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Francesco Graziani, um dos goleadores do último scudetto do Torino

Peça-chave no último scudetto do Torino, Francesco Graziani foi um típico atacante italiano. Ciccio não era o mais privilegiado em termos de técnica, mas era muito esforçado e sabia fazer de melhor o que dele se esperava: gols. Foi assim que se tornou ídolo do Torino, além de ter conquistado o Mundial de 1982, ao lado de Paolo Rossi.

O começo de carreira foi na região do Lácio, onde nasceu, nos arredores da capital italiana. Graziani jogava como trequartista, mas não foi notado pelas categorias de base de Roma e Lazio, maiores clubes daquela parte do país. Dividindo o futebol com o trabalho de auxiliar de pedreiro de seu pai, Ciccio, como era conhecido, acabou sendo descoberto em 1970 por um olheiro do Arezzo, time modesto que à época militava na Serie B. No clube toscano, seus treinadores viram que o potencial de Graziani não era no meio-campo e sim no comando de ataque.

Em sua nova função, Graziani rapidamente começou a ganhar espaço com gols, mas sobretudo ótima presença de jogo. A primeira temporada foi de adaptação, ainda mais para quem vinha dos campos de várzea, mas em sua segunda temporada no clube toscano, Ciccio começou a mostrar futebol. Mesmo sem uma grande campanha do Arezzo, chamou a atenção do Torino, que o contratou em 1972.

Ciccio ainda permaneceria um ano mais na Toscana, no qual anotou nove gols na Serie B, e chegou ao Toro somente após completar o serviço militar. Em 3 de outubro de 1973, Graziani fez sua estreia com a camisa do Torino, numa derrota de 2 a 1 para o Lokomotiv Leipzig, pela Copa Uefa. Na Serie A, a estreia aconteceu pouco mais de um mês depois, enquanto seu primeiro gol foi às vésperas de completar 21 anos. Sua primeira temporada terminaria com 22 jogos e 6 gols, mas a grande conquista foram os ensinamentos conquistados na companhia dos atacantes Gianni Bui e Paolo Pulici.

Graziani foi um dos líderes grenás por quase uma década (Arquivo/Torino FC)

Seus primeiros anos só não foram melhores com a camisa do Torino porque sua personalidade forte fez com que se desentendesse tanto com Gustavo Giagnoni quanto com Edmondo Fabbri, treinadores naquele período. Somente após a chegada de Luigi Radice, em 1975, é que Ciccio recuperou seu prestígio e foi recolocado no comando de ataque ao lado de Pulici, com o qual teve um entendimento tremendo. A sintonia era tamanha a ponto de a dupla chegar a ser conhecida como os “gêmeos do gol”.

Naquela temporada, Radice propôs inovações táticas à equipe e tirou o máximo de Graziani e Pulici, que viriam a ser vice-artilheiro e artilheiro do campeonato, com 15 e 21 gols respectivamente. Os tentos anotados pela dupla levariam o Torino ao título nacional, quebrando um jejum de 27 anos do clube e os colocando na história do futebol italiano. Até hoje, foi a única vez que o Toro conquistou um scudetto após a Tragédia de Superga, que matou o time conhecido como Grande Torino.

Finalmente o Torino voltava às glórias – embora tenha vencido a Coppa Italia anos antes. Pulici foi o artilheiro, mas Graziani foi o protagonista, conquistando o prêmio de “Jogador de Ouro” da competição. “Não esquecerei nunca o instante em que saí dos vestiários. Havia aquela faixa escrita ‘Força, rapazes. Superga os observa’, e aquela impressionante muralha humana, com coros e bandeiras. Entendi o que significava jogar com o peso da história sobre nós…”, disse o atacante, em entrevista na qual recordava a conquista.

A partir de então, a carreira do atacante deslanchou. Após o título, fez sua temporada de mais gols com a camisa do Torino, com 21 gols apenas na Serie A, competição na qual se sagrou artilheiro. Em 1976-77, mesmo que os grenás tenham perdido o campeonato para a rival Juventus, que ficou com um ponto a mais, a épica disputa marcou a carreira de Graziani junto à torcida. Naquela campanha, ele atuou com um ferimento no queixo em um jogo contra a Sampdoria, mas apesar disso marcou três gols e não tirou o pé em nenhuma dividida.

