O Milan chegou à segunda metade da fase de liga do principal torneio da Europa com resultados, para muitos, acima do esperado e com boas perspectivas para a continuidade na competição. Visto como azarão em três dos quatro primeiros jogos, o Diavolo iniciou a quinta rodada da Champions League com seis pontos, o que deu esperança a seus torcedores. A impressão de que será possível não apenas chegar ao mata-mata empolga os rossoneri e, mais ainda, a possibilidade de nem passar pela fase intermediária, de 16-avos de final. Isso porque os confrontos finais seriam contra times que, supostamente, apresentariam nível mais baixo de competitividade. A vitória por 3 a 2 sobre o Slovan Bratislava ratificou este otimismo.
As derrotas em casa para o Liverpool e fora para o Bayer Leverkusen não estavam fora do programado, assim como o triunfo contra o Club Brugge, em San Siro. Já derrotar o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu representou uma grata surpresa para o torcedor milanista e deu um bom saldo para a equipe italiana, que visitaria Slovan Bratislava e Dinamo Zagreb, e ainda teria pela frente, em seus domínios, Estrela Vermelha e Girona. Favoritos em todos os confrontos, os rossoneri poderiam chegar aos 18 pontos, o que, segundo especialistas, garantiria a classificação para as oitavas de final da Liga dos Campeões.
Com todo este contexto, a equipe de Paulo Fonseca chegou à Eslováquia com muita confiança para enfrentar o lanterna Slovan Bratislava, que nem sequer pontuou nas primeiras quatro rodadas. A temporada dos italianos ainda é de muita irregularidade e, por conta dessas oscilações, já estão afastados da briga pelo título da Serie A e até mesmo do pelotão que luta por vaga em competições europeias. Ao que tudo indica, o Diavolo dará maior importância para as copas. Assim, apesar dos altos e baixos, o favoritismo de um time com muito mais orçamento, tradição e qualidade individual sempre foi indiscutível neste confronto.
A equipe de Bratislava, por outro lado, foi a campo sem pressão, vivendo boa fase e liderando o Campeonato Eslovaco, porém reconhecendo suas limitações quando se trata de futebol internacional. Participar da Champions League já é algo a se comemorar e conquistar um único ponto contra um gigante seria histórico. Desse modo, a expectativa era de um time fechado, buscando jogar no contra-ataque e, acima de tudo, não sofrer gols. O desafio do Milan seria desbloquear um esquema tão fechado e lidar com seus problemas defensivos, que fizeram com que Maignan fosse disparadamente o goleiro que mais trabalhou na competição: 33 intervenções.
Os mandantes foram a campo em um esquema com três zagueiros de ofício, com os laterais Medvedev e Blackman – o último também podendo jogar como defensor central – fechando os lados em uma verdadeira linha de cinco, com dois meio-campistas e três jogadores no ataque. O treinador Vladimír Weiss, que costuma montar a equipe com uma linha de quatro defensores, já havia utilizado a mesma estratégia na Liga dos Campeões, entendendo que, diferentemente do campeonato nacional, em que é favorito, seu time precisava se retrancar para buscar algum ponto.
Já os visitantes entraram em um 4-2-3-1, do jeito que empolgou mais vezes na temporada. O jogador mais talentoso do elenco, Rafael Leão, tem oscilado tanto quanto o time nesta época e foi colocado no banco, dando espaço para Chukwueze e Okafor serem os pontas, com Pulisic jogando centralizado. Reijnders e Fofana seriam a dupla de volantes, tendo muita fisicalidade, poder de marcação e chegadas à área adversária – especialmente por parte do holandês. No comando do ataque, Abraham foi o escolhido para substituir Morata, suspenso por acúmulo de cartões amarelos.
A superioridade rossonera ficou nítida desde o apito inicial. Muita pressão, trocas de passe, jogadas coletivas e algumas oportunidades criadas logo nos primeiros minutos, porém nenhuma muito clara. A movimentação do trio de meio de campo causou muitas complicações para a defesa do adversário, que mal conseguia sair de seu campo de defesa. Mas a primeira grande oportunidade foi do time da casa.
Um belíssimo passe em profundidade, aos 14 minutos, deixou Strelec, ex-Spezia, frente a frente com Maignan. O atacante, com muita frieza, driblou o goleiro e finalizou, mas Pavlovic apareceu de maneira fantástica para impedir a bola de entrar. A resposta foi imediata, em jogada trabalhada entre os dois destaques da temporada. Reijnders encontrou Pulisic no bico da área e o norte-americano bateu cruzado, mas Takác apareceu para salvar os eslovacos.
