Longe de ser um lateral clássico, Aleksandar Kolarov teve uma carreira consistente, vitoriosa e de muitos gols. Com 1,87m, altura que poderia lhe fazer ser zagueiro, se destacava na parte ofensiva, sendo sempre uma fonte de apoio perigosíssimo nas equipes que defendeu. Também foi um dos casos raros de jogadores que defenderam as cores de Lazio e Roma – e, de forma ainda mais excepcional, um dos raríssimos que marcaram no dérbi pelas duas equipes.
Nascido em Belgrado, capital da Iugoslávia – atualmente, da Sérvia –, Kolarov se desenvolveu nas categorias de base do Estrela Vermelha. Porém, profissionalmente, passou por outros dois times do futebol sérvio: o Cukaricki e o OFK. O destaque pelas equipes e pela seleção sub-21 de seu país fizeram com que, aos 21 anos, o lateral tivesse a chance de se transferir para a Itália.
Sua carreira na Velha Bota começou na Lazio. No verão de 2007, o diretor esportivo Walter Sabatini, especialista em garimpar talentos em mercados periféricos, ofereceu 800 mil euros para levar o jovem para o lado biancoceleste da capital italiana e viu o OFK aceitar a sua proposta. Jovem promessa, Kolarov participou da pobre campanha da equipe na Champions League e na Serie A, concluídas com uma eliminação precoce e um modesto 12° lugar, respectivamente.
Porém, o estreante Aleksandar conseguiu deixar claro qual era a sua marca registrada ao longo de sua temporada de debute – na qual ainda alternava com Luciano Zauri na lateral esquerda. O sérvio fez seu primeiro gol pela Lazio contra o Reggina, em sua primeira atuação como titular na Serie A. A mais de 30 metros de distância da meta, acertou um balaço no canto direito do goleiro Andrea Campagnolo, que nada pode fazer para evitar. O sérvio ainda colecionaria muitos anotados através de arremates de fora da área.
Kolarov sempre se destacou pelo poderio nas finalizações de longe. Seja com a bola rolando ou com ela parada, não havia distância que tornasse sua potente esquerda menos ameaçadora. Eficaz também nos cruzamentos, era uma ameaça constante nos avanços. Na retaguarda, podia se beneficiar, para além de sua altura, da força física. Características importantes para uma mudança que aconteceu no fim de sua carreira – e de que falaremos mais adiante.
Seu segundo gol pela Lazio, também em 2007-08, veio em outra marca registrada: as cobranças de falta. O especialista fez o primeiro que deu a vantagem para os capitolinos no confronto contra a Fiorentina nas quartas de final da Coppa Italia. Novamente, um foguete vindo de muito longe. No jogo da volta deste confronto, anotou de novo com uma cobrança de tiro livre, mas contou com a sorte de seu cruzamento morrer direto nas redes, por causa de uma rara contribuição do normalmente seguro Sébastien Frey.
Em 2008, começou a ter mais chances como titular e, em abril do ano seguinte, teve um dos seus melhores momentos. Na 31ª rodada da Serie A 2008-09, marcou pela primeira vez num Derby della Capitale. Em um jogo quente, com uma expulsão para cada lado e o 3 a 2 no placar a favor dos laziale, Kolarov decidiu a partida em uma ótima jogada individual. Partindo da esquerda, levou a bola para o pé direito e chutou meio desajeitado, mas Doni aceitou.
Na Coppa Italia, que a Lazio viria a faturar após bater a Sampdoria nos pênaltis, Aleksandar foi crucial nas semifinais contra a Juventus. Na partida fora de casa, no Olímpico de Turim, participou de todos os gols da vitória por 2 a 1. No primeiro, arrancou para achar Mauro Zárate na entrada da área e ver o argentino acertar no ângulo de Gianluigi Buffon. Depois, balançou as redes com uma de suas bombas características.
Consolidado como um dos melhores laterais na Itália, Kolarov não seguiu no clube depois de uma temporada medonha dos biancocelesti, que brigaram na parte de baixo da tabela da Serie A, em 2009-10 – concluíram o certame apenas na 12ª posição. Na mesma época, o Manchester City começava a desembolsar para valer o dinheiro que construiria supertimes, e uma das peças escolhidas foi o sérvio. Técnico dos citizens na época, Roberto Mancini aprovou a sua contratação, que custou cerca de 19 milhões de euros.
Aleksandar passou sete anos na Inglaterra. A camisa dos azuis de Manchester foi a que mais vestiu na carreira: totalizou 246 aparições, mais do que o dobro do que teve pela Lazio (103). Viveu bons e maus momentos, revezando entre a titularidade e o banco de reservas com os concorrentes de posição que eram contratados. Na sua segunda temporada por lá, além de vencer a Premier League, a sua primeira liga nacional e a primeira do City em quatro décadas, iniciou sua contagem na Liga dos Campeões, cobrando uma falta com perfeição contra o Napoli de Edinson Cavani, Ezequiel Lavezzi e Marek Hamsík.
No período no Reino Unido, Kolarov passou pela frustração de não conseguir a classificação com a Sérvia para a Copa do Mundo de 2014. Em 2010, ainda não tão consolidado como nos anos seguintes, foi titular nas duas primeiras partidas das águias, na derrota para Gana e na vitória contra a Alemanha, mas viu a derrota para a Austrália, que resultou na eliminação na fase de grupos, do banco de reservas.
