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O aguerrido Juan Pablo Sorín não estourou por Juventus e Lazio

No Brasil, o argentino Juan Pablo Sorín geralmente é lembrado por sua forte ligação com o Cruzeiro. Minas Gerais se tornou, nos anos 2000, uma segunda casa para o aguerrido lateral-esquerdo, convertido em ídolo da torcida celeste. No entanto, antes de brilhar em solo mineiro, Juanpi defendeu a Juventus por menos de uma temporada e, embora tenha “flopado” em Turim, incluiu o título da Liga dos Campeões de 1995-96 em seu currículo. Depois de duas campanhas em alto nível pela Raposa, ele voltaria a vestir a camisa de outra equipe de elite italiana, a Lazio, mas, devido à crise financeira do clube, atuaria em apenas 11 jogos.

Sorín nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, e se forjou como jogador nas divisões inferiores do Argentinos Juniors, onde chegara aos 9 anos. Ele se destacou na base e alcançou o profissional em 1994, quando estava próximo de alcançar a maioridade. O lateral-esquerdo mostrava personalidade e garra desde muito jovem. Não por acaso, em 1995, o treinador José Pékerman o nomeou capitão da seleção sub-20 no Mundial da categoria, realizado no Qatar.

A Argentina venceu a competição, com direito a um 2 a 0 sobre o rival Brasil na decisão. Os hermanos também ganharam os Jogos Pan-Americanos de 1995. Em ascensão, Sorín chamou a atenção da Juventus. Ídolo bianconero, Omar Sívori era embaixador da Vecchia Signora nos países sul-americanos e recomendou a contratação do lateral-esquerdo à diretoria juventina. Os cartolas da Juve seguiram a conselho do craque e fecharam com o jovem defensor.

Sorín custou 1,6 bilhão de velhas liras aos cofres da agremiação bianconera, um valor expressivo, na época, para um jovem de 19 anos. Fabrizio Ravanelli e Ciro Ferrara ajudaram o defensor a se adaptar à cidade e à equipe, mas a aventura do argentino pelo Belpaese se encerrou, momentaneamente, muito rápido. É que ele, reserva de Gianluca Pessotto, disputou apenas cinco partidas – sem sequer jogar uma inteira – e deixou o clube no inverno europeu para voltar à sua terra natal, onde defenderia o River Plate.

Entretanto, embora não tenha finalizado a temporada 1995-96 na Juve, Sorín se considera campeão da Liga dos Campeões. Nos pênaltis, a Juventus de Marcello Lippi superou o Ajax, na final, para conquistar a segunda orelhuda de sua história.

“Foi uma experiência incrível”, relembrou Sorín, anos depois de deixar a Vecchia Signora, ao site TuttoJuve. “Cheguei do Argentinos Juniors e era muito jovem. Não havia ainda a Lei Bosman. Jogar a Champions, estar ao lado de campeões como [Gianluca] Vialli, Ravanelli, [Alessandro] Del Piero, Ferrara, [Angelo] Peruzzi e tantos outros… Era impressionante a mentalidade vencedora deles. Agora isso pode ser visto em [Antonio] Conte, Paulo Sousa e [Didier] Deschamps [como treinadores]. Eu aprendi muito com eles e com o mister Lippi”, acrescentou.

Sorín também explicou o que o motivou a deixar a Europa. “A minha vontade de jogar me convenceu a retornar à Argentina para atuar no River Plate, [porque] assim teria mais chances de poder ser convocado para a seleção. Aquele ano vencemos a Libertadores, e uma curiosidade: sou o único jogador a vencer os dois cobiçados troféus [Liga dos Campeões e Libertadores] no mesmo ano”, destacou.

No futebol italiano, Sorín teve passagens muito curtas por Juventus e Lazio (imago/Baering)

Passada a breve experiência na Itália, Sorín marcou época no River Plate. Além de ganhar a Libertadores, o lateral-esquerdo também venceu quatro Campeonatos Argentinos (três Aperturas e um Clausura) e uma Supercopa Sul-Americana. Ele também ganhou cada vez mais presença nas listas de convocados da seleção, com a qual disputou a Copa do Mundo de 2002. Juanpi foi titular na campanha dos hermanos no Mundial, atuando como ala pela esquerda no esquema 3-4-3 de Marcelo Bielsa. A Albiceleste terminou a Copa na terceira colocação do Grupo F, atrás de Suécia e Inglaterra.

