Já faz tempo que Vucinic é o melhor jogador da Roma. Quem precisa de Totti? (Getty Images)
Após dez rodadas e mais de um quarto de campeonato realizado, não há nenhum time disparado na ponta da tabela ou uma equipe que se destaque por apresentar um futebol diferente dos demais, nitidamente superior. Nenhuma das equipes desta Serie A consegue atuar de forma a ser o rolo compressor que era a Inter das últimas temporadas ou a Juventus pré-Calciocaos.
Enquanto a Inter se desmancha em lesões musculares, escolhas erradas de Rafa Benítez e uma clara cisão entre elenco e técnico, outras equipes começam a aproveitar para encostar na ponta da tabela de um campeonato nivelado por baixo. A Lazio continua liderando a Serie A, com 22 pontos, seguida de perto por Milan (20), Inter (19), Juventus (18) e Napoli (18). As irregulares Sampdoria (15) e Roma (15) completam a zona de classificação para competições europeias neste momento, dando uma amostra ainda mais clara de como o campeonato ainda está longe de ter favoritos.
Lazio 0-2 Roma
O nome do dérbi foi, seguramente, Vucinic. O montenegrino fez o que pode para devolver a dignidade citadina à Roma, perdida nos últimos meses, com uma Lazio sempre na ponta da tabela, em oposição a uma Roma irregular e que chegou a frequentar a zona de rebaixamento, mas que agora já começa a sonhar até mesmo com a briga pelo título. Mesmo quando a Lazio foi superior, durante boa parte do primeiro tempo, Vucinic não desistiu e lutou na marcação. Se Rocchi e Hernanes tiveram boas oportunidades de colocar a Lazio na frente, foi a Roma que marcou primeiro, já no segundo tempo, quando Lichtsteiner colocou a mão na bola dentro da área e fez pênalti. Borriello, ótima contratação romanista para a temporada, bateu mal, mas contou com a colaboração de Muslera para fazer 1 a 0. Mais perto do final, após tentar muito com a bola em jogo, um outro pênalti deu a chance de Vucinic definir a partida e dedicar mais um importante gol a seu filho Aleksandar, recém-nascido.
Outro nome do embate foi Fábio Simplício, um entre os muitos ex-são paulinos envolvidos no embate (ao todo, seis: André Dias e Hernanes pela Lazio; Cicinho, Simplício, Julio Baptista e Adriano pela Roma). Pouco utilizado por Ranieri até então pois estava fora de ritmo após se recuperar de lesão, o ex-meia do Palermo correu o campo todo e por pouco não deixou seu gol, quando acertou um lindo chute no travessão. Por outro lado, Hernanes sentiu o dérbi, pouco fez e fez a torcida laziale lembrar que o verdadeiro nome do time na temporada é Mauri. Apesar do resultado, não faltaram chances para a Lazio: Foggia, que substituiu Hernanes, acertou a trave quando a partida ainda estava aberta e os aquilotti ainda reclamaram de dois pênaltis: em um, Simplício realmente tocou com a mão na bola, mas no outro, apesar de claro puxão de Riise sobre Mauri, André Dias parecia impedido no lance. A derrota coloca a Lazio na berlinda: a derrota foi apenas um deslize ou será um divisor de águas?
Bari 2-3 Milan
É possível perceber que a sorte está do seu lado quando os atacantes do seu time perdem um caminhão de gols e, mesmo assim, uma vitória com três gols a favor é construída, Foi o que aconteceu ao Milan na visita deste domingo ao San Nicola de Bari: Ibrahimovic e, principalmente, Robinho abusaram da sorte e perderam chances muito claras contra uma defesa que deixou muitos espaços e não tem sido nem sombra da que fez bom papel na última temporada, com Ranocchia e Bonucci. Hoje, o goleiro Gillet sofre com uma defesa que é a pior do campeonato, com 18 gols sofridos e que, quando está sem dois titulares, como Raggi e Salvatore Masiello, pena ainda mais para se manter invicta.
A bem da verdade, o Milan não teve muito trabalho para vencer a partida. Logo aos 4 minutos, Ambrosini abriu o placar, ampliado pouco depois por um gol de Flamini, muito ativo ofensivamente durante toda a partida. Robinho e Ibrahimovic tiveram suas chances para decidir a partida, mas permitiram que o Bari tivesse a chance de reabrir o jogo com um bonito gol de Kutuzov. Méritos para Pato, que veio do banco pouco antes do gol do bielorrusso e fezn um bonito gol de fora da área, jogando um balde de água fria no time da Puglia e dando moral ao Diabvolo numa semana complicada: enfrenta Palermo (quarta) e Inter (domingo).
