Anfitriã pela primeira vez e maior campeã da história do torneio, a Itália entrou no Europeu Sub-21 com muita expectativa, depois de ter deixado a desejar nas duas edições anteriores. Moral abalizada pela grande qualidade e experiência do grupo convocado por Luigi Di Biagio. Afinal, todos os 23 relacionados já estavam acostumados ao futebol profissional nas duas primeiras divisões do Belpaese e oito deles já haviam sido chamados anteriormente por Roberto Mancini para a seleção principal – a exemplo dos titulares Barella e Chiesa. Por isso, a eliminação precoce, na fase de grupos, foi um grande baque.
Esta talvez seja a melhor geração do futebol italiano desde as que levaram o país aos cinco títulos do torneio, durante as décadas de 1990 e 2000. O sucesso desses times se consolidou com o título mundial de 2006, já que grande parte do grupo de Marcello Lippi chegou a ser campeão europeu sub-21 antes da conquista do tetra. A queda na fase de grupos deste ano também foi decepcionante pela forma que se deu, já que a equipe teve um bom desempenho individual e foi minada por algumas escolhas de Di Biagio.
É difícil falar em fracasso completo, já que a Itália teve duas vitórias em três rodadas e ficou com a quinta melhor campanha de uma competição que sempre foi reconhecidamente dura. Afinal, só quatro seleções se classificam – as líderes dos grupos e a melhor segunda colocada – e, cada vez mais, as seleções sub-21 têm jogadores relativamente experientes. Dessa vez, por exemplo, Espanha, Polônia, Alemanha, Áustria, Dinamarca, Sérvia, Romênia, França, Croácia e Inglaterra mandaram times rodados e/ou talentosos – além da própria Nazionale italiana. Apenas a Bélgica mandou uma equipe menos gabaritada.
A Itália deixou boa impressão no torneio e teve em Chiesa o seu protagonista. Em meio à falta de entrosamento de um time que pouco atuou e treinou com regularidade antes da competição, o ponta assumiu sua função de líder técnico com grande atitude e entusiasmo, saindo do torneio como o artilheiro da equipe, com três gols, e sendo decisivo para os triunfos alcançados. Da mesma forma, Barella e Pellegrini se superaram e carregaram o meio-campo em cenários pouco propícios para suas características.
Mancini manteve a grande forma demonstrada na Atalanta, mesmo atuando em nova função, e Bastoni deu resposta positiva, após começar como reserva. Contudo, o sistema defensivo azzurro não agradou. Reflexo da falta de organização da equipe de Di Biagio, que já havia sido exaustivamente levantada por seus críticos durante o trabalho do treinador, que durou seis anos. O ex-volante, inclusive, concluiu sua terceira participação sem sucesso na Euro da categoria. Não surpreendeu que acabasse demitido após a eliminação, depois de ter conduzido três gerações no sub-21.
“Se o renascimento do futebol italiano era um dos principais objetivos, posso dizer que fiz um ótimo trabalho, fazendo os jovens destaques cresceram com tantos garotos que conseguiram chegar na seleção principal. O resultado final, porém, foi dolorido. Eu sou responsável e não posso estar contente disso, mas não foi um fracasso para mim”, disse o ex-jogador de Roma e Inter, em sua defesa. Di Biagio declarou que a equipe foi competitiva contra adversários fortes e salientou que a Itália foi a seleção com mais chutes a gol, mas não comentou a abordagem errática na derrota para a Polônia, que definiu a sorte dos azzurrini.
A pequena utilização da promessa Tonali, que “faltou” ao Mundial Sub-20 para focar no Sub-21 foi outra pulga atrás da orelha deixada por Di Biagio, que optou por Mandragora, seu capitão, nos três jogos da competição. Por sua vez, o treinador chegou a fazer algumas experiências na lateral direita (por ali, jogaram Mancini e Calabresi), limitado pela ausência de Calabria, lesionado.
Apesar dos problemas crônicos da equipe e da grande responsabilidade do treinador, dois atletas também decepcionaram – logo duas das estrelas da companhia. Kean e Zaniolo não cumpriram a expectativa após também não terem feito parte do time de Paolo Nicolato, por conta do Europeu. A dupla ainda criou problemas extracampo, após ter se atrasado para a reapresentação do grupo para o último jogo.
Trajetória e futuro
A curta trajetória italiana neste Europeu começou com a vitória sobre a favorita Espanha, numa grande prova de recuperação do time. Depois do grande início dos rivais, comandados pelo talentoso Ceballos, as corridas e a insistência de Chiesa levaram à virada na etapa final. Um triunfo que também passou pelos pés calibrados de Barella e Pellegrini. A empolgação, contudo, logo foi contida com a dura derrota para a Polônia. Além do gol de Bielik ter nascido numa jogada evitável, pelo lado canhoto da defesa azzurra, a Itália mostrou enorme ineficiência ofensiva, com muitos cruzamentos e pouca profundidade. Isso acabaria sendo decisivo para o futuro do grupo.
Isso porque uma nova vitória por 3 a 1 – dessa vez sobre a Bélgica em outra grande noite de Barella, Pellegrini e Chiesa – não foi suficiente para a classificação italiana, no cenário de dificuldade que apontamos anteriormente. Com o tríplice empate em 6 pontos, os anfitriões perderam a liderança pelos critérios de desempate, já que os espanhóis golearam a Polônia por 5 a 0, e ficaram um ponto atrás da França, que empataram com a Romênia em um jogo de comadres na última rodada.
Nem tudo está perdido para boa parte dessa geração, contudo: 10 dos convocados tem idade para disputarem a próxima Euro da categoria, em 2021. Nomes como Bastoni, Tonali, Mandragora, Locatelli, Zaniolo, Cutrone, Kean e até mesmo Chiesa. O time ainda será enriquecido por jogadores que brilharam no último Mundial Sub-20, como Plizzari, Tripaldelli, Ranieri, Pellegrini, Esposito, Scamacca e Pinamonti. Paolo Nicolato, que conduziu os azzurrini ao quarto lugar na competição, é o favorito para suceder Di Biagio.