Nesta quarta-feira, Inter e Bayern de Munique entram em campo para o sexto jogo oficial entre as equipes válido por competições da Uefa. Porém, nenhuma outra partida foi tão histórica quanto a última que valeu a Tríplice Coroa para a Inter, fato inédito na história do clube e de todo o futebol italiano. A reedição da final, no entanto, terá uma série de elementos diferentes, principalmente para o lado italiano.
Naquele 22 de maio de 2010, no Santiago Bernabéu, a Inter contou com um Diego Milito inspirado. Os dois gols contra os bávaros, com direito a um drible que entortou o zagueiro Van Buyten, encerraram a melhor temporada da carreira do Príncipe, que hoje vive um inferno astral e está de fora ao menos da partida de ida, por causa da enésima lesão em 2010-11. No banco de reservas, ninguém “especial”. Nada de José Mourinho, agora é a vez de Leonardo, que estreia pelo clube na Liga dos Campeões, tentando ao máximo espelhar algumas características do português no relacionamento com o grupo. Pelo campeonato nacional, seu método tem funcionado, mas ainda é incerto se os jogadores reagirão bem à pressão da LC. Por fim, a própria Inter vive situação diferente: não é mais o único protagonista da Serie A. Na verdade, voltou para o rol do protagonismo apenas neste ano, com uma arrancada espetacular que devolveu a Beneamata à briga pelo título.
Para o confronto, contaremos com a ótima colaboração de Pedro Venancio, responsável pela coluna semanal sobre futebol alemão na Trivela. Confira a prévia de Inter x Bayern de Munique e confira depois o que aconteceu na partida. Boa leitura!
A temporada até aqui
Inter: É possível dividir a temporada interista em duas: a primeira parte, com Rafael Benítez, e a segunda, com Leonardo, a partir de 2011. Com o treinador espanhol, a Inter venceu a Supercopa da Itália e o Mundial de Clubes da Fifa, mas decepcionou na Liga dos Campeões, ficando em segundo lugar em um grupo no qual era favorita, e também na Serie A, quando terminou 2010 na sétima colocação, 14 pontos atrás do Milan. A chegada de Leonardo veio acompanhada de reforços e deu um novo ânimo ao time, que venceu nove das últimas onze partidas no campeonato italiano e, chegou à terceira colocação com 50 pontos, tendo reduzido a vantagem dos rossoneri para cinco pontos. O (alto) número de lesões que acometeu o elenco na primeira parte da temporada diminuiu e titulares, como Júio César, Maicon, Thiago Motta e Sneijder, voltaram à boa forma e o time passou a jogar melhor. O time tem sofrido muitos gols, mas a volta de Lúcio, que deve jogar ao lado de Ranocchia, pode fortalecer a Inter para o confronto.
Bayern de Munique: Prejudicado pelo fato de que nove jogadores do elenco foram titulares de suas seleções na Copa do Mundo e voltaram em condições físicas abaixo do ideal, o Bayern de Munique teve um mau início de temporada na Bundesliga, mas se recupera aos poucos. A equipe ocupa atualmente a terceira posição, com 42 pontos, três a menos do que o vice-líder Bayer Leverkusen e 13 a menos do que o líder Borussia Dortmund, virtual campeão. Na Liga dos Campeões, a história foi bem diferente: os bávaros se classificaram em primeiro lugar do Grupo E com 15 pontos em seis jogos, sem muitas dificuldades. A única derrota foi para a Roma, por 3 a 2, na penúltima rodada. Na pausa de inverno da Bundesliga, o técnico Louis van Gaal se livrou de jogadores experientes como Demichelis e Van Bommel, e rejuvenesceu o elenco com a compra de Luiz Gustavo. A volta de Robben e Ribéry de lesão e o bom momento vivido por Mario Gómez fortalecem os bávaros para o confronto.
Pontos fortes
Inter: A chegada de Leonardo levou a Inter de volta a módulos táticos aos quais os jogadores estão mais acostumados, depois de uma época de experiências mal-sucedidas de Benítez. Assim, a Inter voltou ao 4-3-1-2, com variações táticas que frequentemente a levam a atuar em uma espécie de 4-2-3-1, com Eto’o entrando em diagonal na área a partida esquerda e com a aproximação de um meia a Sneijder. Desde a chegada do novo treinador, o poder de fogo do time melhorou consideravelmente, com a aproximação dos meias aos atacantes, devolvendo à Inter uma melhor distribuição da autoria dos gols: os 27 que a Inter fez durante dois meses da gestão de Leonardo foram marcados por dez joagdores diferentes. Eto’o, no entanto, continua sendo o artilheiro do time, com 27 gols na temporada – seis na LC, maior marcador desta edição. No mais, os pontos fortes desta Inter continuam sendo quase os mesmos da Inter de Mourinho: defesas importantíssimas de Júlio César, os arranques de Maicon e a inventividade de Sneijder.
Bayern de Munique: Desde 2009, quando assumiu o cargo, o técnico Louis van Gaal priorizou a montagem de uma equipe ofensiva que atua no 4-2-3-1, com jogadores técnicos e capazes de desequilibrar. Os laterais, Lahm e Luiz Gustavo, e os volantes, Schweinsteiger e Pranjic – ou Ottl -, sabem tratar a bola com carinho e sobem bem ao ataque se necessário. Mas o grande trunfo da equipe é a linha de três meias formada por Robben, Ribéry e Thomas Müller, que dispensa apresentações. Com a recuperação dos dois primeiros e a volta da boa fase de Müller, o ataque cresce muito, e isso pode ser comprovado nos últimos cinco jogos do certame nacional, quando o time marcou 15 gols. O centroavante Mario Gómez, trazido a peso de outro junto ao Stuttgart, parece já ter se recuperado da má temporada em 2009-10 e é o artilheiro da Bundesliga com 18 gols marcados e vice da Liga dos Campeões, com seis, empatado com Messi.
