Júlio Botelho, ponta-direita de velocidade pouco comum e de habilidade igualmente surpreendente jogou na época de Garrincha, e por isso não teve tanto destaque na seleção canarinho. Mas em sua carreira em clubes, o Flecha Dourada – apelido dado pela sua velocidade – foi muito bem e precisou de apenas quatro anos para se tornar ídolo na Itália, onde a torcida viola nunca o esquecerá.
Julinho Botelho é mais um caso de atleta que não teve sucesso no primeiro clube em que passou. O ponta-direita chegou a ser dispensado das categorias de base do Corinthians e, com isso, tomou o caminho da Mooca, onde se profissionalizou no Juventus, aos 21 anos. Logo, Julinho chamou a atenção da Portuguesa, que o contratou após apenas seis meses de trabalho na equipe principal do clube da Rua Javari.
A primeira vez que Julinho soube o significado da palavra ídolo foi jogando pela Portuguesa. Na Lusa, foram quase duas centenas de jogos oficiais, período pelo qual marcou 90 gols. A partida mais memorável do ponta-direita pelo clube ocorreu em 1951, em uma vitória por 7 a 3 sobre o Corinthians que havia lhe dispensado. Julinho, nem precisava dizer, saiu vingado: anotou quatro vezes.
As boas exibições fizeram com que Zezé Moreira, técnico da seleção brasileira, o convocasse para o Mundial de 1954, disputado na Suíça. Depois da Copa, mais um ano em boa forma com a Lusa e finalmente a transferência à Itália. À época, pelo valor de 5,5 mil dólares, Julinho Botelho foi a contratação mais cara do time de Florença, em 1955.
Julinho deu a resposta em campo. Em sua segunda temporada com os viola, ajudou o time a conquistar o primeiro scudetto de sua história. Nos anos seguintes, dois vice-campeonatos da Serie A, com títulos da Juventus. Além disso, o segundo lugar na recém-instituída Copa dos Campeões, com derrota polêmica para o Real Madrid, na final.
Tudo ia bem para o time da Toscana, até que o “Flecha Dourada” se cansou da Itália; estava com saudade de seu país. A Fiorentina fez de tudo para ele ficar, mas a volta ao Brasil era inevitável. A torcida o apelidou de “Senhor Tristeza” e o Palmeiras foi seu caminho na volta.
Os viola jamais se esquecerão de Julinho. Houve um dia em que o ponta viajava de trem e para evitar o enorme assédio, teve que ficar no banheiro durante todo o trajeto. Em Florença também existe um restaurante no qual o “Flecha Dourada” tinha seu lugar reservado. Até hoje, a placa em homenagem a “Il Signore Júlio Botelho” está pendurada na parede do restaurante.
Após 23 bolas nas redes em 98 jogos pela Fiorentina, Julinho também alcançou a idolatria na volta ao Brasil. Com o Palmeiras foram nove anos e cinco títulos: dois campeonatos nacionais, um Rio-São Paulo e três estaduais. Defendeu o alviverde paulista por 269 partidas e fez 81 gols, cravando seu nome na galeria de ídolos do Palmeiras.
Jogando no Brasil, o Flecha Dourada seguiu sendo convocado pela seleção brasileira e em 1959 viveu seu grande momento com a amarelinha. Contra a Inglaterra, no Maracanã, Julinho foi escalado no lugar de Garrincha. O estádio esperava ver Mané jogar e só descobriu a escalação de Júlio Botelho, quando o sistema de som anunciou a novidade. A resposta da torcida foi a “maior vaia da história”, porém Julinho mostrou personalidade, marcou um gol aos dois minutos e ainda deu o passe para o outro gol da vitória por 2 a 0 frente aos ingleses. Ao final da partida, só se ouviam aplausos ao ex-jogador da Fiorentina.
No ano de 1967, Julinho encerrou a carreira com um jogo de despedida contra o Náutico, uma vitória no Palestra Itália lotado. A idolatria da torcida viola continuou: sempre que visitou o clube foi tratado como uma entidade e foi, inclusive, homenageado antes de uma partida na década de 1980. Seu último negócio foi administrar uma quadra de futsal, antes de falecer na Penha, onde passou quase toda a sua vida.
Júlio Botelho
Nascimento: 29 de julho de 1929, em São Paulo (SP)
Morte: 11 de janeiro de 2003, em São Paulo (SP)
Posição: ponta-direita
Clubes como jogador: Juventus-SP (1950-51), Portuguesa (1951-55), Fiorentina (1955-58) e Palmeiras (1958-67)
Títulos: Torneio Rio-São Paulo (1952, 1955 e 1965), Campeonato Pan-Americano (1952), Campeonato Paulista (1959 e 1963), Serie A (1956), Campeonato Brasileiro (1960) e Copa Rocca (1960)
Seleção brasileira: 31 jogos e 10 gols
Um equívoco na publicação quanto aos títulos do grande Julinho Botelho no Palmeiras. Na verdade Julinho jogou até 1965 no Palmeiras. Em 1966 ele já passou a dirigir as equipes inferiores. Como ainda em forma, pode-se dizer, tinha parado há pouco de jogar profissionalmente, o Palmeiras, já Campeão Paulista por antecipação em 1966, última rodada, jogo das faixas, numa atitude simpática, o Palmeiras pretendeu lançá-lo na partida, jogando, óbvio, teria também o título de Campeão o que seria mais um em sua brilhante carreira. Porém, como não estava inscrito no certame, a Federação Paulista de Futebol não autorizou sua escalação. Com certeza, esse jogo seria sua despedida dos gramados, daria volta olímpica ao som da Valsa da Despedida como ocorreu meses depois, numa bonita e merecida Homenagem, em fevereiro de 1967, num jogo contra o Náutico no Jardim Suspenso.