Atuações pelo Torino levaram Ciccio à Azzurra, com a qual também disputou o Mundial de 1982 (imago/WEREK)

Ciccio atuou em alto nível, conquistando suas primeiras convocações para a Squadra Azzurra a partir de 1975 e se tornando membro frequente das convocações, seja com Fulvio Bernardini seja com Enzo Bearzot. Graziani foi escolhido para o elenco que levou a Itália ao quarto lugar na Copa de 1978 e começou a competição como titular, mas acabou perdendo a posição para o emergente Paolo Rossi. Seria com Pablito que, quatro anos depois, ele formaria dupla de ataque, na disputa do Mundial de 1982, dessa vez com um final mais feliz: a Nazionale faturou o tri.

Graziani ainda atuaria outras três temporadas no Torino e também atuou na Euro 1980 (outro quarto lugar), antes de se transferir à Fiorentina, em 1981. Os problemas financeiros da equipe piemontesa anteciparam a saída do jogador, que ainda era um dos símbolos da equipe campeã em 1975-76 e um dos maiores artilheiros da história do time granata –  hoje, ele é o sétimo na lista, com 122 tentos marcados.

Na Toscana, Graziani encontrou seu ex-companheiro de Torino, Eraldo Pecci, e também mudou seu estilo de jogo, deixando de ser um centroavante propriamente dito para se transformar num generoso garçom. Foi pensando em ter um jogador com esse espírito que Bearzot o convocou para ser titular como ponta esquerda, no lugar do lesionado Roberto Bettega, na Copa de 1982. Ciccio atuou nos sete jogos da campanha e marcou um gol, contra Camarões, mas se machucou logo aos sete minutos da final e deu lugar a Alessandro Altobelli, que balançou as redes no 3 a 1 contra a Alemanha Ocidental.

O bom desempenho na Fiorentina levou Graziani à Copa de 1982 (Getty)

Em termos de clube, Graziani disputou dois campeonatos com a camisa viola, clube pelo qual anotou 14 gols – um deles justamente contra o Torino. O título esperado na Toscana não veio: seu time foi novamente superado pela Juventus por um mísero ponto em 1982, num final de campeonato até hoje contestado pelos torcedores de Florença por causa de um erro de arbitragem que acabou por favorecer os bianconeri. Contratado pela Roma, em 1983, viria a jogar no time recém-coroado campeão italiano e que o rejeitara quase 20 anos antes.

Ciccio chegava à capital para ser uma das peças chaves na disputa da Copa dos Campeões. Protagonista na equipe de Paulo Roberto Falcão, Toninho Cerezo, Agostino Di Bartolomei, Bruno Conti e companhia, Graziani ajudou a levar os romanistas à decisão europeia, na qual o time romano foi derrotado pelo Liverpool na decisão por pênaltis, em pleno estádio Olímpico. Graziani, aliás, foi um do romanistas que desperdiçaram a cobrança. Apesar de tudo, sua passagem pelos giallorossi não deixou de ser vitoriosa, com a conquista de duas Coppa Italia.

Ao final dos três anos de contrato e já na fase final da carreira, Ciccio transferiu-se à Udinese, clube em que ficou por duas temporadas, sendo uma na Serie A e outra na Serie B. Francesco Graziani ainda teria uma breve passagem pelo APIA Leichhardt, no futebol australiano, antes de deixar de vez os gramados.

Na reta final da carreira, Graziani passou pela Roma (Getty)

Não demorou muito até que Graziani retornasse à Bota, para iniciar sua carreira como treinador, que nunca chegou a decolar. Sua grande oportunidade foi na Fiorentina, mas não chegou nem sequer a completar uma temporada à frente da equipe violeta. Ciccio passou ainda por Ascoli, Reggina e Avelino, antes de ficar afastado dos gramados por quase dez anos, até que retornou ao ofício para comandar o Catania, levando-o para a segunda divisão, em 2002.

Seu último trabalho como treinador aconteceu em 2013, pela equipe sub-17 do Vigervano e o único título foi conquistado em 2004 com o minúsculo Cervia, clube com o qual venceu a Eccellenza da Emília-Romanha, nível regional da sexta divisão italiana. Desde que se aposentou, Ciccio é mais conhecido pelas suas aparições no show business e em diversos reality shows na TV do Belpaese.

Francesco Graziani
Nascimento: 16 de dezembro de 1952, em Subiaco, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Arezzo (1970-73), Torino (1973-81), Fiorentina (1981-83), Roma (1983-86), Udinese (1986-88), APIA Leichhardt (1988)
Títulos como jogador: Serie A (1975-76), Coppa Italia (1983-84 e 1985-86) e Copa do Mundo (1982)
Clubes como treinador: Fiorentina (1989-90), Ascoli (1990), Reggina (1990-91), Avellino (1991-92), Catania (2001-02), Montevarchi (2003-04) e Cervia (2004-06)
Título como treinador: Eccellenza Emília-Romanha (2004)
Seleção italiana: 64 jogos e 23 gols

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