Categorias de base

Reconstruindo as bases

No início da pré-temporada da Inter, Stramaccioni observa jogo-treino da equipe. Apostar nos jovens e reduzir a folha salarial é a meta da temporada (Getty Images)

 A última temporada pode não ter sido das mais prosperadoras ao torcedor interista, acostumado a ver seu time ganhar títulos e mais títulos. De 2004 a 2011 foram incríveis 15 conquistas, superando o período mais vitorioso e marcante do time milanês, o da Grande Inter de Angelo Moratti, Helenio Herrera e grande elenco, que ganhou tudo o que disputou em boa parte da década de 60.

Em 2011-12, a realidade foi outra em Appiano Gentile. Já a partir da pré-temporada, bagunçada e sem planejamento algum, com um técnico sem experiência e “cabeça dura”, Gian Piero Gasperini, se perdendo na condução do time, ao não ter conseguido implantar suas ideais – completamente inviáveis com o elenco que tinha em mãos. Após apenas quatro jogos, a diretoria bancou um técnico, Claudio Ranieri, com trabalhos recentes de qualidade bem duvidosa, que a princípio conseguiu engrenar no começo com um time pragmático se recuperando na tabela. Mas, depois da boa fase passageira, a realidade voltou à tona e o rendimento caiu em demasia.
Enquanto a equipe principal passava por esta crise, o time Primavera (sub-21) se sagrara como primeiro campeão da NextGen Series – praticamente uma Champions League sub-19 –, refletindo o investimento feito pelo clube, lá em meados de 2008 e 2009. E se engana quem pensa que José Mourinho, por não ter utilizado muitos jovens em sua passagem pela Pinetina, não olhou para a base. Juntamente com Ernesto Paolillo, diretor-geral da Inter, e Roberto Samaden, diretor do setor juvenil, o português e sua comissão técnica tiveram o apoio de Massimo Moratti para que fosse desenvolvido um trabalho decente na base.
A gestão de Samaden já havia dado bons frutos, por exemplo, em 2008 com o time Primavera comandado por Mario Balotelli, que faturou o a Copa Viareggio. Mas algo melhor estava por vir em 2011-12. No mesmo time Primavera, Samaden e Paolillo apostaram no jovem Andrea Stramaccioni para que fosse feito um trabalho não só no sub-21, mas em todas as outras categorias. Então com 36 anos, Strama conseguiu dar uma identidade as principais categorias da base interista: Primavera (sub-21), Juniores Berretti (sub-18), Allievi A e B (sub-17) e Giovanissimi Nazionali (sub-15), trabalhando em conjunto com Alberto Celario, Pierluigi Casiraghi, Giuseppe Giavardi, Giuliano Rusca, Vincenzo Sasso, Sergio Zanetti, Antonio Manicone, Gianmario Corti, Luca Facchetti, Domenico Santoro, entre outros.
Além do trabalho técnico, houve também investimento na estrutura do setor juvenil. Em 2011 houve a reinauguração do campo do já elogiado Centro Esportivo Giacinto Facchetti, principal base para treinos e jogos oficiais dos garotos (mais sobre a estrutura do setor juvenil, aqui).
Com Stramaccioni, o time Primavera, além da conquista da NextGen Series, também se sagrou campeão do Campeonato Primavera. Nos Juniores Berretti de Sergio Zanetti – irmão do capitão e ídolo interista, Javier –, o reconhecimento também veio com o título do Campeonato Berretti, onde se destacaram os promissores Luca Garritano, Yago Del Piero (ítalo-brasileiro), Marco Benassi e outros. Nos Allievi (A e B) de Gianmario Corti, o time parou nas semifinais. Enquanto no Giovanissimi Nazionali de Salvatore Cerrone, o título também foi para Appiano Gentile.
Foram três títulos nas quatro principais categorias de base do futebol italiano, algo nunca feito por um clube na mesma temporada. A maior prova da evolução do setor juvenil interista, em franca ascensão. Logicamente, os resultados chamaram a atenção do chefe, Massimo Moratti. Primeiro dando uma chance para o novato Stramaccioni comandar o time principal da Inter ainda na temporada 2011-12 e a garantia de o romano dar a sequência na temporada que se inicia agora.
A esperança de um futuro melhor e renovado a Inter é grande, mas os resultados não deverão ser imediatos. O torcedor interista terá de ter paciência. Assim como Massimo Moratti, aparentemente mais cauteloso por causa do Fair Play Financeiro, que agora segue as ideias de Ernesto Paolillo, que em sua gestão de sete anos na Inter buscou diminuir os elevados custos do time e investir na base. Se existe um principal responsável por grande parte disso, é Paolillo, que anunciou sua saída da Inter, para a chegada de Marco Fassone, ex-diretor de marketing da Juventus.
Para a próxima temporada, já foram anunciados os treinadores do setor juvenil. Substituto de Stramaccioni, Daniele Bernazzani segue no comando do time Primavera, auxiliado por Vincenzo Sasso. Nos Juniores Berretti, Sergio Zanetti também continua, agora contando o auxílio de Luca Facchetti. Nos Allievi, uma importante divisão dos times A e B: Gianmario Corti, que comandava as duas equipes, terá o trabalho compartilhado com Salvatore Cerrone. Nos Giovanissimi Nazionali, chega Benoît Cauet – que jogou na Inter entre 97 e 2001 – para substituir Cerrone.
Já no time principal, Andrea Stramaccioni segue na reformulação do time, o que fica claro se compararmos a média de idade do elenco de 2011-12 e o atual, que ainda sofrerá mudanças. Na temporada passada, a Inter teve a maior média de idade da Uefa Champions League, com quase 32 anos. Hoje, essa média caiu para 26,5 anos, e contando com as prováveis saídas de Júlio César, Stankovic, Pazzini e Maicon, a média fica em torno dos 25.
Boa parte dessa queda acentuada na média de idade da equipe principal passa pelas ideais de Stramaccioni e também de Massimo Moratti, que busca reduzir, de vez, os imensos gastos do clube, especialmente na folha salarial. Já nesta janela de transferências recém-iniciada, quatro jogadores acima dos 30 anos saíram do clube: dois se aposentaram (Córdoba e Orlandoni, que seguiram no clube – mas com funções administrativas) e outros dois, Lúcio e Forlán, rescindiram o contrato de forma amigável, sem que a Inter lhes pagasse os salários restantes. Em contrapartida, Juventus e Internacional não precisaram arcar com custos para suas contratações.
Justamente buscando essa reformulação, grande parte dos contratados é mais jovem – exceto Palacio, com 30 anos -, e todos com salários mais baixos. É verdade que muito se gastou até aqui – algo em torno de 35 milhões de euros –, mas em se levando em conta a saída dos citados e a redução de alguns salários, os gastos compensam, uma vez que a folha salarial teve uma redução de quase 20 milhões de euros. Mais uma vez, contando com as prováveis saídas de Júlio César, Stankovic, Pazzini e Maicon, essa redução pode chegar a cerca de 35 milhões. Um belo desafogo para as contas do clube.

