Com o crescimento dos investimentos, mudanças visando o profissionalismo, a criação de seções mistas ou exclusivas para as meninas na base, a venda de direitos de TV e outras coisas importantes, o futebol feminino teve um salto muito grande dentro da Itália nos últimos anos. A Serie A Femminile já conta com equipes fortes, a contratação de jogadores internacionais de primeiro nível e terá sua primeira edição profissional em 2022-23. Esse cenário, somado ao trabalho sólido realizado por Milena Bertolini, treinadora da seleção, devolveu as azzurre à Copa do Mundo após 20 anos de ausência e, agora, faz da Nazionale uma das candidatas a surpresa na Eurocopa de 2022, disputada na Inglaterra.
Na Copa do Mundo da França, em 2019, a Itália fez uma boa campanha, vencendo dois jogos da fase de grupos e avançando até as quartas de final, quando acabou derrotada pela Holanda, que terminou sendo a vice-campeã. Desde então, foram 28 partidas realizadas pela Nazionale, com 22 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas. Um desempenho muito bom, de 83%. Vale destacar que os dois tropeços aconteceram contra Dinamarca e Suíça, seleções com ótimos talentos e bom nível coletivo.
Em 2022, foram seis partidas disputadas, com quatro vitórias e dois empates, 13 gols marcados e três sofridos. Os números são ótimos, mas o que mais anima a Nazionale é o desempenho da equipe, que só cresce a cada partida. Essa ascensão resulta em muita confiança para as atletas na busca por uma vaga no Grupo D da Euro Feminina, que terá jogos em Manchester e Roterham. As adversárias das azzurre são França (terceira do ranking da Fifa), Islândia (17ª) e Bélgica (19ª). A Itália ocupa a 14ª posição.
Bertolini é uma treinadora com muita sensibilidade e que busca sempre pequenos ajustes de um jogo para o outro, seja no esquema tático ou nos meios para atacar e defender. O sistema base que vem sendo utilizado é o 4-3-3, com pequenas variações que podem transformá-lo em um 4-5-1 ou até mesmo num esquema com linha de cinco defensoras, seja no 5-4-1 ou no 5-3-2.
O time italiano tem muito gosto pelas saídas curtas, realizando o que chamamos de saída sustentada. Bertolini executa essa ideia segurando as duas laterais e tendo uma das volantes perto da dupla de zaga, gerando assim muitas opções de passe e possibilidades para a equipe progredir em campo.
Superada essa primeira linha de pressão das equipes adversárias, a Itália efetua um jogo muito vertical, com triangulações curtas, num trabalho que parte do centro do campo até os flancos, gerando espaço para cruzamentos e a utilização do pivô com sua atacante. Dessa maneira, a Nazionale desloca as defensoras para percorrerem uma zona maior do gramado, o que favorece as infiltrações. Essa movimentação costuma tirar a atenção das adversárias, que marcam as jogadoras que estão posicionadas em locais mais perigosos na área, e serve para criar chances de gol.
Outro ponto muito importante na ideia de jogo da Nazionale é a pressão alta. Com uma preparação física excelente e bons desenhos de zonas de pressão, a Itália costuma estar bem preparada para observar e entender gatilhos das equipes adversárias, saltando suas pontas e meio-campistas para encaixar a pressão, na maior parte das vezes induzindo as jogadoras adversárias a irem para as laterais. Ali, as azzurre fecham as linhas de passe e recuperam a bola. Retomar a posse na zona central ou no campo ofensivo é fundamental para a filosofia da seleção.
No momento defensivo, a Itália costuma ter boa coordenação para recompor suas linhas e fazer o balanço defensivo, sempre tendo a liderança de Sara Gama para indicar o melhor posicionamento e ajustar o que for necessário. Por vezes, é uma equipe que sofre quando precisa que suas zagueiras saiam muito da grande área para acompanharem as atacantes adversárias.
Vice-campeã em 1993 e 1997, a Itália vai tentar o título inédito nesta edição e chega com totais condições para isso. Ainda que não seja a grande favorita, tem uma equipe talentosa, preparada e bem treinada, que pode surpreender as maiores potências do continente.
Destaques individuais
Laura Giuliani
Contratada pelo Milan em 2021, Giuliani fez outra temporada muito sólida na Serie A. Goleira com bom posicionamento e ótimos reflexos, é muito importante também por sua liderança e pelos ajustes que realiza para ajudar sua linha de defesa.
Sara Gama
Capitã e lenda da Itália e da Juventus, aos 33 anos de idade, Gama continua sendo a principal liderança desse grupo. Ela é muito importante para a defesa de área, para o controle da profundidade e coordena todo o balanço defensivo.
Manuela Giugliano e Martina Rosucci
Jogadoras de Roma e Juventus, respectivamente, Giugliano e Rosucci alternam muito na organização da saída de bola da equipe. Recuam para receberem das zagueiras, circulam pelo meio-campo e direcionam todo o jogo da Itália. Muito versáteis e técnicas.
Valentina Bergamaschi
Jogadora de lado pela direita, Bergamaschi é muito importante para a equipe, por sua leitura de jogo, capacidade técnica e chegada à linha de fundo. Seja na lateral ou no ataque, oferece muito impacto para a produção ofensiva da Itália.
Arianna Caruso e Barbara Bonansea
Entre a juventude de Caruso e a experiência de Bonansea, alguns denominadores comuns: a capacidade de drible, a ótima condução de bola e a responsabilidade de conectar as ações ofensivas da equipe. Elas recebem, circulam, trabalham as tabelas e finalizam bem a gol.
Daniela Sabatino, Cristiana Girelli e Valentina Giacinti
Bertolini tem três ótimas opções para o comando de ataque da equipe e elas têm muito em comum em termos técnicos e de estilo de jogo. São camisas 9 que fazem bem o pivô, atacam a última linha de defesa, conseguem sair da área e atrair as zagueiras adversárias.
Convocação
Goleiras: Laura Giuliani (Milan), Katja Schroffenegger (Fiorentina) e Francesca Durante (Inter);
Defensoras: Valentina Bergamaschi (Milan), Elena Linari (Roma), Elisa Bartoli (Roma), Maria Luisa Filangeri (Sassuolo), Lucia Di Guglielmo (Roma), Lisa Boattin (Juventus), Martina Lenzini (Juventus) e Sara Gama (Juventus);
Meias: Aurora Galli (Everton), Manuela Giugliano (Roma), Florentina Simonetti (Inter), Martina Rosucci (Juventus), Arianna Caruso (Juventus), Barbara Bonansea (Juventus) e Valentina Cernoia (Juventus);
Atacantes: Daniela Sabatino (Fiorentina), Cristiana Girelli (Juventus), Agnese Bonfantini (Juventus), Valentina Giacinti (Milan) e Martina Piemonte (Milan).