Uma história em um só lugar.
Em 1985, estreou com 17 anos sob o comando do lendário Liedholm, no Friuli. Em 1988, tinha 20 anos, era titular absoluto da lateral-esquerda do Milan e foi convocado pela primeira vez para a seleção. Em 1994, com 26 anos, defendeu a Itália contra Romário e Bebeto na final da Copa do Mundo. Um ano antes, tinha sido capitão da Nazionale pela primeira vez. Quatro anos depois, a comandava em campo sob a tutela de seu pai, Cesare. Em 2003, venceu a Liga dos Campeões sobre a Juve nos pênaltis. Em 2005, a perdeu da mesma forma para o Liverpool. Em 2007, se vingou dos ingleses. Ontem, fez sua 901ª partida pelo Milan, a última no San Siro.
Treze títulos nacionais, dez europeus e três mundiais. Jogador que mais atuou pelo Milan (901 jogos). Jogador que mais atuou na Serie A (647). Jogador que mais atuou em competições europeias (174). Jogador que mais atuou pela seleção italiana (126). Jogador que mais disputou finais de Liga dos Campeões (8). Autor do gol mais rápido numa final de LC (53”, em Istambul ’05). Junto de Cesare, única dupla de pai e filho a vencer a LC como capitães com a mesma camisa (1963, 2003 e 2007).
Lenda viva, Paolo Maldini seria capaz de encher vários parágrafos que enumerem sua história. O empate contra a Udinese em 20 de janeiro de 1985 parece ter sido há uma eternidade. 900 partidas depois, é um recorde inalcançável, mais do que já era o de Franco Baresi e seus 719 jogos. No âmbito terreno, a partida contra a Roma valia muito para os dois times: giallorossi precisavam da vitória para se confirmar na Liga Europa e salvar pelo menos um pouco da temporada, rossoneri buscavam três pontos para não depender da última rodada em Florença arriscando a vaga direta na Liga dos Campeões e já poder anunciar o substituto de Carlo Ancelotti nesta semana.
Quando o melhor em campo pelo lado milanista é Favalli, algo está errado. Seedorf e Ronaldinho, que só entraram no segundo tempo, também fizeram boa partida. Mas muito pouco para enfrentar uma Roma que, finalmente, voltava a pôr o coração em campo sob o comando de Totti, Mexès e Riise. O jogo ficou em segundo plano nas notícias do dia e continuará assim por aqui: a vitória romanista foi incontestável, ainda que a arbitragem tenha gerado polêmica.
Polêmica maior ficou por conta de parte da Curva Sud milanista, que “homenageou” seu capitão de forma ridícula. No vídeo, há uma camisa de Franco Baresi, capitão do time até 1997 e uma faixa que diz “Obrigado, capitão: em campo, um campeão infinito, mas você faltou com o respeito a quem te enriqueceu”. Enquanto isso, parte da torcida cantava que “Há só um capitão”, enquanto Maldini os respondia, como fica bem claro pela leitura labial. Por mais que a maioria do estádio tenha aplaudido o camisa 3 em sua volta olímpica ao fim da partida, o episódio manchou as comemorações num daqueles dias que transformam homens em lendas – ou, no caso, de lendas em lendas aposentadas.
Essa parte da torcida não deve ter se esquecido das polêmicas de um ano atrás, quando Maldini demorou a renovar seu contrato por divergências salariais. Mas o Milan aumentou a oferta e prometeu para seu ano de despedida um grande time, com as chegadas de Shevchenko, Ronaldinho e Zambrotta e a permanência de Kaká. Na época, integrantes de torcidas organizadas o acusaram de falta de respeito com o clube. E, pelo que parece, também não engoliu uma entrevista de alguns meses atrás, na qual o capitão disparava contra as vaias que a torcida vinha direcionando ao time. Maldini reclamou que San Siro estava perdendo sua magia, com essas atitudes. A torcida, nesses casos, tem memória longa. E em entrevista pós-jogo, il capitano mostrou seu descontentamento com seu adeus com uma frase seca: “Sou orgulhoso de não ser um deles”.
A torcida italiana provou mais uma vez sua capacidade de estragar espetáculos. Algo que também ficou claro em Turim, no domingo. Uma lenda como Maldini merecia mais. Mesmo Spalletti confessou que, no vestiário, os romanistas não acreditavam na reação da torcida. Se toda unanimidade é burra, quem a faz assim escolheu ficar do lado da contestação.
Lamentável!
O que a Curva Sud fez foi ridículo, grotesco, desrespeitoso, um bando de mal agradecidos, que não sabem reconhecer o que Paolo Maldini fez pelo clube. Um dia, os próprios torcedores da Inter aplaudiram o capitão rossonero – é lógico que eles queriam ter um jogador como esse em sua história. A Curva Sud tinha. E comemorou cada gol dele, cada grito, cada troféu levantado. E quando podia retribuir o carinho, eles jogaram fora um ídolo, que só quem é rossonero de verdade tem. Maldini é o Milan. O Milan é Maldini. Torcida burra. Que cai na própria contradição de aplaudir Ancelotti, mesmo que este tenha sido contestado muitas vezes. Pedem respeito a Sheva, além de sua permanência. Sendo que o próprio Ancelotti não dá oportunidades para ele. Não adianta agora dar entrevista que isso não foi um protesto contra Paolo. Foi. E da forma mais ridícula que podia acontecer. A Curva Sud fez uma das coisas mais vergonhosas que vi no calcio. Um ídolo não se joga fora dessa maneira. Maldini ganhou muito dinheiro no Milan? Mas e o que ele deu ao clube? Maldini criticou a torcida milanista? Ele tem o direito, pois ouvir vaias dentro de casa nunca é cômodo. Um protesto inadmissível, de quem eu jamais esperava. Foram 25 anos vestindo e honrando a camisa rossonera. A Curva Sud teve a proeza de estragar a festa para o capitão. “Palmas” para eles, protagonistas da maior vergonha no San Siro. Grazie, capitano. Paolo eterno.
Belíssima análise, Braitner… Com certeza o futebol amanheceu mais triste com a saída da lenda Maldini. Porém mais triste ainda foi a atitude de certos torcedores milanistas, tentando manchar a imagem deste verdadeiro ídolo rossonero logo em sua última partida, se esquecendo de tudo que ele já fez por este time. Isto deve ter doído muito no coração de Maldini que, assim como Totti, sempre jogou no seu time do coração, e esperava mais dessa torcida.
Mesmo sendo um Gobbi é impossível não reconhecer o valor que não apenas Maldini tem para com o Milan, mas também para com o Calcio.
Um dos maiores que vi jogar, sem dúvida alguma que na questão de zaga, colocaria o grande Paolo em minha squadra. É uma tristeza ver acabano assim, me senti mal pela derrota, me senti mal pelo protesto e que no fim das contas o que leva a Sud a fazer tudo isso? Infelizmente foi manchado a última partida de um Capitano eterno.
Parabéns pelo post.
Un saluto.
Aff, eu nem tinha visto o Maldini recusando um singelo abraço do Leonardo no campo…dando um empurraão… só vi agora… foi horrível também hein, Paolo…
Aff, defendi o cara aqui e agora vejo isso… tsc, num falo mais nada sobre esse episódio tbm… chega.
ROSSONERO SIAMO NOI!!!