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Campeão olímpico, Sunday Oliseh abriu as portas para os nigerianos na Itália

O mundo do futebol está repleto de histórias sobre jogadores que foram apadrinhados antes de chegarem à elite. Podemos dizer que o nigeriano Sunday Oliseh, um dos maiores meio-campistas africanos dos anos 1990, abriu a porteira para que seus compatriotas jogassem na Europa. Após o sucesso com a seleção nigeriana no fim do século passado, Oliseh serviu como ponte para que Obafemi Martins, Stephen Makinwa e outros conterrâneos que treinavam no FC Ebedei pousassem na Itália no início dos anos 2000.

Martins, por exemplo, foi descoberto por Churchill Oliseh, irmão mais velho de Sunday. Churchill viu potencial no garoto e o mandou para um período de testes na Reggiana, onde Sunday havia jogado na temporada 1994-95. Depois disso, o atacante assinou com a Inter e se tornou um dos jogadores mais carismáticos e velozes do futebol italiano.

Porém, nada disso deveria ter acontecido caso Sunday Oliseh não tivesse ganhado notoriedade na década de 1990. O volante iniciou sua carreira no Julius Berger, em 1989, onde se destacou e rumou à Europa um ano depois. Desembarcou na Bélgica e acertou contrato com o RFC Liège. No time da Valônia, aprimorou suas qualidades e, em 1993, foi convocado pela primeira vez para a seleção nigeriana do técnico Clemens Westerhof, que começava a montar a “geração de ouro” do país.

Titular no RFC Liège, Oliseh viu sua evolução em campo ser premiada com as convocações para a Copa Africana de Nações e para a Copa do Mundo, ambas realizadas em 1994. Com uma equipe reformulada e jovem, os “Super Águias” começaram a mostrar suas credenciais no torneio africano: passaram por Gabão, Egito, Zaire, Costa do Marfim antes de bater Zâmbia por 2 a 0 na final e ficar com o título.

A seleção alviverde, que pela primeira vez disputava uma Copa do Mundo, repetiu o entrosamento apresentado nas Eliminatórias do Mundial e na Copa Africana de Nações durante o torneio nos Estados Unidos. Eles se classificaram ao mata-mata em primeiro do Grupo D, deixando Bulgária, Argentina e Grécia para trás. No entanto, os nigerianos caíram diante da Itália de Roberto Baggio nas oitavas de final e deram adeus à terra do Tio Sam.

Sem ressentimento pela eliminação na Copa, Oliseh voou para a Itália após o Mundial e fechou contrato com a Reggiana. Aliando força física e muita técnica, o nigeriano ofereceria aos granata o que os italianos chamam de “qualidade e quantidade” no meio-campo.

Oliseh chegou à Reggiana após bom desempenho na Copa de 1994 (Getty)

Oliseh permaneceu apenas uma temporada no time granata, na qual entrou em campo 29 vezes e marcou somente um gol. Neste ano, a equipe emiliana retornou à segunda divisão depois de dois anos na elite, após um péssimo desempenho na Serie A: concluiu a competição com 18 pontos; 22 a menos que o Padova, último acima da zona da degola.

Em bom momento individual, o meio-campista africano não permaneceu na Reggiana após o descenso. Assim, assinou com o Colônia e disputou 24 partidas, mantendo o alto nível na Bundesliga. Por isso, Sunday acabou convocado para os Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta. A expectativa dos nigerianos para aquela Olimpíada estava alta, uma vez que elenco era mais promissor que o de 1994. E não deu outra: inspirados pelo atacante Nwankwo Kanu, os alviverdes alcançaram a medalha de ouro, com direito à vitória sobre Brasil e Argentina nas fases finais.

Oliseh voltou para o Colônia com a confiança lá em cima. Titular absoluto da equipe alemã, disputou 30 partidas e balançou as redes quatro vezes naquela temporada. Em evidência no futebol europeu, o africano chamou a atenção do Ajax, que, sob o comando de Louis van Gaal, tinha conquistado seu último título de Liga dos Campeões em 1994-95. Contratado pelo “papa-títulos” holandês, Oliseh chegou ao auge e levantou seu primeiro troféu por clubes. Logo na primeira temporada, venceu a Eredivisie e a Copa da Holanda sob a condição de titular absoluto. Além disso, foi a época em que ele mais vezes entrou em campo (38) e marcou mais gols (oito).