Pontos fracos
Inter: Ao contrário do time que enfrentou o Bayern na final da última edição da LC, esta Inter não é fortíssima na defesa. Desde a chegada de Leonardo, a equipe não levou gols em apenas três partidas, embora Lúcio só tenha jogado uma única vez ao lado de Ranocchia, que tem características semelhantes às de Samuel. A volta do brasileiro, aliada à excelente fase do italiano, pode ajudar a Inter a recuperar um setor que tem sido vulnerável demais para um time que precisa somar o maior número de pontos possíveis para encostar no Milan e que deve evitar sofrer gols em jogos eliminatórios. Outro dificuldade que a Inter passa é não ter um parceiro ou substituto adequado à Eto’o no momento. O único outro atacante disponível é Pandev, uma vez que Milito, lesionado, continua atravessando sua via crúcis e Pazzini está inelegível para jogos da Liga dos Campeões. A ausência de outras alternativas, combinada à má fase do macedônio, deve fazer Leonardo apostar pela primeira vez em sua gestão em um esquema “árvore de natal”, com Stankovic e Sneijder dando suporte à Eto’o, isolado na frente. Pandev começará no banco e dificilmente terá poder de entrar em campo para mudar o panorama da partida.
Bayern de Munique: Louis van Gaal enxergou pouco antes da pausa de inverno da Bundesliga o que já parecia óbvio desde a temporada passada: Van Buyten e Demichelis não passavam segurança nem ao mais otimista dos torcedores bávaros e já faziam hora extra no time titular. O primeiro, humilhado por Diego Milito na final da Liga dos Campeões de 2009-10, foi para o banco de reservas, enquanto o segundo acabou sendo negociado com o Málaga. O técnico holandês, porém, ainda não conseguiu ajustar o setor. Um dos titulares é Holger Badstuber, que já não é mais utilizado na lateral esquerda há algum tempo. A outra posição é disputada pelo ex-são paulino Breno, que voltou a receber oportunidades, e pelo ucraniano Tymoshchuk, volante de origem que geralmente dá conta do recado quando escalado na função. Ainda assim, o setor não é totalmente confiável, como foi visto na derrota para o Köln por 3 a 2, jogo em que os bávaros começaram vencendo por 2 a 0.
Expectativas
Inter: Desta vez, o duelo é mais equilibrado do que o da final de 2010, sobretudo porque se a Beneamata não parece mais impecável, o Bayern terá Ribéry, que além de seu talento habitual, pode forçar Maicon a não ir muito ao ataque. Para se sair bem contra o Bayern, servirá à Inter um belo trabalho dos volantes – Zanetti pela direita e Cambiasso pela esquerda -, que ajudarão os laterais a marcarem as investidas de Ribéry e Robben. O capitão da Inter terá papel ainda mais fundamental, porque deverá cobrir as frequentes subidas de Maicon. A correria do lateral brasileiro é, também, uma metáfora do próprio momento atual pelo qual passa a equipe nerazzurra: desde janeiro o time está envolvido em uma maratona de jogos disputados sempre em alta intensidade, com o intuito de correr atrás do tempo perdido com Benítez na primeira parte da temporada. O desejo de repetir a tripletta conquistada na última temporada existe e a arrancada construída com um ótimo retrospecto deve servir como uma motivação a mais para vencer o cansaço dos últimos meses. Basta ver como Sneijder, Maicon e Júlio César retornaram a campo após suas lesões.
Bayern de Munique: Ao contrário da final do ano passado, quando as expectativas eram todas direcionadas a Robben enquanto Ribéry estava suspenso, o Bayern de Munique parece uma equipe bem mais sólida e experiente. A afirmação de Thomas Müller na Copa do Mundo faz com que ele seja observado de outra maneira pelos adversários, assim como acontece com Mario Gómez, que em 2009-10 era reserva do hoje lesionado Ivica Olic e tem crescido na temporada. O apoio de Lahm pelo lado direito e os avanços de Schweinsteiger pelo meio também ajudam na composição de um time que pratica um futebol vertical e objetivo. A grande incógnita fica por conta do desempenho do setor defensivo, que ainda não foi testado contra atacantes como Samuel Eto’o e de fato está longe de passar a confiança necessária aos torcedores do clube. Na teoria, porém, é um duelo mais equilibrado do que o de 2009-10 e os bávaros, pela boa campanha na primeira fase e recuperação na Bundesliga, tem bons motivos para estar confiantes.
Prováveis Escalações
Inter: Júlio César; Maicon, Lúcio, Ranocchia (Córdoba), Chivu; Zanetti, Thiago Motta, Cambiasso; Stankovic (Pandev), Sneijder; Eto’o.
Bayern de Munique: Kraft; Lahm, Tymoshchuk, Badstuber, Pranjic; Schweinsteiger, Luiz Gustavo (Ottl); Robben, Thomas Müller, Ribéry; Mario Gómez
Promessa de um grande jogo.
Apesar do mando da Inter, acredito que o Bayern consiga a vitória em pleno Giusseppe Meaza.
2 x 1 para os bávaros.
Cadê o Pazzini?
Pazzini já jogou pela Sampdoria na Liga dos Campeões e não pode ser inscrito por outro clube.