Copa do Mundo

Considerações sobre os pré-convocados de Prandelli

Prandelli visita o estádio Tardini, de Parma. Parmenses tem quatro atletas na lista (Getty Images)

Mais uma convocação, mais surpresas entre os chamados por Cesare Prandelli. Nessa terça-feira, a Federação Italiana de Futebol enviou e divulgou a lista com os 30 nomes pré-convocados para a Copa do Mundo. Entre obviedades, algumas presenças e ausências inesperadas, o que deixa o mistério ainda maior com o “silêncio” de Prandelli. Ao todo, o técnico convocou 16 jogadores que estiveram com a seleção na Copa das Confederações.

O treinador não deu coletiva acerca da seleção e o fará apenas nos dias 20, 26 e 30, de acordo com o cronograma de Coverciano. Os treinamentos serão entre 19 a 30, até o amistoso contra a Irlanda no dia 31, em Londres. Depois volta para a Itália, em Perugia, onde enfrenta o Luxemburgo no dia 4, já com os 23 definidos. No dia 8, o amistoso final será contra o Fluminense, já em terras brasileiras, em Volta Redonda.

Mas, falando sobre os convocados, que é o que interessa, comecemos pelos goleiros. Aqui nenhuma surpresa, a não ser que alguém esperasse que o garoto Scuffet, da Udinese, estivesse ao menos no período de treinamento. Prandelli, contudo, preferiu chamar Mirante, uma opção mais experiente para substituir alguém entre Buffon (o capitão, que vai para a sua quinta Copa, igualando recorde de Carbajal e Matthäus), Sirigu (o jogador com mais convocações da era Prandelli) e Perin (o jovem mais indicado para receber chances). O goleiro do Parma, vale frisar, não está entre os 30. Foi apenas chamado para compor o grupo em Coverciano, em uma brecha do regulamento feito pela Fifa.

Entre os zagueiros, as escolhas de Chiellini, Barzagli e Bonucci eram óbvias. Paletta foi bem na única partida que fez com a camisa da Nazionale, contra a Espanha, e já era dado como nome certo após elogios de Prandelli. Ranocchia é a novidade, ganhando a vaga de Astori. O zagueiro da Inter, depois de início modesto com Mazzarri e dois meses sem entrar em campo, voltou em grande forma e talvez tenha sido o melhor zagueiro da Serie A desde março, com atuações sólidas. Sua presença é incerta, mas pela possibilidade de Prandelli optar por uma defesa a três e a má forma física recente de Barzagli, pode ser que venha para o Brasil.

Nas laterais, mais do mesmo com Abate e De Sciglio. Os dois laterais do Milan, que revezam na direita da defesa rossonera, têm o gosto de Prandelli e são nomes quase certos na Copa. Maggio é o lateral-direito natural da Itália, porém sofreu com pneumotórax nesta temporada e ficou fora de campo entre março e maio, mas retornou na semana passada e já foi titular. Se estiver 100%, estará no Brasil e muito provavelmente será o camisa 2 azzurro.

Pasqual não chega a ser novidade, mas sua preferência por Criscito sim. O capitão da Fiorentina vem em boa fase há algumas temporadas e correspondeu quando testado, ao contrário do ex-jogador do Genoa, que perdeu espaço com más atuações. Pode estar entre os 23 pela falta de laterais (na esquerda há De Sciglio e Chiellini, que seriam improvisações) e por ser muito bom como ala num sistema com três zagueiros. Darmian é uma opção segura para caso Maggio não esteja ok e Abate seja descartado, mas é difícil crer que o jogador do Torino esteja na lista final, mesmo que tenha sido o melhor lateral do campeonato e saber jogar em ambos os lados e, ainda, poder ser improvisado como zagueiro.