No último ano de Manchester City, Aleksandar começou a ser utilizado como zagueiro sob o comando de Pep Guardiola. A adaptação na nova função passou a ser um trunfo, pois, sem concorrer o tempo todo com Gaël Clichy pela vaga na lateral esquerda, passou a ter mais minutos em campo. Mesmo assim, ao término da temporada 2016-17, decidiu retornar para Itália e defender as cores do arquirrival de seu antigo clube. Com seis títulos na bagagem, trocou o azul celeste pelo giallorosso da Roma.
Seu começo fulminante casou muito bem com a equipe entrosada de Eusebio Di Francesco. Logo na estreia, mostrou seu cartão de visitas com estilo: em cobrança de falta pela direita, contra a Atalanta, bateu por baixo da barreira e balançou as redes na sua estreia, dando à Loba a vitória por 1 a 0. O seu outro gol na Serie A também seria novamente na bola parada, mas desta vez colocado, por cima da barreira, contra o Torino, noutro triunfo pelo mesmo placar. Mas a mágica aconteceu em outra competição.
Mesmo não sendo um dos protagonistas, Kolarov participou da campanha que levou a Roma às semifinais da Champions League. Na fase de grupos, chegou a marcar contra o Chelsea e dar uma assistência para Edin Dzeko na reação incrível que culminou em um empate por 3 a 3 no Stamford Bridge. Depois, pouco pode fazer contra o Liverpool, em uma derrota agregada por 7 a 6.
Ao fim de seu ano de número um em giallorosso, concluído na terceira posição da Serie A, disputou a Copa do Mundo da Rússia. Lá, como capitão da Sérvia, marcou seu primeiro gol em Mundiais. Enfrentando a enjoada Costa Rica, fez do jeito de que mais gosta: cobrou falta com perfeição, no ângulo de Keylor Navas, que se esticou todo sem alcançar a bola. Infelizmente, para a seleção europeia, a vitória por 1 a 0 seria a única na fase de grupos. Derrotas para Suíça e Brasil colocariam Aleksandar e companhia fora da competição.
De volta à Itália, Kolarov viveu sua temporada mais prolífica em uma liga. O lateral marcou incríveis oito gols, ficando atrás apenas de Stephan El Sharaawy e Dzeko na artilharia da Roma na Serie A. Um deles foi especial, contra seu antigo time. Perto do fim do confronto contra a Lazio, o sérvio acertou uma pancada em uma falta próxima à área de Thomas Strakosha, que não conseguiu pegar o arremate em seu canto. Vitória por 3 a 1 como mandante. No returno teve o troco e, dessa vez, em vez de decidir a favor dos giallorossi, o ex-laziale foi expulso nos acréscimos, quando sua equipe perdia por 3 a 0.
Sua passagem pela capital terminou com mais uma Serie A goleadora. Marcando sete vezes em 2019-20, Aleksandar novamente anotou contra os biancocelesti, cobrando pênalti. Sem conquistar títulos, fechou seu ciclo na Roma em alta, principalmente pela contribuição ofensiva – mas também obteve destaque atuando como zagueiro, no fim de sua trajetória. Seu desempenho chamou a atenção da Inter. Mais especificamente, a de Antonio Conte, que pediu a sua contratação. Assim, a Beneamata garantiu o sérvio por 1,5 milhão de euros, encerrando a sua estadia no lado giallorosso da Cidade Eterna após 132 partidas, 19 tentos e 21 assistências.
A aquisição de Kolarov foi pensada para que ele se encaixasse no esquema com três zagueiros do treinador, ocupando a vaga pela esquerda. Afinal, com o declínio físico, não contava com a mesma explosão de antes. Porém, apesar dos jogos iniciais como titular, no qual mostrou desempenho sofrível contra Fiorentina e Milan, as lesões começaram a se tornar mais frequentes. Em pouco tempo, se tornou reserva e opção para o excelente trio de zaga formado por Alessandro Bastoni, Stefan De Vrij e Milan Skriniar. Encaixados, os nerazzurri encerraram a sequência de títulos da Juventus e conquistaram o scudetto – o primeiro do sérvio.
Praticamente sem chances, Aleksandar decidiu por pendurar as chuteiras ao fim de sua segunda temporada na Inter. Os problemas físicos foram determinantes na decisão, tomada com a campanha já em andamento. Mas seu adeus do futebol foi, na verdade, um até logo. O ex-atleta se qualificou profissionalmente para ocupar cargos diretivos e, por cerca de um mês, foi diretor esportivo do Pisa. No ano seguinte, se tornou técnico da seleção sub-21 da Sérvia.
Aleksandar Kolarov
Nascimento: 10 de novembro de 1985, em Belgrado, Sérvia (antiga Iugoslávia)
Posição: lateral-esquerdo
Clubes como jogador: Cukaricki (2004-07), OFK Belgrado (2007-10), Lazio (2007-10), Manchester City (2010-17), Roma (2017-20) e Inter (2020-22)
Títulos como jogador: Coppa Italia (2009 e 2022), Supercopa Italiana (2009 e 2021), FA Cup (2011), Premier League (2012 e 2014), Community Shield (2012), Copa da Liga Inglesa (2014 e 2016) e Serie A (2021)
Carreira como treinador: Sérvia Sub-21 (2024)
Seleção sérvia: 94 jogos e 11 gols