Extracampo

A história dos patrocínios no futebol italiano

Um dos assuntos esportivos mais comentados nesta semana foi a polêmica provocada por um texto publicado no site Meio e Mensagem, especializado em publicidade e comunicação. Nele, Ricardo Fort criticou os jogadores que comemoram gol tirando a camisa, por supostamente prejudicarem a exposição das empresas que pagam para exibir suas marcas nos uniformes dos clubes. Houve uma boa resposta do Leandro Stein, da Trivela, mas não iremos entrar nesta (válida) discussão: somos oportunistas, como um bom centroavante, e aproveitamos a oportunidade para falar um pouquinho sobre a história dos patrocínios no futebol italiano e relembrar algumas camisas notórias.

Até o início dos anos 1980 o patrocínio em uniformes era proibido na Itália, mas algumas equipes buscavam driblar o regulamento, como Talmone Torino e Lanerossi Vicenza. As empresas Talmone e Lanerossi adquiriram os times e colocaram seus logotipos na camisa dos clubes, respectivamente duas e uma década antes do fim da proibição. Já em 1978, a fábrica de sorvetes Samson colocou sua marca nos calções da Udinese, já que as normas eram claras: era vetado aos patrocinadores estamparem as camisas.

Com mais este drible na lei, a Federação Italiana de Futebol (FIGC) liberou a comercialização das verdadeiras vitrines em potencial que eram as camisas dos clubes, em um momento em que o futebol aumentava o seu status de business e de utilidade como ferramenta de marketing. A primeira equipe a fechar um contrato de patrocínio não foi uma gigante, por incrível que pareça: foi o Perugia, do artilheiro Paolo Rossi.

Perugia: o pioneiro

A contratação de Paolo Rossi obrigou o Perugia a fechar acordo com uma empresa que pudesse cobrir as despesas do atacante. Dessa forma, a empresa de alimentação IBP (Buitoni-Perugina) investiu no clube e colocou a marca Ponte, referente a um de seus pastifícios, no peito da camisa umbra.

Juventus

Os patrocinadores mais marcantes da história da Juventus foram a Ariston, durante quase toda a década de 1980, e a Sony, que ficou no clube entre 1995 e 1998 – épocas em que a Velha Senhora conquistou seus títulos europeus e mundiais. A Ariston, primeira marca a estampar a camisa bianconera, é uma empresa italiana especializada em climatização e a Sony é um megazord do ramo de eletrônicos e do entretenimento.

Inter

Falou em Inter, lembrou da Pirelli: desde 1995 a fabricante de pneus patrocina a Beneamata e já renovou contrato até 2021. Excluindo os casos de PSV Eindhoven e Wolfbsurg (bancados por suas donas, Philips e Volkswagen), a parceria entre o clube e a gigante automobilística é a mais duradoura do futebol mundial. Antes, tal qual a Juventus, a Inter fechou um longo contrato nos anos 1980: por nove anos a fabricante de alimentos Colussi promoveu a Misura, sua marca de lanches integrais.

Milan

Os primeiros grandes contratos de patrocínio do Milan aconteceram depois que Silvio Berlusconi comprou o clube. Entre 1987 e 1992, um dos períodos mais gloriosos dos rossoneri, a camisa teve a presença da Mediolanum, operadora no setor bancário e ligada ao grupo Fininvest – do qual o cartola é dono. No entanto, a parceria mais longeva foi com a Opel, subsidiária europeia da General Motors, que ficou ligada aos meneghini de 1994 a 2006. Curiosamente, todos os patrocinadores do Diavolo obedeceram a um padrão neutro e estamparam suas marcas apenas na cor branca, mantendo o vermelho e o preto da agremiação em destaque.

Roma

Entre 1982 e 1994 a Roma teve uma frutífera parceria com a Barilla, uma das maiores produtoras de pasta e molhos de todo o mundo. A empresa, fundada em Parma, até assinou com Paulo Roberto Falcão como garoto-propaganda para o mercado brasileiro, nos anos 1980, quando tentava penetração em nosso país. Outro contrato duradouro foi feito com a seguradora INA Assitalia, presente no uniforme giallorosso de 1995 a 2002. Com ambas as patrocinadoras, a Roma foi campeã italiana.

Lazio

A camisa mais popular da história da Lazio – reeditada nas duas últimas temporadas – tem a águia estilizada. Por isso, a Sèleco, extinta companhia do ramo de televisores e videocassetes, acabou ganhando muita projeção nos anos em que patrocinou o time (1982-84). Além disso, a Cirio – gigante do ramo de molhos e conservas –, também adornou o uniforme laziale, entre 1996 e 2000, era de ouro celeste. Pena que o empresário Sergio Cragnotti, que controlava a equipe e a multinacional, conseguiu levar ambas ao fundo do poço por gestão fraudulenta.

Fiorentina

Não bastasse ter um dos mais belos uniformes da Itália, a Fiorentina ainda estabeleceu algumas imagens visuais instigantes em parceria com seus patrocinadores. A montadora Opel (entre 1983-84 e 1985-86) exibiu sua marca em tamanho grande, mas não ofuscou o enorme escudo ostentado por Sócrates. Por sua vez, a Nintendo aproveitou o boom dos videogames e da Serie A para vestir a viola de 1997 a 1999 e criar uma das camisas mais adoradas pelos hipsters e nerds do esporte. De quebra, o refrigerante 7 Up também emprestou sua marca aos toscanos entre 1992 e 1994, mas eram tempos difíceis em Florença, com direito a participação na Serie B.

