Antes do jogo contra a Geórgia, uma das maiores polêmicas teve o capitão Fabio Cannavaro como epicentro. Tudo por conta de um conselho ao jovem lateral da Inter, Davide Santon: “Jogadores como ele e Balotelli devem jogar, não só nos treinamentos. Infelizmente, nos momentos decisivos da temporada se prefere dar espaço a jogadores de experiência. É um pecado. O que Santon deveria fazer em janeiro se continuasse sem jogar? Fazer alguma coisa para poder jogar. Ou arrisca perder o Mundial”.
Cannavaro nunca foi criança e isso sempre ficou bastante claro. Em cada entrevista, cada lance, cada reclamação com o árbitro, cada mudança de time, seu jeito de olhar e falar sempre mostrou maturidade acima da média – e um quê de, vá lá, malandragem. Quem também não é criança é José Mourinho, que não perdeu a oportunidade de retrucar ironicamente: “Cannavaro ainda é um jogador, mas já fala como se fosse treinador, diretor esportivo ou presidente”.
Polêmicas à parte, a discussão reacendeu o velho debate clube versus seleção e o levou a um nível diferente. As declarações de Cannavaro no ambiente da seleção vão respingar na Inter e certamente causarão problemas no ambiente do clube – principal rival da Juve na disputa pelo scudetto. Ainda com as especulações de que o próprio Santon estaria preocupado com a falta de sequência e poderia forçar uma saída por empréstimo para o Genoa no segundo semestre, não é improvável que Mourinho conseguiria acalmá-lo. O maior problema ainda é Balotelli, uma bomba-relógio pronta para explodir atrás dos titularíssimos Eto’o-Milito.
Ao retrucar o capitão azzurro, Mourinho citou Legrottaglie e Giovinco. O primeiro, nome praticamente certo no Mundial (caso a Itália se classifique, é claro); o segundo, não mais que uma possível esperança caso estoure durante a temporada, assim como é Balotelli. O argumento é válido, já que dificilmente a dupla juventina fará mais jogos que a interista nos próximos oito meses. Quem “ajuda” a Nazionale é uma discussão à parte. Dos cinco italianos da Inter, apenas a jovem dupla é convocável – os outros são os veteranos Toldo, Orlandoni e Materazzi. Já a Juve tem dez selecionáveis entre seus 15 italianos.
Se Lippi excluir Santon de sua lista final por uma possível falta de jogo durante a temporada, a lógica teria de fazê-lo excluir alguns dos jogadores da Vecchia Signora. E o fato é que há uma inveterada tendência do ct em chamar nomes de sua Juve. Até por isso, é politicamente complicado esperar o sumiço de Santon nas próximas convocações. E ainda seria impensável uma seleção italiana sem nenhum jogador do time que venceu todos os scudetti até agora do “ciclo entre-Copas”, mesmo sendo esta uma Internazionale que faz cada vez mais jus a seu nome. No time titular azzurro, não seria impossível ver oito ou nove jogadores da Juve, inclusive nomes em queda livre, como Camoranesi e Grosso, ao mesmo tempo em que muita gente (e leia-se Cassano em “muita gente”) fica de fora.
Ainda que espere-se que os componentes da lista final para a Copa façam pelo menos 25-30 jogos durante a temporada, esse fator está longe de ser essencial para um time como está se construindo o italiano, com o talento em segundo plano. A capacidade de Lippi em tirar um coelho da cartola na preparação antes do Mundial é que será indispensável, como foi em 2006, quando havia ao menos um Pirlo inspirado e um Totti que, na pior das hipóteses, ainda era Totti.