Os atacantes Mario Balotelli, Romelu Lukaku, Moise Kean, Taison e Dentinho, o ex-zagueiro Juan, os defensores Dalbert e Kalidou Koulibaly, o ex-meia Ibrahim Ba e o segurança Fábio Coutinho, torcedor do Atlético-MG. O que todos eles têm em comum? Sofreram racismo no futebol ao longos anos. Não importa se é no Brasil, na Ucrânia ou na Itália. O racismo, infelizmente, está na sociedade e isso significa que encontra extensão no esporte.
Vaias e sons de macaco, ofensas por meio de cantos ou xingamentos: essas são algumas das ações mais comuns quando falamos de atos de racismo. O combate ao preconceito é cobrado por muitos, e também foi feito por um jovem de 17 anos, que acaba de ser eliminado na Copa do Mundo Sub-17. Franco Tongya nasceu em Turim, é negro, tem origem camaronesa e defende a Juventus. Esteve no Brasil no último mês e participou da campanha italiana, que foi encerrada na segunda-feira (11) com a eliminação para os donos da casa nas quartas de final do Mundial da categoria.
O jogador italiano endurece o discurso sobre o racismo. Ele revelou para a Calciopédia que já sofreu com esse tipo de preconceito. “Eu também já vivi isso e presenciei no futebol. Colocam como uma situação normal, infelizmente, mas não deveria ser. O racismo não deveria existir, é preciso ser abolido do esporte”, disse Tongya, após a derrota para o Brasil. Ele preferiu não revelar em qual situação foi alvo de racismo, mas afirmou que ocorreu na Itália.
O jogador salienta que ‘algo precisa ser feito’ e entende que, pelo nível que chegou, os casos de racismo parecem longe de acabar. “É uma situação que, pelos diversos casos que não param de surgir, parece que nunca vai acabar. Algo precisa ser feito, não se pode deixar de combater. É muito triste”, frisou o meia da seleção italiana e da Juventus, que disputou os cinco jogos da Itália na Copa do Mundo Sub-17, utilizando a camisa 10 dos azzurrini.
A Itália, inclusive, continuará sem a conquista de um título mundial nas categorias de base, por causa da eliminação da Copa do Mundo sub-17 para a seleção brasileira, mas isso não significa que o futuro está perdido quanto à revelação de jogadores. A experiência de um Mundial pode não ser suficiente para atletas italianos que estiveram no Brasil se tornarem grandes nomes no esporte, mas muitos deles olham para o futuro tendo o passado como lição e aprendizado.
Dono da camisa 7, o atacante Wilfried Gnonto, que completou 16 anos durante a competição, é o que inspira maior potencial. O atacante de origem marfinense, da base da Inter, foi o artilheiro azzurro no Mundial, com três gols, e chamou muita atenção pelo conjunto de atributos: apesar de baixinho (tem 1,65m), apresenta explosão, força, habilidade e chute potente com a perna direita.
Nem ele deixou o Brasil sorrindo e feliz pela eliminação. Pelo contrário. Muitos dos jovens italianos demonstraram tristeza ao saírem do gramado e passarem pela zona mista, onde os jornalistas aguardavam para entrevistas. Alguns deles, como o lateral Lorenzo Pirola (Inter), o goleiro Molla (Bologna) e o próprio Gnonto chegaram a dar socos na porta que levava ao vestiário da equipe. Poucos pararam para conversar com a imprensa.
Tongya e Simone Panada foram dois deles e conversaram com exclusividade com a Calciopédia. Ambos entendem que suas participações na Copa do Mundo podem servir como inspiração para suas metas pessoais – disputarem a Serie A por Juventus e Atalanta, respectivamente.“Acho que tive boas atuações no Mundial e isso certamente vai me dar mais motivação para um dia realizar o sonho de jogar pela equipe principal da Juve. Vou me dedicar para isso acontecer e realizar meu sonho de jogar a Serie A”, disse Tongya.
Panada, que também é meia e é o dono da braçadeira de capitão, segue a mesma linha de pensamento. “Agora tenho de focar no meu clube. A experiência de jogar uma Copa do Mundo pode me ajudar a um dia entrar em campo na Serie A. Sei que eu e todo nosso time tem um futuro longo pela frente. Temos de continuar trabalhando, com muita dedicação para voltarmos a um Mundial e continuarmos em evolução”, pontuou o camisa 4 italiano.
A campanha no Brasil foi a segunda melhor da Itália na história dos mundiais sub-17. Foram cinco jogos, com três vitórias (Ilhas Salomão, México e Equador), duas derrotas (Paraguai e Brasil), nove gols marcados e cinco sofridos. O retrospecto só fica atrás da edição de 1987, na qual a seleção europeia foi semifinalista e terminou na 4ª posição. “É uma pena que nossa campanha tenha acabado. Foi uma Copa do Mundo fantástica. É triste ver nosso sonho ser interrompido, mas o esporte é isso. Aprendi muito aqui no Brasil e é impossível descrever a sensação de jogar um Mundial”, contou Panada.
Quem também prevê futuro promissor para a Itália é o técnico Carmine Nunziata, que foi meio-campista de times como Foggia, Padova, Torino e Brescia entre o fim dos anos 1980 e fim dos anos 1990. “É um longo processo que pode ter como resultado final muitos talentos no futuro da nossa seleção principal. Isso será muito importante para o futuro da Itália. O trabalho está sendo feito e continuará”, disse o treinador, que atua nas seleções de base italianas desde o início da década. Nunziata fez questão de ressaltar que os italianos não devem baixar cabeça pela eliminação, já que os azzurrini foram vice-campeões europeus e figuraram entre os oito melhores do mundo na categoria sub-17. A base continuará vindo forte.