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Adotado pela Itália, Souleymane Diamoutene foi de herói a vilão no Lecce

Como tantos jogadores estrangeiros, Souleymane Diamoutene chegou cedo ao futebol italiano e deixou sua marca como um dos mais longevos defensores de sua época. É verdade que em poucos momentos o malinês conseguiu brilhar no topo, mas escreveu a sua história atuando em 10 diferentes clubes, tanto na elite quanto nas divisões interiores do Belpaese.

Diamoutene nasceu em Sikasso, cidade de Mali, país que fica na região ocidental do continente africano. Começou no mundo do esporte muito cedo e, nas categorias de base do Djoliba, um dos maiores clubes de sua nação, chamou a atenção dos sempre atentos olheiros da Udinese, ligados em mercados periféricos da bola. Com boa projeção, ele rumou à Itália em 1999.

Versátil e com boa técnica, o zagueiro – que também seria utilizado, em diversos momentos de sua carreira, na função de lateral-direito – se integrou à equipe primavera dos friulanos. No entanto, embora tenha concluído sua formação na Udinese, foi na Lucchese, em 2001, que Diamoutene teve sua primeira experiência profissional. Na época, os rossoneri atuavam na Serie C1 italiana.

O malinês defendeu os toscanos por duas temporadas de altos e baixos na terceirona, e chamou a atenção do Perugia, que disputava a elite do futebol italiano. Assim, pode estrear na Serie A durante a campanha de 2003-04, quando também ajudou os grifoni a se classificarem à Copa Uefa devido ao título da Copa Intertoto. Embora estivesse transitando dos 20 para os 21 anos, Diamoutene foi titular absoluto do time treinado por Serse Cosmi, que foi rebaixado após perder o spareggio com a Fiorentina, proveniente da segundona.

Pelo Perugia, o zagueiro Diamoutene estreou na Serie A e também em competições da Uefa (AFP/Getty)

Foi também em 2004 que ele disputou a sua primeira edição da Copa Africana de Nações pela seleção principal do Mali. Naquela ocasião, Diamoutene – ao lado de nomes como Seydou Keita e Mohamed Sissoko – ajudou as águias a ficarem com a quarta posição do torneio. Souleymane ainda disputaria mais duas edições da maior competição de seleções do seu continente: em 2008 e 2010, respectivamente.

Após o rebaixamento do Perugia, o beque deixou a Úmbria e se mudou para a Apúlia no intuito de defender o Lecce – time que mais vezes representaria ao longo de sua carreira, num total de 156 aparições. Na equipe comandada por Zdenek Zeman, uma das gratas surpresas da Serie A 2004-05, foi titular e chegou a marcar um gol na rocambolesca vitória por 5 a 3 sobre a Lazio.

Seguindo os preceitos de Zeman, o Lecce não se defendia bem – e teve a pior retaguarda da Serie A, com 73 gols. Ainda assim, embalado por Cristian Ledesma, Mirko Vucinic, Marco Cassetti, Guillermo Giacomazzi, o próprio Diamoutene e outras peças, foi 11º colocado. O técnico checo não permaneceu para a temporada 2005-06 e, embora o malinês tenha continuado no centro da zaga, o time degringolou e acabou rebaixado para a Serie B.

Na segundona, Diamoutene foi peça fundamental para o ano de reformulação do time salentino e se consolidou como líder do elenco. O defensor também entregou seus gols dentro de campo: foram três tentos no total, incluindo um de pênalti, no clássico com o Bari. Mesmo tendo feito uma boa campanha, o Lecce não conseguiu o acesso à elite. A promoção seria obtida em 2008, quando o africano contribuiu fortemente para que a missão fosse cumprida: além de ter atuado em 33 partidas e balançado a rede em duas oportunidades, Souleymane foi escolhido para a seleção do certame. De quebra, foi a única unanimidade entre os treinadores da Serie B que elegeram a equipe.

Diamoutene fez sucesso no Lecce, mas terminou sua passagem pelo clube giallorosso como vilão (AFP/Getty)

Ioiô, o Lecce voltaria imediatamente para a Serie B – e segurando a lanterna da divisão de elite. Diamoutene, porém, não participou de toda a campanha dos apulianos: em janeiro de 2009, foi emprestado a Roma e rumou à capital. Vestindo a camisa 21, Diamoutene estreou na vitória por 1 a 0 contra o Siena, onde substituiu o brasileiro Juan. Três dias depois de seu debute, também teve seu batismo de fogo na Liga dos Campeões, em partida contra o Arsenal. O malinês chegou a ser titular na volta, mas não pode impedir a eliminação dos giallorossi nos pênaltis.

