Olhando em retrospectiva, na temporada 2021-22 a Lazio fez campanhas medianas nas copas e atingiu a melhor colocação que poderia no Campeonato Italiano, tendo em vista os concorrentes que tinha. Os biancocelestes têm a expectativa de ao menos repetirem o resultado do ano passado. Para isso, porém, terão de resolver problemas internos e acertar nas movimentações de mercado.
Na última temporada, a contratação de Maurizio Sarri animou os torcedores da Lazio. Só que, ao contrário do que se podia imaginar, o técnico não recebeu todos os reforços que queria para implantar o seu estilo de jogo, baseado no 4-3-3. Como não foi atendido pelo diretor esportivo Igli Tare, que tem 17 anos de casa, ele teve de moldar os atletas que teve à disposição. Isso fez a equipe demorar um pouco a colher resultados.
O ponto a ser destacado é que a Lazio foi dona do segundo ataque mais positivo da Serie A. A defesa, no entanto, foi muito mal. A instabilidade e a desatenção da defesa custaram caro, levando a preciosos pontos perdidos, alguns com direito a goleadas sofridas. Além disso, várias vezes a equipe romana teve de buscar viradas ou empates épicos – absolutamente desnecessários, se houvesse uma maior consistência defensiva. Na Coppa Italia, os celestes foram atropelados pelo Milan nas quartas e, na Liga Europa, fizeram duelo parelho com o Porto, mas caíram na fase de 16 avos de final.
Diante dessa sequência, diretoria e torcida trabalham com com alguns cenários possíveis para a temporada laziale. O mais factível deles incluiria repetir a campanha na Serie A, que foi concluída com a classificação para a Liga Europa, fazer boa figura no torneio continental e brigar pelo título da Coppa Italia. O melhor panorama seria ganhar a copa nacional e beliscar uma vaga na Champions League com o quarto lugar no Italiano. O pior? Um verdadeiro desastre: cair precocemente nos torneios de mata-mata e sequer garantir um posto em competições da Uefa através do desempenho nos pontos corridos.
O desfecho desse plano depende, primeiramente, de uma pré-temporada bem feita. Até agora, a Lazio tem tentado se mexer no mercado, mas esbarra num ambiente turbulento nos bastidores – embora os envolvidos neguem tudo.
Cara de poucos amigos: Tare, à esquerda, vive queda de braço com Sarri (Getty)
No início de junho de 2022, Sarri renovou o seu contrato com a equipe biancoceleste até 2025. Para firmar novo vínculo, o treinador impôs algumas condições, como ter voz ativa na aquisição de jogadores, e está insatisfeito pelo não cumprimento do acordo. O técnico napolitano continua a ser ignorado por Tare, que tem uma filosofia de futebol distinta. O embate entre as visões aparentemente incompatíveis dos dois acaba por atrasar o mercado da Lazio, a maior prejudicada pela disputa.
Em meio às rusgas com Sarri, Tare começa a ver o presidente Claudio Lotito mexer os pauzinhos para diminuir o seu poder no clube: Angelo Fabiani, ex-Salernitana, foi contratado como responsável pelo setor juvenil e pelo time feminino dos aquilotti, que estavam sob controle do ex-atacante. Segundo relatos de bastidores, Igli teria ficado furioso com o ato do patrão. O fato é que, durante a apresentação dos novos uniformes da equipe, torcedores flagraram uma ríspida troca de palavras entre o ex-atacante e o proprietário da Lazio. Em nota, a agremiação negou que haja uma crise no relacionamento dos dois.
Com essa turbulência, a Lazio iniciou o retiro de pré-temporada, em Auronzo di Cadore, no dia 5 de julho, com uma insólita mistura de abundância e escassez. De um lado, cerca de 15 atletas que estão fora dos planos do técnico ainda não encontraram outro clube e parte deles teve de ser integrada aos treinamentos. De outro, faltam goleiros. Após as saídas de Thomas Strakosha, em fim de contrato, e Pepe Reina, transferido ao Villarreal, somente dois fazem parte do elenco profissional – Marius Adamonis, terceira opção em 2021-22, e Marco Alia, que retornou de empréstimo ao Monterosi, da Serie C. Alessio Furlanetto, dos juvenis, teve de ser agregado ao plantel.
