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Marco Storari conquistou títulos à sombra de gigantes e virou ídolo do Cagliari

Dida e Gianluigi Buffon ganharam inúmeros títulos defendendo as respectivas metas de Milan e Juventus. Obviamente, não deram chances a seus concorrentes. Marco Storari que o diga. O goleiro toscano esquentou banco desses dois monstros da posição neste século, o que não o impediu de comemorar grandes títulos. Mas a carreira de Storari não se limita à vaga de suplente de Dida e Gigi: próximo de pendurar as chuteiras, ele ajudou o Cagliari a voltar para a Serie A.

Natural de Pisa, Storari deu seus primeiros passos no futebol longe da cidade da Toscana. Em 1978, atendeu ao chamado da Roma e começou a treinar nas categorias de base da equipe giallorossa. Permaneceu por quatro anos, até se transferir para o Ladispoli, time pouco conhecido da capital, em 1991. Quatro primaveras depois, acertou com o Perugia, onde faturou o Campeonato Primavera, principal competição juvenil na Itália, em 1996 e 1997.

A trajetória no Perugia terminou em 1998, com um empréstimo de seis meses para o Montevarchi. Ao fim do vínculo, o clube negociou Storari com o Ancona, time no qual se tornaria titular na terceira divisão de 1999-2000. Com Storari debaixo das traves, os biancorossi subiram para a Serie B. Bastaram mais duas temporadas na região das Marcas para o arqueiro mudar de esquadra. Depois de romper os ligamentos do joelho contra o Siena e perder o restante da época, Storari assinou um contrato de copropriedade com Napoli, que também estava na segundona.

Porém, no sul da Itália, o toscano não encontrou espaço – o já falecido Francesco Mancini era o titular naquela época. Após quatro jogos pelos azzurri, Marco se juntou ao Messina, em troca que levou o também goleiro Emanuele Manitta ao Napoli, nos últimos dias do mercado invernal de 2003. A carreira de Storari deslanchou no clube siciliano. Assumiu a titularidade no primeiro jogo depois de sua chegada, contra a Salernitana, pela 21ª rodada da Serie B. O embate terminou sem gols.

Storari estreou na Serie A pelo Messina, clube que defendeu por quatro anos (PA Images/Getty)

Na temporada 2003-04, o Messina ascendeu à elite e fez grande campanha na primeira divisão do Campeonato Italiano. Os peloritani alcançaram um histórico sétimo lugar na Serie A 2004-05, com Storari em grande fase. O arqueiro, aliás, ganhou a alcunha de “pegador de pênaltis”. Em 2005, ele defendeu os disparos da marca da cal de Andrea Pirlo, Francesco Flachi, Gianfranco Zola e Lorenzo D’Anna. “Eu olho as fitas cassetes dos adversários ou me informo através dos jornais”, revelou o toscano, em entrevista de outubro de 2005 concedida ao jornal Corriere della Sera. “Então, o fato que eu sempre defendi [os pênaltis] na esquerda é só acaso…”, complementou.

Devido a seu rendimento com a camisa giallorossa, Storari foi notado por Marcello Lippi, então técnico da seleção italiana. O treinador o convocou de última hora para a partida contra a Eslovênia, em Palermo. Marco só recebeu a chamada para representar a Squadra Azzurra porque Buffon e Flavio Roma se encontravam lesionados. E Nicola Santoni (escolhido por Lippi como substituto de Roma) já estava em casa, usufruindo da folga de dois dias que o então técnico do Palermo, Luigi Del Neri, havia concedido a seus jogadores. Storari não foi utilizado ante os eslovenos. Na verdade, nunca mais foi convocado para a Nazionale.

