Pra quem estava na Serie A até 2007, deve ser algo estranho entrar em campo pela Serie D, relativa à quinta divisão italiana. Messina é uma das maiores cidades italianas, com capacidade de garantir um time em uma das duas primeiras divisões. Ao menos em tese. Com mais de 28 milhões de euros em dívidas, o clube foi excluído da Serie B em julho de 2008 e só e em cima da hora é que a FIGC permitiu que o Messina disputasse a Serie D na temporada passada, 2008-09.
Mas se uma coisa não deu as caras nesta temporada, foi futebol. O Messina se viu refém de empresários, canetadas e indecisões. Em novembro, foi decretada sua falência e em março o clube foi comprado pelo romano Alfredo Di Lullo das mãos da família Franza, proprietária desde 2003 e patrona da melhor fase da história do clube, mas que não fez esforços para salvar o Messina da realidade em que se meteu hoje. Evitar o rebaixamento da Serie D já foi um grande esforço. A partir de setembro, os biancoscudati recomeçarão de muito baixo. Onde já estiveram.
Fundado em 1900 por Alfredo Marangolo, a primeira partida de um Messina dividido entre italianos e ingleses foi um dérbi com o Palermo perdido por 3 a 2. Em cima do mesmo rival, os giallorossi venceram seu primeiro troféu, a Whitaker Challenge Cup, em 1905. O futebol de Messina vinha em ritmo forte e parecia ganhar espaço, mas foi devastado pelo terremoto que atingiu a cidade em 1908 e matou mais de 100 mil pessoas. No ano seguinte, após os traumas, o Football Club Messina foi reaberto pelo inglês Arthur Barret.
A primeira promoção para a Serie A veio só em 1963, com o Messina campeão da Serie B. A primeira partida em casa na primeira divisão foi vitoriosa, um 2 a 0 sobre o Lanerossi Vicenza no estádio Giovanni Celeste. E a salvezza veio na última rodada, com um empate em 0 a 0 com o Modena, que salvou os biancoscudati e empurrou para a Serie B os canários. O ano seguinte foi mais complicado, e por fim o clube não conseguiu se manter na A.
O choque foi forte e o Messina acabou caindo para a Serie C, três anos depois. O retorno à segunda divisão veio só em 1986, 18 anos depois, sob o comando de Franco Scoglio e a presidência de Salvatore Massimino, Em campo, estava Salvatore Schillaci. O ciclo que viu o Messina reencontrar a Serie B e chegar bem próximo da A encerrou-se com brigas familiares pelo comando da sociedade, que não foi inscrita a tempo para a temporada 1993-94.
Na Serie D, o Messina continuou o purgatório e foi novamente rebaixado em 1997, o que deu à Peloro a condição de principal representante da cidade. Com a queda rival, foi renomeada FC Messina Peloro e é a que acompanhamos nos últimos anos. Sob a presidência de Pietro Franza, em 2001 o clube voltou à B e três anos depois conseguiu sua segunda promoção para a Serie A. Foram três anos de festa na cidade, animados pela inauguração do San Fillippo, em 2004: na estreia do estádio pela primeira divisão, o Messina bateu a Roma por 3 a 2 na disputa giallorossa.
A temporada 2004-05 entrou para os anais como melhor campanha da história do clube: o sétimo lugar foi marcado por vitórias sobre Milan, Inter e Roma e uma luta por vaga na Copa da Uefa até a última rodada. Depois de bater na trave da Europa, o Messina começou a enfrentar problemas fiscais e só foi inscrito na A após vencer recurso na justiça. Em 2006, foi salvo na bacia das almas porque a Juventus teve todos os seus pontos retirados no escândalo de manipulação de resultados. Mas em 2007 segurou a lanterna até o fim do campeonato, em direção a essa crise que parece infindável.
As temporadas
5 participações na Serie A, 32 na Serie B, 33 na Serie C e 9 na Serie D.
Os rivais
Como bom clube siciliano, as disputas mais acaloradas são as com Catania e Palermo. Também há uma certa rivalidade com os calabreses Reggina e Catanzaro. Contra o Catania, são 18 vitórias e 27 derrotas em 68 jogos de campeonato. No dérbi com o Palermo, o Messina só venceu nove das 42 partidas – os rosanero levaram a melhor em 16 delas.
Os brasileiros
Rafael, um lateral-direito habilidoso do Goiás. Conhece? Pois é, o ex-jogador de Flamengo e Fluminense é o brasileiro que mais marcante da história do Messina. Entre 2004 e 2007, atuou em três dos cinco campeonatos de Serie A que o clube disputou em sua história, com 46 jogos e quatro gols, um deles contra a Internazionale. Só mais dois brasileiros vestiram a camisa giallorossa: o meia Renato Bondi (ex-Atlético-PR e Londrina, 11 jogos em 2005-06) e o atacante Amauri (hoje na Juventus, 23 jogos e quatro gols em 2002-03).
Os selecionáveis
Só dois jogadores do Messina já jogaram na seleção italiana. Totò Schillaci tinha acabado de deixar o clube rumo à Juventus quando foi convocado pela primeira vez. E os biancoscudati tiveram de esperar até novembro de 2004 para ter seu primeiro jogador na Nazionale: o lateral-esquerdo Alessandro Parisi, atualmente no Bari, fez sua única partida pela seleção dentro do San Filippo. No ano seguinte, foi a vez do meia Carmine Coppola fazer dois jogos em uma turnê de amistosos do time de Lippi nos EUA.
O onze histórico
Marco Storari; Niccolò Napoli, Agostino Maglio, Angelo Stucci, Alessandro Parisi; Constantino Lo Bosco, Salvatore Sullo, Carmine Coppola; Salvatore Schillaci, Renato Ferretti, Arturo Di Napoli. Técnico: Bortolo Mutti.
Quem mais jogou
Salvatore Schillaci, 224 jogos.
Quem mais marcou
Renato Ferretti, 90 gols.