Após deixar a Juventus e assinar com o River Plate, o jogador também começou a tocar outros projetos para além das quatro linhas. Entre 1996 e 2000, conduziu o programa de rádio “Tubo de Ensayo”, na FM La Tribu. Eram os primeiros passos de Juanpi no mundo da comunicação, no qual entraria de vez após pendurar as chuteiras.

Na virada do milênio, Sorín arrumou as malas e partiu para o Brasil. Aterrissou em Minas Gerais para se tornar a contratação mais cara do Cruzeiro, que abriu os cofres e pagou 5,08 milhões de dólares pelo atleta, na época. Com sua raça característica e o número 6 nas costas, logo virou titular da Raposa. Dois anos em Belo Horizonte foram suficientes para Juanpi ser alçado ao status de ídolo celeste. Ele foi campeão da Copa do Brasil (2000) e da Copa Sul-Minas (2001 e 2002), além de ter ganhado a Bola de Prata, prêmio concedido pela revista Placar, como o melhor lateral-esquerdo do Brasileirão de 2000.

Em sua última partida pela Raposa, Sorín marcou o gol que deu o bicampeonato da Copa Sul-Minas à equipe mineira: os cruzeirenses bateram o Athletico-PR, por 1 a 0, no Mineirão. Em seguida, o defensor voou para a Itália e reforçou o elenco da Lazio, em mais uma tentativa de obter sucesso em palco europeu. Cabe frisar que, no início dos anos 2000, o time laziale estava em boa fase e brigava pelas primeiras colocações da Serie A. Na época da chegada de Juanpi, o elenco à disposição do técnico Roberto Mancini contava com três argentinos: Diego Simeone, Claudio López e Lucas Castromán.

A história de Sorín na Lazio tinha tudo para ser de sucesso, mas o clube entrou em derrocada financeira e não conseguiu arcar com os custos da transferência do jogador junto ao Cruzeiro. Resumidamente, a Cirio, empresa de ramo alimentício que injetava dinheiro na agremiação, faliu e quase levou os aquilotti para o buraco – as vendas de alguns craques, como Christian Vieri, Hernán Crespo, Alessandro Nesta e Juan Sebastián Verón, ajudaram a equilibrar as contas até a chegada de Claudio Lotito, atual presidente da agremiação. Devido a atrasos de salários, o lateral solicitou formalmente para deixar a equipe da capital, mas o Conselho Arbitral da Lega não aceitou o pedido, alegando “defeito de legitimidade”.

De qualquer forma, Juanpi realizou somente 11 jogos com a camisa biancoceleste e, em 31 de janeiro de 2003, se desvinculou da Lazio, voltando a ter seus direitos ligados ao Cruzeiro – o clube mineiro recebera apenas 1 milhão dos 9,5 milhões de dólares que os italianos haviam combinado com a diretoria cruzeirense pelo atleta. No entanto, a cabeça do lateral estava na Europa, de modo que acabou emprestado, primeiro, ao Barcelona e, em seguida, ao Paris Saint-Germain.

Sorín disputou 15 jogos pelo Barça e marcou um gol; entrou em campo 26 vezes pelo PSG, anotou dois tentos e ainda se sagrou campeão da Copa da França, em 2004. Enquanto buscava se firmar em um grande time do Velho Continente, já era um dos pilares da seleção. Ainda em 2004, ele ajudou a Albiceleste a alcançar a final da Copa América. Na final, os hermanos empataram em 2 a 2 com o Brasil no tempo normal – Juanpi forneceu a assistência para o segundo da Argentina, marcado por César Delgado –, mas perderam nos pênaltis: 6 a 4. O lateral converteu a sua penalidade. Um ano depois, os portenhos perderiam outra decisão para o Brasil, a Copa das Confederações, mas dessa vez com um placar mais elástico (4 a 1) e direito a show de Adriano.

Sorín chegou à Lazio como grande reforço, mas dificuldades financeiras do clube romano abreviaram a sua estadia em Roma (imago/Sportpress/Staccioli)

Passado o baque da derrota na decisão da Copa América para o maior rival, Sorín não obteve propostas do futebol europeu e retornou ao Cruzeiro, em setembro de 2004. Realizou nove partidas pela Raposa até ser negociado com o Villarreal, ao custo de 1,9 milhão de dólares. No Submarino Amarelo, o lateral-esquerdo, que passara a ser capitão da seleção argentina, finalmente conseguiu mostrar seu verdadeiro potencial na Europa.

