Poucos jogadores podem se invejar de terem um currículo tão vasto e uma carreira de tanto sucesso coletivo ou individual quanto Rivaldo. A longa carreira do meia-atacante pernambucano, que nem sempre é tão reconhecido quanto deveria, foi recheada de glórias. Rivaldo foi tão importante para o futebol mundial nos anos 1990 e 2000 que, mesmo nas situações em que ele não foi brilhante, ele é lembrado por ter conquistado títulos. Foi assim na curta passagem pelo Milan, entre 2002 e 2003.
A honra de campeão do mundo com a seleção brasileira ainda estava fresca na memória quando Rivaldo chegou ao Milan, no dia 28 de julho – cerca de um mês depois da final contra a Alemanha. O meia-atacante já era consagrado no cenário mundial, vencera o título de melhor jogador do mundo em 1999 e vinha de uma participação exemplar na Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão, salvo o incidente contra a Turquia, na estreia, em que simulou uma bolada no rosto. Vice-artilheiro do Mundial, com cinco gols, ainda ficou na seleção do torneio – já conseguira o feito na Copa de 1998, da qual foi vice-campeão com a Seleção.
O novo camisa 11 rossonero havia firmado o contrato meses antes, depois que o Barcelona acertou a volta de Louis Van Gaal, seu desafeto. Liberado de seu contrato um ano antes do término, Rivaldo negociou com o Milan e acertou com o clube sem que o Barça recebesse nada por isso.
Apesar das críticas que sofreu no final da passagem pela Catalunha e em jogos da Seleção antes da Copa, sobretudo pelo futebol em um nível abaixo do esperado para alguém de seu nível, parecia que o jogo virava para Rivaldo após o Mundial. Na Itália, renovado, ele chegaria com a responsabilidade de ser o principal jogador do projeto de Silvio Berlusconi de fazer o Milan brilhar novamente no cenário local e europeu. Afinal, já eram três anos sem ganhar a Serie A e oito sem levantar a Liga dos Campeões.
Berlusconi já queria ter levado Rivaldo a Milão anos antes. Era um sonho antigo, desde que perdeu (!) a disputa para a Inter pela contratação de Javier Farinós, em 2000. O espanhol não acertou – decepcionou brutalmente pelos rivais, inclusive – e Rivaldo chegou apenas dois anos depois do prometido. O camisa 10 da seleção brasileira aportou como um dos maiores salários do futebol à época: 4 milhões de euros de salário por temporada. Ao lado dele, chegavam também nomes que seriam fundamentais nos anos subsequentes, como Clarence Seedorf, Alessandro Nesta, Jon Dahl Tomasson e Dida, incrementando a base formada por Paolo Maldini, Andriy Shevchenko, Gennaro Gattuso, Rui Costa, Pippo Inzaghi e Alessandro Costacurta.
O Milan iniciou a temporada de maneira quase irrepreensível, vencendo quatro dos cinco primeiros jogos e marcando 17 gols nessa sequência. Mas a participação de Rivaldo foi tímida nesse início. Foram apenas dois jogos como titular (sendo que nos dois foi substituído) e apenas um gol. Na estreia, contra o Modena, ele até anotou um gol de letra, mas que foi anulado pela arbitragem. Oficialmente, balançou as redes com a camisa rubro-negra pela primeira vez na vitória por 4 a 1 sobre a Atalanta, em Bérgamo – foi dele o primeiro da peleja.
Inicialmente revezando com Rui Costa na armação, logo ganhou espaço ao lado de Shevchenko ou Inzaghi no ataque, da mesma maneira que jogou a Copa do Mundo. Essa foi a opção de Carlo Ancelotti para fazer com que Rivaldo deslanchasse de vez no futebol italiano. Sem sucesso.
Até como forma de justificar o investimento, Rivaldo ora ou outra recebia uns minutos em campo, seja como meia ou atacante – jogava melhor na segunda função. A boa sequência de Shevchenko, com seguidos gols, tirou cada vez mais o espaço do camisa 11, que também sofreu com algumas lesões. As presenças em campo foram cada vez mais raras e até mesmo fora do banco de reservas o brasileiro ficou sem figurar durante algumas rodadas.
Ao fim da temporada, o título da Serie A não veio, e o Milan ficou com a terceira posição, atrás da Inter e da campeã Juventus. Rivaldo atuou em 22 jogos e marcou cinco gols: anotou contra Atalanta, Reggina, Udinese, Piacenza e Lazio. Em compensação, a Liga dos Campeões, que era talvez o maior objetivo da temporada, foi conquistada.
