Futebol feminino Copa do Mundo Seleção italiana

Com campanha sólida, Itália cumpriu expectativas na Copa do Mundo feminina

Voltar à Copa do Mundo depois de 20 anos, se classificar em primeiro no seu grupo, vencer um jogo eliminatório e igualar sua melhor campanha na história dos Mundiais. Não dá para negar que a Itália obteve sucesso em sua trajetória na principal competição de futebol feminino do planeta, justo no ano em que o torneio alcançou sua maior visibilidade. Nas próximas linhas, analisaremos a caminhada das azzurre na França, detalhando erros e acertos e buscando entender o que este resultado pode representar para o futuro do futebol feminino no país.

Fase de Grupos

A seleção italiana caiu em um grupo forte na competição, ao lado de Austrália, Brasil e Jamaica. As comandadas de Milena Bertolini tinham como missão, além de confirmar a vitória sobre a Jamaica, buscar um resultado positivo contra Austrália ou Brasil para poderem passar de fase. As italianas conseguiram logo na estreia.

Austrália 1-2 Itália

Jogar uma partida de mundial depois de 20 anos poderia representar, para as italianas, um acréscimo considerável ao nervosismo e ansiedade já habituais de uma estreia. Com todo esse peso e enfrentando a forte seleção australiana, a Itália sofreu muito nos primeiros 25 minutos de jogo. O 4-4-2 de Bertolini não encaixou como esperado contra as Matildas. O perde e pressiona acabou sendo superado pela boa capacidade técnica adversária e a Itália ficou sufocada.

Aos 21 minutos de jogo, a capitã Gama cometeu pênalti e Sam Kerr marcou, aproveitando o rebote da sua própria cobrança, defendida por Giuliani. O jogo foi bem desfavorável para a Itália até o gol de empate, que aconteceu aos 11 minutos do segundo tempo. Bonansea não perdoou a falha da defesa australiana na saída de bola e empatou a partida.

O gol representou uma importante injeção de ânimo e confiança na equipe, que passou a incomodar a saída de bola rival, mostrando muitos dos seus melhores atributos em todo ciclo que antecedeu ao Mundial. Essa melhora italiana foi premiada no último lance da partida, já aos 50 minutos do segundo tempo: Bonansea assinou sua doppietta completando uma cobrança de escanteio para o fundo das redes.

Itália 5-0 Jamaica

Sem o peso da estreia sobre as costas e confiando num bom resultado na segunda partida, a Itália não tomou conhecimento da Jamaica: venceu bem e mostrou força. Girelli marcou uma tripletta e Giugliano acabou a partida, uma vez que foi autora de 3 assistências. A garota de 21 anos, que joga no Milan, ofereceu uma amostra do que seria a principal novidade das azzurre na Copa: o aumento da influência das volantes na criação ofensiva.

Bonansea e Gama em êxtase: a Itália bateu a Austrália na estreia (Getty)

Itália 0-1 Brasil

Duas vitórias em dois jogos, sete gols marcados e apenas um sofrido: a Itália chegou confiante para enfrentar o Brasil e buscava confirmar a primeira colocação no grupo. Contudo, essa acabou sendo a pior partida da Nazionale na competição.

As comandadas de Bertolini não conseguiram pressionar a falha saída de bola do Brasil, perderam domínio territorial no meio-campo e acabaram derrotadas por 1 a 0, em gol marcado por Marta em cobrança de pênalti. Mesmo com a derrota sofrida, com a combinação de resultados, a Itália conseguiu a classificação às oitavas de final em primeiro lugar do grupo. Vadão colaborou, é bom que se diga: o Brasil parou de pressionar quando tinha a vantagem, mesmo que, caso fizesse mais um gol, tomasse a liderança e empurrasse as italianas para a terceira posição.

Oitavas de Final
Itália 2-0 China

Em seu primeiro jogo eliminatório de Copa do Mundo em 20 anos, as azzurre encararam a seleção chinesa e conseguiram realizar uma exibição muito segura, na qual conseguiram executar bem sua ideia de jogo. Bertolini escalou uma equipe bastante ofensiva, com Girelli criando por dentro e Giacinti e Bonansea como dupla de ataque.

