Roma e Liverpool eliminaram dois dos favoritos ao título da Liga dos Campeões, mas chegaram com diferentes expectativas às semifinais do torneio. Os Reds até podiam ter ficado longe desta etapa por uma década, mas com um histórico de sete finais no currículo e a excepcional fase do trio de ataque formado por Salah, Firmino e Mané, era inegável o seu favoritismo sobre os romanistas. Estes fatores se impuseram no confronto, vencido por 5 a 2 pelo Liverpool.
Os azarões italianos conseguiram suportar a pressão inglesa por cerca de 20 minutos. Neste período, Salah não conseguia muito espaço e a Roma acionava Dzeko com bolas longas, para o bósnio segurar e fazer o trabalho de pivô. A melhor chance na fase inicial da partida foi do time visitante, num chute de Kolarov que Karius ia deixando passar – a bola acabou explodindo no travessão. Depois que Juan Jesus levou cartão amarelo, aos 26 minutos, o roteiro ganhou um plot twist. Correndo risco de receber outro cartão e impossibilitado de usar seus recursos (a força física e as faltas) com a mesma intensidade, o zagueiro brasileiro começou a perder o duelo com Salah, seu ex-companheiro de clube.
Simultaneamente, o Liverpool se acendeu. O egípcio testou Alisson com um chute de canhota e Mané perdeu duas oportunidades incríveis de abrir o placar, finalizando sem precisão – quando o fez, estava impedido e teve o gol anulado. Aos 36 minutos, porém, Salah tirou um coelho da cartola: da entrada da área, acertou um chute de enorme felicidade no ângulo, sem oferecer a menor possibilidade de defesa para o goleiro brasileiro.
Ainda no primeiro tempo, o atacante do Liverpool bateu um escanteio cheio de curva para Lovren, que acertou o travessão, e marcou o segundo. Salah armou o contra-ataque, passou para Roberto Firmino e, após o brasileiro se livrar de dois adversários, recebeu em profundidade e tirou de Alisson com uma cavadinha. A Roma ia para os vestiários na lona, quase nocauteada.
Di Francesco sacou Ünder e deu espaço para Schick, mas não alterou o esquema tático. Manteve o 3-4-2-1 que tinha dado certo contra o Barcelona, no Olímpico, mas que já sofria muito em Anfield. O lado mais frágil da defesa romana continuava a ser o esquerdo, no qual Salah já havia dado uma amostra do que poderia fazer com Juan Jesus. Os três gols anotados pelos Reds na etapa final foram criados exatamente pelo lado do brasileiro.
Num espaço de 13 minutos, o Liverpool ampliou o placar para 5 a 0. Aos 55 minutos, Salah foi lançado e teve todo o espaço do mundo para avançar e cruzar rasteiro para Sané fazer o terceiro. Cinco giros no relógio depois, um lance parecido: recebeu na ponta direita, passou fácil por Juan Jesus e rolou para Firmino fazer mais um. Só aí Di Francesco mudou esquema e jogadores: saíram De Rossi e JJ e entraram Gonalons e Perotti, para formarem um 4-2-3-1. Dois minutos depois da modificação, ainda se adaptando à nova postura, a Roma viu (literalmente) Firmino subir sozinho na área e fazer mais um. Parecia o nocaute, mas a Loba giallorossa se levantou, cambaleante.
Com a enorme vantagem, Klopp optou por dar um descanso a Salah, que deixou o campo homenageado pela torcida. Após a mudança, o Liverpool não finalizou mais nenhuma vez (na chance que teve, Wijnaldum furou) e a Roma conseguiu realizar oito chutes a gol – mais do que havia feito em toda a partida.
Numa dessas finalizações, Dzeko conseguiu marcar, após aproveitar espaço nas costas da defesa vermelha e fuzilar Karius. O segundo gol veio depois que Milner bloqueou com o braço um chute de Nainggolan: Perotti cobrou com perfeição e mudou completamente o cenário para a Roma. Se antes de reduzir a desvantagem precisava de seis gols para se classificar, agora avança à final com um 3 a 0 no Olímpico.
A Roma conseguiu reverter uma desvantagem igual contra o Barcelona, nas quartas de final, mas precisará que alguns elementos do roteiro que nortearam o desenrolar da partida de ida sejam deixados de lado na semana que vem. Para começar, precisará neutralizar um dos melhores ataques da Europa nesta temporada, que anotou 128 gols, considerando todas as competições – 44 na Champions League. O trio formado por Salah, Firmino e Mané balançou as redes 88 vezes e teve espaço para brilhar.
Quando Henderson começou a ganhar terreno no meio-campo e o ritmo da partida se elevou, a zaga italiana ficou exposta – deficiência técnica de Juan Jesus à parte. A defesa romana funcionou melhor com Kolarov postado na lateral esquerda numa linha de quatro defensores do que com três zagueiros no setor. Jesus perdeu todos os duelos com Salah e a cobertura do ala sérvio não funcionou: postado numa zona morta do campo do ponto de vista ofensivo, quase sempre ficou distante do colega brasileiro e não dobrava a marcação.
A Roma sofreu 17 gols nesta Liga dos Campeões, mas nenhum deles em casa. Para se classificar, a Roma tem que manter isso (sic). Foi exatamente no Olímpico que a equipe giallorossa viveu os melhores momentos no torneio realizado pela Uefa: as vitórias incontestáveis por 3 a 0 contra Chelsea (fase de grupos) e Barcelona (quartas de final). Nestas ocasiões, Dzeko foi determinante como pivô e finalizador e a Roma, com muita intensidade, conseguiu destaque pelo volume de jogo pelas pontas, especialmente com El Shaarawy e Florenzi. Contra uma defesa frágil, como a do Liverpool, os gols podem sair com naturalidade. O maior desafio dos romanos será manter as redes intactas.