Little Giant ou Magic Box. Os apelidos, em inglês, ilustram bem a carreira de Gianfranco Zola: jogador italiano que se tornou ídolo fora. Não que sua passagem por clubes italianos tenha que ser esquecida. Muito pelo contrário. Mas é fato que foi na Inglaterra que o trequartista de apenas 1,66 m ganhou o devido respeito e conquistou grande parte dos seus fãs.
Talvez com um pouco mais de sorte na Squadra Azzurra teria se tornado o Piccolo gigante ou Scatola magica. No entanto, as poucas (e pouco convincentes) participações do sardo na seleção italiana deixaram os torcedores com um pé atrás. Na Copa do Mundo de 1994, quando entrou no lugar de Giuseppe Signori durante a eletrizante partida contra a Nigéria, Zola foi injustamente expulso antes mesmo de completar 15 minutos em campo – curiosamente, no dia de seu aniversário.
No restante da Copa, não ganhou mais nenhuma chance do técnico Arrigo Sacchi. Já na Euro, dois anos depois, ficou marcado pela pífia campanha da Itália, eliminada ainda na primeira fase. Foi sua primeira e última competição como titular da seleção, já que ficou de fora da lista de convocados para a Copa de 1998 e, exatamente por isso, decidiu abandonar a Azzurra.
Nos clubes, porém, a situação foi bem diferente. Zola começou sua carreira no Nuorese, disputando a quarta divisão italiana. Seu bom rendimento rendeu uma transferência para o Sassari Torres, onde conquistou o título da Serie C2, na temporada 1986-87. Dois anos depois, ganharia a chance da sua vida: pego de surpresa, recebeu uma proposta do Napoli, onde trabalharia durante quatro anos e aprenderia, segundo ele mesmo, “tudo que sabe sobre futebol”.
A afirmação tão contundente deve-se, principalmente, à presença de Maradona no elenco. Substituto imediato do argentino, Zola tornou-se campeão italiano daquele ano. O convívio com o ídolo durou mais uma temporada, antes de Maradona ser suspenso por uso de cocaína, em 1991, e deixar a camisa dez para o italiano, declarando-o como digno herdeiro. Fazendo dupla de ataque com Careca, marcou mais 32 gols, conquistou uma Supercopa Italiana e emplacou sua primeira convocação para a seleção nacional.
Em 1994, transferiu-se para o Parma, onde fez duas grandes temporadas e se destacou como um dos melhores jogadores do campeonato. Vestindo gialloblù, chegou a final da Recopa Europeia, tornou-se vice-campeão italiano, venceu uma Copa Uefa e uma Supercopa Uefa.
Porém, em 1996, com a chegada de Hernán Crespo e do técnico Carlo Ancelotti, Zola perdeu espaço no time. Primeiro, por causa das boas atuações e o entrosamento de Crespo com Stoichkov. Depois, por causa do inflexível esquema tático de Ancelotti, que obrigou o trequartista a abandonar seu futebol leve e criativo para atuar em outra posição.
Com atuações mais apagadas, Zola foi vendido para o Chelsea, em novembro de 1996. Já em seus primeiros meses na Grã-Bretanha, conquistou os torcedores com dribles rápidos e belos gols. Ao final do ano de 1997, com o troféu da FA Cup em mãos, foi eleito o melhor jogador da Inglaterra.
Os bons resultados continuaram e Zola ainda faturou a Supercopa Uefa (1998), a Copa da Liga Inglesa (1997-98), a Recopa Europeia (1997-98) e mais uma Copa da Inglaterra, na temporada 1999-2000. Temporada essa muito importante para o clube londrino e para Zola, que foi um dos principais responsáveis pela boa campanha dos Blues na sua estréia em Ligas dos Campeões.
Já consagrado e com o “título” de melhor jogador da história do Chelsea, o italiano da Sardenha fez duas temporadas abaixo das expectativas. Zola só voltou a brilhar em 2002-03, quando marcou 16 gols, recolocou o time da capital na Liga dos Campeões e foi eleito o melhor jogador do ano pelos fãs.
Foi o cenário ideal para Zola deixar o time e sair por cima, antes que a idade já avançada comprometesse suas atuações. Com status de ídolo e grande caráter, foi presenteado com o título de Membro Honorário do Império Britânico, pela Rainha Elizabeth II, no ano de 2004.
Então, voltou para a Itália para atuar em mais um time da sua região: o Cagliari. O plano era recolocar o time da Sardenha na elite do futebol italiano. Missão cumprida. Com 13 gols, ajudou os rossoblù a subirem de divisão e voltou a ser pretendido pelo Chelsea, agora de Roman Abramovich. No entanto, a resposta foi negativa e o habilidoso meia fez mais uma boa temporada, desta vez na elite. Uma semana antes de completar 39 anos, decidiu que era hora de se aposentar.
Gianfranco Zola, contudo, não se afastou dos campos. Em 2006, começou sua carreira no banco de reservas, sendo indicado como auxiliar técnico da seleção sub-21 da Itália. Junto com Casiraghi, levou os azzurrini às quartas de final da Olimpíada de Pequim, em 2008. Ao final do mesmo ano, recebeu uma proposta do West Ham para substituir Alan Curbishley e aceitou a proposta, levando os Hammers à nona colocação da Premier League. No ano seguinte, escapou por pouco do rebaixamento e deixou o time londrino.
Zola continuou na Inglaterra e trabalhou no Watford, da segundona, e chegou a brigar pelo acesso à Premier League em seu primeiro ano. Uma segunda temporada decepcionante levou a sua demissão. O baixinho teve, em seguida, passagens curtas pela seleção sub-16 da Itália e pelo seu Cagliari, que acabou deixando na zona de rebaixamento antes da exoneração. O sardo também teve empregos no Al-Arabi, do Qatar, reeditando a parceria com Casiraghi – dessa vez, em funções trocadas –, e no Birmingham. Também foi auxiliar de Maurizio Sarri no Chelsea.
Gianfranco Zola
Nascimento: 5 de julho de 1966, em Oliena, Itália
Posição: meia-atacante
Clubes: Nuorese (1984-86), Sassari Torres (1986-89), Napoli (1989-93), Parma (1993-96), Chelsea (1996-2003) e Cagliari (2003-05)
Títulos: Serie A (1990), Supercopa Italiana (1990), Supercopa Uefa (1993 e 1998), Copa Uefa (1995), Copa da Inglaterra (1997 e 2000), Copa da Liga Inglesa (1998) e Recopa Uefa (1998)
Carreira como treinador: West Ham (2008-10), Itália Sub-16 (2011-12), Watford (2012-13), Cagliari (2015), Al-Arabi (2015-16) e Birmingham (2016-17)
Seleção italiana: 35 jogos e 10 gols