Juventus 3-1 Cesena
Para enfrentar um dos caçulas da Serie A, a Juventus teve de improvisar. Sem boa parte dos titulares à disposição por causa de lesões, Del Neri promoveu o jovem zagueiro Sorensen ao time titular e deu uma nova chance a Grosso, que estava afastado do elenco e estreou na Serie A. Ficcadenti também improvisou bastante: desde a escalação do japonês Nagatomo na lateral direita ao novo 4-4-2, com Jiménez dando suporte a Bogdani no ataque. O improviso cesenático deu certo logo no início, quando Bogdani recebeu cruzamento na área e ajeitou para Jiménez completar, sem marcação.
A partir de um pênalti concedido a partir de um agarra-agarra entre Pellegrino e Bonucci, a Juventus reescreveu a história do jogo: Del Piero marcou de pênalti e logo partiu para cima. Pouco tempo depois, o mesmo Pellegrino foi expulso por uma falta pesada sobre Pepe e deu a chance para a Juventus virar, com Quagliarella, que cabeceou sozinho na grande área e virou o jogo ainda no primeiro tempo. Aquilani, com grande liberdade, fez ótima partida, participando ativamente da criação e da definição de jogadas. Com tranquilidade, ainda sobrou tempo para Iaquinta marcar o terceiro, encobrindo Antonioli, e colocando a Juventus diretamente na disputa pelo scudetto. Já o Cesena, que tanto empolgou nas primeiras rodadas, agora segura a lanterna.
Napoli 2-0 Parma
Após a boa participação na Copa do Mundo, parecia claro que o time que contratasse Cavani teria sucesso ao lado do uruguaio. Dito e feito: o atacante tem jogado muito bem e já é artilheiro da Serie A ao lado de Eto’o, com oito gols e, ainda que continue a perder gols, tem sido cada vez mais efetivo. El Matador puxou o contra-ataque que terminou em seu primeiro gol no jogo e também fez outro golaço, quase sem ângulo, no segundo tempo. Incansável, Cavani também foi fundamental na defesa, cobrindo as subidas de Zaccardo e evitando um gol do lateral direito crociato, dentro da área. Outro jogador fundamental neste bom Napoli de Mazzarri é Lavezzi, líder em assistências na Serie A, com cinco no total. El Pocho, alvo do grande rodízio feito pelo técnico após a derrota contra o Liverpool na quinta, entrou no segundo tempo e deu um lindo passe para o gol de Cavani.
O Parma, destroçado, segue na zona de rebaixamento mesmo com um time razoável. Impressiona a insistência de Marino em Marqués, que perde muitos gols e, na partida do San Paolo, ainda cedeu um contra-ataque bobo para o primeiro gol azzurro. O treinador resolveu escalar a equipe sem atacantes de ofício, com o objetivo de dar mais mobilidade ao time, mas sendo Marqués o “mais atacante” de todos, fica difícil marcar. O time ainda perdeu Giovinco lesionado, o que proporcionou a entrada de Crespo, mas afasta o principal jogador do time pelo menos até a rodada deste meio de semana, quando recebe a Sampdoria.
Palermo 1-0 Genoa
Numa partida muito intensa pelo menos no primeiro tempo, Palermo e Genoa fizeram um dos melhores duelos da rodada. Toni, ex-Palermo, foi vaiado desde o início pela torcida siciliana, mas quem teve vida difícil mesmo foi Pinilla. Não pela marcação da defesa rossoblù, que lhe deu liberdade o suficiente para finalizar, mas pelas muitas chances perdidas por azar (duas bolas na trave) ou preciosismo, antes de realizar o único gol do jogo, após um esperto passe de calcanhar de Pastore. O Palermo ainda viu o retorno do ídolo Miccoli aos gramados, depois de uma lesão que o afastava dos gramados desde maio.
O Genoa, por sua vez, estreou um inédito 4-4-2 e não jogou mal, mas embora tenha levado perigo a Sirigu apenas no primeiro tempo e apenas com Toni, já que Rudolf esteve muito apagado. No segundo tempo, Gasperini até tentou reverter o quadro, ao colocar Miguel Veloso, Destro e Boakye, mas não surtiu efeito: o resultado culminou no fim de um matrimônio de cinco anos que sempre fora estável, mas que começava a dar sinais de crise há algum tempo, com a cega devoção do treinador a um 3-4-3 pouco prático e cheio de improvisos. Quem terá a missão de levar o Genoa à Liga dos Campeões, como deseja o presidente Enrico Preziosi, será Davide Ballardini, cujo último bom trabalho foi realizado exatamente no Palermo.