Com tais credenciais, Oliseh obviamente não ficou de fora da Copa do Mundo de 1998. Na partida de estreia, contra a poderosa Espanha, o volante desferiu uma bomba a 116km/h, da entrada da área, e deu a vitória de virada à Nigéria por 3 a 2. Assim como no Mundial dos Estados Unidos, entretanto, os africanos foram eliminados nas oitavas de final: desta vez, foram despachados com um sonoro 4 a 1 frente à Dinamarca do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Michael e Brian Laudrup.

O meio-campista foi eleito pela CAF (Confederação Africana de Futebol) como o terceiro melhor jogador africano do ano de 1998, atrás do seu compatriota Jay-Jay Okocha e do marroquino Mustapha Hadji, que se sagrou vencedor. Oliseh ainda disputou mais uma temporada no Ajax antes de retornar à Itália. Em 1999, a Juventus, que vinha de um período dourado nos anos anteriores, superou a concorrência da Roma e pagou 21 bilhões de liras para assinar com o nigeriano. Porém, com tantos atletas talentosos à disposição do técnico Carlo Ancelotti, Oliseh não teve muito espaço na Vecchia Signora.

Sunday disputou 18 jogos (dez por competições internacionais e oito pela Serie A), anotou um gol e foi vice-campeão italiano antes de deixar o clube ao fim daquela temporada. Foi pelo clube juventino, no entanto, que ele conquistou seu único título continental: a Copa Intertoto, que classificou a equipe de Turim para a Copa Uefa. Na virada do século, o meio-campista se transferiu ao Borussia Dortmund, onde reencontrou o bom futebol e levantou a “salva de prata” da Bundesliga em 2001-02.

Mesmo em alta, o nigeriano recebeu poucas oportunidades na Juve (Allsport)

Após a conquista do Campeonato Alemão e de um vice da Copa Uefa naquela temporada, Oliseh acabou não sendo convocado para a Copa do Mundo de 2002. Por motivos disciplinares, o treinador Festus Onigbinde optou por deixar o capitão da Nigéria na CAN de 2002 de fora do plantel para aquele Mundial. Com isso, o atleta anunciou aposentadoria das Super Águias em junho de 2002, pouco antes de completar 28 anos.

Além da ausência na Copa, Oliseh foi emprestado ao Bochum, clube pelo qual disputou as temporadas 2002-03 e 2003-04 sem grande destaque. Retornou aos aurinegros em 2004, mas acabou dispensado pela diretoria do clube depois de quebrar o nariz do iraniano Vahid Hashemian, seu colega de time na época de Bochum, alegando que ele o “feriu gravemente com palavras”. Os dois eventualmente fizeram as pazes, mas antes disso se acusaram mutuamente de racismo.

Agente livre no mercado, Oliseh fechou contrato com o Genk, em 2005. Ele já não tinha a vitalidade do início da carreira; disputou apenas 18 jogos pela equipe belga. Na metade da temporada, resolveu pendurar as chuteiras. Uma decisão tomada muito cedo, já que o volante tinha apenas 31 anos.

Oliseh seguiu o trajeto da maioria dos jogadores que encerram a carreira e virou dirigente. Assumiu o cargo de diretor esportivo do Eupen, da Bélgica, em 2007. O novo emprego durou pouco tempo, visto que no ano seguinte ele começou a treinar o RCS Verviétois, clube amador do país, onde permaneceu até 2009.

Depois disso, aventurou-se como comentarista esportivo e fez parte do grupo de estudos técnicos da Fifa, antes de suceder Stephen Keshi no comando técnico da seleção nigeriana. Os resultados foram positivos, mas o ex-meia deixou os Super Águias após oito meses, por atritos com a federação local. Oliseh também passou rapidamente pelo Fortuna Sittard, mas não concluiu a campanha que levou o clube à elite holandesa: alegou que foi demitido por ter se recusado a participar de atividades ilegais. Mais tarde comandou, brevemente e sem sucesso, o amador Straelen, da Alemanha.

Sunday Ogochukwu Oliseh
Nascimento: 14 de setembro de 1974, em Abavo, Nigéria
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Julius Berger (1989-90), RFC Liège (1990-94), Reggiana (1994-95), Colônia (1995-97), Ajax (1997-99), Juventus (1999-2000), Borussia Dortmund (2000-03 e 2004-05), Bochum (2002-04) e Genk (2005-06)
Títulos como jogador: Copa Africana de Nações (1994), Copa das Nações Afro-Asiáticas (1995), Ouro Olímpico (1996), Eredivisie (1998), Copa da Holanda (1998 e 1999), Copa Intertoto (1999) e Bundesliga (2002)
Carreira como treinador: Verviétois (2008-09), Nigéria (2015-16), Fortuna Sittard (2017-18) e Straelen (2022)
Seleção nigeriana: 63 jogos e 4 gols

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