A Serie A foi o palco para o ápice de dezenas de estrelas do futebol mundial, mas também desvencilhou as suas cortinas para o ocaso de alguns dos mais consolidados atletas da modalidade. Um dos jogadores que encontraram mais sucesso em outros países e viram a sua carreira entrar na descendente na Itália foi Jakub Blaszczykowski, o Kuba. Ídolo da seleção polonesa e do Borussia Dortmund, o ponta teve uma curta e apagada passagem pela Fiorentina, em 2015-16, após sofrer uma séria lesão na Alemanha. O seu objetivo era dar a volta por cima em Florença, mas isso não ocorreu.
Nascido em Truskolasy, vilarejo próximo à Czestochowa, no sul da Polônia, Kuba começou a treinar nas categorias de base do time local aos oito anos de idade. Uma de suas inspirações foi seu tio materno, Jerzy Brzeczek: capitão da seleção polonesa na década de 1990, o meia ganhou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1992 e, mais tarde, entre 2018 e 2021 seria treinador da equipe nacional.
A outra inspiração de Blaszczykowski, no entanto, resultou de uma tragédia. Em 1996, quando tinha 10 anos, seu pai esfaqueou sua mãe até a morte. Com a prisão do genitor, ele e o irmão mais velho, Dawid, foram criados pela avó materna, Felicja. Kuba chegou a abandonar o futebol, mas por insistência dos seus parentes mais próximos, decidiu continuar. Tempos depois, ele creditaria seu sucesso à avó e dedicaria seus gols à falecida mãe.
Jakub passou pelas categorias de base de Raków Czestochowa e Górnik Zabrze, mas seu primeiro time como profissional foi o Czestochowa, que então disputava a quarta divisão do Campeonato Polonês. Em 2005, após duas temporadas e meia no clube auriazul, com a ajuda do tio Jerzy, o ponta foi se apresentar ao Wisla Cracóvia, na tentativa de conseguir um emprego. Ele obteve a vaga e se tornou uma revelação: logo no ano de debute pela equipe da estrela branca, a equipe ganhou a Ekstraklasa, a liga local.
Com o passar do tempo, Kuba se consolidou no Wisla e foi convocado para a seleção nacional, além de ter sido premiado como meia do ano na Polônia, em 2006, e ter sido incluído no time ideal da Ekstraklasa. Dominante no lado direito do campo, onde podia desempenhar funções defensivas e, preferencialmente, mais avançadas, na ponta, Blaszczykowski logo chamou a atenção do Borussia Dortmund, clube ao qual se transferiu em 2007.
Foi no clube alemão em que Kuba viveu o auge da carreira. Primeiramente, ganhou seu espaço num time mais modesto, sob o comando de Thomas Doll, e logo depois se tornou um dos pilares da revolução que Jürgen Klopp protagonizou a partir de 2008. Nesse mesmo ano, o ponta foi eleito como melhor jogador do Borussia Dortmund e também como o principal polonês em atividade.
Com o amadurecimento do trabalho de Klopp, o Borussia Dortmund ganhou duas edições consecutivas da Bundesliga, em 2011 e 2012, a Copa da Alemanha, em 2012, três Supercopas da Alemanha e ainda bateu na trave na Liga dos Campeões em 2013, quando perdeu para o arquirrival Bayern de Munique na decisão, em Wembley. Na mesma época em que obtinha grande sucesso no clube, Kuba virou capitão da Polônia e se tornou um dos jogadores mais importantes da história da seleção, ao lado de Robert Lewandowski.
Kuba passou a disputar posição com Pierre-Emerick Aubameyang a partir de 2013-14, já que o Dortmund queria alcançar um novo patamar e o polonês já se aproximava dos 30 anos. Algumas lesões vinham afetando um pouco o rendimento do ponta, mas sem realmente comprometer a sua continuidade no onze inicial aurinegro. Até que, em janeiro de 2014, aos 4 minutos de um jogo com o Augsburg, válido pela Bundesliga, Blaszczykowski rompeu o ligamento cruzado do joelho direito e ficou mais de 10 meses afastado dos campos.
O polonês até voltou a atuar pelo Dortmund ao longo de 2014-15, mas jamais conseguiu retomar o espaço que tinha anteriormente. Assim, no último dia da janela de transferências do verão europeu de 2015, Kuba foi emprestado para a Fiorentina. Com a camisa violeta, ele poderia atuar em sua posição de origem, disputar campeonatos de alto nível e ainda brigar por títulos em copas – ou, através da Serie A, por vaga em torneios continentais.
Nos três anos anteriores à chegada de Kuba, a Fiorentina teve o comando de Vincenzo Montella, que levou a equipe a consecutivos quartos lugares na Serie A e a outros resultados positivos nas competições de mata-mata – mais especificamente, às semifinais da Liga Europa e ao vice na Coppa Italia. Após o fim do ciclo, o técnico italiano foi substituído pelo português Paulo Sousa, que decidiu não promover uma revolução no estilo de jogo dos gigliati.