Fiorentina 1-0 Chievo
Na volta de Mutu ao Artemio Franchi, a Fiorentina sofreu bastante para derrotar o Chievo e garantir um pouco de tranquilidade, numa semana bastante turbulenta, em que perdeu Frey por no mínimo quatro meses e Montolivo por quarenta dias. Boa parte dos por maus bocados pelos quais a equipe viola vem passando estão ligados ao fato de que o time está dizimado por lesões: além de Frey e Montolivo, também estão fora Zanetti e D’Agostino. A falta de jogadores no meio-campo tem sido tão nociva que Mihajlovic precisou escalar Bolatti, totalmente fora de sintonia e a um passo de ser negociado na próxima janela de transferências.
Não à toa, o Chievo teve o domínio das ações no meio-campo, graças ao bom Constant e à ótima partida de Guana, pelo menos até a saída de Bolatti para a entrada do peruano Vargas, que retornou bem de lesão. Mais à frente, Moscardelli, sempre voluntarioso, deu muito trabalho aos defensores viola e ao goleiro Boruc (estreante na Serie A), enquanto Théréau não substituiu o lesionado Pellissier à altura. A falta de sintonia também podia ser verificada no ataque florentino, com Mutu e Gilardino, que não se comunicaram bem durante o jogo, mas fizeram a jogada que acabou no gol achado por Cerci. A cria da Roma ainda acertou a trave em seguida e quase decretou um injusto 2 a 0 no placar, pouco antes de Constant errar por pouco um chute que empataria o jogo e daria um merecido ponto à formação clivense.
Sampdoria 0-0 Catania
Já são três partidas da Sampdoria após a suspensão de Cassano por indisciplina ao presidente Riccardo Garrone e o time contabiliza apenas um gol marcado (no final da partida contra o Cesena). Se peculiaridades do campeonato permitem que a Samp, sem brilho e com problemas, esteja na 6ª colocação, não é novidade que a equipe tenha dificuldade de fazer gols sem a magia de Fantantonio: na última temporada, sem Cassano em campo, já era notável que o time perdia em criação e ficava previsível, com jogadas realizadas tão-somente pelas laterais.
Cassano, a bem da verdade, não é o maior dos problemas desta Sampdoria. Não há como pensar que Garrone deveria perdoá-loe reincorporá-lo ao grupo quando Palombo continua produzindo menos do que pode, Di Carlo continua escalando Tissone no lugar do promissor Poli no centro do meio-campo e Ziegler, Guberti e Koman abusam de cruzamentos errados. Melhor para o compacto Catania de Giampaolo, que consegue o primeiro ponto fora de casa em quase dois meses – o último havia sido no San Siro, em um empate contra o Milan.
Udinese 1-1 Cagliari
Empate justo em Údine entre duas equipes que parecem ter se encontrado no campeonato. A Udinese já soma seis resultados positivos em sequência (dois empates e quatro vitórias) e já aparece próxima da zona de classificação para a Liga Europa. Surpreende que o time esteja jogando bem mesmo quando Di Natale, seu capitão, não faça boa temporada (após ser artilheiro da última Serie A, com 29 gols, fez apenas dois até agora) e até mesmo quando imprevistos acontecem: Sánchez era o melhor friulano em campo, mas sentiu dores ainda no primeiro tempo e foi substituído por Pinzi. Guidolin teve de colocar o time no 3-5-2 e, curiosamente, o gol de empate de Floro Flores surgiu logo depois.
O Cagliari havia saído na frente com um golaço do capitão Conti, em sua 300ª partida pelo clube entre as séries A e B, e dominava a partida, mais compacto no meio-campo, graças à ótima fase de Nainggolan e ao ressurgimento de Cossu, que passou algumas rodadas um tanto apagado mas voltou a dar as cartas na equipe sarda. A mudança de postura da equipe, que voltou a apresentar um futebol coletivo, em lugar de privilegiar as individualidades de Cossu e Matri, tem sido fundamental para o bom momento. Dessa maneira, a demissão de Pierpaolo Bisoli, já cogitada pelo presidente Massimo Cellino, está praticamente descartada no momento.
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