Sua passagem pela Cidade Eterna durou apenas um semestre, no qual entrou em campo seis vezes. Em agosto de 2009, o rebuliço: se transferiu por empréstimo diretamente para o principal rival do Lecce, o Bari, em caminho inverso ao percorrido pelo brasileiro Gérson Caçapa anos antes. Além de uma experiência malsucedida, com somente três jogos realizados ao longo de uma temporada, a “traição” lhe rendeu muita dor de cabeça quando retornou ao Salento.

De volta ao Lecce para disputar a Serie A na temporada 2010-11, o zagueiro foi contestado por torcedores, que até apelaram para a violência durante um treino do time, em dezembro. Diamoutene vinha sendo ignorado pelo técnico Luigi De Canio, que não queria polêmicas. No fim do mês anterior, porém, o malinês passou a ser utilizado e chegou a utilizar a faixa de capitão num duelo perdido para a Udinese, pela Coppa Italia. foi o suficiente para despertar a ira dos ultras.

Num treinamento, enquanto os jogadores do Lecce faziam uma roda de bobinho, ultras invadiram o gramado e, além de terem empurrado Diamoutene, o xingavam por sua ida ao Bari e o incitavam a tirar a camisa do time. O malinês acabaria sendo emprestado ao Pescara, da Serie B, em janeiro de 2011. O episódio coincidiria com o fim da linha do zagueiro no mais alto nível: ele jamais faria uma partida da elite italiana novamente.

Ao aceitar trocar o Lecce pelo arquirrival Bari, o beque perdeu o respeito dos antigos fãs giallorossi e viu sua carreira degringolar (Getty)

Já um pouco apagado, retornou ao Lecce após o final do inócuo empréstimo ao Pescara. Fora dos planos para a nova temporada, até realizou uma partida pela Coppa Italia, mas foi afastado do grupo giallorosso e, no começo de 2012, foi vendido para o Levski Sofia, Bulgária. Sem muito espaço num dos mais tradicionais clubes búlgaros, em dezembro daquele mesmo ano teve seu contrato rescindido.

Sem ofertas, Diamoutene ficou quase um ano fora dos gramados profissionais. Foi somente em setembro de 2013 que ele recebeu uma oferta da Lupa Roma, que disputava a Serie D. Nas divisões inferiores voltou a ter algum destaque e ajudou os capitolinos a conquistarem o título da categoria pela primeira vez na história. Na mesma época, aliás, Souleymane recebeu a cidadania italiana.

No entanto, apesar da vitoriosa trajetória da Lupa Roma, Diamoutene teve desentendimentos com a comissão técnica, não teve o seu contrato renovado e ficou livre no mercado. A partir de então, perambulou pelo Mediterrâneo: participou da campanha de acesso da Fidelis Andria à quarta divisão; atuou breve e novamente pelo Pescara; teve um biênio em Malta, onde representou o Gzira United (clube de Malta); e depois atuou pela Igea Virtus e pelo Giulianova, na Serie D. Em 2020, aos 37 anos, pendurou as chuteiras.

Apesar de ter fincado raízes no futebol italiano, Diamoutene será lembrado principalmente pela decisão errada que tomou num momento crucial de sua carreira. Ele poderia ser lembrado para sempre como um dos zagueiros mais identificados com o Lecce. Porém, a malfadada pulada de cerca deixou outro sentimento na memória da torcida salentina.

Souleymane Adama Diamoutene
Nascimento: 30 de janeiro de 1983, em Sikasso, Mali
Posição: zagueiro
Clubes: Lucchese (2001-03), Perugia (2003-04), Lecce (2004-09, 2009, 2010-11 e 2011-12), Roma (2009), Bari (2009-10), Pescara (2010-11 e 2016), Levski Sofia (2012), Lupa Roma (2013-14), Fidelis Andria (2015), Gzira United (2016-18), Igea Virtus (2018-19) e Giulianova (2019-20)
Títulos: Copa Intertoto (2003) e Serie D (2014 e 2015)
Seleção malinesa: 48 jogos e 1 gol

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