Desde o começo da partida a equipe conseguiu um bom encaixe em seu perde e pressiona, levando as chinesas a cometerem muitos erros. Além disso a Itália – que se caracterizou por uma criação bastante direta e de poucos toques em todo o ciclo –, soube trabalhar associações por dentro, com Giugliano como protagonista. Giacinti marcou o primeiro aos 15 minutos de jogo e Galli completou o placar no início do segundo tempo. A China pressionou muito nos minutos finais, mas, graças uma grande partida da dupla de zaga e da segurança de Giuliani, a Itália se segurou bem.

Quartas de Final
Holanda 2-0 Itália

Chegar às quartas da Copa do Mundo significava para a Itália estar entre as oito melhores equipes do planeta e repetir sua melhor campanha na história do torneio. As azzurre queriam ir além, mas não foi possível. A Nazionale realizou um grande primeiro tempo diante das campeões europeias, sufocando a saída de bola da Oranje e conseguindo realizar boas triangulações em campo ofensivo. Giacinti e Cernoia perderam boas chances para abrir o placar.

Na volta para o segundo tempo, o panorama do jogo mudou completamente, com a Holanda comandando a posse de bola, trabalhando bem o jogo através dos passes de Spitse e levando muito perigo ao gol italiano. A Itália, por sua vez, perdeu a capacidade de contra-atacar e sentiu muita falta de Girelli. Lesionada, a camisa 10 não pode ir a campo.

Com a bola parada, a Holanda decidiu o jogo: soube usar os centímetros a mais que suas jogadoras tinham, em relação à média de altura do elenco italiano. Primeiro, Spitse cobrou escanteio na cabeça de Miedema, que tirou de Giuliani. Depois, a mesma Spitse cobrou falta na cabeça de Van der Gragt, que definiu o placar. Fim da linha para a Itália e sequência na competição para as holandesas, que só perderam para os Estados Unidos e foram vice-campeãs do torneio.

Girelli comemora tripletta contra a Jamaica (Getty)

O que funcionou para a Itália na Copa do Mundo?

O trabalho defensivo, com as laterais sendo agressivas para pressionar e buscando perseguições mais longas, foi algo que se manteve em todo ciclo que antecedeu a Copa. Com Bergamaschi e Bartoli em boa forma, a tarefa foi bem executada no Mundial. A variedade de opções apresentadas pela equipe para chegar ao gol depois de recuperar a bola em campo ofensivo também foi um fator positivo.

O que não funcionou?

O perde e pressiona que virou característica dessa equipe treinada por Bertolini não funcionou como o esperado. Faltaram coordenação nos movimentos e uma intensidade maior no terço final do campo. Além disso, Gama não teve atuações num nível tão alto em todo o torneio: cometeu um pênalti desnecessário na estreia, falhou em duelos físicos contra o Brasil e perdeu o tempo de bola no primeiro gol da Holanda. A capitã, porém, segue com crédito.

O que surpreendeu na campanha italiana?

Sem dúvidas, o controle de meio-campo da Itália com Giugliano e Cernoia. Se a equipe sempre criou de forma muito direta em todo o ciclo, na França conseguiu acrescentar este trabalho de posse no centro do gramado a seu jogo. Pudemos observar trocas de passes mais longas, triangulações entre os setores, Giugliano com o primeiro passe na saída de bola e Cernoia transitando por todo o campo ofensivo.

O saldo da competição foi bastante positivo. Afinal, a Itália conseguiu competir contra algumas das maiores forças do futebol feminino no planeta. Entre altos e baixos, encontrou formas de manter o seu estilo em todas as partidas e levar perigo à meta rival.

Existem coisas a serem trabalhadas na construção ofensiva e na transição ofensiva, além de um ajuste maior na pressão alta. Porém, o trabalho de Milena Bertolini está sendo muito bem executado e só tende a crescer. Um trabalho efetivo forte na Serie A feminina é essencial. A profissionalização da modalidade, necessária. O primeiro passo foi dado e agora é necessário manter a toada.

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