Nascida em 1918, a Triestina pode se considerar dona de uma tripla da data de nascimento: a fusão entre Ponziana e Trieste se deu em dezembro daquele ano, ratificada em janeiro seguinte e aprovada em assembleia só em fevereiro. O time conseguiu bons resultados desde sua fundação e, por influência política, já em 1928 conseguiu o acesso para a última temporada da Divisione Nazionale, que no ano seguinte se tornaria o que hoje é a Serie A. Por sorte, não caiu de divisão logo em sua estreia: previa-se 16 equipes na Serie A 1929-30, mas como Lazio e Napoli terminaram seu grupo empatados na oitava posição, a federação italiana decidiu manter as duas equipes para não tirar um dos times de grande cidade. Nisso, a Triestina se manteve para que se evitasse um campeonato com número ímpar de equipes.
Na primeira temporada da Serie A, a Triestina lançou Pasinati (que se tornaria o recordista de presenças com a camisa alabardata) e surpreendeu batendo a futura campeã Ambrosiana-Inter, em Milão, numa grande partida de Rocco (antes jogador e ídolo, depois treinador, e hoje nome do estádio da cidade). No ano seguinte, os julianos ainda deixariam sua marca outra vez nos milaneses: um 5 a 0 histórico, em Trieste. Dali pra frente, a Triestina seguiu na primeira divisão por várias temporadas consecutivas, até 1957. Na primeira década, os melhores resultados foram a sexta posição em 1936 e 1938 – neste último ano, chegou a lutar pelo título, foi a melhor defesa do torneio, mas conseguiu apenas um ponto nas últimas três rodadas. Como “consolação”, três jogadores do time foram chamados por Vittorio Pozzo para a Copa do Mundo.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a Triestina passou por anos complicados, reflexo da difícil situação da cidade, então capital do Estado Livre de Trieste. Em 1946-47, foi obrigada pela junta militar anglo-americana que governava o território a disputar suas partidas em Údine, enquanto o Ponzianza jogava o campeonato iugoslavo. A Triestina acabou o campeonato em último lugar, mas a federação italiana “repescou” l’Unione, na prática o primeiro (e único) estrangeiro da história a disputar a Serie A. Para o ano seguinte (foto que abre o texto), Nereo Rocco assumiu o time e se tornou um mito local ao comandá-lo no melhor resultado de sua história, um vice-campeonato ao lado de Milan e Juventus, atrás apenas do Grande Torino. Naquela temporada, Rocco utilizou somente 15 jogadores em toda a campanha alabardata.
Com a saída de Rocco, em 1950, a Triestina mergulhou numa má fase e passou os anos seguintes da Serie A lutando contra o rebaixamento que se daria em 1957. Uma das poucas alegrias daquela época foi o surgimento de Cesare Maldini, que seria idolatrado no Milan em alguns anos, justamente sob o comando de Nereo Rocco. Em 1954, o Estado Livre de Trieste foi reanexado à Itália. Três anos depois, os julianos viram o primeiro rebaixamento de sua história: bastou uma temporada para voltar à Serie A, mas também um só ano para voltar à serie cadetta. Aquele de 1958-59, por fim, acabou se tornando o último campeonato de primeira divisão disputado pelos alabardati: o adeus foi marcado em 7 de junho, com um empate em Pádua.
O declínio não parou por aí. Em 1961, a Triestina seria rebaixada para a terceira divisão de modo dramático: empatada em pontos com o Novara, disputou um spareggio em campo neutro e, de virada, perdeu a partida na prorrogação. Ainda que o time tenha retornado na primeira oportunidade, pouco se melhorou no clube: em 1965, outra queda para a Serie C; em 1971, o novo destino era a quarta divisão nacional. No meio do caos, destacou-se o jovem volante Marini, futuro ídolo da Internazionale e campeão do mundo com a Itália em 1982. Os anos 1970 terminaram razoavelmente bem para a Triestina, que por pouco não voltou para a Serie B e ainda venceu nos pênaltis uma Copa Anglo-Italiana, nos tempos em que esta era um torneio semiprofissional.
