Publicado também no Premier League Brasil.
Uma das grandes novidades da próxima temporada estará no sentada no banco de reservas do Chelsea. Ou melhor, em frente, inquieto, aos berros e provavelmente mascando um chiclete para enganar o vício em nicotina. Depois de longa negociação pela liberação do treinador junto ao Napoli e para encaminhar a rescisão com Antonio Conte, enfim os Blues apresentaram Maurizio Sarri como seu novo treinador. Aos 59 anos, o napolitano volta a Londres sob bastante expectativa: se imagina que o trabalho será um grande passo em sua carreira.
Sarri volta para a Grã-Bretanha porque, na verdade, já trabalhou na capital inglesa quando era promotor financeiro da Banca Toscana, hoje propriedade do histórico banco Monte dei Paschi. Nessa época, ele viajava pela Europa e pode desenvolver seu inglês. O idioma, portanto, não será um grande tabu para o treinador, que já tem uma experiência de três décadas na função. O primeiro trabalho num clube profissional aconteceu em 2000.
O que talvez seja uma barreira para Sarri é sua inexperiência internacional no futebol. Em três temporadas comandando o Napoli fora da Itália, ele chegou até as oitavas da Liga dos Campeões em 2017 e parou duas vezes na fase de 16 avos de final da Liga Europa, competição que disputará com o Chelsea na próxima temporada. A adaptação ao futebol inglês, que custou até mesmo para Pep Guardiola, é a grande interrogação.
Afinal, toda a ideologia do seu sistema foi desenvolvida com base no futebol italiano. Uma estratégia que demorou mais de dez anos para ter destaque, quando Sarri finalmente emplacou um grande trabalho no Empoli, cinco anos atrás. Na ocasião, subiu com o clube azzurro para a Serie A e chamou atenção da elite com futebol propositivo em uma equipe pequena, dominando a posse de bola e marcando em linha alta contra times grandes. Essa postura é bastante incomum para clubes modestos na Itália.
Maurizio Sarri should be Arrested for this, Sufferball could NEVER,, #Cfc #Sarriball pic.twitter.com/klUUUHCbjV
— 🗿 (@TacticalZola) 14 de julho de 2018
Além disso, Sarri terá um legado de respeito para superar. Décimo técnico do Chelsea em 20 anos, o napolitano será também o sexto treinador italiano da história do clube – todos no período que compreende as duas últimas décadas, absolutamente vitoriosas para os Blues. Uma história contada por Ruud Gullit, Gianluca Vialli, Claudio Ranieri, Carlo Ancelotti, André Villas-Boas, Roberto Di Matteo, Rafa Benítez, José Mourinho e Antonio Conte. O napolitano segue um perfil bastante diferente dos antecessores e a ajuda de Gianfranco Zola, seu novo assistente, será fundamental para a ambientação à agremiação e ao futebol inglês.
O ex-meia-atacante sardo é um dos grandes ídolos do Chelsea e teve uma passagem de sete anos pelos Blues. No período, marcou 80 gols em 311 partidas e conquistou cinco títulos, os mais importantes da história do clube antes da Era Abramovich. Zola também não é um novato como treinador, já que exerceu a função na Inglaterra por Watford e Birmingham. Em comum, além do idioma e da nacionalidade, os dois conhecem Nápoles muito bem.
Apesar de no passado ter ficado conhecido por ser um clube de futebol ofensivo, o Chelsea mudou sensivelmente essa perspectiva nos últimos anos, em especial se lembrarmos que os treinadores com mais sucesso no clube foram Mourinho, Ancelotti e Conte. A cultura tática dos Blues virou referência por um futebol direto, de ataques rápidos e sistemas defensivos fortes. Sarri vai contra essa corrente e terá que construir um novo caminho para as vitórias.
Para isso, a chegada de Jorginho também é fundamental. O regista ítalo-brasileiro se tornou insubstituível no sistema desenvolvido por Sarri no Napoli e ocupará uma função que, por característica, o próprio elenco do Chelsea não oferecia ao treinador. Ademais, pelo pouco tempo de preparação e ausência de jogadores importantes (como Thibaut Courtois, Gary Cahill, N’Golo Kanté e Eden Hazard, por causa da Copa do Mundo), Sarri poderá contar com outros ex-comandados, a exemplo dos especulados Daniele Rugani, Matías Vecino e Gonzalo Higuaín.
If given time, this is what Sarri will bring to Chelsea. All 11 Napoli players took part in the build-up before the goal. #Sarrismo pic.twitter.com/8OghHd54sj
— Everything Napoli (@NaplesAndNapoli) 12 de julho de 2018
Algumas coisa são certas: o Chelsea terá a volta da defesa com quatro jogadores, em linha e marcação por zona. O time londrino também terá outra cara ofensivamente, buscando o controle do campo de jogo e da bola por mais tempo, mas sem perder a agressividade e o dinamismo que a Premier League exigem. Apesar de ser fascinado pelo domínio da posse de bola, Sarri sempre procurou ter uma troca de passes mais veloz e objetiva no último terço do campo.
Sempre lembrando como o mercado do futebol pode frustrar ideias, será interessante observar qual será o plano do treinador para emular seu sistema com os jogadores dos Blues. A começar pelo epicentro do time: Marek Hamsík tem características bastante diferentes às do Cesc Fàbregas dos últimos anos. Líder na saída de bola com Conte, César Azpilicueta também precisará se readaptar e apoiar N’Golo Kanté, que segue constantemente evoluindo seu jogo desde que chegou ao clube e terá outro grande desafio.
Por outro lado, Marcos Alonso e Eden Hazard têm similaridades importantes com Faouzi Ghoulam e Lorenzo Insigne. A permanência do belga em Stamford Bridge, no entanto, é incerta.