Boa parte do elenco da temporada anterior continuava ali: Manuel Pasqual, Gonzalo Rodríguez, Borja Valero, Milan Badelj, Matías Fernández, Josip Ilicic e Federico Bernardeschi eram alguns dos principais nomes do plantel, que foi reforçado por peças como Davide Astori, Matías Vecino e Nikola Kalinic, além do próprio Blaszczykowski. Kuba chegou para ser titular e, mostrando boa forma física no início de sua passagem, marcou um gol importante em sua terceira partida: abriu o placar sobre o Bologna na vitória dos gigliati por 2 a 0 no Dérbi dos Apeninos.
Kuba manteve o posto de titular até a primeira – e única – lesão que teve com a camisa da Fiorentina. Um estiramento muscular na coxa, em novembro, o manteve afastado dos gramados por cerca de um mês e meio. Tempo suficiente para o jovem Bernardeschi mostrar que tinha capacidade de atuar pela ala direita. A chegada de Cristian Tello, em janeiro, ainda ofereceria maior concorrência ao polonês.
Blaszczykowski voltou a jogar no início de janeiro de 2016, e o fez com bola na rede: aos 90 minutos, decretou o triunfo violeta sobre o Palermo, por 3 a 1. Porém, Paulo Sousa viu que a sua equipe havia melhorado de produção com Bernardeschi e manteve Kuba no banco. Dali em diante, o polonês foi titular em apenas outras quatro ocasiões.
Sem causar grande impressão, Kuba terminou 2015-16 sem cumprir o principal objetivo com a transferência à Fiorentina – ter minutagem. O ponta somou 20 aparições, sendo 12 como titular, com dois gols marcados e três assistências fornecidas. A Viola, por seu turno, se classificou à Liga Europa graças à quinta colocação na Serie A, mas caiu nas oitavas da Coppa Italia para o Carpi – que tinha acabado de alcançar a elite pela primeira vez em sua história – e foi eliminada pelo Tottenham na fase de 16-avos de final da Europa League.
Ao fim do empréstimo, Kuba voltou ao Borussia Dortmund, mas não foi aproveitado. Em agosto de 2016, foi negociado em definitivo com o Wolfsburg, mas nos três anos em que vestiu a camisa verde não conseguiu fazer campanhas de grande relevância.
Pela seleção polonesa, por sua vez, Blaszczykowski também enfrentou questionamentos – ele e todo o grupo alvirrubro, na verdade. Mesmo com uma grande geração, a Polônia tinha dificuldades para encontrar regularidade. As águias não deslancharam na Euro 2012 nem se classificaram para a Copa do Mundo de 2014.
Na Eurocopa de 2016, ao menos, Kuba, Lewandowski e seus companheiros conseguiram fazer a Polônia alcançar as quartas de final pela primeira vez na história. O ponta marcou gols decisivos contra Ucrânia e Suíça. Além disso, no jogo contra os helvéticos, nas oitavas, converteu sua cobrança na disputa por pênaltis que classificou os polacos. O roteiro não se repetiu na fase seguinte, entretanto: após 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, Blaszczykowski perderia penalidade e contribuiria para que a vitória ficasse com os portugueses, que terminaram como os campeões daquela edição. Na Copa de 2018, já como reserva, Jakub não evitou que os poloneses voltassem a dar vexame e caíssem na fase de grupos.
Em 2019, sem espaço no Wolfsburg, Kuba retornou a seu país natal e ao Wisla Cracóvia. Posteriormente, o jogador ainda se tornaria executivo do clube ao adquirir quase 27% de suas ações, salvando-o da falência – ele ainda optou por receber apenas um valor simbólico para atuar pelo time da estrela branca. Já veterano, Blaszczykowski somou poucos minutos de jogo pela equipe e viu essa condição se agravar depois de mais uma ruptura de ligamento do joelho.
Blaszczykowski se aposentou oficialmente aos 37, ao fim da temporada 2022-23. Sua última partida como profissional foi pela seleção polonesa: quatro anos após a sua aparição anterior, Kuba foi convocado para um amistoso contra a Alemanha, em junho de 2023. Ele entrou em campo como o capitão do time e jogou até os 16 minutos, honrando a sua camisa 16 – número que, inclusive, utilizou na Fiorentina. Nesse momento, passou a braçadeira a seu velho companheiro Lewandowski, com quem alternou a liderança das águias, e saiu ovacionado pelo público do Estádio Nacional de Varsóvia.
Jakub Blaszczykowski
Nascimento: 14 de dezembro de 1985, em Truskolasy, Polônia
Posição: meia-atacante
Clubes: Czestochowa (2003-04), Wisla Cracóvia (2004-07, 2019-23), Borussia Dortmund (2007-16), Fiorentina (2015-16) e Wolfsburg (2016-19)
Títulos: Campeonato Polonês (2005), Supercopa da Alemanha (2008, 2013 e 2014), Bundesliga (2011 e 2012) e Copa da Alemanha (2012)
Seleção polonesa: 109 jogos e 21 gols