Além de buscar contratar jogadores mais jovens e com capacidade para se desenvolverem, Stramaccioni também promoveu a subida de alguns jogadores do time Primavera, ao menos para a fase inicial de treinamentos em Pinzolo, na região do Trentino-Alto Adige. Casos de Matteo Bianchetti (zagueiro, 19 anos), Ibrahima Mbaye (lateral, 17), Alfred Duncan (volante, 19) e Samuele Longo (atacante, 20), Marco Benassi (volante, 17), Daniel Bessa (meia, 19), Luca Garritano (atacante, 17), Marko Livaja (atacante, 18) e Andrea Romanò (meia, 19). Além disso, alguns jovens que emprestados ou em co-propriedade retornaram ao clube, como os promissores goleiros Vid Belec (21) e Francesco Bardi (20), e, claro, o brasileiro Philippe Coutinho (20), que chega cotado após um ótimo período de empréstimo ao Espanyol. Por outro lado, o clube teve de se privar do promissor Faraoni (21), para contratar o goleiro Handanovic (28), da Udinese.

Numa equipe tão jovem, os resultados primários podem vir a não ser totalmente satisfatórios, o que requer paciência e continuidade ao trabalho. Tempos melhores no lado azul de Milão hão de vir, e ao futebol italiano também, que nos últimos tem dado uma maior importância ao futebol de base e, também, a um estilo de jogo propositivo. Cesare Prandelli, técnico da seleção italiana, já deixou já deixou claro que é necessário uma renovação. E times como Inter e Roma são os maiores exemplos a serem seguidos pelos outros clubes, para que, de fato, haja renovação no Belpaese.

Confira, em italiano, entrevista com Ernesto Paolillo, ex-diretor da Inter, sobre o setor juvenil interista:

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