Com a camisa de número 12, ele chegou a jogar até mais avançado na equipe de Manuel Pellegrini, numa segunda linha de quatro, sempre aberto pelo flanco canhoto. Em sua primeira temporada na Espanha, ajudou o Villarreal a terminar La Liga em terceiro lugar, na retaguarda das potências Barcelona e Real Madrid. Seria a primeira vez que o clube disputaria uma Liga dos Campeões. Foram 27 jogos e quatro gols na conta do novo contratado. Os números dele melhorariam ainda mais na época seguinte, com o Villarreal fazendo uma campanha inesquecível na Champions League.

No mata-mata da competição continental, a equipe espanhola, recheada de argentinos, deixou uma Inter também repleta de portenhos pelo caminho e caiu apenas na semifinal, diante do Arsenal, que seria vice para o Barcelona. A partida de volta contra os nerazzurri ficou marcada por uma cotovelada de Marco Materazzi no olho esquerdo de Juanpi, que, ensanguentado e sem conseguir enxergar direito, precisou ser substituído. Muito se especulou sobre a agressão de Matrix ter sido orientada pelo interista Verón, com quem o lateral tinha notória rivalidade na seleção – cada um liderava uma parte do rachado grupo da Albiceleste à época. A Beneamata venceu o duelo de ida, por 2 a 1, mas o triunfo por 1 a 0, na volta, classificou o Villarreal à etapa seguinte devido ao gol qualificado.

Se na Liga dos Campeões a jornada foi épica, o cenário em La Liga foi diferente. O Submarino Amarelo não aguentou conciliar duas competições ao mesmo tempo e terminou o Campeonato Espanhol de 2005-06 na sétima posição. De qualquer maneira, Sorín disputou mais uma boa temporada com o Villarreal (33 jogos, quatros e duas assistências) e chegou em alta para a Copa do Mundo de 2006. Capitão, conduziu a Argentina até às quartas de final, onde cairia ante a anfitriã Alemanha, nos pênaltis. O Mundial foi seu último torneio a serviço da seleção.

Ele se despediu do Villarreal, no verão de 2006, e rumou à Bundesliga para fechar vínculo com o Hamburgo. Permaneceu no clube alemão por duas temporadas, mas conviveu com muitas lesões, motivo pelo qual o HSV rescindiu o seu contrato. Livre no mercado mas sem saber até onde seu corpo aguentaria ir, o lateral voltou para o Cruzeiro. Chegou à sua “segunda casa” em setembro de 2008, a fim de se recuperar de uma contusão no joelho direito, mas só entraria em campo novamente no ano seguinte. As lesões, contudo, seguiriam presentes. Então, Sorín disputou somente seis partidas, foi campeão mineiro e pendurou as chuteiras, em setembro de 2009, aos 33.

Sexto estrangeiro com mais aparições na história do Cruzeiro, Juanpi ganhou a honraria de se tornar cidadão mineiro, em 2010. Aposentado dos gramados, o argentino foi para o mundo do jornalismo e, tal qual dentro dos campos, obteve sucesso. Ele escreveu para revistas, jornais e sites de vários países; comentou futebol em emissoras brasileiras e internacionais; deu origem ao conhecido programa Resenha ESPN – do qual foi apresentador até 2017 –; entre outros projetos. Em 2019, ele disse que “pode ser, um dia” aceitar um cargo como dirigente cruzeirense. Atualmente Sorín é diretor da Elis Produtora de Conteúdos Ltda e é muito ativo no Instagram.

Juan Pablo Sorín
Nascimento: 5 de maio de 1976, em Buenos Aires, Argentina
Posição: lateral-esquerdo
Clubes: Argentinos Juniors (1994-95), Juventus (1995-96), River Plate (1996-2000), Cruzeiro (2000-02, 2004 e 2008-09), Lazio (2002-03), Barcelona (2003), Paris Saint-Germain (2003-04), Villarreal (2004-06) e Hamburgo (2006-08)
Títulos: Campeonato Mundial Sub-20 (1995), Jogos Pan-Americanos (1995), Liga dos Campeões (1996), Campeonato Argentino (1996, 1997, 1997 e 1999), Copa Libertadores (1996), Supercopa Sul-Americana (1997), Copa do Brasil (2000), Copa Sul-Minas (2001 e 2002), Copa da França (2004), Copa Intertoto (2007) e Campeonato Mineiro (2009)
Seleção argentina: 75 jogos e 11 gols

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