O título chegou de maneira para lá de especial, com vitória na final italiana contra a Juventus – na qual Dida brilhou nos pênaltis, após empate por 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação. Rivaldo participou de grande parte da campanha, e atuou em 13 dos 19 jogos dos rossoneri, mas sem qualquer destaque – não jogou a final, por exemplo. O Milan ainda conquistou a Coppa Italia, três dias depois, e Rivaldo anotou um dos gols da partida de volta contra a Roma. Com o 3 a 3, o Diavolo levantou a taça, até porque havia goleado o adversário no Olímpico por 4 a 1, na ida.
Foram 38 jogos e 8 gols em sua primeira temporada, mas o resultado em campo não agradou. De acordo com jornais da época, uma discussão com Carlo Ancelotti quase antecipou a saída do brasileiro, convencido a ficar por Adriano Galliani sob a premissa de disputar a Copa Intercontinental. Ficou, mas jogou apenas 15 minutos na Supercopa da Uefa contra o Porto, vencida pelo Milan por 1 a 0, e 30 minutos contra o Celta de Vigo na Liga dos Campeões, quando acabou encostado.
Chamado de lento e inócuo, rescindiu o contrato logo após o fechamento da janela de transferências do verão europeu. Se despediu dos torcedores todo engravatado, antes de uma partida contra o Lecce, em setembro. Seu lugar já tinha um dono da mesma nacionalidade: o Milan apostou numa jovem promessa brasileira, pentacampeão mundial como Rivaldo. Kaká foi trazido, a princípio para complementar o elenco, e rapidamente fez a torcida nem lembrar que Rivaldo um dia vestira rossonero. O final de sua passagem pelo Milan coincidiu, também, com seus últimos momentos com a camisa do Brasil.
Já com 31 anos, Rivaldo passou alguns meses sem entrar em campo e depois acertou com o Cruzeiro, para outra passagem bastante fraca. Depois de nem mesmo jogar o Campeonato Mineiro completo com a camisa do atual campeão brasileiro, o jogador então acertou com o Olympiacos, e, vivendo os últimos bons momentos de sua carreira, ajudou bastante no crescimento do futebol grego. Depois, Rivaldo passou por AEK, fez história pelo Bunyodkor, no Uzbequistão, retornou ao Brasil, onde defendeu o São Paulo e se aventurou no futebol angolano, com a camisa do Kabuscorp.
Nos últimos momentos da carreira, Rivaldo já nem de perto parecia aquele jogador que tanto brilhou com as camisas de Santa Cruz, Mogi Mirim, Palmeiras e Deportivo La Coruña antes de chegar ao Barcelona e, depois, ao Milan. Quando todos já pediam sua aposentadoria, ainda defendeu o São Caetano e voltou ao Mogi para, enfim, deixar os gramados, em 2014. Jogador mais famoso do Sapão, e idolatrado por ter integrado o Carrossel Caipiria de 1993, Rivaldo foi presidente do Mogi Mirim por sete anos e tomou decisões polêmicas à frente do clube, que chegou a disputar a Série B e, depois de sua conturbada saída, passou a enfrentar muitas adversidades.
Rivaldo Vitor Borba Ferreira
Nascimento: 19 de abril de 1972, em Paulista (PE)
Posição: Meia-atacante
Clubes em que atuou: Santa Cruz (1990-92), Mogi Mirim (1992-94 e 2014), Corinthians (1993-94), Palmeiras (1994-96), Deportivo La Coruña (1996-97), Barcelona (1997-2002), Milan (2002-04), Cruzeiro (2004), Olympiacos (2004-07), AEK (2007-08), Bunyodkor (2008-10), São Paulo (2011), Kabuscorp (2012) e São Caetano (2013)
Títulos conquistados: Campeonato Pernambucano (1990), Campeonato Paulista (1996), Campeonato Mineiro (2004), Campeonato Brasileiro (1994), Campeonato Espanhol (1998 e 1999), Copa do Rei (1998), Supercopa Europeia (1997 e 2003), Coppa Italia (2003), Liga dos Campeões (2003), Campeonato Grego (2005, 06 e 07), Copa da Grécia (2005 e 06), Campeonato Uzbeque (2008 e 2009), Copa do Uzbequistão (2008), Copa das Confederações (1997), Copa América (1999) e Copa do Mundo (2002)
Seleção brasileira: 74 jogos e 35 gols
Que lixo de texto meu Deus
Muito bom texto! Lembrei de vários momentos da infância e adolescência acompanhando futebol!