Filippo Inzaghi, Dino Baggio e Hristo Stoichkov.

Com apenas três derrotas nos primeiros 28 jogos da temporada, a Vecchia Signora chegava como favorita ao Parc des Princes naquele 15 de janeiro de 1997, data marcada para o confronto de ida da Supercopa Uefa. Se esperava que, na França, o PSG tivesse o seu melhor desempenho contra a Juventus. No entanto, o tiro saiu pela culatra: no fim das contas, a conta praticamente foi liquidada em apenas um tempo dos quatro que teriam a decisão.

O defensor Porrini inaugurou a contagem na decisão (Arquivo/Juventus)

A Juventus não tinha Alen Boksic e, assim, Michele Padovano fez dupla de ataque com Del Piero na equipe de Lippi. Zidane ficou na armação, com Deschamps, Alessio Tacchinardi e Angelo Di Livio completando o losango central. Uma linha defensiva de quatro jogadores, com Moreno Torricelli, Sergio Porrini, Ciro Ferrara e Gianluca Pessotto esteve à frente de Angelo Peruzzi, que precisou trabalhar logo de cara.

Na primeira finalização da partida, disputada num gramado parcialmente coberto por neve, Vincent Guérin bateu de fora da área e o arqueiro da Juve segurou firme, caindo para a direita. Mas, assim que os visitantes conseguiram levar perigo, uma lambança da defesa parisiense permitiu que o placar fosse aberto: a bola ficou pipocando na área, dois defensores tentaram afastar, mas erraram. A sobra ficou com Porrini, que bateu no pé da trave e viu a pelota entrar, sem chances para Lama.

Escalado no lugar de Boksic, Padovano teve estrela e marcou duas vezes em Paris (Arquivo/Juventus)

Criando as melhores oportunidades, os bianconeri mostravam que ampliar a vantagem contra um adversário nervoso parecia questão de tempo. Aos 22 minutos, Pessotto bateu um escanteio na medida para Padovano testar para o fundo das redes. Peruzzi voltou a aparecer depois, salvando um bom chute de Patrice Loko. E, se o PSG perdoava, sua rival não.

De novo no escanteio, Zidane veio buscar o passe curto e abriu um pouco para cruzar na diagonal. O lançamento forte e alto encontrou a testa de Ferrara como destino. Pouco mais de meia hora de jogo e já eram três gols de vantagem para os homens de Lippi, que mantinham uma postura mais calma. E assim foi também no quarto tento.

Comandado por Raí, o PSG não esboçou reação frente a uma Juve repleta de talentos, como Vieri (Arquivo/Juventus)

Em mais uma baita lambança da defesa dos franceses, Guérin foi afastar um cruzamento e mandou contra a própria meta. Lama até fez a defesa, mas Padovano foi oportunista. Aproveitou o goleiro caído e encheu o pé para estufar o gol. Fim da primeira etapa e fatura praticamente liquidada. Só um milagre colocaria algo em disputa de novo na Supercopa Uefa.

E quem tentou fazer os donos da casa sonhar foi Raí. Peruzzi primeiro fez um milagre na cabeçada de Dely Valdés. Na volta, Torricelli acabou colocando o braço na bola dentro da área. Raí foi para a cobrança do pênalti e só deslocou o arqueiro. Porém a reação parou por aí. O gás conferido pelo gol não levou o PSG em busca da virada. Na verdade, mais perto do final do confronto, o time levou os últimos dois baldes de águas frias.

Duelo de craques: Raí marcou os dois gols do PSG na competição, mas Zidane saiu com a taça (Getty)

Além da vantagem gigantesca do placar, Laurent Fournier foi expulso depois de algumas faltas bem duras. Depois, em bela jogada pela esquerda, Pessotto disparou e tocou para trás já dentro da área. Attilio Lombardo, que saiu do banco de reservas, chegou completando para alegrar a festa. E, faltando dois minutos para acabar, Nicola Amoruso, que também entrou no segundo tempo, coroou a goleada por 6 a 1 na França.

