Originalmente para o Olheiros.
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Cobrindo melhor que qualquer toldo
Aproveitar oportunidades na vida pode ser considerado como um dom. No futebol, lógico, não é diferente. Hoje, Júlio César, com seus quase 30 anos – apesar de parecer mais novo – poderia facilmente ser definido como um desses atletas que souberam agarrar as chances obtidas. E desde cedo, muito cedo, o arqueiro já demonstrava seu potencial embaixo das traves. Ainda com 16 anos, Júlio César foi titularíssimo da seleção brasileira sub-17 na Copa do Mundo de mesma categoria no Equador, terminada com um vice campeonato.
Nascido em Duque de Caxias e flamenguista desde criança, o goleiro começou a jogar pelo seu clube do coração ainda com 12 anos. Sempre causando boas impressões na base, não demorou muito para que Júlio César subisse à categoria profissional da equipe para fazer sombra ao já experiente Clemer. A sorte do jovem arqueiro era o azar, ou incompetência, do titular do rubro-negro: enquanto o reserva crescia, Clemer dava claros sinais de inconstância e criava desconfiança em muitos dos mais otimistas torcedores. Júlio César festejou, ainda que do banco de suplentes, uma Copa Mercosul (1999) e dois Estaduais (1999 e 2000).
Conforme as chances surgiam, Júlio as agarrava com muita segurança. Prata da casa, xodó da torcida, jovem e muito promissor, não foi difícil conseguir apoio dos mais distintos lados. Durante a Copa João Havelange, em 2000, o flamenguista chegava aos poucos à titularidade. Em 2001, ainda antes de completar 22 anos, já era titular absoluto do clube da Gávea. No mesmo ano, conquistou um Campeonato Carioca e a extinta Copa dos Campeões. Depois de ser o camisa 1 do time que o revelou e ídolo da torcida, o próximo passo era, inevitavelmente, chegar à seleção principal.
Enquanto o Flamengo já não empolgava tanto, seu arqueiro, por sua vez, continuava a brilhar. Em 2002, quatro meses antes da Copa do Mundo, Júlio César foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira. Como um terceiro goleiro de Luiz Felipe Scolari, o flamenguista faria sombra então a Marcos e Dida. Esperançoso de disputar o mundial de Coréia e Japão, o segundo reserva de Marcos no elenco penta-campeão foi, entretanto, Rogério Ceni. Entrevistado pela Placar em fevereiro de 2002, Júlio foi claro e certeiro: “vou comendo pelas beiradas, ainda sou muito novo”.
Copa América
Após um 2003 sem glórias, no qual o rubro-negro terminou na oitava colocação do Campeonato Brasileiro, o nome do camisa 1 continuava firme e forte como um dos principais da equipe, apesar de algumas falhas. O ano de 2004, porém, mudaria para sempre a trajetória futebolística do jogador. Em julho, o flamenguista recebeu a convocação mais determinante de sua história, aquela para disputar a Copa América como titular do grupo de Carlos Alberto Parreira.
Nas semifinais da competição, atuando contra o Uruguai, Júlio César pegou o último pênalti dos celestes, batido por Vicente Sánchez, e deu a vaga à final ao Brasil. Contra os rivais argentinos, no último jogo do torneio, o arqueiro flamenguista parou a primeira penalidade dos adversários, cobrada por Andrés D’Alessandro. Grande mérito da conquista, então, seria inevitavelmente seu. Já não era possível para o rubro-negro da Gávea segurar seu prata da casa até mais do que o fim daquele ano, quando o atleta se transferiu para o Chievo, da Itália, no que correspondia à metade da temporada 2004/05 neste país.
A Inter
Após passar seis meses sem entrar em campo no Chievo, a Internazionale adquiriu o passe do jogador. Muito se fala que o acordo, na verdade, já estaria feito, e os nerazzurri só não o haviam comprado antes devido ao limite de extra-comunitários no elenco. Independentemente, Júlio César desembarcava em Milão com um objetivo muito complicado: barrar o experiente, consagrado, titular e cheio de credibilidade Francesco Toldo. Trazido na confiança do então treinador Roberto Mancini, o brasileiro não decepcionou.
Os números não mentem, e basta analisá-los para compreender o quão rápida foi a ascensão de Júlio César na Itália. Toldo, na temporada 2004/05, disputou 30 partidas de Serie A com a Inter. Após a chegada de Júlio, o italiano entrou em campo apenas 8 vezes na mesma competição, durante a temporada seguinte. As oportunidades do brasileiro vieram com uma excelente preparação de pré-temporada para 2005/06, aliada à já citada confiança de Roberto Mancini e os excelentes resultados obtidos em campo. Em pouquíssimo tempo, o homem que havia barrado o experiente Clemer deixava para trás outro respeitado – e bem melhor – goleiro. Vale lembrar que Toldo ainda estava no grupo da Seleção Italiana que disputou a Euro 2004.
Bastou essa mesma temporada para que Júlio César se confirmasse como um dos arqueiros da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo 2006, sem entrar em campo na competição. Depois do campeonato, continuaria como titular absoluto da Inter, e aumentaria de 29 para 32 o seu número de presenças na Serie A. Só não entrou em campo na Coppa Italia devido ao tradicional rodízio de goleiros do país. O mesmo se sucederia na temporada seguinte: em 2007/2008, Júlio aumentou em mais três o número de presenças e, de novo, não participou do vice-campeonato da Coppa graças ao revezamento embaixo das traves causado pela cada vez mais baixa importância dessa competição.
É incrível pensar que, no tapetão ou não, o brasileiro simplesmente não conhece outra sensação senão a de vencer o campeonato italiano. Desde 2005/06 na equipe, a Inter faturou – por coincidência ou não – todos os scudetti com o brasileiro defendendo sua meta. E mais: os nerazzurri venceram a única Coppa em que ele entrou em campo. Indiscutivelmente como titular absoluto, já começa a se consagrar na Itália, e de lá não deve sair tão facilmente. Firme e forte como, quem diria, o principal goleiro da poderosíssima Internazionale, Júlio César comeu pelas beiradas e – já não tão novo, mas com tempo de sobra – ninguém duvida de seu posto com a camisa 1 do Brasil na África do Sul, em 2010.
Ficha técnica:
Nome completo: Júlio César Soares Espíndola.
Data de nascimento: 03/09/1979.
Local de nascimento: Duque de Caxias (RJ), Brasil.
Clubes que defendeu: Flamengo, Chievo-ITA, Inter-ITA.
Seleções de base que defendeu: Brasil sub-17, sub-20.
Estava na faculdade (putz, tô ficando velho, mesmo!) quando o Júlio estreou pelo Flamengo.
Ele tinha 17 anos e sua estréia se daria numa partida contra o Fluminense. Renato Gaúcho, tricolor na época, até brincou com a juventude do rival, mas no jogo o garoto foi bem e não comprometeu.
Nada mal começar a carreira num Fla-Flu, hein?