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Miroslav Klose era ídolo da Lazio quando se tornou o maior goleador da Copa do Mundo

Durante a Copa do Mundo na Rússia, um velho conhecido dos italianos estará ao lado de Joachim Löw no comando da Alemanha. Depois de se despedir da Lazio em maio de 2016, Miroslav Klose teve um longo tempo para refletir sobre seu futuro e meses depois acabou se tornando assistente técnico da Nationalelf. O maior artilheiro dos Mundiais não conseguiu abandonar os gramados depois de fazer história como um dos centroavante mais marcantes do futebol.

Polonês de nascimento, Klose se mudou para a Alemanha ainda garoto para seguir o pai Josef, ex-jogador do Auxerre, e a mãe Barbara, que foi profissional no handebol. No oeste do país, o pequeno Miroslav passou a desenvolver a paixão pelo esporte, mas sua carreira profissional demorou a decolar. Depois de passar pelo amador Blaubach-Diedelkopf, seguiu no interior pelo Homburg, onde ficou um ano até assinar contrato com o Kaiserslautern, que lhe proporcionou a estreia no time principal em abril de 2000.

Em seguida, Klose começou a deixar sua marca de forma consistente na Bundesliga, como a vice-artilharia em 2002, empatado com Aílton e atrás apenas de Amoroso. O desempenho chamou a atenção da Polônia, que queria contar com seus serviços na seleção, mas o centroavante (de origem étnica alemã) foi paciente para esperar sua oportunidade pela Alemanha, que veio logo em seguida. Assim, Miro pode jogar a Copa do Mundo do mesmo ano sob o comando de Rudi Völler.

Klose desbancou o experiente Oliver Bierhoff e formou a dupla de ataque com Oliver Neuville. O teuto-polonês ajudou o time na campanha até a final, perdida para o Brasil por 2 a 0, e saiu consagrado do Mundial. Miro marcou cinco gols (todos na fase de grupos) e novamente ficou atrás de um brasileiro na artilharia de um torneio – um certo Ronaldo, de quem se “vingaria” uma década depois, com requintes de crueldade.

Em seu primeiro dérbi, Klose marcou gol decisivo nos acréscimos (AFP/Getty)

Àquela altura, o Kaiserslautern havia deixado de ser um time que brigava por vaga europeia para lutar contra o rebaixamento – que seria decretado duas temporadas depois da saída do centroavante. Em 2004, Klose teve a oportunidade de substituir Aílton, principal destaque do então campeão Werder Bremen, que partiu para o Schalke 04 depois de ter marcado 28 gols na temporada do título alviverde.

Apesar de não ter repetido o feito do brasileiro, o alemão manteve uma boa cota de gols, sempre superando os dois dígitos. Klose foi o artilheiro da Bundesliga 2005-06 com 25 tentos e se consolidou na seleção. Titular na Copa do Mundo que seria disputada em casa, Miro teve seu melhor ano jogando pela Nationalelf e mais uma vez esteve presente no time dos melhores da competição. Klose ficou com a Chuteira de Ouro do torneio, graças a outros cinco gols, mas não conquistou o tão sonhado título: a Alemanha foi a terceira colocada.

Na temporada seguinte, o poderoso Bayern Munique perdeu a hegemonia nacional para o Stuttgart e ficou apenas na quarta posição da Bundesliga – inclusive atrás do Bremen. O gigante bávaro não podia deixar barato e preparou uma reformulação na equipe. Para liderar o ataque, a opção óbvia foi o centroavante titular da seleção alemã, e Klose foi uma das principais contratações daquela janela de transferências de verão, juntamente a Franck Ribéry, Luca Toni e Zé Roberto.

O bomber italiano, aliás, acabou roubando a cena ao ser artilheiro da Bundesliga em 2007-08. O torneio teve a volta do verdadeiro Bayern, que terminou a temporada com a dobradinha nacional graças às conquistas do campeonato e da copa. Reconhecido como um centroavante oportunista e letal no jogo aéreo, Klose passou a desenvolver um lado mais técnico e inteligente do seu futebol, participando mais do jogo e contribuindo de outras formas, não apenas com bolas nas redes.

Além das cambalhotas, Klose gostava de comemorar gols com o gesto de “ok” (AFP/Getty)

Um exemplo disso pode ser visto na Euro 2008. Miro deu algumas assistências para seu companheiro de clube Lukas Podolski e foi às redes de forma decisiva somente na fase de mata-mata, marcando nas quartas e nas semifinais. Apesar de ter evoluído como jogador, sua presença em campo diminuiu depois de 2009, quando Louis van Gaal chegou a Munique e ganhou Mario Gómez, Ivica Olic e o promovido Thomas Müller. Na preparação para o Mundial de 2010, Klose ganhou mais uma Bundesliga, mas marcou apenas seis gols na temporada.

O garoto Müller lhe roubaria a cena na África do Sul, ao terminar como um dos artilheiros da Copa. Klose, no entanto, não perdeu seu posto e marcou quatro gols, dois deles nas quartas de final contra a Argentina. Com 14 em três Copas, empatou com o compatriota Gerd Müller e ficou a apenas um de Ronaldo. Aos 32 anos de idade, não tinha muita margem para superar o brasileiro e precisaria atuar com regularidade para se manter em forma e continuar no radar de Löw. Até porque não dependia apenas de si: a taxa de renovação da seleção alemã já era alta.

