Nos anos 1990, a Itália teve um dos conjuntos de meio-campistas mais fortes do futebol mundial. Entre as muitas opções para os técnicos que passaram pela seleção naquela década, Diego Fuser era uma das mais interessantes. O piemontês, que atuou em clubes como Torino, Milan, Fiorentina, Lazio, Parma e Roma, se destacava pela versatilidade, pela resistência física e pela precisão em chutes e cruzamentos.
Fuser nasceu em Venaria Reale, província de Turim, em novembro de 1968. O esguio meio-campista, que ostentava um físico magro distribuído por seu 1,83m, não precisou ir longe para começar sua carreira profissional. Diego fez as categorias de base no Torino, conseguindo levantar os títulos da Copa Viareggio e da Serie A sub-19. Quando foi campeão dessas competições juvenis, o meia já havia estreado pelos grenás: o fez aos 18 anos, na temporada 1986-87.
O Toro havia sido vice-campeão italiano em 1985, mas passou por alguns problemas societários nos anos seguintes. Embora tenha ficado com a segunda posição na Coppa Italia e batido na trave por vaga na Copa Uefa, em 1988, o time de Turim não manteve o ritmo na campanha seguinte e acabou rebaixado para a Serie B pela segunda vez em sua história. O descenso fez com que o clube negociasse alguns de seus melhores atletas e, sendo assim, Fuser se mudou para Milão. Na capital da moda defenderia o todo poderoso Milan e conquistaria dois dos maiores títulos de sua carreira.
Com a camisa do Torino, Fuser se consolidou como um jogador rápido, físico, enérgico e técnico, que chegou a ser comparado com Enzo Scifo e Lothar Matthäus. Nos tempos de Piemonte, atuou mais como meia pela direita – ainda que soubesse jogar centralizado – e tinha nos seus cruzamentos precisos uma de suas grandes armas. Diego também ficou conhecido pela sua capacidade cardiovascular e altíssima resistência física, que lhe possibilitava a aproximação aos atacantes para disparar potentes chutes de fora da área. No Milan, porém, essas características ficaram escondidas.
Ainda jovem, Fuser – que tinha 21 anos à época – viu sua quantidade de minutos cair bastante no Milan. O meio-campista não conseguiu se adaptar plenamente ao futebol preconizado por Arrigo Sacchi e, ainda que tenha adicionado ao currículo os títulos da Copa dos Campeões, do Mundial Interclubes e da Supercopa Uefa, foi um mero coadjuvante do elenco. Tanto é que, em 1990-91, foi emprestado à Fiorentina. Os rossoneri esperavam que ele crescesse em Florença.
Com a camisa da Viola, Fuser reencontrou seu melhor futebol e foi um oásis técnico no engessado time montado por Sebastião Lazaroni, que tinha Dunga como ícone. Pela Fiorentina, Diego disputou 38 jogos e marcou nove gols – se sagrando, assim, artilheiro da equipe em 1990-91. Terminado o empréstimo aos gigliati, o piemontês voltou ao Milan, agora treinado por Fabio Capello.
Don Fabio concedeu ainda menos espaço a Fuser (na Serie A, ele teve pouco mais de 400 minutos), mas o meia voltou a levantar uma taça: o único scudetto da sua carreira. A sua passagem pelo Milan foi a mais vitoriosa da sua carreira, mas não a mais importante. Deixando os troféus de lado, Diego despontou como estrela do futebol italiano em Roma, a Cidade Eterna.
Fuser foi contratado pela Lazio em 1992, quando tinha quase 23 anos, por cerca de 7 bilhões de velhas liras. Logo no primeiro ano pelos aquilotti, Diego mostrou o quanto poderia contribuir. Na equipe treinada por Dino Zoff, o piemontês de Venaria Reale rapidamente se incorporou a um meio-campo que tinha Thomas Doll, Aron Winter e Paul Gascoigne, e foi um dos principais abastecedores dos atacantes Giuseppe Signori e Karl-Heinz Riedle.
Signori terminou a Serie A como artilheiro, com 26 tentos, e Fuser foi o segundo maior goleador da Lazio, com 10 bolas nas redes – 11, somando todas as competições. Os celestes ficaram com a quinta posição e uma vaga na Copa Uefa, enquanto Diego ganhou suas primeiras oportunidades na seleção italiana, então treinada por Sacchi. Foram quatro aparições em 1993.
O meio-campista teve números menos impressionantes em 1993-94 e não foi à Copa do Mundo, mas mesmo assim se consolidou com a camisa biancoceleste. Titular absoluto, manteve o posto em 1994-95, quando Zoff deu lugar a Zdenek Zeman, e recuperou a verve goleadora. Até 1997, em anos nos quais a Lazio sempre ficou entre os quatro primeiros colocados da Serie A – com direito ao vice-campeonato em 1995 –, Diego balançou as redes em 19 ocasiões.
