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O volante McDonald Mariga teve seu vigor sugado por frequentes lesões e se aposentou cedo

McDonald Mariga Wanyama, ou simplesmente Big Mac, como era chamado pelo locutor Roberto Scarpini, do canal oficial da Inter, foi um volante que surgiu como promessa e até conquistou grandes títulos. No entanto, o seu corpo foi um empecilho para que pudesse atingir o auge físico e se tornar um destaque na posição. O queniano chegou jovem ao futebol europeu e logo chamou a atenção de clubes de ligas expressivas, como a Serie A. E foi na Itália, ainda moço, que teve seus melhores momentos.

Nascido em Nairóbi, capital do Quênia, Mariga vem de uma família de esportistas. Seu pai, Noah Wanyama, foi um lateral-esquerdo que atuou pelo AFC Leopards, além de colecionar convocações pela seleção nacional. Seus irmãos mais novos, Thomas, Sylvester e Victor Wanyama também são jogadores. Os dois primeiros atuam na liga local, enquanto o último teve passagens interessantes por Celtic e Tottenham. Sua irmã foi a única que experimentou outro esporte, no posto de capitã do time de basquete de sua escola. A caçula também praticou futebol.

Mariga iniciou no esporte no colegial, ao fazer parte dos Golden Boys, equipe juvenil da escola Kamukunji. O time sagrou-se campeão nacional em 2002 e 2003, e, além do volante, tinha em seu elenco o atacante Dennis Oliech, que chegou a ser capitão do Quênia. Depois disso, McDonald passou pelos juvenis do Ulinzi Stars e, já entre os adultos, representou Tusker e Kenya Pipeline, de modo a ganhar suas primeiras chances na seleção.

Não demorou muito para que aparecesse o assédio dos empresários estrangeiros e o jogador ganhasse a oportunidade de se transferir para a Europa, em 2005. Sua porta de entrada no continente, aos 18 anos, foi o Enköpings, da terceira divisão da Suécia. Porém, após um complicado período de adaptação, foi no Helsingborgs, da Allsvenskan, primeira categoria do país, que Mariga conseguiu evoluir.

Após a fracassada campanha em 2005, o clube foi buscar o ídolo Henrik Larsson, de saída do Barcelona, e a presença do veterano na equipe foi fundamental para Mariga celebrar a primeira conquista como profissional. Ambos foram peças-chave na boa temporada dos vermelhos, que ficaram com o quarto lugar no campeonato nacional e obtiveram seu terceiro título da Copa da Suécia. Embora fosse responsável pela contenção, o queniano marcou quatro gols em 23 partidas e marcou quatro gols.

O desempenho de Mariga foi suficiente para chamar a atenção de ligas maiores. Apesar disso, ele ainda permaneceu no Helsingborgs por mais alguns meses e atuou na metade inicial da temporada 2007 pelos vermelhos – vale lembrar que, devido ao rigoroso inverno, o Campeonato Sueco é disputado ao longo do ano solar. No verão europeu, contudo, Big Mac mudou de casa: o volante chegou a ser sondado pelo Portsmouth, de Harry Redknapp, mas a dificuldade de conseguir um visto de trabalho para a Premier League lhe fez optar por um empréstimo ao Parma.

Pelo Parma, Mariga teve atuações consistentes e chamou a atenção de equipes maiores do futebol europeu (Getty)

Primeiro queniano a atuar na Serie A, Mariga enfrentou dificuldades para conseguir espaço em sua primeira temporada no Parma, devido à grande concorrência no meio-campo. Stefano Morrone, Francesco Parravicini, Daniele Dessena e Luca Cigarini tinham a preferência dos técnicos Domenico Di Carlo e Héctor Cúper, o que levou Big Mac a atuar em apenas 18 partidas, sendo 11 como titular. Mesmo assim, o volante de 21 anos foi contratado em definitivo pelos crociati. Com o rebaixamento do time para a segundona e a consequente saída de algumas peças, o africano recebeu mais chances.

