O Egito finalmente volta a uma Copa do Mundo, após 28 anos. A expectativa pela participação e por uma classificação para as oitavas de final era grande, pelo menos até a angústia causada pela lesão de Mohamed Salah na final da Liga dos Campeões.
Se voltarmos alguns anos no tempo, o grande protagonista egípcio no futebol europeu atende por outro nome. Não o de Mohamed, que estourou no Basel e teve passagens por Chelsea, Fiorentina e Roma antes de atingir seu ápice pelo Liverpool. Mas sim o peculiar Ahmed Hossam Hussein Abdelhamid, mais conhecido como Mido.
Mido era o modelo ideal de atacante da primeira metade dos anos 2000: grande, forte fisicamente e com poder de finalização. Revelado pelo Zamalek, do Egito, o goleador logo ganhou o futebol europeu com uma passagem pelo Gent, em 2001. Foi essa atuação que lhe rendeu a transferência ao Ajax, no mesmo ano.
No Ajax, firmou um contrato de cinco temporadas e se converteu rapidamente em uma referência ofensiva no time de Ronald Koeman. Por outro lado, as confusões e destemperos também serviram como questionamento: o fator problemático poderia atrapalhar o desenvolvimento de Mido como estrela?
O caráter explosivo afetou a relação com Koeman, que eventualmente barrou o egípcio do time titular. O atrito marcou o atacante até o fim de sua estadia em Amsterdã. Forçando uma transferência para o exterior, em vista de escapar dos problemas com Koeman e a diretoria, Mido sofreu com lesões e atuações ruins.
Nem tudo era lamento para o africano: a parceria com Zlatan Ibrahimovic era um dos pontos positivos da vida na Holanda. O que também não quer dizer que não houvesse nenhuma encrenca na amizade. Um episódio bastante citado na relação dos dois foi a troca mútua de ofensas nos vestiários, culminando em um ataque de fúria de Mido, que arremessou uma tesoura em Ibrahimovic. Para a sorte do sueco, o colega errou o alvo. Logo depois, entretanto, eles se resolveram.
A sorte de Mido não melhorou muito depois dos surtos pelo Ajax. Cedido ao Celta em 2003, iniciou uma jornada por vários clubes ao redor da Europa, sem grande sucesso. Uma temporada no Marseille parecia ter colocado tudo nos eixos novamente. Assim, foi confirmada a sua chegada à Roma, em 2004, por um valor de cerca de 6 milhões de euros.
Na época, se sabia que Mido era um talento prestes a se consolidar, tanto que o atacante foi disputado pelos romanistas com a Juventus. Mino Raiola, empresário do egípcio e de Ibrahimovic, negociou com as equipes italianas. Em dado momento, estava definido que Mido iria para Turim e Ibra tomaria os rumos da capital. Como o acerto não foi adiante, os dois trocaram de destino. E a história não foi gentil com Mido.
Uma vez na Cidade Eterna, o egípcio acumulou insucessos. Estreou na segunda rodada da Serie A contra o Messina, entrando no intervalo, num jogo que seria uma espécie de metonímia da temporada de Mido e da própria Roma. Os romanistas perderam aquele jogo por 4 a 3 e passaram o campeonato flertando com o rebaixamento, num ano em que tiveram três técnicos. Mido, por sua vez, não durou nem um semestre na Itália.
Mido fez 12 jogos em sua passagem relâmpago pela Roma. Desses, apenas um como titular, numa derrota por 2 a 0 contra o Dynamo Kyiv, pela Liga dos Campeões. O egípcio passou em branco e foi emprestado por 18 meses ao Tottenham, em janeiro de 2005. Nos Spurs, reencontrou a boa forma e os gols, embora sofresse com novas lesões. Ao fim do contrato de cessão, com 15 tentos em sua conta, retornou para a Roma, mas não foi aproveitado. Segundo o próprio atacante, a vontade de Francesco Totti de jogar centralizado no ataque fez com que a equipe italiana o negociasse em definitivo com o Tottenham.
O prosseguimento da trajetória do egípcio em White Hart Lane foi pífia. Em 12 partidas pela Premier League, Mido marcou apenas um gol, enquanto nas copas locais, deixou sua marca quatro vezes. De 2007 em diante, defendeu Middlesbrough, Wigan, Zamalek (duas vezes), West Ham, Ajax e Barnsley, onde se aposentou, aos 30 anos. O desempenho ruim reforçou o caráter decepcionante da carreira de Mido. Não há apenas uma explicação para o fiasco do egípcio, que certamente foi atrapalhado pelas lesões e pelo temperamento difícil.
Pelo Egito, o atacante conquistou a Copa das Nações Africanas em 2006, marcando um gol na campanha, justamente na estreia contra a Líbia. Mido foi cortado da delegação nas semifinais, depois de uma severa discussão com o treinador, Hassan Shehata. Os dois quase se agrediram na linha lateral. A atitude rendeu uma suspensão de seis meses. O atacante eventualmente retornou à seleção, mas com um papel irrelevante.
Ahmed Hossam Hussein Abdelhamid, o Mido
Nascimento: 23 de fevereiro de 1983, no Cairo, Egito
Posição: centroavante
Clubes: Zamalek (1999-00, 2009-10, 2011-12), Gent (2000-01), Ajax (2001-03, 2010-11), Celta de Vigo (2003), Marseille (2003-04), Roma (2004), Tottenham (2005-07), Middlesbrough (2007-08), Wigan (2008-09), West Ham (2010), Barnsley (2012-13)
Títulos como jogador: Recopa Africana (2000), Eredivisie (2002 e 2011), Copa da Holanda (2002), Supercopa Holandesa (2002) e Copa das Nações Africanas (2006)
Carreira como técnico: Zamalek (2014 e 2016), Ismaily (2015) e Wadi Degla (2016-17)
Títulos como técnico: Copa do Egito (2014)
Seleção egípcia: 51 jogos e 20 gols