Se nas duas temporadas anteriores Storari tinha brilhado no gol do Messina, o arqueiro não conseguiu repetir as boas atuações na época 2005-06. Os sicilianos fizeram campanha decadente na Serie A e não conseguiram evitar o rebaixamento no campo. No entanto, graças ao escândalo Calciopoli, o time evitou o descenso – a Juventus foi para a segunda divisão no lugar dos biancoscudati. Na campanha seguinte, Storari virou capitão do Messina, visto que o então portador da faixa, Carmine Coppola, havia sido emprestado ao Livorno.

Contudo, meses depois de assumir a capitania da equipe peloritana, Storari foi adquirido pelo Milan, em janeiro de 2007, por 1,2 milhão de euros, assinando um vínculo de dois anos e meio. A contratação ocorreu às pressas, uma vez que Dida e Zeljko Kalac estavam de molho no departamento médico.

Marco teve três passagens pelo Milan, mas só disputou 15 partidas com a camisa rossonera (Getty)

No restante da temporada 2006-07, o toscano entrou em campo somente pela Serie A: fez três jogos completos, contra Livorno, Siena e Udinese, e sofreu sete gols. Com os retornos de Dida e Kalac, o comandante do Milan à época, Carlo Ancelotti, não utilizou Storari no mata-mata da Liga dos Campeões, competição em que o Milan garantiu o heptacampeonato.

Em agosto de 2007, Storari encerrou brevemente sua passagem pelo Milan, pois estava pronto para encarar sua primeira experiência longe da Itália. O clube milanês o emprestou ao Levante, que atravessava uma ferrenha crise financeira. Não à toa, o time valenciano foi um saco de pancadas em La Liga 2007-08, findando o campeonato afundado na lanterna. Storari, por sua vez, teve momentos de destaque. Segundo o jornal Corriere della Sera, ele sempre era um dos melhores em campo da equipe, embora tenha sido vazado 33 vezes em 17 partidas.

Seis meses depois, Marco estava de volta ao Belpaese. Porém, não retornou ao Milan. A diretoria rossonera o cedeu por empréstimo ao Cagliari. Ele aterrissou na Sardenha junto com Andrea Cossu e o brasileiro Jeda. A missão que Storari e seus novos companheiros tinham pela frente era complicadíssima. Os sardos encerraram o primeiro turno na última posição da Serie A. Eles precisavam de um grande desempenho no returno para garantirem a salvezza. E não é que conseguiram? Sob a batuta de Davide Ballardini, alcançaram uma surpreendente remontada e se safaram da queda. Storari foi um dos destaques do segundo turno sardo.

Apesar da grande atuação com a camisa do Cagliari, o goleiro não foi comprado pelo clube ao fim do empréstimo. Assim, retornou ao Milan, que o emprestaria novamente, desta vez para a Fiorentina. Entretanto, Sébastien Frey era o titular incontestável da meta violeta. Com isso, Storari entrou em campo apenas duas vezes naquela temporada. Vale salientar que, em janeiro de 2009, o Chelsea de Ancelotti sinalizou pela contratação de Marco. O Milan já havia aceitado a transação, mas Pantaleo Corvino, então dirigente da Viola, impediu o negócio.

Storari contribuiu com classificação da Sampdoria à Champions League (Getty)

No verão europeu de 2009, Storari voltou ao Milan e começou a época como titular, já que Dida e Christian Abbiati não estavam na melhor de suas condições. Todavia, o brasileiro se recuperou de lesão e pegou a titularidade no time comandado, à época, pelo compatriota Leonardo. Por isso, o toscano foi cedido por empréstimo à Sampdoria, que perdera seu o arqueiro Luca Castellazzi, contundido. Storari chegou jogando na Samp e deixou boa impressão. Não por acaso contribuiu significativamente para a quarta colocação do time genovês, que garantiu vaga nos playoffs da Liga dos Campeões.