Com força física privilegiada e bom senso de posicionamento, Mariga se mostrou um exímio marcador no meio-campo. Além disso, ele conseguia avançar ao ataque com muita velocidade, graças a passadas largas que dificilmente eram acompanhadas pelos adversários – característica que lhe rendeu comparações a Patrick Vieira e Mohamed Sissoko. O queniano ainda mostrou ter refino nos passes e uma capacidade exemplar para chutar de fora da área. Dois dos três gols que marcou nas 35 partidas que disputou na Serie B 2008-09 foram de longa distância.

O Parma de Francesco Guidolin garantiu o vice da segunda categoria e retornou à Serie A em 2009. Em sua segunda oportunidade na elite italiana, Mariga teve boa largada no campeonato, mas sofreu uma lesão muscular na coxa, que o afastou dos gramados por três meses. Mesmo assim, o volante entrou no radar de grandes clubes e mudou de ares em janeiro de 2010.

Os maiores times do cenário europeu, como de costume, já haviam iniciado suas movimentações bem antes da abertura do período de contratações. Roberto Mancini, que há época treinava o Manchester City, estava à procura de um meio-campista e viu em Mariga a figura que encaixava em suas exigências. Com isso, as negociações começaram com o Parma e os clubes acertaram a transferência pelo valor de 7 milhões de euros. No entanto, a baixa colocação do Quênia no ranking da Fifa impediu que o volante tivesse um visto de trabalho aceito pela Premier League. O chanceler queniano tentou usar a diplomacia para conseguir uma exceção, mas não conseguiu.

De olho no mercado, a Inter soube do fracasso da negociação entre Mariga e Manchester City e logo entrou em contato com Pietro Leonardi, diretor de futebol do Parma. Os nerazzurri estavam à procura de um meio-campista para substituir Vieira, que estava de saída para o próprio City, e rapidamente concluíram as tratativas: por 50% do passe do volante, a Beneamata investiu 3 milhões de euros mais o empréstimo do meia Luis Jiménez e metade dos direitos do atacante Jonathan Biabiany. Big Mac se tornava, então, o primeiro queniano a atuar num clube de ponta da Europa.

Para o técnico José Mourinho, Mariga tinha muito potencial e precisava ser moldado ao longo dos anos. Nas mãos do português, o volante começaria como opção a Esteban Cambiasso e a Sulley Muntari, possibilitando que a dupla descansasse alguns minutos numa extenuante reta final de temporada – afinal, a Inter brigava por três títulos. E assim foi: o queniano teve somente três oportunidades no onze inicial.

Ao chegar na Inter, o queniano atingiu o topo da carreira e conseguiu títulos importantes (Getty)

Mariga fez sua estreia com a camisa da Inter numa vitória por 1 a 0 no jogo de ida da semifinal da Coppa Italia, contra a Fiorentina, entrando nos acréscimos da peleja. E essa foi a sua função principal no restante da campanha: ir a campo para gastar alguns minutos e fechar a casinha. Ele foi eficiente nisso contra Chelsea e Barcelona, pela Champions League, e fez mais ao balançar as redes numa vitória sobre a Atalanta, pelo certame nacional – no entanto, seu chute desviou em Muntari e o gol foi dado ao ganês. No fim das contas, o queniano faturou a tríplice coroa pelos nerazzurri e se tornou o primeiro atleta de seu país a vencer Serie A, Liga dos Campeões e a copa italiana.

Com a saída de Mourinho para o Real Madrid, Mariga até recebeu chances de Rafa Benítez, seu substituto. O jovem volante começou 2010-11 como titular, no lugar de Muntari, mas rapidamente perdeu espaço após uma alteração tática feita pelo treinador. Também não teve tantas chances depois de o espanhol ser sacado e dar lugar ao brasileiro Leonardo. Naquela temporada, Big Mac adicionou a seu currículo os títulos de campeão mundial de clubes e a segunda Coppa Italia – inclusive, com gol marcado sobre o Genoa, nas oitavas de final. Contudo, voltou a ser acometido por lesões musculares.

No verão europeu de 2011, o queniano foi emprestado à Real Sociedad e até teve continuidade pelo clube do País Basco, pelo qual costumou atuar como titular. No entanto, em janeiro de 2012, recebeu uma oferta que não conseguiu negar: retornar ao Parma. Assim, no encerramento da janela de inverno, a Inter o cedeu temporariamente aos emilianos.