A volta ocorreu no dia 5 de fevereiro, e a Juventus decidiu tirar o jogo de Turim para levá-lo a Palermo. Dessa forma, poderia lucrar mais com a venda de ingressos para sua fanática torcida na Sicília – e evitaria o clima gélido do Delle Alpi, um estádio que jamais agradou os seus frequentadores. Em La Favorita, a Velha Senhora passou longe de dar chance para os visitantes.

Del Piero brilhou em Palermo: foi o destaque do jogo de volta (Wikipedia)

Vladimir Jugovic, que ficou fora do primeiro jogo, retomou no time titular no lugar de Deschamps. O uruguaio Paolo Montero também retomou à formação original, com Porrini perdendo a vaga. O que já era um pesadelo para o Paris Saint-Germain ficou ainda mais assustador, já que o onze inicial bianconero era ainda mais forte do que o da ida.

Apesar de a Vecchia Signora ter entrado desligada, concedendo várias chances, novamente Peruzzi foi muito firme quando acionado. E, na frente, o ataque foi mortal mais uma vez, contando com uma noite inspirada do jovem Del Piero. Perto do fim da primeira etapa, Torricelli achou um passe magistral e deixou o camisa 10 na cara do gol, e ele não desperdiçou.

A Supercopa Uefa foi a segunda das três taças que a Juve faturou em 1996-97, temporada de seu centenário (Wikipedia)

Antes do intervalo, Leonardo mostrou como sua equipe estava com azar – ou falta de pontaria mesmo – ao carimbar a trave. A maré pareceu virar quando Dely Valdés foi derrubado na área e, novamente, Raí teve a chance de converter da marca da cal. Dessa vez o goleiro esperou até o fim, mas não conseguiu chegar em mais uma boa cobrança do brasileiro.

A vantagem já era insuperável mesmo com um jogo melhor dos visitantes. O negócio ficou ainda mais feio para os parisienses cinco minutos depois de terem empatado em La Favorita. Paul Le Guen recuou mal uma bola e Del Piero, esperto na jogada, antecipou Lama e finalizou. O arqueiro ainda chegou a defender, mas Ale o encobriu no rebote, de cabeça, para anotar o seu segundo tento no duelo.

Nos acréscimos, Delpi apareceu de novo, agora como garçom. Em cobrança de escanteio, surpreendeu a defesa do PSG e encontrou Christian Vieri esperto na segunda trave. O centroavante não perdoou e cabeceou firme para deixar sua marca. 9 a 2 no agregado. Recorde construído. Um show de eficiência para a esquadra bianconera, que levou esse troféu com imensa facilidade e deixou o ano de seu centenário quase perfeito. Faltou só o título da Champions League.

Paris Saint-Germain 1-6 Juventus

Paris Saint-Germain: Lama; Algérino (Kenedy), Le Guen, N’Gotty, Domi (Leonardo); Fournier, Guérin; Leroy, Raí, Loko; Dely Valdés (Pouget). Técnico: Ricardo Gomes.
Juventus: Peruzzi; Torricelli, Ferrara (Iuliano), Porrini, Pessotto; Di Livio, Deschamps, Tacchinardi (Lombardo); Zidane; Del Piero, Padovano (Amoruso). Técnico: Marcelo Lippi.
Gols: Raí (53’); Porrini (5’), Padovano (22’ e 40’), Ferrara (34’), Lombardo (83’) e Amoruso (89’)
Cartão vermelho: Fournier
Árbitro: Nikolay Levnikov (Rússia)
Local e data: estádio Parc des Princes, Paris (França), em 14 de janeiro de 1997

Juventus 3-1 Paris Saint-Germain

Juventus: Peruzzi; Torricelli (Porrini), Ferrara, Montero, Pessotto; Di Livio, Jugovic, Tacchinardi (Lombardo); Zidane; Del Piero, Padovano (Vieri). Técnico: Marcelo Lippi.
Paris Saint-Germain: Lama; Algérino, Le Guen, Domi, Kenedy; Raí, Cauet, Guérin (Leroy); Leonardo (Allou); Dely Valdés, Loko (Calenda). Técnico: Ricardo Gomes.
Gols: Del Piero (36’ e 70’), Vieri (90’); Raí (64’)
Árbitro: Serge Muhmenthaler (Suíça)
Local e data: estádio La Favorita, Palermo (Itália), em 5 de fevereiro de 1997

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