A marca de Harald Nielsen não se resumiu às redes adversárias. O dinamarquês fez muito pelo futebol da terra natal, sendo um dos principais responsáveis pela profissionalização do esporte, em que foi craque, na Dinamarca. Dentro de campo, o centroavante sempre será lembrado com o uniforme azul e vermelho do Bologna, pois foi o protagonista do último scudetto felsineo, vencido em 1964.
Apesar de também ter destaque nos bastidores do futebol, algo que nem sempre é visto em outros atletas, dentro de campo, o centroavante teve trajetória futebolística bem semelhante a de tantos vários jogadores. Ao mostrar talento se dedicou ainda mais para poder se tornar profissional. Neste período, o sonho de jogar na Itália já existia e, no futuro, tudo que Harald Nielsen imaginava iria se tornar realidade.
Seu primeiro clube foi o Frederikshavn, de sua cidade natal, que jogava a segunda divisão do futebol dinamarquês. O bom futebol do atacante fez com que, um ano após a estreia no time de jovens da equipe, ele fosse promovido ao plantel principal em 1959. Na temporada inicial, a principal marca do artilheiro apareceu: marcou muitos gols e ajudou o time a conquistar a promoção para a liga principal do país. Em seu primeiro jogo na primeira divisão, Nielsen fez os três gols da vitória por 3 a 1 contra o Frem. Ao mesmo tempo em que aparecia bem no clube da cidade natal, o centroavante chegava à seleção dinamarquesa.
Com isso, em 1960 veio a primeira grande ligação com a Itália. O centroavante fez parte do elenco dinamarquês que disputou a Olimpíada em Roma. Harald Nielsen foi peça chave para que o país escandinavo alcançasse a medalha de prata na disputa final contra a Iugoslávia. Pelos seis gols marcados e o grande desempenho, o jovem recebeu o apelido “Guld-Harald”, ou seja, “Harald de ouro”. Frustrado por não conseguir a tão sonhada transferência para a Itália, o centroavante retornou à Dinamarca.
Depois dos Jogos Olímpicos de 1960, a Liga Dinamarquesa viu o nível máximo de Harald Nielsen: era o artilheiro, colaborando, de forma decisiva, para o Frederikshavn ocupar o quinto posto da competição até a despedida em abril de 1961, quando assinou o seu primeiro contrato profissional com o Bologna – mesmo longe do país, ainda foi eleito o melhor jogador dinamarquês do ano.
Ao finalmente se profissionalizar para jogar no Bologna na Itália, “Harald de ouro” deu adeus à seleção dinamarquesa que, à época, não aceitava profissionais na defesa da equipe nacional. Por isso, a sua trajetória em vermelho e branco terminou com números incríveis: 14 jogos, 15 gols (média de 1,1 por partida), 10 vitórias, 1 empate e 3 derrotas. Este fato deixou o centroavante triste, mas realizar o sonho de criança de jogar na Itália foi maravilhoso.
Pelo Bologna comandado pelo técnico Fulvio Bernardini e que tinha no meio-campista Giacomo Bulgarelli a sua maior estrela, o início foi tímido, mas, desde os primeiros jogos, os gols começaram a aparecer. No ano de estreia, o dinamarquês tinha a seu lado fortes companheiros de ataque, como Ezio Pascutti e Cesarino Cervellatti, bandeiras bolonhesas e selecionáveis pela Itália, além do uruguaio Héctor Demarco e do brasileiro Luís Vinício, que já havia feito história no Napoli.
Em sua temporada de estreia, Nielsen marcou oito vezes na campanha que colocou os rossoblù no quarto posto da Serie A 1961-62. Nesta mesma temporada, Harald foi fundamental para o título felsineo da Copa Mitropa (uma das primeiras competições continentais entre clubes na Europa) e, nos dois jogos finais frente ao Slovan Nitra, marcou dois dos cinco gols da equipe italiana.
Na Itália, o centroavante recebeu mais alguns apelidos. “Dondolo” – balanço, em português –, por conta de seu jeito insinuante de se mover, e, também “Il Freddo Danese” (o dinamarquês frio), pelo comportamento gelado, quando comparado aos temperamentais italianos.
Em 1962-63, Vinício e Demarco deixaram o clube e Nielsen teve mais espaço. A chegada do experiente e habilidoso meia-atacante alemão Helmut Haller foi fundamental para que, pela primeira vez, Harald Nielsen terminasse a Serie A como artilheiro – nas 29 partidas disputadas, marcou 19 vezes, confirmando sua artilharia, empatado com o romanista Pedro Manfredini. Porém, novamente, o Bologna não passou do quarto lugar. Neste ano, os rossoblù ainda chegaram à outra final da Copa Mitropa, mas, desta vez, foram derrotados pelo Vasas, da Hungria.
