Serie A

Azzurrini (ou a falta deles)

Toni Kroos, melhor jogador do Mundial sub-17. Por que a Itália não chega lá?

29 de março. A equipe sub-17 italiana não conseguiu bater a Ucrânia e ficou de fora da fase final do Campeonato Europeu da categoria, que garantia vagas ao Campeonato Mundial. Estranho? Nem tanto. Os azzurrini não têm qualquer história na competição, tendo disputado apenas quatro das doze edições (uma delas em casa), e chegado, em sua melhor participação, em quarto lugar.

Sob o comando de Luca Gotti – técnico jovem, porém com trabalho interessante nas categorias de base do Milan no fim da década de 90 – os azzurrini caíram para a Ucrânia no último jogo do grupo. Por ironia do destino, o único gol da partida foi do artilheiro Korkishko, após falha de Alessandro Tuia. O zagueiro, produto das divisões laziali, é tido como o sucessor de Alessandro Nesta, e ainda o nome mais conhecido do grupo. Outros destaques do time decepcionaram na partida, como o trequartista ítalo-argentino Forestieri (Genoa) e o veloz atacante Caturano (Empoli).

Nem todos já ouviram falar destes jovens, ou ainda de outros nomes importantes dessa geração, como Fiorillo (Sampdoria), Albertazzi (Bologna) e Romizi (Fiorentina). Por outro lado, outras seleções européias levaram a campo jogadores mais conhecidos do grande público, como Moses (Inglaterra), Kroos (Alemanha), Mérida e Bojan (Espanha). Jogadores, inclusive, com mais experiência, seja em jogos oficiais ou mesmo em concentrações e treinamentos com profissionais. A questão é: por que os azzurrini não conseguem repetir as boas participações da seleção principal?

Caturano não conseguiu ultrapassar a incansável dupla Bilyy-Bazilevych.

Compensa voltar um pouco no tempo, dois anos, no mundial de 2005. Entre os jogadores da campanha italiana (caíram nas quartas-de-final), apenas Foti (Sampdoria) e De Silvestri (Lazio) tiveram oportunidades reais em seus clubes. Pouco, se comparado aos outros dois representantes europeus da competição: na Holanda, pelo menos quatro jogadores já fizeram cinco ou mais partidas na Eredivisie, sendo que Pieters (Utrecht) e Emnes (Sparta Rotterdam) já se estabilizaram como titulares. Entre os turcos, Nuri Şahin fez mais de quarenta partidas pelo Borussia Dortmund, e foi negociado com o Fenerbahçe. O armador Caner Erkin se firmou como titular do CSKA Moscou e Anıl Taşdemir é opção frequente no Ankaraspor.

Não existem coincidências. Há fatores que retardam o surgimento de novas estrelas na Itália. Um deles, o imediatismo da torcida. O melhor exemplo é Alessio Cerci, revelado pela Roma e atualmente emprestado ao Pisa. Após quatro partidas irregulares em um mal momento da equipe, de luta contra o rebaixamento, se queimou. De nada adiantou o fato de Bruno Conti ir à mídia pedir paciência com aquele que seria a maior revelação romanista desde Totti. Outro problema crônico são os jovens jogadores sem apoio psicológico que chegam com panca em seu novo clube e acabam tornando-se sonoras decepções. Como a lamentável passagem de Bruno Cirillo na Internazionale, após destacar-se na Reggina.

Em fase difícil, a Roma apostou todas as fichas em Cerci. E o resultado foi trágico.

O calcio exige muita força física, velocidade e aceleração de seus atletas, e já virou clichê dizer isso. Jogadores franzinos não conseguem se adaptar bem ao nível do campeonato, mesmo aqueles com boa técnica. Wilhelmsson é um exemplo recente. Jogadores sub-20, quando ofensivos, páram na forte marcação rival. Quando defensivos, não conseguem parar os adversários. Rolando Bianchi era artilheiro de incontáveis torneios primavera, mas só conseguiu se firmar na Reggina, seis anos após sua estréia pela Atalanta.