Analisando o elenco atual, ficam claras as carências para competir com mais força nos campeonatos que virão. Dois goleiros, como frisamos; um zagueiro; um lateral-esquerdo; um volante; um meio-campista e um centroavante. Dentre esses objetivos, a Lazio deve priorizar a arrumação da defesa, com a contratação de um arqueiro titular e de um reserva, além de um beque tarimbado. Além disso, a equipe precisa de um reserva de nível para Ciro Immobile. Esse nome certamente não é o de Vedat Muriqi, que retornou de empréstimo ao Mallorca.
Além disso, manter Sergej Milinkovic-Savic é essencial. Outros três atletas, importantíssimos para o plantel, devem ser instados a renderem mais. A começar pelo zagueiro Francesco Acerbi, que atravessou uma temporada ruim e, aos 34 anos, ainda tem contrato até 2025. Isso, claro, caso permaneça, pois está em rota de colisão com a torcida e manifestou o desejo de ser negociado. Além dele, Felipe Anderson também pode entregar desempenho mais regular. Por fim, o “caso Luis Alberto” tem de ser resolvido. O meia teve desentendimentos com Sarri, por conta de sua utilização em campo, e foi vocal em sua insatisfação. O Sevilla está interessado em repatriar o espanhol e, caso a sua saída realmente ocorra, a equipe romana precisará buscar um camisa 10 à altura.
Em meio a dúvidas, Immobile segue como grande certeza da Lazio (Getty)
Até o fechamento deste texto, a Lazio confirmou três contratações. Os selecionáveis italianos Nicolò Casale e Matteo Cancellieri foram adquiridos junto ao Verona para concorrerem com os supracitados Acerbi e Felipe Anderson. O ponta será um nome importante para fazer o brasileiro descansar, já que não teve um reserva consistente durante 2021-22, enquanto zagueiro até tende a ser companheiro do veterano no time titular – mas não é possível descartar inteiramente que Sarri venha a optar por Patric ou Stefan Radu. Ou mesmo o espanhol Mario Gila, cuja chegada do Real Madrid está encaminhada. Por fim, o volante brasileiro Marcos Antônio, ex-Shakhtar Donetsk, preencherá a lacuna deixada pelo compatriota Lucas Leiva.
No entanto, não basta. É preciso contratar, urgentemente, pelo menos dois goleiros e um zagueiro de peso, para integrá-los o mais breve possível ao retiro de pré-temporada. Segundo Gianluca Di Marzio, jornalista especializado em transferências, a Lazio já tem um acordo pelo português Luís Maximiano (Granada). Seria uma vitória de Tare, uma vez que o lusitano tem o seu aval e não agrada tanto a Sarri. Outros arqueiros na mira dos capitolinos são Kepa (Chelsea), Guglielmo Vicario (Empoli), Salvatore Sirigu (ex-Genoa, atualmente sem clube) e Ivan Provedel (Spezia). Marco Carnesecchi (ex-Cremonese, de propriedade da Atalanta) também interessava, mas uma lesão no ombro, que lhe deixará três meses de molho, esfriou as negociações.
Para a zaga, os nomes que circularam também agradam a torcida, especialmente o de Alessio Romagnoli, laziale e com a experiência de ter sido capitão do Milan. Além disso, chega a Formello gratuitamente. Daniele Rugani, da Juventus, e Víctor Chust também interessavam, mas o milanista era prioridade e depende apenas da aprovação nos exames médicos para ser oficializado. Na lateral esquerda, Sarri sugeriu a contratação do ítalo-brasileiro Emerson Palmieri, que venceu a Euro 2020 pela Itália e está no Lyon.
Para o meio-campo, Ivan Ilic, do Verona, é o favorito a reforçar a Lazio em caso de saída de Luis Alberto. A diretoria celeste também trabalha com outros bons nomes, como Lucas Torreira, que estava na Fiorentina e pertence ao Arsenal, Benjamin Bourigeaud (Rennes), Óliver Torres (Sevilla) e Denis Suárez (Celta). Por fim, esfriou a possibilidade de Francesco Caputo (Sampdoria) ocupar o posto de reserva de Immobile.
Por enquanto, resta à torcida da Lazio aguardar e confiar. A primeira esperança dos torcedores é de que os conflitos entre Sarri, Tare e Lotito tenham uma solução rápida, para que o trabalho feito pelo setor de scouting possa ser direcionado da melhor forma. Só assim as boas oportunidades que venham a surgir no mercado terão como ser aproveitadas.