No meio-campo, Pirlo, De Rossi e Montolivo são os pilares do setor e serão titulares. Marchisio e Thiago Motta, hoje, são opções de confiança de Prandelli, mesmo que um não esteja em boa fase e o outro não convença quando atua pela Nazionale. Aquilani é nome apreciado pelo treinador, faz temporada regular na Fiorentina, mas também não encanta quando veste a camisa azzurra. Deve estar na lista final, mas não será surpresa se for cortado, isso porque Verratti é considerado o futuro do meio-campo italiano e seria interessante que estivesse no Brasil para amadurecer. Prandelli gosta do meia do PSG, mas também é providencial nos comentários e busca aconselhá-lo a ser mais que um “vice Pirlo”. Parolo, de boa temporada no Parma, já foi convocado antes e foi chamado novamente como última opção – seria uma surpresa vê-lo na Copa.

Os meias mais versáteis, Candreva e Rômulo, disputam posição. O meia da Lazio, e artilheiro na temporada, é nome certo e um coringa para Prandelli, por atuar em qualquer função pelo lado direito, ter técnica, dinâmica e bom comportamento. Rômulo é uma surpresa, já que o treinador tinha dúvidas até pouco tempo atrás, mas gostou do ítalo-brasileiro durante os testes em Coverciano. É versátil como Candreva, e inclusive uma reposição ao laziale. Suas chances de presença no Brasil, contudo, são pequenas.

Por fim, vamos à parte que gera mais questionamentos, o ataque. Como era esperado, Balotelli e Cerci foram chamados, mas são as únicas certezas no setor – isso na questão de estarem entre os 23, mas ambos, pela irregularidade e desempenho recente, geram dúvidas. Melhor atacante da Itália, Rossi voltou de lesão fazendo gols pela Fiorentina, mas ainda é dúvida pela condição física. Se Prandelli estiver confiante em ‘Pepito’, estará no Brasil, mas tem que estar 100%, visto que o clima brasileiro não é bem quisto pelo treinador. O artilheiro desta Serie A, Immobile, foi justamente chamado e muito provavelmente estará na Copa, mesmo que tenha apenas 22 minutos pela Nazionale. Dependendo do período de treinos e amistosos, não será surpreendente se compuser o time titular.

Por outro lado, difícil crer que Destro entre na lista final. Mesmo que tenha a melhor média de gols/minuto do campeonato e uma das melhores da Europa, e que faltem nomes para o ataque italiano, já teve sua orelha puxada por Prandelli, que ainda o vê como muito ingênuo. É um nome mais plausível para a Euro, mas tentará convencer o treinador durante os treinamentos.

Insigne, depois de muitas incertezas, foi bastante elogiado pelo treinador e teve vaga na Copa quase confirmada. Por ser o único ‘fantasista’ que compôs o elenco recentemente, e ter variabilidade tática, provavelmente estará no Brasil. Cassano é uma surpresa por ter ficado fora dos últimos dois anos, mas foi muito bem na Inter e carrega o Parma, como falso nove, centroavante ou ponta-esquerda. Essa versatilidade, somada com a experiência e inegável qualidade técnica, pode pesar na decisão final do treinador.

Confira os 31 convocados e suas chances de estarem no Brasil

Goleiros (serão três): Buffon (100%), Sirigu (100%), Perin (100%), *Mirante (0%)

Defensores (serão sete): Chiellini (100%), Barzagli (100%), Bonucci (100%), Paletta (100%), De Sciglio (100%), Abate (75%), Maggio (75%), Ranocchia (50%), Pasqual (50%), Darmian (25%)

Meio-campistas (serão oito): Pirlo (100%), De Rossi (100%), Montolivo (100%), Candreva (100%), Thiago Motta (100%), Marchisio (75%), Aquilani (75%), Verratti (50%), Rômulo (25%), Parolo (10%)

Atacantes (serão cinco): Balotelli (100%), Cerci (100%), Insigne (75%), Immobile (75%), Rossi (50%), Cassano (50%), Destro (25%)

*Mirante não foi relacionado na lista enviada para a Fifa

Quem ficou de fora
Entre os jogadores que perderam espaço com Prandelli, boa parte deles realmente não tinha mais muitas esperanças de convocação. Outros, como Gilardino, sempre contaram com o aval do treinador e ficaram de fora da lista final em um processo de rejuvenescimento da seleção.