Napoli

Marcas de comidas e bebidas: um tiro certeiro para patrocinar o Napoli, time sediado em uma cidade dona de uma das melhores culinárias da Itália e que tem no rechonchudo Diego Maradona o seu grande ídolo. Os azzurri quase sempre tiveram alimentos e bebidas como patrocinadores: Cirio, Latte Berna, Buitoni, Voiello, Polenghi, Peroni (cervejaria), Lete… Entre 1988 e 1991, anos em que os partenopei foram bicampeões nacionais e venceram uma Copa Uefa, o patrocínio foi do chocolate Mars, um dos mais populares em toda a Europa. Contrassenso ter um doce tão calórico na camisa? Se a ordem é faturar, vamos faturar.

Parma

Mais um caso de empresa que adquire um time e coloca sua marca no uniforme. Já escrevemos sobre como a Parmalat, gigante da produção de laticínios, levou o Parma do céu ao inferno e, para se aprofundar, clique aqui.

Sampdoria

A Phonola, do ramo de aparelhos de rádio e televisão, foi a primeira patrocinadora da história da Sampdoria, entre 1982 e 1988. Mas Paolo Mantovani, cartola do período de ouro do clube genovês, firmou outro longo contrato de apoio financeiro em sua gestão: a ERG, empresa do setor energético, colocou sua marca na camisa doriana por 16 anos, em dois momentos (1988-95 e 2002-11). A petroleira é da família Garrone, que ficou à frente dos blucerchiati de 2002 a 2014, em outra época positiva para o clube.

Genoa

O Genoa já foi patrocinado por duas grandes empresas japonesas, Seiko e Kenwood, mas a torcida ficou ligada aos uniformes estampados com a extinta marca de impressoras Mita – hoje absorvida pela Kyocera. Pudera: foi neste período (1989-92) que a tradicional equipe lígure viveu bons momentos, alcançando a 4ª posição na Serie A e as semifinais da Copa Uefa. Uma curiosidade: Enrico Preziosi, atual presidente, iniciou sua ligação com o clube através de um contrato de patrocínio. Em 1995-96, ele colocou a Giocheria, uma das afiliadas de sua holding, na camisa dos grifoni – isto aconteceu poucos anos depois de ele patrocinar Pisa e Fiorentina. Preziosi é dono de um conglomerado de brinquedos.

Torino

Outra parceria de longa data. Em 1991, a marca de embutidos Beretta começou a patrocinar o Torino, time que recuperou parte de seu prestígio com boas campanhas na Serie A, na Coppa Italia e na Copa Uefa justamente no período da parceria, que durou três anos. Desde 2012, a especialista em salames voltou a estampar a camisa do Toro – coincidentemente, em mais uma época de bons resultados para os granata.

Atalanta

A indigesta Atalanta dos anos 1980 e 1990 teve dois patrocinadores quase fixos. O mais longevo foi a produtora de grama sintética Sit-In, que teve uma parceria de 13 anos com o clube, entre 1981 e 1989 e 2005 e 2010 – basicamente, anos em que os maiores jogadores atalantinos passaram por Bérgamo. A petroleira líbia Tamoil, que também já investiu na Juventus, apareceu na camisa nerazzurra de 1989 a 1995.

Udinese

Com Zico em campo, cada lance era um flash. E, para capturar as melhores imagens, a Udinese indicava sua patrocinadora, a multinacional belga AGFA: terceira maior produtora europeia de filmes fotográficos, a empresa emprestou sua marca à camisa preta e branca friulana de 1983 a 1986.

Vicenza

Em 1953, o Vicenza foi comprado pela Lanerossi, uma indústria têxtil do Vêneto. A fábrica rebatizou o clube, que começou a ser conhecido pelo nome de Lanerossi Vicenza e pelo R em formato de uma linha de lã, desenhado em azul sobre a camisa listrada em branco e vermelho. A parceria foi uma das mais duradouras experiências de financiamento empresarial de um time no futebol italiano, mas quando a FIGC regulamentou os contratos de patrocínio nos uniformes, a fábrica não mais contribuía economicamente com o time – embora o marcante R continuasse lá. O logotipo permaneceu no uniforme do clube até 1990, mas os vicentinos nunca deixaram de ser conhecidos pelo apelido de “lanerossi”. A partir de 2006 a marca da empresa voltou a ser adotada oficialmente pelo clube, depois que o grupo proprietário concedeu autorização. Um caso único na história do esporte.

Verona

Nos anos 1980, a fotografia analógica se popularizava e ter uma câmera em casa se tornava cada vez mais comum. Na mesma tendência da AGFA, patrocinadora da Udinese, a Canon – fabricante de câmeras, acessórios fotográficos e outros eletrônicos – colocou sua marca na camisa do Verona. O time ganharia o scudetto e depois fecharia contrato com outra empresa do ramo, a Ricoh.

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