O bom momento pelo clube fez com que Fuser voltasse à seleção em 1996. Sacchi não teve dúvidas dessa vez e levou o meio-campista para a Eurocopa. Diego começou no banco, mas ganhou a posição após entrar bem no jogo de estreia, contra a Rússia. A Nazionale, porém, acabou sendo eliminada ainda na fase de grupos. Terminou empatada em 4 pontos com a Chéquia, mas – em virtude da desvantagem no confronto direto – viu a seleção adversária avançar.
Em 1997-98, a Lazio contratou Sven-Göran Eriksson e deu início a sua era de ouro. O ponto de partida desse período também teve a liderança de Fuser, que herdou o posto de capitão depois da saída de Signori para a Sampdoria. Naquela temporada, as águias não fizeram boa campanha na Serie A (acabaram com a sétima posição), mas se sobressaíram em competições com mata-mata. Fuser usava a braçadeira quando a Lazio faturou o título da Coppa Italia ante o Milan e, uma semana depois, foi vice-campeã da Copa Uefa, perdendo a final para a Inter.
Embora jogasse bem pela Lazio, Fuser não foi considerado por Cesare Maldini para a disputa da Copa do Mundo de 1998. No entanto, o meia voltou à seleção após a competição, quando Zoff entrou no lugar do ex-milanista. Logo em seu primeiro jogo com o treinador que o projetou na capital, Diego desencantou pela Squadra Azzurra: marcou o primeiro na vitória sobre País de Gales, pelas Eliminatórias da Euro 2000. Porém, não disputaria o torneio continental por conta de problemas físicos.
Naquele tempo, porém, Fuser não era mais atleta da Lazio. No mercado de verão de 1998, depois de 242 jogos e 42 gols distribuídos em seis anos pelos celestes, ele acertou com o endinheirado Parma. Logo em sua campanha de debute, o piemontês fez parte de um time que conseguiu se classificar para a Champions League pela segunda vez na história e que ainda foi bicampeão tanto da Copa Uefa quanto da Coppa Italia.
Titularíssimo, Fuser marcou sete tentos na Serie A – alguns importantes, como nos triunfos sobre Inter e Empoli – e, embora tenha passado em branco nas outras competições, foi fundamental para as conquistas de um Parma que ainda tinha Gianluigi Buffon, Lilian Thuram, Fabio Cannavaro, Juan Sebastián Verón, Hernán Crespo e outros craques. Na final da Copa Uefa, vencida por 3 a 0 contra o Olympique Marseille, o camisa 7 deu o passe para o segundo gol do jogo, anotado por Paolo Vanoli.
Pelo Parma, Fuser ainda venceu uma Supercopa Italiana, em 1999, e foi vice-campeão da Coppa Italia em 2001. Na última de suas três temporadas pelo clube, o camisa 7 perdeu um pouco de espaço por conta da competição com Matías Almeyda, Johan Micoud e Sérgio Conceição, mas registrou 36 aparições. Ao fim da campanha, com quase 33 anos, Diego arrumou uma polêmica: mesmo tendo sido ídolo da Lazio, aceitou uma proposta da Roma.
Fuser foi um dos poucos jogadores que tiveram a coragem de atuar pelos rivais da Cidade Eterna, mas ofereceu pequeníssima contribuição para o lado giallorosso da capital. Em dois anos, Capello utilizou o meio-campista em apenas 26 jogos – o poupou do dérbi capitolino –, mas Diego mostrou alguma importância. Nesses raros momentos em campo, marcou dois importantes gols, sobre Venezia e Parma, que ajudaram os giallorossi a ficarem com a segunda posição do Italiano em 2002.
Na expectativa de se aposentar, uma vez que já estava perto de completar 35 anos, Fuser foi ajudar o Torino na disputa da Serie B, em 2003-04. Contudo, o Toro vivia uma grave crise financeira que refletia no que acontecia em campo, e não passou da 12ª colocação na segundona. Diego poderia ter parado de jogar, mas não o fez.
Aliás, se manteve em atividade até 2012, sempre nas divisões semiprofissionais do futebol do Piemonte: vestiu as camisas de Canelli, Saviglianese, Nicese e Colline Alfieri, sendo que chegou a levar o Canelli para a Serie D, em 2006. Fuser pendurou as chuteiras aos 44 anos e optou por levar uma vida distante dos holofotes. Atualmente, ele é empresário e vive em Asti, cidadezinha localizada nos arredores de Turim.
Diego Fuser
Nascimento: 11 de novembro de 1968, em Venaria Reale, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Torino (1986-89 e 2003-04), Milan (1989-90 e 1991-92), Fiorentina (1990-91), Lazio (1992-98), Parma (1998-2001), Roma (2001-03), Canelli (2004-08 e 2009), Saviglianese (2008-09), Nicese (2009-10) e Colline Alfieri (2012)
Títulos: Supercopa Uefa (1989), Mundial Interclubes (1989), Copa dos Campeões (1990), Serie A (1992), Coppa Italia (1998 e 1999), Copa Uefa (1999), Supercopa Italiana (1999 e 2001) e Eccellenza Piemonte e Valle d’Aosta (2006)
Seleção italiana: 25 jogos e 3 gols