Assim como ocorrera dois anos antes, no Cagliari, Storari não foi comprado pela Sampdoria ao fim da temporada. Os blucerchiati até tentaram adquiri-lo em definitivo – sobretudo após vender Castellazzi à Inter –, mas não chegaram a um acordo com o Milan. No entanto, ele não retornaria ao Diavolo. Em junho de 2010, foi oficializado como novo goleiro da Juventus. A Vecchia Signora desembolsou 4,5 milhões de euros para contratar aquele que viria a ser o reserva de Buffon nos anos seguintes. Storari fez parte da reconstrução do esquadrão bianconero que dominou a Itália a partir da década 2010.

Em sua primeira temporada na Juve, o toscano foi o titular da Zebra, uma vez que Buffon se recuperava de uma lesão nas costas, sofrida ainda na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Com a volta de Gigi, Storari virou suplente de fato. Na época 2011-12, o camisa 30 pisou no gramado em embates da Serie A somente cinco vezes, mas soltou o grito de campeão ao término da liga. Já na Coppa Italia, torneio em que os treinadores costumam utilizar o arqueiro reserva, a Juve ficou com o vice: perdeu do Napoli, por 2 a 0, na final, em Roma. Marco atuou em todos os duelos daquele certame.

Storari permaneceu na Juventus até 2015, participando de dois ciclos vindouros: o primeiro com Antonio Conte à frente da equipe, e o segundo com Massimiliano Allegri dando as ordens na agremiação do Piemonte. Ao todo, colocou sete títulos no currículo. Com 38 anos, a imprensa começava a especular sua aposentadoria. O goleiro, contudo, tinha mais lenha para queimar e queria seguir em Turim. “Já falamos com a sociedade e existe a recíproca vontade de continuar esta união. E eu estou muito feliz em ficar [na Juve]”, admitiu, à Gazzetta del Sud, em maio de 2015.

O goleiro foi um bom reserva de Buffon nos anos em que defendeu a Juve (Getty)

Porém, Storari não continuou na Juventus. Em julho de 2015, o goleiro acertou seu retorno ao Cagliari, depois de sete anos, assinando um contrato de duas temporadas. Em sua primeira campanha na volta à Sardenha, o toscano contribuiu ativamente para o acesso do Cagliari à primeira divisão: os rossoblù foram campeões da Serie B 2015-16. Dos 46 jogos dos sardos naquela época, Marco só não participou de três.

No início da Serie A 2016-17, Storari ostentou a braçadeira de capitão, mas depois a passou para Marco Sau e, em seguida, Daniele Dessena. Após um primeiro turno batalhando na segunda parte da tabela de classificação, Marco trocou o Cagliari pelo Milan. Aos 40 anos, iria para a sua terceira passagem pelo clube de Milão. Escolheu o número 30, o mesmo usado na temporada 2009-10. O jogador seria alternativa a Gianluca Donnarumma.

Storari não foi utilizado no restante daquela campanha, mas, mesmo assim, seguiu na agremiação para 2017-18. Ele entrou em campo apenas duas vezes: vitória por 1 a 0 sobre o Shkëndija, da Macedônia, pelos playoffs da Liga Europa, e na derrota por 2 a 0 para os croatas do Rijeka, pela última rodada da fase de grupos da competição europeia. Marco pendurou as luvas e as chuteiras ao fim da temporada, aos 41 anos. Em abril de 2019, a Radio Sportiva noticiou que Storari poderia ganhar um cargo na diretoria da Juventus, mas a mudança no comando técnico do time fez com que as especulações cessassem.

Marco Storari
Nascimento: 7 de janeiro de 1977, em Pisa, Itália
Posição: goleiro
Clubes: Ladispoli (1994-95), Perugia (1995-98), Montevarchi (1998), Ancona (1998-02), Napoli (2002-03), Messina (2003-07), Milan (2007, 2009-10 e 2017-18), Levante (2007-08), Cagliari (2008 e 2015-17), Fiorentina (2008-09), Sampdoria (2010) e Juventus (2010-15)
Títulos: Liga dos Campeões (2007), Serie A (2012, 2013, 2014 e 2015), Supercopa Italiana (2012 e 2013), Coppa Italia (2015) e Serie B (2016)

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