A mudança veio um ano depois, após o contrato com o Bayern Munique ter chegado ao fim. O destino acabaria sendo incomum, pelo histórico do jogador, que havia atuado apenas na Alemanha: Klose foi para a Itália, mais precisamente, para a Lazio. Miro rapidamente se transformou em um dos líderes do time de Edy Reja e voltou a marcar gols com regularidade, como na primeira partida pelo clube, nos play-offs da Liga Europa; na estreia na Serie A, contra o Milan; e também no primeiro Derby della Capitale, em que deu a vitória aos biancocelesti nos acréscimos e encerrou um jejum de cinco jogos sem vitórias no clássico contra a Roma. A idolatria foi instantânea.

Além de grande futebolista, Klose também sempre mostrou ter grande caráter, o que ficou em evidência no futebol italiano. O centroavante prontamente se posicionou contra as referências nazistas da Curva Nord laziale, que estava empolgada pela chegada de um atleta alemão. Além de rechaçar qualquer ligação esdrúxula com o holocausto, Miro protagonizou um lance curioso na temporada seguinte, em jogo contra o Napoli: depois de marcar com a mão, avisou à arbitragem do fato e teve o gol invalidado. No mesmo ano conquistou seu único título pelo clube, a Coppa Italia vencida contra a Roma.

O único título de Miro pela Lazio foi muito saboroso: o da Coppa Italia, ganho às custas da Roma (AFP/Getty)

Em maio de 2013, o atacante marcou impressionantes cinco gols contra o Bologna, algo que não acontecia na Serie A havia quase três décadas. Um feito, ademais, que consta no currículo de apenas outros sete jogadores. Apesar de 2012-13 ter sido o seu melhor ano em termos de gols e também pela conquista do título da copa, a Lazio não foi bem no campeonato, o qual concluiu apenas com a sétima posição. A colocação seria ainda pior no ano seguinte, que também acabou sendo o pior de Klose no futebol italiano, mas isso não comprometeu seu espaço no grupo da Alemanha para a Copa do Mundo no Brasil.

Miro foi reserva, como já tinha acontecido na Eurocopa de 2012, quando Mario Gómez novamente roubou seu posto. No entanto, a simples presença na Copa do Mundo, do alto de 36 anos, já indicava que o atacante continuava com prestígio com Löw: o técnico deixou Super Mario de fora e o levou como único centroavante “puro”, reservando os outros lugares no ataque para Müller, Podolski e André Schürrle. Os meias-atacantes Mesut Özil e Mario Götze completaram o setor, revezando-se no centro com Müller, mais uma vez artilheiro.

A estratégia, porém, só durou até as oitavas. Inclusive, Klose já tinha entrado no segundo tempo do jogo contra Gana, na segunda rodada, para salvar a Nationalelf da derrota e havia empatado com Ronaldo na artilharia geral das Copas. Miro recuperou seu posto de titular a partir das quartas, contra a França, e começou jogando na histórica semifinal disputada no Mineirão contra os anfitriões brasileiros.

Foi do veterano centroavante o segundo dos sete gols alemães e Klose pode comemorar não apenas o absurdo 7 a 1, mas também o fato de ter finalmente se tornado o maior artilheiro das Copas. Miro passou em branco na final e deu lugar para o herói Götze, mas se despediu da seleção em grande estilo com o título mundial e também a artilharia geral da Nationalelf, com 71 tentos.

Em cinco anos de Itália, Klose se tornou o maior goleador estrangeiro da história da Lazio (AFP/Getty)

A empolgação do tetra foi levada para a Itália. Aos 36 anos, o alemão mostrou que ainda tinha gás para jogar em alto nível e liderou a equipe de Stefano Pioli rumo à terceira posição no campeonato e ao vice da copa. De quebra, Klose terminou a temporada 2014-15 como artilheiro celeste, com 16 gols.

O último ano não foi dos mais memoráveis, já que o alemão viu a Lazio ter uma queda grande na tabela e conviveu com problemas físicos, que lhe obrigaram a revezar com Alessandro Matri. Contudo, na última partida oficial como profissional, o veterano teve a chance de empatar com Goran Pandev como o maior artilheiro estrangeiro da Lazio: foram 63 gols em 171 partidas pelo clube.

Agora assistente técnico de Löw, Klose se prepara para dar seus primeiros passos na carreira de treinador. Logo depois do Mundial da Rússia, Miro assumirá o time sub-17 do Bayern Munique. Maior artilheiro das Copas e da seleção alemã, tem um legado de respeito para carregar com a nova função e ensinar o caminho das pedras para novos artilheiros alemães.

Miroslav Josef Klose
Nascimento: 9 de junho de 1978, em Opole, Polônia
Posição: atacante
Clubes: Homburg (1998-99), Kaiserslautern (1999-04), Werder Bremen (2004-07), Bayern Munique (2007-11) e Lazio (2011-16)
Títulos: Copa da Liga Alemã (2006), Bundesliga (2008, 2010), Copa da Alemanha (2008, 2010), Copa da Liga Alemã (2007), Supercopa Alemã (2010), Coppa Italia (2013) e Copa do Mundo (2014)
Seleção alemã: 137 partidas e 71 gols

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