Em 1981, o clube contratou o atacante Francesco De Falco, último grande ídolo de sua história. O câmpano foi fundamental e artilheiro (25 gols) na temporada 1982-83, na qual a Triestina finalmente voltou à Serie B. No ano seguinte, l’Unione voltou a jogar o dérbi regional com a Udinese, então com Zico. Na partida cheia de incidentes pela Coppa Italia, o jovem torcedor Stefano Furlan acabou morrendo. Em homenagem, a curva sul do novo estádio da cidade recebeu seu nome. Depois de mais uma queda e promoção, os torcedores viveram sentimentos diferentes no início da década de 1990, que começou com a inauguração do estádio Nereo Rocco (1992) e foi parar no anúncio de falência da sociedade (1994), que teve de recomeçar da Serie D.
Recomeçando do zero, o time conquistou um surpreendente retorno à Serie B em 2002, com Ezio Rossi como treinador, batendo Spezia e Lucchese nos play-offs. Na temporada seguinte, encantou o torneio com seu bom futebol e passou perto do retorno à Serie A, tendo inclusive virado o ano como líder da competição. Em 2006, passou por sérias dificuldades financeiras e acabou tendo o pacote majoritário de suas ações adquirido pelo empresário friulano Stefano Fantinel, que passou a investir no marketing do clube alabardato, provavelmente o mais avançado entre os times da cadetteria: a Triestina possui inclusive revista e TV on-line. Na atual temporada, os julianos decepcionam e estão apenas dois pontos acima da zona de rebaixamento. Tão pouco para uma cidade que já testemunhou tanta história nas duas primeiras divisões italianas.
As temporadas
28 participações na Serie A, 25 na Serie B, 27 na Serie C e 4 na Serie D.
Os títulos
Entre suas honras, a Triestina pode se vangloriar de um título internacional: a Copa Anglo-Italiana, em 1980. Naquele ano, os alabardati bateram o Sutton United nos pênaltis para inaugurar a supremacia italiana na disputa, que então só contava com times que disputavam a terceira divisão de seus países: à época, foi a quinta final vencida por um clube da Itália, contra quatro da Inglaterra. Além disso, a Triestina conseguiu três vezes a promoção na Serie D (duas vezes na primeira colocação do grupo, em 1972 e 1976) e quatro promoções na Serie C (tambem com dois títulos, em 1962 e 1983). Na sala de troféus, ainda há espaço para um Coppa Italia da Lega Pro (1994) e um campeonato da Serie B (1958).
Os rivais
Até pela proximidade de Trieste e Údine, ambas na região de Friuli-Venezia Giulia, a maior rivalidade da Triestina é com a Udinese. Coincidentemente, os bianconeri são o time que l’Unione mais enfrentou na história da Coppa Italia: dez vezes. Pela amizade entre as torcidas da Triestina com Verona e Lazio, há também uma rivalidade acentuada com Vicenza e Livorno, esta última basicamente política.
Os brasileiros
Apenas dois jogadores daqui vestiram a camisa da Triestina, ambos com história bem recente. O atacante paulistano Anderson Rodney de Oliveira, o Babù, foi revelado pela Cisco Roma e passeou bastante pela Serie B até ser emprestado pelo Catania aos giuliani. Ficou de janeiro a junho de 2008 na Triestina, mas só fez quatro jogos e não marcou gols. O segundo é o jovem meia Felipe Monteiro Diogo, o Sodinha, contratado por empréstimo no último domingo junto à Udinese.
Os selecionáveis
Oito jogadores defenderam a seleção italiana enquanto jogavam pela Triestina. O primeiro deles foi Nereo Rocco, em 1934, que fez um só jogo. O último, Guglielmo Trevisan, fez duas partidas em 1940 e marcou um gol. Os outros foram Gino Colaussi (com 25 jogos e 15 gols), Piero Pasinati, Giuseppe Grezar, Gianfranco Petris, Ivano Blason e Cesare Presca. Dois deles, Pasinati e Colaussi foram convocados para a Copa do Mundo de 1938. Outro alabardato esteve nessa Copa, o meia Bruno Chizzo, que, porém, nunca chegou a estrear pela Nazionale.
Quem mais jogou (apenas pela Serie A)
Piero Pasinati, 347 jogos
Quem mais marcou (apenas pela Serie A)
Nereo Rocco, 66 gols