E o alto contingente de estrangeiros também estraga a fornada de todos os clubes. Lançar um jovem exige paciência, espera de resultados, e ainda é uma loteria – na maioria das vezes, não dará certo. Assim, na ânsia de resultados em curto prazo, é mais prático contratar alguém com mais “cancha”. Como na Inter da última temporada, por exemplo. Como escalar Andreolli de titular quando se tem Samuel, Materazzi, Córdoba e Burdisso para a posição? Não importa a fase dos mais experientes, há inclusive a questão de recursos humanos: não é confortável para Mancini deixar no banco algum jogador que ganha mais de €100 mil por mês para promover a entrada de outro que leva um ano para conseguir isso. No fim, Andreolli partiu para Trigoria. Mesmo caso para o promettente Slavkovski – fica difícil entrar num time que já tem Ibrahimovic, Crespo, Suazo, Julio Cruz e, vá lá, Adriano.

Torneios que envolvem seleções tão jovens são imprevisíveis. Resultados atípicos, convocações que parecerão estranhas daqui a cinco anos ou mesmo belas exibições de algum jogador que não sairá da terceira divisão. O espaço cada vez mais restrito aos jovens na Serie A pode estar interferindo de forma importante no selecionado azzurrino. Talvez a experiência que alguns deles poderiam adquirir nos clubes de ponta nem seja o fator-chave desse mau rendimento. Por outro lado, a desconfiança e o baixo investimento nos jovens são sim questões muito preocupantes.

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7 comentários

  • O problema dos estrangeiros é uma praga por toda a europa, e acaba por prejudicar todos os principais selecionados nacionais europeus. A pior parte fica por jogadores como Hagreaves que deixam de jogar na seleção de origem para atuar em outras seleções, teoricamente mais fortes, pratica que empobrece a competitividade das compeitições internacinais.
    A falta de paciencia da torcida italiana pode ser resolvida com um bom suporte psicologico ao atleta e uma geladeira temporaria e curta, alem de, claro, um pouca de teimosia do treinador.
    Confesso que mesmo como torcedor da Alemanha, não quero ver Asamoah atuanda com a manto branco da seleção, assim como prefiria ver o Kurany jogando pelo Brasil.
    Mas a casos como o de Podolski que vem de familia de imigrantes e pode ser relevado, prefiro, contudo, Lauth na seleção mesmo sendo Podolski melhor jogador.
    O Espaço nos times, ou melhor a falta dele, é que prejudica os selecionados mesmo nas bases.

  • Excelente o texto, meu caro Braitner. Aliás, eu sempre leio o (ótimo) blog de vocês. Vou comentar mais vezes por aqui! o/

    Confesso que conheço puquíssima gente desse time azzurrini – e nenhum eu cheguei a ver jogar. Mas parece-me claro que os fatores apresentados no texto, basicamente os mesmos daquela velha discussão na comunidade do calcio, são elementos primordiais no não-aproveitamento desses garotos.

    A conclusão é perfeita: “a desconfiança e o baixo investimento nos jovens são sim questões muito preocupantes”.

    Abração e parabéns pelo ótimo trabalho!

  • Se você for analisar como torcedor, é mesmo complicado de ter a paciência necessária com os jovens promovidos das categorias de base, é bem seguro ver um jogador com alguma experiência jogando, do que uma aposta incerta. Por isso como vc bem disse, o técnico tem que saber a hora de forçar uma adaptação do jogador, e a hora de recuar pra não queimar o garoto.

    Isso, juntamente com a falta de apoio psicológico, é o que mais prejudica a vida desses jovens e é o que mais tem que mudar.

  • Sub-17 é complicado mesmo… Você ter uma definição clara de quem realmente tem potencial com essa idade nem sempre é possível. Além disso a questão populacional pesa. A Itália, se for comparada com a Alemanha, por exemplo, que conta com 82 milhões de habitantes e já há algum tempo está sem lograr grande sucesso na base, até que não está tão mal… No Sub-21 existem alguns jogadores bastante promissores, embora em um número muito, mas muito menor do que a imprensa da Bota Alardeia. Last but not least: o Albertazzi já é jogador do Milan. O clube adquiriu 50% de seus direitos federativos pela bagatela de € 1 milhão e o manteve na Primavera do Bologna. A Fiorentina também estava interessada nele, mas o queria em Florença já para a atual temporada, o que não agradava ao Bologna. [ ]s!

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