O volante queniano reestreou com assistência em vitória contra o Chievo e até guardou um gol num triunfo sobre a Lazio. Big Mac era absoluto no meio-campo do time comandado por Roberto Donadoni, que concluiu a Serie A num ótimo oitavo lugar. No entanto, na 32ª rodada do certame, ante o Novara, rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho e ficou afastado dos gramados por seis meses.

A gravidade da lesão fez com que o Parma, em dificuldades financeiras, não o adquirisse em definitivo. Assim, Mariga retornou à Inter e fez dois jogos pelos nerazzurri antes de, novamente, ser cedido aos crociati, em janeiro de 2013. Só que o queniano jamais foi o mesmo. Big Mac machucou os músculos adutores da coxa no sexto minuto de sua segunda partida da terceira passagem pela Emília-Romanha e não mais entrou em campo naquela temporada. Na verdade, só voltaria a atuar profissionalmente por um clube em novembro de 2014 – antes disso, teve alguns compromissos pela seleção de seu país.

De volta à Inter, Mariga sequer foi inscrito para as competições de que os nerazzurri participaram em 2013-14. Afastado em seu último ano de contrato, o queniano só encontrou novo clube em setembro de 2014, dias após o encerramento da janela de transferências. Na verdade, não era exatamente um destino inédito: ele acertou sua quarta passagem pelo Parma.

Uma séria lesão contra o Novara fez Mariga nunca mais voltar a atuar num nível aceitável para um profissional (Getty)

Big Mac assinou um vínculo anual, com opção de extensão por mais duas temporadas. Porém, outra vez não teve sorte – embora as lesões não tenham lhe perseguido nesta ocasião. Imerso em fraudes e vivendo um enorme caos societário, o Parma chegou a ter seis presidentes em 2014-15 e decretou falência. Além disso, foi lanterna do certame e rebaixado em campo. Mariga, portanto, se tornou agente livre novamente.

Com apenas 28 anos, o queniano teve dificuldades de encontrar um clube interessado e ficou sem trabalhar até janeiro de 2016, quando acertou com o Latina, da Serie B. Até conseguiu uma sequência de partidas pelos nerazzurri, mas o nível da equipe era muito baixo: os pontini brigaram para não cair em 2015-16 e terminaram rebaixados na temporada seguinte. Além disso, Mariga voltou a ficar sem contrato por causa da falência da agremiação à qual estava vinculado.

Em 2017, o queniano retornou à Espanha para jogar no Real Oviedo – que, vale destacar, falira anos antes. Na reserva, Mariga pouco ajudou os azuis a brigarem pelo acesso à primeira divisão espanhola e, após o objetivo não ter sido atingido, voltou para a Itália. Big Mag fechou com o Cuneo, da terceirona, mas não passou mais do que um mês no elenco biancorosso: como o clube não cumpriu acordos relativos ao pagamento de bônus pela assinatura do contrato, o volante rescindiu o vínculo com o time do Piemonte. Nem precisaria informar que a agremiação decretou bancarrota ao fim da temporada, não é?

Aos 31 anos, então, Mariga decidiu se aposentar precocemente. Já fora do mundo da bola, o ex-volante optou por retornar ao Quênia e se aventurar na política nacional, mas não foi eleito para uma vaga no parlamento. No entanto, ele é próximo a William Ruto, vice-presidente e líder do Jubilee, partido conservador que governa o país. Por ora, a vida pública de McDonald é uma promessa e ele espera que não termine tal qual sua trajetória acidentada no futebol.

McDonald Mariga Wanyama
Nascimento: 4 de abril de 1987, em Nairóbi, Quênia
Posição: volante
Clubes: Tusker (2003-04), Kenya Pipeline (2004-05), Enköpings (2005), Helsingborgs (2006-07), Parma (2007-10, 2012, 2013 e 2014-15), Inter (2010-11, 2012-13 e 2013-14), Real Sociedad (2011-12), Latina (2015-17), Real Oviedo (2017-18) e Cuneo (2018)
Títulos: Copa da Suécia (2006), Serie A (2010), Coppa Italia (2010 e 2011), Champions League (2010), Supercopa Italiana (2010) e Mundial de Clubes da Fifa (2010)
Seleção queniana: 40 jogos e 5 gols

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