Aos 21, o Milan conseguiu tirar a igualdade do marcador com seu principal jogador. O gol de Pulisic saiu após uma jogada fantástica de Abraham, com direito a caneta e uma tacada de sinuca para servir o companheiro: o estadunidense avançou e finalizou no canto para tirar o primeiro zero do placar. Porém, a vantagem não durou mais de três minutos, quando o artilheiro e velocista Barseghyan arrancou do campo de defesa, deixando Reijnders para trás e, com muita tranquilidade, cavou por cima de Maignan.
O Diavolo sentiu o golpe. Após o tento do adversário, passou a ter mais dificuldade de desenvolver seu jogo e construir oportunidades, além de deixar mais espaços para contra-ataques. Nos dez minutos seguintes, o Slovan Bratsilava foi o time mais perigoso em campo, explorando a linha alta e descoordenada do Milan e a alta velocidade de seus atacantes. Apenas nos momentos finais da etapa inicial os italianos conseguiram voltar a ter controle do jogo, mas sem produzir nenhum perigo.
Para a segunda etapa, Paulo Fonseca sacou Okafor, que fez um primeiro tempo discreto, para colocar Rafael Leão. Sem dúvidas, um jogador que adiciona talento e poder de decisão, porém que nem sempre demonstra uma vontade compatível com estas características. Já Weiss optou por não modificar seu time, que fazia sua melhor apresentação na Champions League até então.
Foram mais de 15 minutos até os rossoneri finalmente conseguirem produzir algo diferente, em uma jogada individual de Chukuwueze e batida com curva da entrada da área, que foi cortada pelo zagueiro. Até então, o segundo tempo morno. Os visitantes tinham a bola, mas não conseguiam assustar. Os mandantes se defendiam bem e buscavam os contra-ataques, porém sem sucesso.
Finalmente, aos 68 minutos, após uma cobrança rápida de falta, se aproveitando da distração dos adversários, Fofana deu um belíssimo lançamento para Rafael Leão, que precisou apenas dar um tapa para encobrir o goleiro Takác e recolocar o Milan em vantagem em uma partida que deixava muito a desejar.
E três minutos depois, um vacilo inacreditável garantiu o resultado. Strelec, em uma saída de bola, tentou recuar de longe para o goleiro, porém encontrou os pés de Abraham, sozinho, que só teve o trabalho de escolher o canto e correr pro abraço. De uma hora para outra, um jogo excelente do Slovan Bratislava foi por água abaixo por conta de um erro coletivo e outro, pior ainda, individual.
Com a partida já resolvida, aos 84, Paulo Fonseca resolveu dar mais uma oportunidade ao prodígio Camarda, para a alegria e empolgação do torcedor rossonero, que deposita muitas esperanças na joia de apenas 16 anos. Mais uma vez, um gol do garoto seria histórico, pois o transformaria no mais novo em todos os tempos a marcar na Liga dos Campeões. O jovem já havia entrado contra o Club Brugge e chegado às redes, mas o tento foi anulado por impedimento.
Quem mexeu no marcador quatro minutos depois, porém, foi o Slovan Bratislava, com Marcelli, que disparou um chutaço da entrada da área e acertou o ângulo, para não dar chance a Maignan. O time da casa, que havia marcado apenas duas vezes nas primeiras quatro rodadas, enfrentando times como Dinamo Zagreb e Girona, fez a mesma quantidade de uma só vez contra o Milan, sendo mais um adversário a escancarar a crônica fragilidade defensiva dos italianos.
E assim acabou a partida: uma vitória por 3 a 2 do time de Milão. Um resultado apertado contra o lanterna da competição, que ainda não pontuou, foi goleado em rodadas anteriores e marcou duas vezes de forma inédita na competição. Novamente, o Diavolo deixou mais dúvidas do que certezas. Um bom início de jogo, com o coletivo funcionando e o ataque produzindo oportunidades, foi seguido por momentos de marasmo e pouca criatividade, além de uma defesa extremamente exposta.
O triunfo, porém, consolidou os rossoneri na zona de classificação para a fase de 16-avos de final e o aproximou do G8, que avança diretamente às oitavas. As perspectivas de pular uma etapa e se poupar são positivas, mas o Milan segue extremamente oscilante e mostrando que ainda tem muito a melhorar se de fato quiser ir longe na Champions League. Fica cada vez mais nítida a impressão de que qualquer rival que tentar atacar o time de Paulo Fonseca, pouco importando o seu nível, tem apenas Maignan como resistência.