A história de insucessos acabaria em 1963-64, quando finalmente, após 23 anos, os felsinei voltaram a vencer a Liga Italiana. O centroavante dinamarquês foi um dos grandes personagens para o scudetto voltar a ser estampado na camisa vermelha e azul do clube da Emília-Romanha. Il Freddo Danese foi novamente artilheiro do campeonato: marcou 21 gols nas 31 partidas da Serie A, sendo que um deles foi anotado na vitória por 2 a 0 sobre a Grande Inter do técnico Helenio Herrera e de tantos craques, que venceu a Copa dos Campeões e o Mundial Interclubes naquela temporada. Os times ficaram empatados no campeonato e, no playoff, Nielsen marcou gol que valeu título para o Bologna.
A temporada pós-título não foi boa para o clube bolonhês, que acabou no sexto posto da Serie A, mas, Harald Nielsen continuava a aparecer bem no quesito gols, com 13 no campeonato. Em 1965-66, o Bologna cresceu, seu artilheiro marcou 12 vezes na disputa e os rossoblù ficaram na segunda colocação do italiano, atrás da Inter. O último ano no clube em que alcançou o ápice da carreira já dava mostras de que o auge da trajetória futebolística já havia passado: foram 21 partidas, com apenas oito gols marcados. Ali chegava ao fim o casamento entre Harald Nielsen e Bologna, foram 102 gols em 181 partidas, nos seis anos que defendeu o clube, número que o coloca entre os 10 maiores artilheiros da história felsinea.
Mesmo tendo a pior temporada em média de gols no Bologna, o centroavante conseguiu uma transferência para a Inter – à época, a mais cara do futebol mundial. Porém, em Milão, o sucesso que alcançou no clube emiliano nunca foi repetido. Pelos nerazzurri foram apenas 12 jogos e quatro gols e, por isso, a permanência de apenas um ano. Depois da Inter, Harald Nielsen foi defender o Napoli e também não teve sucesso. Mas a carreira terminou precocemente – aos 29 anos – na Sampdoria. Nos últimos anos, o centroavante dinamarquês vinha sofrendo com muitas lesões nas costas e isto o fez abandonar o futebol dentro de campo.
De volta à Escandinávia, Harald Nielsen se tornou empresário e começou a comercializar produtos em couro vindos da Itália. Porém, o mais importante foi o trabalho junto com o Ministro da Ciência, Helge Sander para profissionalizar o futebol dinamarquês. Por conta da atuação da dupla, a Federação Dinamarquesa finalmente aceitou jogadores profissionais em 1978, um grande passo para a evolução do esporte no país. Não à toa, a Dinamarca, oito anos depois, faria sucesso na Copa de 1986, disputada no México, e virou a “Dinamáquina”. Desde então, a equipe chegou a duas oitavas de final e uma quartas de final de Copa do Mundo e venceu uma Eurocopa, em 1992.
Também em 1992, Harald Nielsen recebeu a condecoração como Cavaleiro da Ordem ao Mérito da República Italiana. Neste mesmo ano, “Guld-Harald” colaborou para a fusão de clubes que originou o Copenhagen e, por isso, foi o primeiro presidente da nova equipe.
Foram cinco anos no cargo (1992-97) e a relação de carinho com os leões ficou muito grande. Dez anos depois, Harald também foi o primeiro a ser apontado como membro honorário do Copenhagen. Por muito tempo, o ex-centroavante frequentou os jogos do time que ajudou a fundar e ficou casado com a atriz Rudi Hansen, que conheceu durante a gravação de um filme, em 1961. Nielsen faleceu em 2015, aos 73, e, como reconhecimento póstumo, foi incluído no hall da fama do futebol dinamarquês.
Harald Ingemann Nielsen
Nascimento: 26 de outubro de 1941, em Frederikshavn, Dinamarca
Morte: 11 de agosto de 2015, em Klampenborg, Dinamarca
Posição: centroavante
Clubes: Frederikshavn (1959-61), Bologna (1961-67), Inter (1967-68), Napoli (1968-69) e Sampdoria (1969-70)
Títulos: Copa Mitropa (1962) e Serie A (1964)
Seleção dinamarquesa: 14 partidas e 15 gols