No gol, Marchetti (Lazio), titular em dois dos três jogos da Itália na Copa de 2010, por ausência de Buffon, não foi considerado por motivos justos. Vale destacar que ele teve seis problemas de ordem física,
inclusive um neste mês, e também com a diretoria, virando reserva de
Berisha desde que Edy Reja voltou pro comando técnico laziale.
Tecnicamente, também caiu, e por isso ficou de fora da lista. Scuffet, de apenas 17 anos, foi guardado para o futuro.

Entre os defensores, não surpreende a ausência de Astori, que teve ano abaixo da média pelo
Cagliari. Já Ogbonna é uma das grandes decepções da temporada e foi mal
na troca de clubes de Turim, gerando muitas críticas em Vinovo, onde não se encaixou na Juventus.

Chamou a atenção a ausência de Criscito. O lateral esquerdo do Zenit, cortado da Euro por suposto envolvimento no Calcioscommesse (acabou absolvido, depois),
perdeu muito espaço, principalmente com grave lesão no ligamento
cruzado, retornando a campo só neste ano. Foi testado contra a Espanha e
foi mal. Reagiu mal após a frustração de ter novamente ficado de fora e a tendência é perder ainda mais espaço com Prandelli.

De Silvestri fora, após bom ano na Sampdoria, também não é escandaloso,
visto que não aproveitou bem as oportunidades que teve. Balzaretti, da Roma, ficou fora por um motivo simples: basta dizer que não entra em campo desde novembro por uma
tendinite. Além disso, atuou mal quando foi convocado. Antonelli, do Genoa, também perdeu espaço, apesar de ter sido presença frequente nas convocações da Nazionale.

Sobre os não chamados para o meio-campo, não surpreendem as ausências de Giaccherini e
Diamanti. Eram nomes de confiança, mas um fez temporada fraquíssima na
Inglaterra – foi titular em menos da metade dos jogos da Premier League e foi autor de apenas quatro gols e quatro assistências. O outro decidiu ir pra China, ao invés de buscar ajudar o Bologna a permanecer na Serie A, se destacando como estrela do time. Florenzi, pela
versatilidade, era um palpite confiável, mas caiu de rendimento em 2014 e
voltou para a reserva da Roma. Outros nomes, como Cigarini, Poli e Bonaventura,
deverão ser utilizados no pós-Copa, mas pouco se esperava que, de fato, estivessem na lista.

No ataque, muito se falou sobre eventuais convocações de Totti, Toni ou Di Natale, mas era pouco provável que um dos jogadores estivesse na lista, porque Prandelli tem procurado dar chances aos mais jovens. Mesmo assim, foi uma surpresa a ausência de
Gilardino, de bom ano no Genoa e nome sempre presente nas convocações do técnico. É o único centroavante com experiência que vinha sendo
convocado, e por ser homem de confiança do treinador, gerou espantos por
não estar nem entre os 30. Immobile, único atacante do grupo que marcou mais gols que o campeão mundial em 2006, agradece.

Já Osvaldo surpreende por
ter sido titular nos últimos jogos e convocado constantemente desde a
Euro. Mas nunca foi unanimidade, não brilhou quando esteve em campo e
teve ano ruim em 2013-14, indo mal no Southampton e não conseguindo se firmar na Juventus. Por outro lado, a ausência do jovem Berardi, com 16 gols na Serie A, não surpreende, porque o jogador nunca chegou a ser considerado suficientemente maduro por Prandelli. É outro que, assim como Scuffet, deve aparecer nas convocações pós-Copa.

E
El Shaarawy? Bem, basta colocar seus números nesta temporada: oito
partidas, quatro como titular, substituído em três, um gol e nenhuma
assistência. O talentoso atacante do Milan já não fazia bom primeiro
semestre em 2013, e sofreu muito com problemas físicos no segundo e
neste ano. Foram cinco lesões nesse período, entre problemas no joelho,
na coxa e no pé (onde até operou, em dezembro). Foi muito bem nos 45
minutos contra a Atalanta, na última rodada, mas sua ausência é justa.
Também fica para a Euro 2016. Já Giovinco, apesar de alguns bons jogos pela
Juventus em 2014, foi reserva em toda a temporada e não é convocado
desde a Copa das Confederações. Não faria sentido chamá-lo, nem para a lista dos
30.

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